2012
Dispostos e Dignos de Servir
Maio de 2012


Dispostos e Dignos para Servir

Presidente Thomas S. Monson

São vistos milagres em toda parte quando o sacerdócio é compreendido, quando seu poder é honrado e devidamente utilizado, exercendo-se fé.

Meus amados irmãos, como é bom reunir-nos novamente com vocês. Sempre que assisto à reunião geral do sacerdócio, reflito nos ensinamentos de alguns dos mais nobres líderes de Deus que falaram nas reuniões gerais do sacerdócio da Igreja. Muitos já foram para sua recompensa eterna, mas com o brilhantismo de sua mente, a profundidade de sua alma e o calor de seu coração, eles nos deram orientação inspirada. Compartilharei hoje com vocês alguns dos ensinamentos deles a respeito do sacerdócio.

Do Profeta Joseph Smith: “O Sacerdócio é um princípio eterno e existiu com Deus desde a eternidade e existirá por toda a eternidade, sem princípio de dias ou fim de anos”.1

Com as palavras do Presidente Wilford Woodruff, aprendemos: “O santo sacerdócio é o canal por meio do qual Deus Se comunica e interage com o homem na Terra; e os mensageiros celestes que visitaram a Terra para comunicar-se com o homem são homens que possuíram e honraram o sacerdócio enquanto viveram na carne. E tudo o que Deus ordenou que se fizesse para a salvação do homem desde a vinda do homem à Terra até a redenção do mundo foi e será realizado pela virtude do sacerdócio eterno”.2

O Presidente Joseph F. Smith esclareceu ainda mais: “O sacerdócio é (…) o poder de Deus delegado ao homem pelo qual este pode agir na Terra para a salvação da família humana, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, com legitimidade; sem usurpar essa autoridade, nem tomá-la emprestada de gerações que se foram, mas a autoridade que foi concedida nestes dias em que vivemos pela ministração de anjos e de espíritos do alto, diretamente da presença do Deus Todo-Poderoso”.3

E por fim, do Presidente John Taylor: “O que é sacerdócio? (…) É o governo de Deus, seja na Terra ou no céu; pois todas as coisas na Terra e no céu são governadas por meio dele, de seu poder, decisão e princípios, e é por intermédio desse poder que tudo se sustém. Ele governa tudo, controla tudo, sustenta tudo e está presente em tudo o que tem relação com Deus e com a verdade”.4

Quão abençoados somos por estar aqui nestes últimos dias, quando o sacerdócio de Deus está na Terra. Quão privilegiados somos por ser portadores desse sacerdócio. O sacerdócio não é apenas um dom, mas um encargo de servir, um privilégio de elevar e uma oportunidade de abençoar a vida das pessoas.

Essas oportunidades vêm acompanhadas de responsabilidades e deveres. Amo e valorizo a nobre palavra dever e tudo o que ela implica.

Em vários cargos, em diversas situações, venho assistindo às reuniões do sacerdócio há 72 anos: desde que fui ordenado diácono, aos doze anos de idade. Sem dúvida o tempo passa. O dever acompanha o ritmo dessa marcha. O dever não se obscurece nem diminui. Conflitos catastróficos vêm e vão, mas a guerra travada pela alma dos homens prossegue sem se arrefecer. Como um toque de trombeta chega a palavra do Senhor para todos nós, portadores do sacerdócio do mundo inteiro: “Portanto agora todo homem aprenda seu dever e a agir no ofício para o qual for designado com toda diligência”.5

O chamado ao dever veio para os profetas Adão, Noé, Abraão, Moisés, Samuel e Davi. Veio para o Profeta Joseph Smith e para cada um dos seus sucessores. O chamado ao dever veio ao jovem Néfi quando foi instruído pelo Senhor, por intermédio de seu pai Leí, a voltar a Jerusalém com seus irmãos para obter de Labão as placas de latão. Os irmãos de Néfi reclamaram, dizendo que era uma coisa difícil aquilo que se pedia deles. Qual foi a resposta de Néfi? Ele disse: “Eu irei e cumprirei as ordens do Senhor, porque sei que o Senhor nunca dá ordens aos filhos dos homens sem antes preparar um caminho pelo qual suas ordens possam ser cumpridas”.6

