Mensagem da Primeira Presidência
Tudo Bem
Ao pensar em nosso legado pioneiro, uma das coisas mais tocantes que me vêm à mente é o hino “Vinde, Ó Santos” (Hinos, nº 20). Aqueles que precisaram fazer a longa jornada até o Vale do Lago Salgado cantavam muito esse hino durante a viagem.
Tenho plena consciência de que nem tudo estava bem com esses santos. Foram acometidos por doenças, sofreram com o calor, o cansaço, o frio, sentiram fome, dores, tiveram dúvidas e até se depararam com a morte.
No entanto, apesar de terem todos os motivos do mundo para exclamar: “Nem tudo está bem”, cultivavam uma atitude que até hoje é digna de admiração. Eles tinham os olhos fitos nas bênçãos eternas, muito além dos problemas que os afligiam. Eram gratos em meio às circunstâncias difíceis que enfrentavam. Apesar de todas as evidências em contrário, cantavam com toda a convicção da alma: “Tudo bem!”
Nossos elogios aos pioneiros serão vazios se não nos levarem a refletir. Mencionarei alguns de seus atributos que me inspiram quando penso em seu sacrifício e comprometimento.
Compaixão
Os pioneiros se importavam uns com os outros a despeito de sua formação social, econômica ou política. Ajudavam uns aos outros mesmo quando isso desacelerava seu progresso, quando era inconveniente e até quando envolvia sacrifício pessoal e trabalho extenuante.
Em nosso mundo governado por metas e dividido em tantas facções, os objetivos individuais e partidários podem acabar prevalecendo sobre nosso empenho para cuidar do próximo ou para fortalecer o reino de Deus. Na sociedade atual, o alcance de certas metas ideológicas por vezes parece ser a medida de nosso valor.
Traçar e atingir metas pode ser algo maravilhoso. Contudo, quando o êxito no alcance de metas envolve desprezar, ignorar ou prejudicar os outros, o preço desse sucesso é alto demais.
Os pioneiros cuidavam dos integrantes de sua companhia, mas também se preocupavam com os que viriam depois e por isso plantavam para que os santos que viessem nos carroções seguintes tivessem o que colher.
Eles conheciam a força da família e dos amigos. E como dependiam uns dos outros, tornaram-se fortes. Os amigos tornaram-se família.
Os pioneiros servem como ótima lembrança da importância de nos livrarmos da tentação do isolamento. Na verdade, impelem-nos a estender a mão para ajudar uns aos outros e ter compaixão e amor uns pelos outros.
Trabalho
“Vinde, ó santos, sem medo ou temor.”
Essas palavras tornaram-se um hino para os viajantes cansados. É difícil imaginar o quanto essas almas grandiosas trabalhavam destemidamente. Caminhar era uma de suas tarefas mais fáceis. Todos tinham que se unir para produzir alimentos, consertar carroções, cuidar dos animais, ministrar aos doentes e debilitados, procurar e coletar água, além de proteger-se de perigos prementes dos elementos e dos muitos riscos do deserto.
Acordavam todas as manhãs com propósitos e metas claramente definidos que todos compreendiam: servir a Deus e ao próximo e chegar ao Vale do Lago Salgado. Todos os dias, não havia dúvidas sobre seus propósitos e suas metas: eles sabiam o que precisavam fazer e que o progresso de cada dia importava.
Em nossa época — quando tanto do que desejamos é de tão fácil acesso —, existe a tentação de nos desviarmos ou desistirmos sempre que a estrada à frente parecer um pouco acidentada ou o declive for muito acentuado. Nesses momentos, pode ser inspirador refletirmos sobre esses homens, essas mulheres e essas crianças que não deixaram as doenças, as dificuldades, as dores nem mesmo a morte os impedirem de trilhar o caminho que tinham escolhido.
Os pioneiros aprenderam que a superação de obstáculos enobrecia e fortalecia o corpo, a mente e o espírito, aumentava seu entendimento de sua natureza divina e aprofundava sua compaixão pelo próximo. Esse hábito enraizou-se em sua alma e tornou-se uma bênção para eles até mesmo após o fim da travessia das planícies e montanhas.
Otimismo
Quando os pioneiros cantavam, externavam uma terceira lição: “Mas alegres andai”.
Uma das grandes ironias de nossa época é o fato de sermos abençoados com tantas coisas e, ainda assim, sermos tão infelizes. As maravilhas da prosperidade e da tecnologia são abundantes e nos enchem de segurança, entretenimento, satisfação instantânea e conveniência. E mesmo assim vemos tanta infelicidade a nossa volta.
Os pioneiros, que se sacrificaram tanto, tinham pouquíssimo conforto e estavam privados das mais básicas necessidades de sobrevivência. Compreendiam que a felicidade não é fruto da sorte ou do acaso. Certamente não é resultado da realização de todos os nossos desejos. A felicidade não vem de circunstâncias externas, mas de dentro de nós, a despeito do que acontecer a nosso redor.
Os pioneiros sabiam disso e, com esse espírito, sentiam felicidade em todas as circunstâncias e em meio a todas as provações, até mesmo as adversidades que lhes atingiam até o âmago.
Provações
Às vezes pensamos nas dificuldades que os pioneiros enfrentaram e, com um suspiro de alívio, dizemos: “Graças aos céus, não vivi naquela época”. Mas me pergunto se esses pioneiros corajosos, caso pudessem ver-nos em nossa época, não diriam o mesmo.
O tempo e as circunstâncias podem ter mudado, mas não os princípios que nos ajudam a enfrentar as provações e a viver juntos com sucesso como uma comunidade humanitária, próspera e temente a Deus.
Com os pioneiros, aprendemos que podemos ter fé e confiança em Deus. Podemos aprender a ter compaixão pelo próximo. Podemos aprender que o trabalho e a industriosidade nos abençoam não só materialmente, mas também espiritualmente. Podemos aprender que a felicidade está a nosso alcance sejam quais forem as circunstâncias.
A melhor maneira de honrarmos os pioneiros e mostrarmos gratidão a eles é incorporar à nossa própria vida a fidelidade aos mandamentos de Deus, a compaixão e o amor por nossos semelhantes, a industriosidade, o otimismo e a alegria que eles demonstraram tão bem em sua própria vida.
Se assim procedermos, poderemos atravessar o tempo, dar as mãos aos pioneiros e entoar com eles em uníssono: “Tudo bem! Tudo bem!”