Jovens adultos
O que importa é para onde vou e não onde estive
Segui um caminho diferente do caminho estreito e apertado muitas vezes, mas, durante o trajeto, aprendi que o poder do Salvador e de Sua Expiação é real.
Minha vida não foi exatamente como imaginei.
Aos 18 anos, esperava fazer missão, casar-me pouco tempo depois e começar uma família antes dos 25. Tenho 32 anos agora. Não servi missão e estive inativo na Igreja a maior parte da vida adulta. Casei-me, passei pelo divórcio e me casei novamente.
Por ter seguido um caminho oposto ao do evangelho, achava que não havia lugar para mim na igreja. Entretanto, descobri que há lugar para mim, sim. Minhas experiências me ensinaram que o poder do Salvador e de Sua Expiação é real e que o que mais importa não é onde estive, mas para onde estou indo agora.
Acredito que, no princípio, questionei minhas crenças porque não tinha confiança de que meu testemunho era forte o suficiente para servir missão. Lembro-me de que, perto da formatura do Ensino Médio, eu pensava: E se meu testemunho não for completamente meu? E se estiver me apoiando demais no testemunho de outras pessoas?
Isso me incomodava. Queria servir missão, mas me perguntava se as experiências espirituais que tivera até o momento eram suficientes para fazer de mim o que pensava que um missionário bem-sucedido deveria ser — alguém com suficiente força espiritual e conhecimento do evangelho para ensinar outras pessoas.
Ao fazer um retrospecto, percebo que deveria ter pedido a Deus que me ajudasse a compreender o conselho dado em Doutrina e Convênios 124:97: “Que seja humilde perante mim, (…); e receberá meu Espírito, sim, o Consolador, que lhe manifestará a verdade de todas as coisas e mostrar-lhe-á, na hora exata, o que deverá dizer”.
Mas, em vez de perguntar a Deus, eu me perdi ao comparar minha estatura espiritual com a de outras pessoas e temi que minhas inadequações impedissem as pessoas de aceitar o evangelho.
Então, por conta própria, continuei a tentar descobrir como jovem adulto em que eu acreditava. Não enxerguei o perigo do que vi como uma decisão isolada que não redefiniria o que eu era como pessoa. Comecei a me afastar das pessoas que amava porque sabia que ficariam decepcionadas com minhas escolhas. E me cerquei de pessoas que não se importavam com o que eu estava fazendo. Certo dia, experimentei bebida alcoólica por curiosidade. Beber se tornou parte de minha vida e, no final, passou de recreação para algo a que recorria para lidar com situações difíceis. Essas mudanças negativas em minha vida nessa época não foram ligadas a nenhuma escolha específica, foram acontecendo aos poucos. Demorou dois anos para eu tomar consciência de que as pequenas escolhas que fizera no decorrer do tempo me levaram a um lugar onde não queria estar.
Não estou dizendo que, para saber da veracidade do evangelho, deve-se experimentar o lado oposto. Minhas ações causaram dor não só a mim, mas também às pessoas que amava — muita dor desnecessária. Sou grato porque consegui ser humilde o suficiente para perceber que (1) eu me sentia péssimo e (2) era muito mais feliz quando vivia os mandamentos de Deus. Foi algo que descobri por mim mesmo, algo que posso defender e compartilhar com outros.
Procurei meu bispo para consertar as coisas e nos reunimos frequentemente em minha preparação para servir missão. Meus papéis estavam quase prontos quando senti que devia me assegurar de que ele compreendia bem algumas das escolhas que eu fizera. Essa conversa não foi fácil, mas, quanto mais eu queria sair em missão, mais desejava estar digno perante Deus. Queria assumir o que havia feito de errado e depor tudo aos pés Dele para poder ser purificado.
Logo depois, passei por um conselho disciplinar. Estava aterrorizado por ter que admitir o que tinha feito na frente de pessoas que foram meus líderes e mentores por anos, mas, ao vê-los na sala, senti paz. Compreendi que eles estavam lá para me compreender e ajudar. Quando saí, senti o Espírito me assegurar de que, qualquer que fosse a decisão, eu fizera minha parte e ia ficar bem. Deus e os líderes que me amavam trabalhariam comigo para que eu chegasse onde precisava estar. Saí dali sentindo o amor do Salvador e sabendo que eu não estava fora do alcance de Sua redenção.
Um lugar para a imperfeição
Apesar da paz que senti, foi difícil enfrentar as perguntas das pessoas sobre os motivos de eu não estar na missão. Conforme continuei a passar pelo processo de arrependimento com a ajuda do bispo, tornou-se cada vez menos provável que eu saísse em missão. Tinha que descobrir como seguir em frente sem isso. Aos 21 anos, foi difícil sentir que pertencia a algum lugar porque não me encaixava no grupo de futuros missionários, de ex-missionários ou de jovens adultos casados.
