“Tens Fé?”

Alan Oviedo

Enquanto estava na montanha, naquele dia de outono, aprendi que o sacerdócio pode fazer milagres.

Fotografias de Leslie Nilsson, Michael R. Morris, Luis Oviedo e Hector Reyes

A última memória que tenho, antes da moto-quatro capotar, foi de estar tão assustado que nem conseguia gritar. Fechei os olhos e senti o meu corpo a ser arrastado pelo chão. Quando a moto-quatro caiu em cima de mim, deixou-me inconsciente. De alguma maneira, o meu amigo Kurt, que também estava lesionado, conseguiu tirá-la de cima de mim.

Quando despertei, senti o sabor de sangue e de terra na boca. Estava tonto e deitado na berma da estrada. No início não senti dor, mas rapidamente começou a doer sempre que respirava. Depois do Kurt me ajudar a tirar o capacete, o meu braço esquerdo, que estava todo torto, também começou a doer. Eu tinha um papo na cabeça e, quando vi a minha perna esquerda, tinha um corte enorme. A minha perna estava a sangrar e rapidamente inchou, duplicando de tamanho.

Naquele momento tive medo — não de morrer mas de pensar que talvez nunca mais pudesse jogar futebol outra vez.

Os meus pais são da Argentina. Todos na minha família sabem jogar futebol. Eu cresci a jogar e a ver todos os jogos, especialmente com o meu pai. Quando a Argentina ganhou o Campeonato do Mundo em 2022, foi o melhor dia de sempre!

Jogar futebol ensinou-me que, se eu fizer o meu melhor, posso fazer coisas que nunca pensei serem possíveis. E isto também se aplica à escola, como, por exemplo, aos testes. Os testes podem ser muito difíceis, mas se eu estudar e trabalhar arduamente, sei que tudo ficará bem.

E também descobri que eu fico muito mais frustrado quando não jogo bem do que quando a minha equipa perde. Mesmo que percamos, ainda assim, ficarei feliz porque joguei bem.

Um Teste de Fé

Logo depois do acidente, a minha irmã Nicole apareceu com a sua amiga noutra moto-quatro e dois rapazes que tinham visto acidente também apareceram na sua moto-quatro.

“O meu pai é enfermeiro”, disse um dos rapazes. Enquanto ele tentava ligar ao seu pai, a Nicole e a sua amiga voltaram apressadamente para o parque de campismo para chamar o meu pai.

Naquela manhã, o enfermeiro Mike Staheli tinha planeado ir para casa depois de ter acampado no fim de semana com um grupo de amigos. No entanto, foram inspirados a permanecer lá só mais um dia. Sou grato por eles terem ficado.

Enquanto o Mike verificava os meus sinais vitais e aplicava os primeiros socorros, alguém chamou a ambulância. O Mike temia que eu tivesse partido o braço e o fémur, partido algumas costelas e que tivesse uma hemorragia interna.

Ele disse-me que a ambulância da cidade mais próxima deveria chegar primeiro, mas que eu estava num estado físico crítico e que deveria ser transportado via aérea para o Primary Children’s Hospital, em Salt Lake City, Utah. Foi também chamado um helicóptero aeromédico.

Quando o meu pai e o seu amigo Hector vieram ao meu encontro, sabiam que eu precisa de uma bênção do sacerdócio. O meu pai perguntou: “Tens fé no poder do sacerdócio? Tens fé que o Senhor pode ajudar-te e curar-te?”

“Eu tenho fé, papá”, disse-lhe. Mas ao mesmo tempo, pensei: “E se eu não tenho fé suficiente?”

O meu pai fez a unção e o Hector abençoou-me. Assim que a bênção começou, a minha respiração estabilizou-se, senti-me mais calmo e senti um calor, apesar de estar frio. Soube imediatamente que a minha fé era suficiente e que eu iria ficar bem.

Quando a ambulância chegou, os paramédicos cortaram a minha camisola de futebol favorita e verificaram os meus sinais vitais. Estavam estabilizados. O helicóptero chegou alguns minutos depois.

Quando helicóptero aterrou no hospital, fui levado rapidamente para dentro. Os enfermeiros e médicos examinaram-me e fizeram imensos testes, inclusive uma ressonância magnética. Eu e o meu pai esperávamos por más notícias, e eles também.

Mas não encontraram nada de errado! Não tinha ossos partidos, nem tinha uma hemorragia interna ou algum sinal de traumatismo craniano. Mesmo assim, a minha perna ainda doía muito.

“Isto é um milagre”, exclamou a enfermeira. Mais tarde, um médico disse: “Bem, Alan, pelos vistos já podes ir para casa hoje à noite”.

Eu perguntei-lhe: “A sério?”

Devido à minha dificuldade em andar, passei a noite no hospital. Recebi alta na manhã seguinte, com apenas uma tala no pulso esquerdo. Algumas semanas mais tarde, estava de novo a treinar futebol.

Sacerdócio, Fé e Família

Pergunto-me o que é que teria acontecido se o meu pai e o Hector não fossem portadores do sacerdócio. Eu poderia estar muito pior. Naquele dia, apercebi-me da importância do sacerdócio. Aprendi que a fé em Jesus Cristo e o poder do sacerdócio podem fazer milagres.

Também aprendi que os portadores do sacerdócio têm de ser bons exemplos. Enquanto portadores do sacerdócio, se fizermos más escolhas demonstramos que não respeitamos nem honramos o poder de Deus. Mas ao sermos bons exemplos, mostramos aos outros que honramos o sacerdócio e sabemos que o Senhor pode fazer milagres através de nós.

Sou grato pela minha família e pela Igreja. Penso constantemente nos sacrifícios que os meus pais fizeram por mim e pelos meus irmãos e irmãs. Eles põem-nos em primeiro lugar. Recentemente, o meu pai magoou-se no joelho a jogar futebol e agora não consegue trabalhar. Muitas pessoas, especialmente os membros da Igreja, têm-nos abençoado ao trazerem alimentos e outras coisas que precisamos. Para manter a minha fé firme, eu oro todas as manhãs, vou ao seminário e leio as escrituras todas as noites em família. Isto ajuda-me realmente.

O Alan a caminhar com a sua família, um meses depois do seu acidente.

Desde o acidente, penso frequentemente sobre como Deus me tem abençoado. Sempre que me deparo com um desafio, a primeira coisa que faço é ir diretamente a Ele. Sinto que se Ele me amou o suficiente para abençoar-me e ajudar-me durante o acidente, Ele pode ajudar-me em qualquer coisa.

O autor vive em Salt Lake City, Utah, EUA.