Superar o flagelo da dependência

Kevin Theriot, PhD

Serviços Familiares SUD

Compreender a dependência é um passo fundamental para superá-la. Contudo, devemos também confiar no Senhor e crer que Ele pode nos curar.

Quando alguém enfrenta uma dependência, é importante saber que há esperança. Todos os dias no mundo inteiro, pessoas conseguem se desvencilhar das substâncias ou condutas que as acorrentam. Para isso, é essencial um esforço pessoal conjunto, uma compreensão dos fatores exclusivos que as prendem ao ciclo da dependência, bem como a crença de que Deus pode inspirá-las em sua jornada pessoal rumo à liberdade.

No decorrer de meus 38 anos de assistência a vítimas de dependência, presenciei uma sensível melhora na maneira de compreender e tratar a questão. Estou convencido de que essa evolução prosseguirá nos anos vindouros. Embora os profissionais que estudam a dependência ainda se deparem com questões desconcertantes, continuamos a fazer avanços significativos. Portanto, as informações aqui apresentadas se baseiam no que sabemos hoje, com a crença de que luz e conhecimento adicionais seguirão despontando no futuro.

Compreender a dependência

Sei o quanto é doloroso lutar contra uma dependência, mas o primeiro passo é nós mesmos entendermos do que se trata. Aqui estão várias ideias-chave para propor esclarecimentos sobre o assunto:

As compulsões começam com uma exposição inicial e culminam na dependência. Seja qual for o estágio dessa escala na qual se encontre, a pessoa ainda pode, em maior ou menor grau, exercer o arbítrio e conseguir abandonar o comportamento nocivo.
Rotular alguém como viciado pode prejudicar seu progresso a longo prazo. Isso é particularmente verdade nos estágios iniciais do comportamento. Parece mais útil utilizar a expressão “em recuperação”. É como dizer: “Estou escolhendo confiar no Salvador e em Sua Expiação para me tornar mais semelhante a Ele”, em vez de: “Estou acorrentado ao pecado para sempre”.
Todas as dependências têm vários componentes: biológico (genética, química cerebral, etc.), psicológico (autoestima, características pessoais, estresse pós-traumático, etc.), social (pais, amigos, cultura, etc.) e espiritual (práticas religiosas pessoais e familiares, etc.). Todos esses componentes combinados e as respectivas forças relativas costumam criar uma situação tão única quanto cada ser humano. Cada componente pode exigir atenção específica e individualizada para a pessoa como um todo a fim de lhe permitir superar o comportamento prejudicial.

Biológico

Psicológico

Social

Espiritual

Sinais de alerta para a dependência

A seguir estão indícios de que uma pessoa pode estar desenvolvendo um hábito, depois uma compulsão e por fim uma dependência:

Obsessão: Ela começa a perder o interesse por atividades saudáveis à medida que a substância ou conduta prejudicial se impõe.
Incapacidade de se satisfazer: Ela quer cada vez mais.
Sigilo: Ela se mostra cada vez mais relutante em permitir que outras pessoas se inteirem de suas decisões e atitudes.
Negação: Ela mente para si mesma sobre sua dependência crescente e acredita nas próprias mentiras.
Abstinência: Quando lhe é negado o acesso à substância ou conduta prejudicial, surge um mal-estar.
Reincidência: Apesar de perceber o impacto negativo em sua vida, ela tem recaídas e retorna à substância ou conduta.

Além disso, uma vez enraizado o hábito, a pessoa costuma ser a menos indicada para avaliar com precisão em que estágio se encontra na dependência. Se você desconfiar que um ente querido esteja se encaminhando para uma dependência, há muitos recursos disponíveis tanto na comunidade quanto na internet.

Procurar tratamento

A responsabilidade pela mudança recai sobre cada indivíduo. Embora os familiares e amigos possam oferecer apoio, não lhes cabe interferir no arbítrio alheio. Se a pessoa não tiver o desejo de mudar, nenhuma forma de tratamento terá êxito.
O processo de recuperação pode ser diferente para cada pessoa. Devido aos pontos fortes e fracos dos quatro fatores únicos mencionados anteriormente (biológico, psicológico, social e espiritual), que variam de uma pessoa para outra, não há uma abordagem única de tratamento que funcione para todos. O estudo pessoal, as consultas com especialistas e o compromisso de perseverar até a chegada da solução são o que será determinante para o sucesso no final.
Uma dependência não resolvida pode deixar em ruínas não só a vida da vítima, mas também afetar negativamente toda a família. Essas pessoas amorosas e solidárias também precisam de apoio e cuidados.

Embora Deus tenha o poder de remover esse desafio das pessoas atingidas caso o permitam, Ele tem, em Sua infinita sabedoria, lições para elas aprenderem ao buscarem Sua ajuda para achar uma solução. Praticamente todos que se libertaram de uma dependência podem testificar do aprendizado alcançado por meio de sua vitória pessoal sobre o vício.

Para familiares e amigos

A dependência não deve ser vista apenas como uma fraqueza moral, mas como um desafio multifacetado que praticamente qualquer um pode vir a enfrentar. Caso conheça alguém que esteja sofrendo com uma dependência, há uma série de coisas que você deve cogitar fazer — e outras que não. Embora as sugestões a seguir não sejam uma lista completa e sua aplicação varie em função da situação, examine cada uma delas em espírito de oração:

É melhor prevenir do que remediar. Um homem prevenido vale por dois! Seja qual for o grau de receptividade da pessoa, não se omita. Muitas vezes me perguntam o que se deve dizer e como. Minha resposta sempre é: “Qualquer coisa é preferível a nada!” O silêncio é uma das piores estratégias. Ore para ter coragem e discernimento; em seguida, abra a boca e fale mesmo que a pessoa se recuse a ouvir.
O bom familiar ou amigo é aquele que incentiva e ajuda os entes queridos a fazer escolhas acertadas; desestimula também as escolhas ruins e não compactua com elas.
Esta escritura traz orientações de grande valia para alguém com um ente querido em situação de dependência: “Reprovando prontamente com firmeza, quando movido pelo Espírito Santo; e depois, mostrando então um amor maior” (Doutrina e Convênios 121:43).
Apoiar e torcer da maneira correta. Numa competição esportiva, as animadoras de torcida não levam para o lado pessoal as vitórias e derrotas. Entendem que seu papel é animar, incentivar e ser positivas. Embora tenham um envolvimento emocional na competição e desejem a vitória de sua equipe, não se ofendem quando as coisas não vão bem.
“[Estudar] bem [na] mente” (Doutrina e Convênios 9:8) é uma parte importante de ajudar a nós mesmos e à pessoa que nos preocupa. Aprenda sobre a dependência a fim de ter uma ideia melhor do que é, de como se dá o tratamento e do que você pode fazer para ajudar.