Quando o mesmo chamado vier a nós, qual será nossa resposta? Será que vamos reclamar, como fizeram Lamã e Lemuel, dizendo: “É uma coisa difícil aquilo que nos foi pedido”?7 Ou será que, tal como Néfi, declararemos individualmente: “Eu irei. Eu cumprirei”? Será que estaremos dispostos a servir e a obedecer?

Às vezes, a sabedoria de Deus parece tolice ou simplesmente difícil demais, mas uma das maiores e mais valiosas lições que podemos aprender na mortalidade é que, quando Deus fala e o homem obedece, esse homem está sempre certo.

Quando penso na palavra dever e em como o cumprimento do dever pode enriquecer nossa vida e a de outras pessoas, relembro as palavras escritas por um renomado poeta e escritor:

Eu dormia e sonhava

Que a vida era alegria

Despertei e vi

Que a vida era serviço

Servi, e vi que

O serviço era alegria.8

Robert Louis Stevenson expressou isso de outra forma, dizendo: “Sei o que é a satisfação, porque fiz uma boa obra”.9

Ao cumprirmos nosso dever e exercermos nosso sacerdócio, sentiremos a verdadeira alegria. Vivenciaremos a satisfação de ter concluído nossas tarefas.

Aprendemos os deveres específicos do sacerdócio que temos, seja o Sacerdócio Aarônico ou o de Melquisedeque. Peço que pensem nesses deveres e depois façam tudo a seu alcance para cumpri-los. Para isso, cada um de vocês precisa ser digno. Tenhamos as mãos prontas, limpas e dispostas para poder participar da tarefa de oferecer o que o Pai Celestial deseja que outros recebam Dele. Se não formos dignos, é possível que percamos o poder do sacerdócio; e se o perdermos, teremos perdido a essência da exaltação. Sejamos dignos de servir.

O Presidente Harold B. Lee, um dos maiores professores da Igreja, disse: “Quando um homem se torna portador do sacerdócio, torna-se um agente do Senhor. Ele deve encarar seu chamado verdadeiramente como o serviço do Senhor”.10

Durante a Segunda Guerra Mundial, no início de 1944, aconteceu algo envolvendo o sacerdócio quando os fuzileiros navais dos Estados Unidos tomaram o Atol de Kwajalein, que faz parte das ilhas Marshall, no Oceano Pacífico, entre a Austrália e o Havaí. O que aconteceu foi relatado por um correspondente que não era membro da Igreja e trabalhava para um jornal do Havaí. Num artigo de jornal de 1944, ele contou o seguinte, explicando que ele e outros correspondentes estavam na segunda leva que seguia atrás dos fuzileiros navais, no Atol de Kwajalein. Ao avançarem, viram um jovem fuzileiro boiando com o rosto para baixo, sem dúvida, gravemente ferido. A água rasa ao seu redor estava vermelha de sangue. Então, viram outro fuzileiro se movendo na direção do camarada ferido. O segundo fuzileiro também estava ferido, com o braço esquerdo pendente sem forças ao seu lado. Ele ergueu a cabeça do que estava flutuando na água para impedir que se afogasse. Com pânico na voz gritou por socorro. Os correspondentes olharam novamente para o rapaz que ele segurava e gritaram: “Filho, não há nada que possamos fazer por esse rapaz”.

