“Eu Creio, Senhor”
Reconheçam sinceramente suas dúvidas e preocupações, mas primeiro e sempre avivem a chama de sua fé, porque tudo é possível ao que crê.
Em certa ocasião, Jesus Se aproximou de um grupo que discutia veementemente com Seus discípulos. Quando o Salvador perguntou sobre o motivo da contenda, o pai de um menino enfermo se adiantou, dizendo que havia procurado os discípulos de Jesus para pedir uma bênção para seu filho, mas eles não puderam fazê-lo. Com o menino ainda rangendo os dentes, espumando pela boca e se debatendo no chão em frente a eles, o pai apelou a Jesus com a voz de alguém em ato final de desespero:
“Se tu podes fazer alguma coisa”, disse ele, “tem compaixão de nós, e ajuda-nos.
E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.
E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade”.1
A convicção que aquele homem tinha a princípio, como ele mesmo admitiu, era limitada. Mas ele tinha um desejo urgente e ardoroso de curar seu único filho. Foi-nos dito que isso é suficientemente bom para começar. “Mesmo que não tenhais mais que o desejo de acreditar”, declarou Alma, “deixai que esse desejo opere em vós, até acreditardes”.2 Sem lhe restar outra esperança, ele suplicou ao Salvador do mundo: “Se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos”.3 Mal consigo ler essas palavras sem chorar. O pronome plural nós é obviamente usado de modo intencional. Na verdade, esse homem estava dizendo: “Toda a nossa família está suplicando. Nossa luta nunca termina. Estamos exaustos. Nosso filho cai na água. Ele cai no fogo. Está sempre em perigo, e nós estamos sempre com medo. Não sabemos a quem mais recorrer. Será que tu podes ajudar? Ficaremos gratos por qualquer coisa — uma bênção parcial, um vislumbre de esperança, um pequeno alívio do fardo que a mãe desse menino carrega todos os dias de sua vida”.
A pergunta “se tu podes fazer alguma coisa, feita pelo pai retorna a ele: “se tu podes crer” proferida pelo Mestre.4
As escrituras dizem “logo” — não lentamente nem com descrença ou ceticismo, mas “logo” — o pai exclamou em genuína aflição paterna: “Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade”. Em resposta à renovada e ainda parcial fé, Jesus curou o menino, quase literalmente trazendo-o de volta de entre os mortos, conforme a descrição de Marcos, do ocorrido.5
Com esse terno registro das escrituras, como fundo, gostaria de falar diretamente aos jovens da Igreja — jovens em idade ou novos em tempo de membro da Igreja ou novos na fé. De uma forma ou de outra, isso deve incluir praticamente todos nós.
A primeira observação em relação a esse relato é que ao se deparar com o desafio da fé, o pai primeiro assegurou seu ponto forte e, só depois, reconheceu sua limitação. Sua declaração inicial foi afirmativa e sem hesitação: “Eu creio, Senhor”. Gostaria de dizer a todos os que desejam ter mais fé: Lembrem-se desse homem! Nos momentos de temor ou dúvida ou em tempos difíceis, preservem o que já conquistaram, mesmo que isso seja algo limitado. No desenvolvimento pelo qual todos temos que passar na mortalidade, todos nos deparamos com o equivalente espiritual da aflição daquele menino ou do desespero daquele pai. Quando chegarem esses momentos e surgirem esses problemas, cuja resolução não seja iminente, preservem o que já conquistaram e permaneçam firmes até adquirirem conhecimento adicional. Foi a respeito deste exato incidente, deste milagre específico, que Jesus disse: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível”.6 O tamanho de sua fé ou o nível de seu conhecimento não é o problema — trata-se da integridade que vocês demonstram em relação à fé que vocês têm e a verdade que já conhecem.
A segunda observação é apenas uma variação da primeira. Quando surgirem problemas e dúvidas, não comecem sua jornada em busca da fé dizendo o quanto vocês não têm, partindo, assim, de sua “descrença”. Isso seria como colocar o carro na frente dos bois! Deixe-me esclarecer esse ponto: Não estou pedindo que vocês finjam ter uma fé que não possuem. O que estou pedindo é que sejam fiéis à fé que vocês já têm. Às vezes, agimos como se uma sincera declaração de dúvida fosse uma manifestação de coragem moral maior que uma declaração sincera de fé. Pois não é! Lembremo-nos todos então da clara mensagem deste relato das escrituras: Sejam o mais franco que tiverem de ser em relação a suas dúvidas; a vida é cheia delas, em um assunto ou em outro. Mas, se vocês e sua família querem ser curados, não permitam que essas dúvidas impeçam que a fé realize seus milagres.
