Nutrição Espiritual
Precisamos aumentar os nossos nutrientes espirituais,— nutrientes que tenham origem no conhecimento da plenitude do evangelho e nos poderes do santo sacerdócio.
Todo verão, meu avô costumava levar seu gado para pastar nos belos e verdejantes vales das montanhas a leste de nossa cidade, no centro de Utah. No entanto, o gado precisava de nutrientes extras que existiam no sal que comiam. O sal de rocha é oriundo de uma mina de sal dos arredores. Vovô amarrava o saco de sal na sela de um cavalo forte e percorria com ele a pastagem enchendo os cochos com o sal. Eu chamava o cavalo de Molenga por uma boa razão. Vovô me colocava sobre o cavalo com a sela carregada de sal e me dava as rédeas para que eu guiasse o animal montanha acima, seguindo vovô em seu cavalo.
Meu cavalo, o Molenga, era lento, mas eu não o forçava porque ele levava uma carga pesada. Gastávamos um dia inteiro para subir a montanha até que todo o sal fosse descarregado nos cochos. À medida que os dias ficavam mais quentes, eu sentia ferroadas nas pernas quando elas roçavam as pedras de sal que estavam no alforje. Era com alegria que, ao cruzar um riacho, eu podia descer do cavalo e me livrar das ferroadas lavando e enxugando as pernas.
Vovô cantava quase o dia todo; a maioria das canções eram hinos de Sião. Porém, uma canção que me impressionava muito era “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Pensando bem, transportar sal montanha acima era uma experiência agradável e, ao mesmo tempo, os nutrientes extras do sal de rocha fortaleciam o gado.
Um nutriente suplementa a alimentação e promove o crescimento e a saúde tanto dos animais quanto dos seres humanos. O gado do vovô necessitava desses nutrientes, porém, os seres humanos precisam de algo mais. Eles precisam ser reabastecidos espiritualmente, porque “mais é a vida do que o sustento”1 e “há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso o faz entendido”2. O espírito humano anseia por amor. Ele também carece ser “criado com as palavras da fé e da boa doutrina”.3
A nutrição espiritual nos prepara para o batismo. Essa preparação implica nos humilharmos diante de Deus, com “o coração quebrantado e o espírito contrito”, arrependendo-nos de todos os nossos pecados, estando “dispostos a tomar sobre [nós] o nome de Jesus Cristo”, manifestando “por [nossas] obras que [recebemos] o Espírito de Cristo”4.
Nosso nutriente espiritual mais importante é o testemunho de que Deus é nosso Pai Eterno, que Jesus é nosso Salvador e Redentor, e que o Espírito Santo é nosso Consolador. Esse testemunho é nos confirmado pelo dom do Espírito Santo. É desse testemunho que retiramos os nutrientes espirituais da fé e confiança em Deus, o que nos traz as bênçãos dos céus. Os nutrientes espirituais nos advêm de várias fontes, mas devido a restrições de tempo, gostaria de mencionar apenas três.
Há alguns anos, um jovem que estava terminando o segundo grau resolveu nutrir-se por meio do estudo das escrituras meia hora por dia. Ao iniciar a leitura do Novo Testamento, ele encontrou uma dificuldade. Não sentiu a esperada elevação espiritual e não estava conseguindo nenhuma inspiração. Então, ele se perguntou: “O que estou fazendo de errado?” Aí se lembrou de um episódio ocorrido na escola. Ele e alguns amigos estavam contando piadas—algumas das quais não eram engraçadas, e eram também totalmente indecorosas. Ele não só havia participado, mas também havia feito alguns comentários inadequados. Enquanto ele lembrava, seus olhos caíram sobre as palavras de Mateus: “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo”5. Ele reconheceu que o Espírito o havia direcionado àquelas palavras. Colocou então a Bíblia de lado e, arrependido, fez uma oração.
A resposta à pergunta dele “O que estou fazendo de errado?” foi simples. Ele estava lendo as escrituras, marcando-as e até gostando delas, mas não estava vivendo os conselhos nelas contidos. À medida que renovava seus esforços de leitura e tentava viver o exemplo de Cristo, logo percebeu que diferentes áreas de sua vida começaram a ganhar novo sentido.6 A incorporação das escrituras em seu dia-a-dia lhe trouxera importantes nutrientes espirituais.
Em nosso incerto ambiente físico, precisamos aumentar os nossos nutrientes espirituais, — nutrientes que tenham origem no conhecimento da plenitude do evangelho e nos poderes do santo sacerdócio. Quando tal conhecimento penetra nossas almas, não só nos aproximamos de Deus, mas também desejamos servir a Ele e ao próximo.
Há alguns anos, um quórum de sacerdotes decidiu coletar alimentos para os necessitados como parte de um projeto de serviço. Jim, um dos sacerdotes, estava animado com o projeto e decidiu coletar mais alimentos do que os outros. Finalmente, os sacerdotes se reuniram na capela. Todos haviam saído na mesma hora e voltaram à capela mais tarde em uma hora preestabelecida. Para a surpresa de todos, o carrinho de Jim estava vazio. Ele estava calado e alguns dos rapazes zombaram dele. Percebendo isso e sabendo que Jim tinha interesse em automóveis, o consultor disse: “Venha comigo, Jim. Preciso que você dê uma olhada no meu carro. Ele está me causando problemas”.
Quando estavam lá fora, o consultor perguntou a Jim se ele estava chateado. Jim disse: “Na verdade, não estou. Mas quando saí para coletar os mantimentos, consegui muito. Meu carrinho ficou cheio. Quando eu voltava para a capela, parei na casa de uma senhora não membro que é divorciada e vive na área de nossa ala. Bati à porta e expliquei o que estávamos fazendo ela me convidou a entrar e começou a procurar algo para contribuir. Quando abriu a geladeira, vi que estava praticamente vazia. Não havia nada nos armários também. Finalmente, ela encontrou uma latinha de pêssegos.
