“Um Rosto na Janela”, Liahona, mar. 2024.
Vozes dos Santos dos Últimos Dias
Um Rosto na Janela
Pensei que a minha vizinha estava a ser intrometida, mas descobri que ela só precisava de uma amiga.
Vi, muitas vezes, o mesmo rosto a olhar pela janela de um apartamento. Pensei comigo mesma: “Não é triste que alguém fique constantemente a olhar pela janela, a julgar as atividades dos vizinhos?”
Então, um dia, pensei que talvez pudesse perguntar se poderia ajudar em alguma coisa. Resolvi levar comigo um pouco de pão acabado de fazer.
O pão quente derreteu o gelo do coração da minha vizinha idosa. Com lágrimas nos olhos, ela contou-me como se sentia solitária. Ninguém a visitava nem ligava para ela, nem mesmo os seus próprios filhos. Com a mão trémula, enxugou as lágrimas do rosto.
— Como seria bom simplesmente deixar este mundo — disse ela num suspiro. — Não julgo ninguém ao olhar pela minha janela. Apenas vejo as crianças a brincar e outras coisas que acontecem no pátio.
Ao longo do tempo, conversámos sobre o evangelho. No início, ficou reticente porque o marido dela era representante de outra igreja. Mas, quanto mais conversávamos, mais impressionada ela ficava com as verdades que eu partilhava sobre Jesus Cristo e o Seu evangelho restaurado.
— É maravilhoso que tenhamos o mesmo Jesus! — disse ela. — Vamos ver-nos no céu?
— Sim — respondi, — estaremos lá juntas e de mãos dadas.
A partir daí, fomos boas amigas por muitos anos, até que ela finalmente partiu deste mundo.
Agora gosto de pensar que a minha antiga vizinha olha pela janela do seu lar celestial, para acompanhar as nossas atividades e à espera que tenhamos harmonia e amor suficientes uns para com os outros.