A Obediência à Lei É Liberdade
Os homens e as mulheres recebem seu arbítrio como dádiva de Deus, mas sua liberdade e, por sua vez, sua felicidade eterna decorrem da obediência às leis Dele.
![Élder L. Tom Perry](https://www.lds.org/bc/content/shared/content/images/magazines/liahona/2013/05/l-tom-perry.jpg)
Recebi um presente especial no Natal passado que trouxe consigo muitas lembranças. Ganhei-o de minha sobrinha. Era uma das coisas que eu havia deixado na antiga casa de nossa família quando me mudei depois de me casar. O presente foi este pequeno livro marrom que tenho na mão. É um livro que era dado aos soldados SUD que entravam para as forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Pessoalmente, eu considerava o livro como um presente do Presidente Heber J. Grant e de seus conselheiros, J. Reuben Clark Jr. e David O. McKay.
No início do livro, aqueles três profetas de Deus escreveram: “A conjuntura das forças armadas não permite que nos mantenhamos em contato pessoal com você, seja diretamente ou por representantes pessoais. O melhor que podemos fazer é colocar em suas mãos estes trechos de revelação moderna e explicações de princípios do evangelho que lhe proporcionarão, onde quer que esteja, renovada fé e esperança, bem como conforto, consolo e paz de espírito”.1
Encontramo-nos hoje em meio a outra guerra. Não é uma guerra travada com armas, é uma guerra de pensamentos, palavras e ações. É uma guerra contra o pecado, e mais do que nunca precisamos ser lembrados dos mandamentos. O materialismo está se tornando a norma, e muitas de suas crenças e práticas entram em conflito direto com as que foram instituídas pelo próprio Senhor em benefício de Seus filhos.
No livrinho marrom, logo após a carta da Primeira Presidência, há uma Nota Introdutória para os Soldados, intitulada: “A Obediência à Lei é Liberdade”. O texto traça um paralelo entre a lei militar, que é “para o bem de todos os que servem nas forças armadas”, e a lei divina.
Ali lemos: “No universo, onde Deus está no comando, também existe uma lei (…) — uma lei universal e eterna — com certas bênçãos e penalidades imutáveis”.
As palavras finais da nota enfocam a obediência à lei de Deus: “Se quiser retornar a seus entes queridos com a cabeça erguida, (…) se deseja ser um homem e viver com abundância — então cumpra a lei de Deus. Ao fazê-lo, você poderá acrescentar a essa inestimável liberdade, pela qual está lutando para preservar, outra na qual as pessoas muito podem confiar: a liberdade do pecado; porque, de fato, ‘a obediência à lei é liberdade’”.2
Por que a frase “a obediência à lei é liberdade” me pareceu tão verdadeira na época? Por que soa tão verdadeira para todos nós hoje?
Talvez seja porque temos um conhecimento revelado de nossa história pré-mortal. Sabemos que quando Deus, o Pai Eterno, apresentou Seu plano para nós no princípio dos tempos, Satanás quis alterar o plano. Ele disse que iria redimir toda a humanidade. Nenhuma alma se perderia, e Satanás estava confiante de que poderia executar o que propôs. Mas havia um custo inaceitável — a destruição do arbítrio do homem, que foi e é uma dádiva de Deus (ver Moisés 4:1–3). Acerca dessa dádiva, o Presidente Harold B. Lee disse: “Excluindo-se a própria vida, o livre-arbítrio é a maior dádiva concedida à humanidade”.3 Portanto, não era insignificante que Satanás desprezasse o arbítrio do homem. Na verdade, essa se tornou a principal questão pela qual foi travada a Guerra no Céu. A vitória da Guerra no Céu foi uma vitória a favor do arbítrio do homem.
Satanás, porém, não havia terminado. Seu plano de reserva — o plano que ele vem executando desde a época de Adão e Eva — era tentar os homens e as mulheres, essencialmente para provar que não mereciam a dádiva divina do arbítrio. Satanás tem muitos motivos para fazer o que faz. Talvez o mais forte deles seja a vingança, mas ele também quer tornar os homens e as mulheres tão miseráveis quanto ele próprio. Nenhum de nós deve subestimar a determinação que Satanás tem em alcançar sucesso. Seu papel no plano eterno de Deus cria “oposição em todas as coisas” (2 Néfi 2:11) e põe nosso arbítrio à prova. Cada escolha que fazemos é um teste de nosso arbítrio — a decisão de sermos obedientes ou desobedientes aos mandamentos de Deus, na verdade, é uma escolha entre “a liberdade e a vida eterna” e “o cativeiro e a morte”.
Essa doutrina fundamental está claramente ensinada no segundo capítulo de 2 Néfi: “Portanto os homens são livres segundo a carne; e todas as coisas de que necessitam lhes são dadas. E são livres para escolher a liberdade e a vida eterna por meio do grande Mediador de todos os homens, ou para escolherem o cativeiro e a morte, de acordo com o cativeiro e o poder do diabo; pois ele procura tornar todos os homens tão miseráveis como ele próprio” (2 Néfi 2:27).
Em muitos aspectos, este mundo sempre esteve em guerra. Creio que, quando a Primeira Presidência me enviou o livrinho marrom, eles estavam preocupados com uma guerra maior do que a Segunda Guerra Mundial. Também acredito que eles esperavam que o livro fosse um escudo de fé contra Satanás e seus exércitos nessa guerra maior — a guerra contra o pecado — e que me servisse de lembrete para viver os mandamentos de Deus.