Mal pude acreditar. Com vários filhos para alimentar e ainda me deu aquela lata de pêssegos! Coloquei a latinha no carrinho e continuei rua acima, e aí senti um ardor que me mostrou que eu deveria voltar àquela casa. Aí, dei para ela tudo o que recolhera”.
O consultor então disse: “Jim, nunca se esqueça do que sentiu esta noite, porque é isso o que realmente importa”.7 Jim havia experimentado o nutriente do serviço altruísta.
Muitos nutrientes espirituais advêm enquanto servimos em uma missão —por nos entregarmos totalmente ao serviço do Mestre. São resultados da ajuda que damos às pessoas para despertarem espiritualmente e aceitarem o evangelho. Há mais de um século, quando o Élder J. Golden Kimball presidia a Missão dos Estados do Sul, convocou os élderes para uma reunião em um lugar discreto em um bosque, para que tivessem tranqüilidade. Um dos élderes tinha um problema na perna. Ela estava em carne viva e inchada a ponto de ter o dobro do tamanho da outra perna. Porém, esse élder insistiu em participar dessa reunião especial do sacerdócio no bosque. Assim, dois élderes o carregaram até lá.
O Élder Kimball perguntou aos missionários: “Irmãos, o que vocês estão ensinando?”
Eles responderam: “Ensinamos o evangelho de Jesus Cristo”.
“Estão dizendo às pessoas que vocês têm o poder e a autoridade, por meio da fé, para curar os enfermos?”, ele continuou.
Eles responderam: “Sim”.
“Muito bem”, continuou ele, “e por que não acreditam nisso?”
O jovem com a perna inchada levantou-se e disse: “Eu creio”. E eis o restante da história nas palavras do Élder Kimball: “[O élder] sentou-se em um toco e os élderes se reuniram em torno dele. Eles o ungiram e administraram a ele e ele foi curado ali, na presença deles. Foi um choque e tanto e todos os outros élderes que estavam doentes foram ungidos e curados. Saímos da reunião do sacerdócio e cada um recebeu sua designação. Havia alegria e felicidade indescritíveis”.8 Seu nutriente de fé havia sido reabastecido e seu zelo pela obra missionária fora reavivado.
Os nutrientes espirituais, que nos mantêm espiritualmente saudáveis, podem perder a eficácia e a potência se não vivermos dignos da orientação divina de que necessitamos. O Salvador nos disse: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens”.9 Precisamos manter nossa mente e nosso corpo livres de todo tipo de vício ou contaminação. Nunca aceitaríamos comer alimento estragado ou contaminado. Da mesma forma seletiva, devemos evitar ler ou ver qualquer coisa que não seja de bom gosto. A maior parte da contaminação espiritual que vem a nossa vida chega pela Internet, pelos jogos eletrônicos, programas de TV e filmes que são muito insidiosos e que mostram de forma explícita os atributos mais baixos da humanidade. Por vivermos num ambiente desses, é preciso que aumentemos nossa força espiritual.
Enos fala de como sua alma ficou faminta e como, por ela, clamou o dia inteiro e a noite.10 Ele ansiava pelos nutrientes espirituais que matariam sua sede pela verdade espiritual. Como disse o Salvador do mundo à mulher no poço de Samaria: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.11
Esta noite reunimos o sacerdócio de Deus nesta imensa congregação, tanto os que vejo quanto os que não vejo. Espero que seja porque desejamos ser nutridos espiritualmente. Espero que sempre sintamos fome e sede da palavra do Senhor dada por meio de Seus servos, os profetas, e que sejamos reabastecidos semanalmente ao irmos às reuniões sacramentais e renovarmos nossos convênios.
Cada um de vocês, rapazes do Sacerdócio Aarônico, tem todos os elementos essenciais para buscar seu destino eterno. Esses elementos, alguns ainda potenciais, precisam ser fortalecidos e nutridos. Alguns são físicos; alguns são espirituais. O espírito humano precisa conhecer sua jornada eterna — saber onde ela começou, por que estamos aqui na mortalidade e aonde, por fim, iremos para receber alegria e felicidade a fim de cumprir esse destino. Reabastecer nosso espírito com nutrientes espirituais pode ser eternamente necessário e nos acompanhará para as eternidades. Como ensinou Amuleque: “o mesmo espírito que possuir vosso corpo quando deixardes esta vida, esse mesmo espírito terá poder para possuir vosso corpo naquele mundo eterno”.12
Irmãos, agradecemos por sua devoção e retidão. Vocês cumprem seus chamados nos quóruns, ramos, alas e estacas tão bem que a Igreja cresce e toda a obra de Deus progride no mundo inteiro. Por meio de seu sacerdócio, vocês são capazes de abençoar, em nome do Senhor, sua família e outros a quem sejam chamados ou que sejam designados a abençoar. Isso se deve ao direito divino que Deus nos confiou, pois Ele prometeu que a “quem abençoares, eu abençoarei”.13
Irmãos, oro para que sejamos fiéis e verdadeiros a todos os nossos convênios e totalmente dedicados à nossa família, especialmente a nossa esposa, mas também aos pais, filhos e netos. Que sejamos encontrados prestando nosso testemunho da veracidade desta obra todos os dias de nossa vida. Que continuemos em frente, em retidão, como os humildes servos do Senhor. Por isso oro no nome de Jesus Cristo. Amém.