Fé em meio ao caos
Sou professora de inglês há 16 anos e trabalho em uma escola no município de Aracruz, no Espírito Santo. Sou casada e tenho três filhos, um casal de gêmeos de 8 anos de idade e um bebê de 1 ano.
O dia 25 de novembro de 2022 começou de forma habitual para mim. Acordei cedo e me arrumei para trabalhar como de costume. No horário do recreio dos alunos, fui para a sala dos professores. Tinha voltado de licença maternidade havia pouco tempo e estava conversando com uma colega professora, contando sobre as novidades do período em que estive em casa cuidando de meu filho mais novo. Em questão de segundos, tudo mudou. A porta da sala dos professores estava aberta, e vi um aluno entrar. Ele estava com uma arma e com o rosto coberto por uma máscara. Ele começou a atirar, e só me lembro de ouvir meus colegas gritando assustados. Ele havia me acertado. Levei sete tiros diretos no estômago e na perna esquerda e um tiro de raspão no braço. Outros colegas também foram alvejados. Naquele momento, eu só conseguia orar e perguntar para o Senhor o que estava acontecendo. Estava com muito medo de morrer e me perguntava por que morreria logo agora que o Pai Celestial havia me dado mais um filho para cuidar aqui na Terra. Pedi forças para suportar a dor e o sofrimento até receber socorro. Logo senti paz e tranquilidade, mesmo em meio ao caos. Deitei-me no sofá que tinha na sala dos professores e aguardei até a ambulância chegar para socorrer todos os feridos. Conforme as pessoas iam sendo resgatadas, eu ouvia sobre algumas delas que não tinham resistido e haviam morrido. Fui socorrida e levada para o hospital em um helicóptero. Eu ainda não sabia da gravidade da minha situação.
Fiquei internada por 22 dias, passei dez dias em coma induzido e entubada. Fui submetida a muitas cirurgias nesse período no hospital. Um tiro transpassou meu braço esquerdo e outro minha perna esquerda. Também fui atingida no quadril e no abdômen, que atingiu meu intestino grosso. Dois tiros atingiram minha perna direita, quebrando vários ossos do joelho ao pé, e um tiro atingiu meu seio direito, perfurando meu pulmão. Os médicos não estavam muito esperançosos devido à gravidade das perfurações. Todas as vezes que conversavam com meu marido, eles diziam que meu estado era muito crítico. Em todos esses dias no hospital, eu quase tive que amputar minhas duas pernas e quase tive uma infecção generalizada. A situação não era nada fácil.
Durante todo esse período, meu marido recorreu à ajuda do presidente do ramo e do presidente de nossa estaca para entrar em contato com líderes e membros de outras unidades a fim de pedir por orações e jejum em meu favor. Um grupo com mais de 300 pessoas foi criado e, nesse grupo, meu marido e o presidente do ramo davam atualizações diárias sobre meu estado e as dificuldades que estávamos enfrentando. Os irmãos de nosso ramo e nossa estaca começaram a jejuar e orar fervorosa e diariamente por uma causa específica a cada dia.
Acordei do coma depois de dez dias e percebi que não conseguia mexer os dedos e meus braços. Foi o momento que percebi que estava na UTI do hospital. Meu marido me perguntou se eu lembrava do que havia acontecido, e eu disse que sim. Naquele momento, ele me contou sobre toda a mobilização de nossa família, de nossos amigos e dos membros da Igreja que não pararam de orar e jejuar por minha recuperação. Ele me mostrou as mensagens de fé e esperança de muitas pessoas, e isso me ajudou muito a sentir paz e o amor do Salvador por meio de tantas pessoas. Muitas pessoas se voltaram para o Salvador por meio de jejum e oração por mim e por tantas pessoas que haviam sido afetadas por aquele trágico episódio. Sei de muitas pessoas que estavam afastadas da Igreja e, ao se unirem a esse grupo de pessoas que oravam todos os dias, reaproximaram-se do Salvador. Soube de muitas pessoas que tiveram experiências espirituais muito sagradas nesse período em que estive no hospital.
Não senti dor em nenhum momento apesar da complexidade de meus ferimentos. Sou grata por ter sentido paz em todos esses dias, por ter ficado mais próxima do meu Salvador e por Ele ter me protegido e me orientado em todos os momentos. Sou grata por ter o conhecimento do evangelho de Jesus Cristo e por saber onde posso encontrar esperança, paz e consolo, mesmo em momentos difíceis.