“Então”, escreveu o correspondente, “vi algo que jamais tinha visto antes”. Aquele rapaz, ele próprio muito ferido, arrastou-se até a praia levando o corpo aparentemente inerte de seu companheiro. Ele “colocou a cabeça do companheiro sobre os joelhos. (…) Que cena extraordinária — aqueles dois rapazes mortalmente feridos — ambos (…) puros e de excelente aparência, mesmo naquela situação agonizante. O rapaz abaixou a cabeça sobre o outro e disse: ‘Eu te ordeno, em nome de Jesus Cristo e pelo poder do sacerdócio, que permaneças vivo até que eu consiga socorro médico’”. O correspondente concluiu seu artigo, dizendo: “Nós três [os dois fuzileiros e eu], estamos aqui no hospital. Os médicos não sabem [como ele conseguiu sobreviver], mas eu sei”.11

São vistos milagres em toda parte quando o sacerdócio é compreendido, quando seu poder é honrado e devidamente utilizado, exercendo-se fé. Quando a fé substitui a dúvida, quando o serviço abnegado elimina o empenho egoísta, o poder de Deus leva a efeito Seus propósitos.

O chamado ao dever pode vir sem alarde, quando nós que portamos o sacerdócio atendermos às designações que recebermos. O Presidente George Albert Smith, aquele líder modesto porém muito eficaz, declarou: “É nosso dever, acima de tudo, saber o que o Senhor deseja e, então, pelo poder e pela força de Seu santo Sacerdócio, magnificar [de tal maneira] nosso chamado na presença de nossos companheiros (…) de modo que as pessoas tenham alegria em seguir-nos”.12

Recebi um desses chamados ao dever — bem menos dramático, mas que também ajudou a salvar uma alma — em 1950, quando eu havia recentemente sido chamado bispo. Tinha muitas responsabilidades nesse cargo e tentava fazer o melhor que podia para realizar tudo o que me era exigido. Os Estados Unidos travavam outra guerra na época. Como muitos de nossos membros serviam nas forças armadas, todos os bispos receberam da sede da Igreja a designação de providenciar uma assinatura do jornal Church News e da revista Improvement Era, a revista da Igreja na época, para todos os militares. Além disso, foi pedido a cada bispo que escrevesse mensalmente uma carta pessoal a cada militar de sua ala. Nossa ala tinha 23 homens nas forças armadas. Os quóruns do sacerdócio, com grande esforço, forneceram os fundos para as assinaturas das publicações. Assumi a tarefa, sim, o dever, de escrever 23 cartas pessoais a cada mês. Após todos esses anos, ainda tenho cópias de muitas das minhas cartas e das respostas que recebi. As lágrimas me afloram facilmente quando releio essas cartas. É uma alegria ver novamente a determinação de um soldado em viver o evangelho, a decisão de um marinheiro de manter a fé com sua família.

Certa noite, entreguei a uma irmã da ala o maço com as 23 cartas daquele mês. O encargo dela era enviar a correspondência e manter atualizada a lista de endereços que estava sempre mudando. Ela olhou para um dos envelopes e, com um sorriso, perguntou: “Bispo, você não fica desanimado? Aqui está outra carta para o irmão Bryson. É a décima sétima carta que você envia a ele, sem receber resposta”.

Respondi: “Bem, pode ser que ele responda este mês”. Acontece que aquele foi o mês em que ele, pela primeira vez, respondeu a minha carta. Sua resposta foi um tesouro para ser guardado. Ele servia numa praia distante e sentia-se isolado, solitário e com saudades de casa. Ele escreveu: “Querido bispo, não sou muito de escrever cartas”. (Eu poderia ter dito isso a ele vários meses antes.) A carta prosseguia: “Obrigado pelo Church News e pelas revistas, mas acima de tudo, obrigado por suas cartas pessoais. Fiz um grande progresso em minha vida. Fui ordenado sacerdote no Sacerdócio Aarônico. Sinto o coração cheio. Sou um homem feliz”.

O irmão Bryson não ficou mais feliz do que o bispo dele. Descobri a aplicação prática do ditado: “Faça o [seu] dever, é o melhor a fazer; deixe o restante com [o] Senhor”.13

Anos mais tarde, quando frequentava a estaca Salt Lake Cottonwood, na época em que James E. Faust servia como presidente, relatei o ocorrido para incentivar a atenção dada a nossos militares. Depois da reunião, um rapaz de boa aparência me procurou. Apertou-me a mão e perguntou: “Bispo Monson, lembra-se de mim?”