Era difícil namorar. Às vezes as moças me tratavam de maneira diferente depois que lhes dizia que não tinha servido missão e que estivera inativo por algum tempo. Por uma razão ou outra, a maioria de minhas interações nunca passou do primeiro encontro.
Fiquei feliz por finalmente me casar no templo, mas às vezes ainda sentia que não me encaixava. Tinha um testemunho, mas não sabia como compartilhá-lo e as aulas da igreja pareciam testes nos quais meus companheiros me veriam fracassar. Pensava assim porque a maioria deles tinha a vida que eu queria, não tinham errado tanto quanto eu.
Certo dia, o bispo me entrevistou para ensinar no quórum de élderes. Fiquei surpreso, já que estivera no quórum de élderes só duas vezes no ano anterior. Apesar de me sentir extremamente ansioso, aceitei o chamado. No primeiro domingo como professor, fiz a mais estranha apresentação que eles já devem ter ouvido:
“Oi, irmãos, sou Richard Monson. Nunca servi missão e estive inativo na maior parte de minha vida adulta. Não tenho vindo ao quórum de élderes com frequência porque sinto que não pertenço a ele ou me encaixo nele. Não vou conseguir responder a todas as suas perguntas, mas espero que todos participem para podermos aprender juntos. Se não se importam com minha situação, podemos começar”.
Percebi naquele dia que poderia admitir para os outros e para mim mesmo que, embora não me considerasse o “membro ideal” (alguém que serviu missão, foi ativo durante toda a vida e não cometeu erros graves), estava indo na mesma direção que eles e era isso que importava. Fiquei surpreso ao descobrir que mais de um desses homens que eu pensava ter uma vida perfeita tinha cometido erros também. Creio que isso reforçou a ideia de todos nós de que a perfeição não é um requisito que agrega valor à classe ou à Igreja como um todo.
Tempos difíceis e uma decisão
Infelizmente, minha atividade na Igreja não durou. Meu casamento teve problemas e voltei aos velhos vícios para fugir da dor. O lazer começou a tomar o lugar da frequência à igreja.
Três anos se passaram e cheguei ao fundo do poço. Tinha que tomar uma decisão. Poderia viver o evangelho sozinho a despeito do que estava acontecendo em minha vida? Ou simplesmente aceitaria sucumbir à escuridão? Sabia que me comprometer a seguir o caminho estreito e apertado significaria me livrar das influências negativas. Além disso, meu desejo de voltar à igreja demonstrava que minha mulher e eu estávamos em caminhos diferentes. Com o casamento do jeito que estava, caminhávamos para o divórcio.
Estava apavorado. Não havia garantias de que meus esforços me dariam as coisas boas que eu desejava. Mas tomei a decisão de voltar ao que aprendera anos antes — que era mais feliz quando vivia o evangelho. Decidi me comprometer completamente e seguir os mandamentos, sem me importar com o que acontecesse. Pelo restante da vida, eu confiaria Nele.
Novamente, comecei a voltar para a igreja e colocar minha vida em ordem. Um dos dias mais felizes de minha vida foi quando recebi a recomendação para o templo de novo. Encontrei consolo no templo conforme meu casamento piorava e caminhava para o fim.
Encontrar minha fonte de autoestima
Por mais medo que sentisse, por meio dessa experiência, aprendi a reconhecer a mão de Deus em meu caminho. Apesar de ter errado muito, a corrida não estava perdida. Eu não estava competindo com ninguém. Quando confiei no Salvador para recuperar minha autoestima, parei de despender esforços para tentar mudar o que os outros pensavam de mim.
Eu me sentia bem ao me sentar sozinho na igreja ou entre pessoas que estavam em diferentes estágios da vida. Esforcei-me para não me esconder das pessoas e passei a conversar com os membros da ala. Conseguia desfrutar das reuniões devido ao propósito delas.
Sentir tal paz também me ajudou a começar a namorar de novo. Ainda tive muitos primeiros encontros que ficaram só nisso, mas sabia que não tinha que comprometer meus padrões simplesmente porque havia errado no passado. Estava vivendo o evangelho o melhor que podia e era bom o suficiente para namorar alguém que também o estava vivendo o melhor que podia.
Finalmente, encontrei uma filha de Deus digna, com quem me casei no templo. O caminho que ela trilhou foi muito diferente do meu, mas estávamos na mesma página no que se referia ao amor pelo Salvador e à compreensão de Sua Expiação.
Com o passar dos anos, aprendi a não deixar meu passado ou a aprovação de outras pessoas definirem meu valor atual. Abandonei a ideia de que o sucesso se mede por ter uma vida perfeita. Nem todos apreciam onde estou agora devido ao caminho que percorri, mas tudo bem. Não é minha meta convencê-los. Minha meta é continuar a me arrepender e me aproximar mais do Salvador. É por causa Dele que, como Alma, o Filho, depois de seu arrependimento, não sou “atormentado pela lembrança de meus pecados” (Alma 36:19). Posse sentir paz ao saber que o que importa é para onde estou indo — em direção ao Salvador.