Além disso, vocês têm mais fé do que imaginam, graças ao que o Livro de Mórmon chama de “a grandeza das evidências”.7 “Por seus frutos os conhecereis”,8 disse Jesus, e os frutos de se viver o evangelho são bem evidentes na vida dos santos dos últimos dias, em toda parte. Como Pedro e João disseram certa vez a seus ouvintes na Antiguidade, digo hoje: “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido”. E o que temos visto e ouvido é que “foi feito um [milagre] notório” na vida de milhões de membros desta Igreja. Isso não pode ser negado.9
Irmãos e irmãs, esta é uma obra divina em andamento com manifestações e bênçãos abundantes em todas as direções, portanto não se aflijam se de tempos em tempos surgirem questões que precisem ser analisadas, compreendidas e resolvidas. Isso será feito. Nesta Igreja, o que conhecemos sempre supera o que não conhecemos. E lembrem-se, neste mundo, todos temos que andar pela fé.
Por isso, sejam pacientes com as fraquezas humanas — as suas próprias, bem como as daqueles que servem com vocês em uma Igreja que é liderada por homens e mulheres voluntários e mortais. Com exceção de Seu perfeito Filho Unigênito, as pessoas imperfeitas sempre foram tudo o que Deus teve para usar em Sua obra. Isso deve ser terrivelmente frustrante para Ele, mas Ele sabe lidar com isso. E devemos fazer o mesmo. Quando vocês virem imperfeições, lembrem-se de que a limitação não está na divindade da obra. Como um talentoso escritor sugeriu: Quando a infinita plenitude é derramada, não é culpa do óleo que haja alguma perda, porque os recipientes finitos não conseguem contê-lo na totalidade.10 Esses recipientes finitos incluem cada um de nós, portanto sejamos pacientes, bondosos e estejamos prontos a perdoar.
Última observação: quando surgir uma dúvida ou dificuldade, não tenham medo de pedir ajuda. Se a desejarmos de modo tão humilde e sincero como fez aquele pai, podemos recebê-la. As escrituras se referem a esse desejo sincero como “verdadeira intenção”, “com todo o coração, agindo sem hipocrisia e sem dolo diante de Deus”.11 Testifico que em resposta a esse tipo de importunação, Deus enviará ajuda de ambos os lados do véu para fortalecer nossa crença.
Eu disse que me dirigia aos jovens. Ainda o faço. Um rapaz de 14 anos me disse recentemente, com certa hesitação: “Irmão Holland, não posso dizer ainda que sei que a Igreja é verdadeira, mas creio que é”. Abracei aquele menino com toda a força. Disse-lhe com todo o fervor de minha alma que crer é uma palavra preciosa, um ato ainda mais precioso, e que ele nunca deve se desculpar por “apenas crer”. Eu lhe disse que o próprio Cristo declarou: “Não temas, crê somente”12 — uma frase que, a propósito, levou o jovem Gordon B. Hinckley para o campo missionário.13 Eu disse àquele rapaz que, crer, sempre foi o primeiro passo rumo à convicção e que cada uma das regras de nossa fé coletiva reitera poderosamente a palavra “Cremos”.14 Eu lhe disse o quanto me sentia orgulhoso dele pela sinceridade de sua busca.
Com a vantagem adquirida por quase 60 anos, desde quando eu era um jovem de 14 anos que começava a crer, declaro algumas coisas que hoje sei. Sei que Deus é, em todas as ocasiões e de todas as maneiras e em todas as situações, o nosso amoroso e misericordioso Pai Celestial. Sei que Jesus foi Seu único filho perfeito, cuja vida foi oferecida com amor pela vontade tanto do Pai quanto do Filho, para a redenção de todos nós, que não somos perfeitos. Sei que Ele Se levantou da morte para viver novamente, e por tê-lo feito, vocês e eu também levantaremos da morte. Sei que Joseph Smith, que reconheceu não ser perfeito,15 foi mesmo assim o instrumento escolhido nas mãos de Deus para restaurar o evangelho eterno na Terra. Sei também que ao fazê-lo — principalmente por meio da tradução do Livro de Mórmon — ele me ensinou mais a respeito do amor de Deus, da divindade de Cristo e do poder do sacerdócio do que qualquer outro profeta sobre o qual eu tenha lido ou conhecido ou ouvido falar em toda uma vida de busca. Sei que o Presidente Thomas S. Monson, que se aproxima com devoção e bom ânimo do aniversário de 50 anos de sua ordenação como apóstolo, é o legítimo sucessor daquele manto profético hoje em dia. Pudemos contemplar esse manto sobre ele mais uma vez nesta conferência. Sei que os outros 14 homens que apoiamos como profetas, videntes e reveladores o apoiam com as mãos, o coração e suas próprias chaves apostólicas.
Essas coisas declaro a vocês com a convicção que Pedro chamou de “a mui firme palavra de profecia”.16 O que antes era uma minúscula semente de crença para mim cresceu até se tornar a árvore da vida, por isso se sua fé for testada nesta ou em qualquer outra época, convido-os a apoiarem-se na minha. Sei que esta obra é a própria verdade de Deus. E sei que nos arriscamos muito se somente permitirmos que a dúvida ou os diabos nos desviem de seu caminho. Tenham esperança. Continuem na jornada. Reconheçam sinceramente suas dúvidas e preocupações, mas primeiro e sempre avivem a chama de sua fé, porque tudo é possível ao que crê. Em nome de Jesus Cristo. Amém.