De repente, percebi quem era ele. “Irmão Bryson!” exclamei. “Como vai? O que está fazendo na Igreja?”

Com emoção e visível orgulho, ele respondeu: “Vou muito bem. Sirvo na presidência de meu quórum de élderes. Obrigado novamente por sua preocupação comigo e pelas cartas pessoais que me enviou e que ainda guardo com carinho”.

Irmãos, o mundo precisa de nossa ajuda. Será que estamos fazendo tudo o que devemos? Será que nos lembramos das palavras do Presidente John Taylor: “Caso não cumpram o seu chamado honrosamente, Deus os considera responsáveis pelas pessoas a quem poderiam ter salvado se houvessem feito a sua obrigação”?14 Há pés que precisam ser firmados, mãos para segurar, mentes para incentivar, corações para inspirar e almas para salvar. As bênçãos da eternidade nos aguardam. Temos o privilégio de não ser apenas espectadores, mas participantes no palco do serviço no sacerdócio. Atendamos ao lembrete encontrado na Epístola de Tiago: “Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos”.15

Aprendamos nosso dever e pensemos nele. Estejamos dispostos e dignos para servir. No cumprimento de nosso dever, sigamos os passos do Mestre. À medida que trilharmos o caminho que Jesus seguiu, descobriremos que Ele foi mais do que o infante de Belém, mais do que o filho do carpinteiro, mais do que o maior mestre que já viveu. Viremos a conhecê-Lo como o Filho de Deus, nosso Salvador e nosso Redentor. Quando a Ele veio o chamado ao dever, respondeu: “Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre”.16 Que cada um de nós faça o mesmo, é minha oração, em Seu santo nome, o nome de Jesus Cristo, o Senhor. Amém.

Notas

  1. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 109.

  2. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Wilford Woodruff, 2004, p. 39.

  3. Ver Joseph F. Smith, Doutrina do Evangelho, 1975, pp. 143–144; grifo do autor (tradução atualizada).

  4. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: John Taylor, 2001, p. 119.

  5. Doutrina e Convênios 107:99; grifo do autor.

  6. 1 Néfi 3:7; ver também versículos 1–5.

  7. Ver 1 Néfi 3:5.

  8. Rabindranath Tagore, William Jay Jacobs, Mother Teresa: Helping the Poor [Madre Teresa: Ajudar os Pobres], 1991, p. 42.

  9. Robert Louis Stevenson, Elbert Hubbard II, comp., The Note Book of Elbert Hubbard: Mottoes, Epigrams, Short Essays, Passages, Orphic Sayings and Preachments [O Caderno de Anotações de Elbert Hubbard: Lemas, Epigramas, Pequenas Dissertações, Viagens, Declarações e Pergaminhos Orfistas], 1927, p. 55.

  10. Stand Ye in Holy Places: Selected Sermons and Writings of President Harold B. Lee [Permanecei em Lugares Santos: Seleção de Sermões e Escritos do Presidente Harold B. Lee], 1976, p. 255.

  11. Ernest Eberhard Jr., “Giving Our Young Men the Proper Priesthood Perspective” [Dar aos Nossos Rapazes a Perspectiva Adequada do Sacerdócio], datilografado, 19 de julho de 1971, pp. 4–5, Biblioteca de História da Igreja.

  12. George Albert Smith, Conference Report, abril de 1942, p. 14.

  13. Henry Wadsworth Longfellow, “The Legend Beautiful” [A Linda Lenda], The Complete Poetical Works of Longfellow [A Obra Poética Completa de Longfellow], 1893, p. 258.

  14. Ensinamentos: John Taylor, p. 164.

  15. Tiago 1:22.

  16. Moisés 4:2.