O Bem-Estar sob a Perspectiva do Evangelho: A Fé em Ação
Irmãos e irmãs, sinto-me grato por esta oportunidade de falar-lhes a respeito dos princípios de bem-estar do sacerdócio sob a perspectiva do evangelho na Igreja restaurada de Jesus Cristo.
A tempestade econômica que por muito tempo vem ameaçando o mundo abateu-se agora sobre nós. O impacto dessa tempestade econômica sobre os filhos de nosso Pai Celestial requer hoje, mais do que nunca, uma perspectiva do evangelho sobre o bem-estar. Os princípios de bem-estar inspirados no sacerdócio são tanto temporais quanto espirituais. Eles também são eternos e aplicam-se a qualquer circunstância. Sejamos ricos ou pobres, eles existem para nós.
Sempre que praticamos os princípios de bem-estar, estamos vivendo a “religião pura” conforme definido nas escrituras (Tiago 1:27). O Salvador ensinou; “Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40). Ele também ensinou que não devemos apenas encontrar e “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”, mas “guardar-[nos] da corrupção do mundo” (Tiago 1:27). Em outras palavras, não apenas fazemos o bem, mas nos esforçamos para ser bons.
Esta, então, é a perspectiva do evangelho sobre o bem-estar: Colocar em ação nossa fé em Jesus Cristo. Servimos ao próximo conforme guiados pelo Espírito. Ao vivermos os princípios de bem-estar do evangelho, aplicamos os ensinamentos do Salvador aqui na mortalidade.
Quais, então, são esses princípios de bem-estar? Como podemos usá-los como tijolos espirituais e temporais em nosso dia-a-dia?
O Viver Previdente e a Autossuficiência
O primeiro tijolo pode ser descrito como o viver previdente. Isso significa viver com alegria dentro de nossas posses — preparando-nos para os altos e baixos da vida de modo que possamos estar prontos para quando as emergências de dias difíceis se abaterem sobre nós.
O viver previdente significa não cobiçar as coisas deste mundo. Significa usar os recursos da Terra com sabedoria e não desperdiçar, mesmo em tempos de fartura. O viver previdente significa evitar as dívidas excessivas e contentar-nos com o que temos.
Vivemos numa época de ganância. Muitos creem que precisam ter tudo o que os outros têm — e agora. Incapazes de adiar a satisfação, eles se endividam para adquirir o que não têm condições de comprar. Os resultados sempre afetam o bem-estar temporal e espiritual dessas pessoas.
Quando nos endividamos, abrimos mão de parte de nosso precioso e inestimável arbítrio e colocamo-nos em uma servidão imposta por nós mesmos. Sujeitamos nosso tempo, energia e meios, a fim de pagar o que tomamos emprestado — recursos esses que poderiam ter sido usados para ajudar a nós mesmos, nossa família e o próximo.
Ao diminuirmos nossa liberdade por causa da dívida, a desesperança nos exaure fisicamente, deprime mentalmente e sobrecarrega espiritualmente. Nossa autoimagem é afetada, assim como nosso relacionamento com o cônjuge e filhos, amigos e vizinhos e, por fim, com o Senhor.
Pagar nossas dívidas agora e evitar dívidas futuras requer de nós o exercício da fé no Salvador — devemos não apenas fazer melhor, mas ser melhores. É preciso ter muita fé para dizer estas simples palavras: “Isso nós não podemos comprar”. É preciso ter fé para confiar que a vida será melhor ao sacrificarmos nossas vontades em prol de nossas próprias necessidades e das do próximo.
Testifico que feliz é o homem que vive conforme seus próprios meios e é capaz de economizar um pouco para as necessidades futuras. Ao vivermos de modo previdente e aumentarmos nossos dons e talentos, tornamo-nos mais autossuficientes. Ser autossuficiente significa sermos responsáveis por nosso próprio bem-estar espiritual e temporal e pelo bem-estar daqueles a quem o Pai Celestial confiou para que cuidássemos. Somente quando somos autossuficientes podemos verdadeiramente imitar o Salvador, servindo e abençoando o próximo.
É importante entendermos que a autossuficiência é um meio de alcançarmos nossas metas. Nossa meta máxima é nos tornarmos como o Salvador, e isso é realçado pelo serviço abnegado ao próximo. Nossa habilidade de servir aumenta ou diminui conforme o nível de nossa autossuficiência.
Como disse o Presidente Marion G. Romney certa vez: “O alimento para o faminto não se tira de prateleiras vazias. O dinheiro para ajudar o necessitado não pode sair de um bolso vazio. O apoio e a compreensão não podem vir do emocionalmente carente. O ignorante não pode ensinar. E, mais importante que tudo, o espiritualmente fraco não pode dar orientação espiritual” (em Conference Report, outubro de 1982, p.135; ou A Liahona, janeiro de 1983, p. 162).
Pagar Dízimos e Ofertas
De que forma então obteremos a ajuda do Pai Celestial a fim de termos o suficiente para nossas próprias necessidades e também para servir os outros? Um dos princípios fundamentais do bem-estar é o pagamento do dízimo e das ofertas.
O propósito principal do dízimo é desenvolver nossa fé. Quando obedecemos ao mandamento de pagar “a décima parte de toda [nossa] renda anual” (D&C 119:4), tornamo-nos melhores; nossa fé aumenta e nos sustém nas provações, tribulações e aflições da vida.
Com o pagamento do dízimo, também aprendemos a controlar nossos desejos e apetites pelas coisas deste mundo, a ser honestos ao lidarmos com nossos semelhantes e a nos sacrificar pelo próximo.