Uma forma de avaliar-nos e comparar-nos às gerações anteriores é usar o mais antigo dos padrões conhecidos pelo homem: os Dez Mandamentos. Para grande parte do mundo civilizado, principalmente o mundo judeu-cristão, os Dez Mandamentos foram a delimitação mais aceita e perene entre o bem e o mal.
A meu ver, quatro dos Dez Mandamentos são levados mais a sério hoje do que nunca. Como cultura, desprezamos e condenamos o assassinato, o roubo e a mentira, e ainda cremos na responsabilidade que os filhos têm em relação a seus pais.
Mas como sociedade em geral, rotineiramente descartamos os outros seis mandamentos:
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Se as prioridades do mundo forem um indício, sem dúvida temos “outros deuses” que colocamos à frente do Deus verdadeiro.
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Celebridades, estilos de vida, riqueza e, sim, muitas vezes até imagens de escultura ou objetos se tornam nossos ídolos.
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Usamos o nome de Deus de todas as formas profanas, inclusive em nossas exclamações e xingamentos.
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Usamos o Dia do Senhor para nossos maiores jogos, nossa recreação mais séria, nossas compras mais intensas e praticamente tudo o mais, exceto a adoração.
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Tratamos as relações sexuais fora dos laços do matrimônio como recreação e entretenimento.
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E a cobiça se tornou um estilo de vida extremamente comum (ver Êxodo 20:3–17).
Os profetas de todas as dispensações advertiram constantemente em relação à violação de dois dos mais sérios mandamentos — os que se referem ao assassinato e ao adultério. Vejo uma base em comum para esses dois mandamentos essenciais — a crença de que a vida propriamente dita é prerrogativa de Deus e que nosso corpo físico, o templo da vida mortal, deve ser gerado dentro dos limites estabelecidos por Deus. O fato de o homem querer substituir as leis de Deus por suas próprias regras, em qualquer dos extremos da vida, é o cúmulo da presunção e o abismo do pecado.
Os principais efeitos dessa atitude depreciativa em relação à santidade do casamento são as consequências para a família — a estabilidade da família está se deteriorando em ritmo alarmante. Essa deterioração está causando amplos danos à sociedade. Vejo nisso uma relação direta de causa e efeito. Ao abandonarmos o comprometimento e a fidelidade ao cônjuge, removemos o cimento que mantém nossa sociedade unida.
Um modo útil de pensar nos mandamentos é que eles são um conselho amoroso de um Pai Celestial sábio e onisciente. Sua meta é nossa felicidade eterna, e Seus mandamentos são o mapa da estrada que Ele nos deu para retornarmos à presença Dele, que é o único caminho pelo qual seremos eternamente felizes. O quanto o lar e a família são importantes para nossa felicidade eterna? Na página 141 de meu livrinho marrom, lemos: “Sem dúvida nosso céu pouco mais é do que uma projeção de nosso lar na eternidade”.4
A doutrina da família e do lar foi reiterada recentemente com grande clareza e força em “A Família: Proclamação ao Mundo”. Ela declara a natureza eterna da família e depois explica a relação com a adoração no templo. A proclamação também declara a lei na qual se baseia a felicidade eterna da família: “Que os poderes sagrados de procriação sejam empregados somente entre homem e mulher, legalmente casados”.5
Deus revela a Seus profetas que existem princípios morais absolutos. O pecado sempre será pecado. A desobediência aos mandamentos do Senhor sempre nos privará de Suas bênçãos. O mundo muda de modo constante e drástico, mas Deus, Seus mandamentos e as bênçãos prometidas não mudam. São imutáveis e inalteráveis. Os homens e as mulheres recebem seu arbítrio como dádiva de Deus, mas sua liberdade e, por sua vez, sua felicidade eterna decorrem da obediência às leis Dele. Como Alma aconselhou a seu filho errante Coriânton: “Iniquidade nunca foi felicidade” (Alma 41:10).
Nesta época da Restauração da plenitude do evangelho, o Senhor nos revelou novamente as bênçãos que nos são prometidas por nossa obediência a Seus mandamentos.
Em Doutrina e Convênios 130, lemos:
“Há uma lei, irrevogavelmente decretada no céu antes da fundação deste mundo, na qual todas as bênçãos se baseiam—
E quando recebemos uma bênção de Deus, é por obediência à lei na qual ela se baseia” (D&C 130:20–21).
Sem dúvida não poderia haver doutrina mais vigorosamente expressa nas escrituras do que os mandamentos imutáveis do Senhor e sua relação com nossa felicidade e bem-estar como indivíduos, família e sociedade. Existem princípios morais absolutos. A desobediência aos mandamentos do Senhor sempre nos privará de Suas bênçãos. Essas coisas não mudam.
Em um mundo em que a bússola moral da sociedade está falhando, o evangelho restaurado de Jesus Cristo jamais fraqueja, tampouco suas estacas e alas, suas famílias e seus membros individualmente. Não podemos pegar e escolher quais mandamentos achamos que são importantes para guardar, mas devemos reconhecer todos os mandamentos de Deus. Precisamos permanecer firmes e fortes, tendo perfeita confiança na constância do Senhor e em Suas promessas.
Que sempre sejamos uma luz sobre o monte, um exemplo no cumprimento dos mandamentos, que nunca mudaram e nunca mudarão. Assim como aquele pequeno livro encorajava os soldados SUD a permanecerem moralmente firmes em tempos de guerra, sejamos nós, nesta guerra dos últimos dias, um feixe de luz para toda a Terra e principalmente para os filhos de Deus que buscam as bênçãos do Senhor. Presto testemunho disso em nome de Jesus Cristo. Amém.