Quando nossa fé aumenta, cresce também o nosso desejo de obedecer ao mandamento de pagar as ofertas de jejum. Isso significa que doamos pelo menos o valor das duas refeições que não comemos durante o jejum. As ofertas de jejum são o meio que nos foi dado para participar da “doação anônima”, a fim de abençoar nossos irmãos e irmãs que se encontram em necessidade espiritual e temporal — dar sem esperar gratificações ou benefícios terrenos. A doação abnegada permite seguirmos o padrão do Salvador, que de livre vontade entregou Sua vida por toda a humanidade. Ele disse: “E em todas as coisas lembrai-vos dos pobres e necessitados, dos doentes e dos aflitos, porque aquele que não faz estas coisas não é meu discípulo” (D&C 52:40).
Como verdadeiros discípulos de Cristo, também doamos assim como fez o Bom Samaritano, que com coragem resgatou seu irmão desconhecido às margens da estrada (ver Lucas 10:25–37). Disse o Profeta Joseph Smith: “Um homem cheio do amor de Deus não fica contente em abençoar apenas sua família, mas estende a mão para o mundo inteiro, ansioso por abençoar toda a humanidade” (History of the Church, vol. 4, p. 227).
Preparar-se para o Futuro
Conforme aconselharam os profetas modernos, um dos tijolos mais importantes do bem-estar está relacionado a nos prepararmos para o futuro.
Fazer um orçamento
Preparar-nos para o futuro inclui fazer um plano dos gastos e economias com nossa renda. Preparar cuidadosamente e manter um orçamento familiar ou pessoal pode ajudar-nos a reconhecer a diferença entre nossos desejos e necessidades. Examinar esse orçamento em um conselho familiar dará a nossos filhos a oportunidade de aprender e de praticar hábitos de consumo sábio e de participar do planejamento e economias para o futuro.
Instrução
Preparar-nos para o futuro também significa buscar estudos ou instrução profissional e encontrar um emprego rentável. Se você está empregado, faça tudo o que puder para ser uma parte valiosa e essencial da organização a que pertence. Trabalhe com vigor e seja um “obreiro (…) digno de [seu] salário” (ver Lucas 10:7; ver também D&C 31:5; 70:12; 84:79; 106:3).
Nestes tempos em que as empresas continuam a reduzir de tamanho ou fechar, mesmo os melhores empregados podem ter a necessidade de encontrar um novo emprego. Essa é uma oportunidade para confiar no Senhor, crescer e ser fortalecido. Se está procurando emprego, aumente sua fé no desejo e poder que o Senhor tem de abençoá-lo. Da mesma forma, procure o conselho daqueles em quem confia e não tema falar com as pessoas e pedir ajuda para encontrar um emprego. Se necessário, mude seu estilo de vida — e, talvez, mude de residência — para viver de acordo com suas posses. Tenha a disposição de buscar instrução adicional e aprender novas habilidades, a despeito de sua idade. Cuide da saúde e permaneça próximo de seu cônjuge e filhos. E, acima de tudo, seja grato. Ore expressando gratidão por tudo que lhe tem sido dado. O Pai Celestial o ama. Seu Filho prometeu: “Todas essas coisas [te] servirão de experiência e serão para o [teu] bem” (D&C 122:7).
Preparação Espiritual
Irmãos e irmãs, esta é a hora de assentarmos os tijolos do bem-estar em nossa vida e ensinarmos nossos irmãos e irmãs a fazerem o mesmo. As escrituras nos ensinam: “Se estiverdes preparados, não temereis” (D&C 38:30). Ao guardarmos os mandamentos e vivermos os princípios de bem-estar, podemos ter sempre conosco a companhia do Espírito do Senhor para suster-nos durante as tempestades destes últimos dias e trazer paz a nossa alma.
Assim como economizamos nossos recursos temporais para tempos de dificuldades, guardar os mandamentos, orar, ler as escrituras e confiar no Espírito Santo preparam-nos para as provações da vida. Por meio da obediência, armazenamos a fé necessária para enfrentar as vicissitudes e desafios da vida. Ao nos mantermos limpos do mundo — sendo assim “bons” — somos capazes de fazer o bem para nossos irmãos e irmãs ao nosso redor, tanto temporal como espiritualmente.
Para finalizar, permitam-me compartilhar apenas um exemplo do que fazemos no serviço humanitário.
Todos os anos, os membros da Igreja ajudam a cavar poços onde não há outro recurso de água para beber. Considere o benefício de apenas um desses poços, cavado em uma aldeia remota. Enquanto alguns podem caracterizar isso como uma bênção apenas temporal, quais são as bênçãos espirituais para uma mãe que antes caminhava horas para encontrar água e mais horas ainda para trazer a água para seus filhos? Antes de o poço ser cavado, que tempo ela tinha para ensinar o evangelho aos filhos, orar com eles e nutri-los no amor do Senhor? Que tempo ela tinha para estudar as escrituras, ponderar sobre elas e receber força para enfrentar os desafios da vida? Ao colocar sua fé em ação, os membros da Igreja ajudaram a saciar a sede temporal da família dela e também providenciaram um meio para que eles pudessem beber livremente da água da vida e nunca mais ter sede. Sendo fiéis em viver os princípios de bem-estar, eles foram capazes de cavar “uma fonte de água que [salta] para a vida eterna” (João 4:14).
Testifico que viver os princípios de bem-estar do sacerdócio é a medida de nosso amor cristão. É nossa oportunidade sagrada aplicar o evangelho restaurado de Cristo na Terra, colocando nossa fé em ação e recebendo a plenitude de Sua alegria nesta vida e no mundo vindouro.
Presto-lhes meu testemunho especial de que nosso Salvador vive e deu Sua vida por nosso bem-estar eterno. Em nome de Jesus Cristo. Amém.