2000–2009
Fé para Remover Montanhas
Outubro 2006


17:37

Fé para Remover Montanhas

Mais fé é o de que realmente precisamos. Sem ela, o trabalho estagnaria. Com ela, ninguém pode parar seu progresso.

Meus irmãos e irmãs, deixem-me começar tratando de um assunto pessoal.

O Presidente da Igreja pertence a toda a Igreja. Sua vida não é exclusivamente sua. Sua missão é a de servir.

Agora, como todos vocês sabem, estou um tanto quanto velho. Completei 96 anos em junho passado. Tenho ouvido de muitas fontes, que existe grande especulação quanto à minha saúde. Vamos esclarecer isso. Caso eu sobreviva mais alguns meses, serei o Presidente da Igreja mais velho dentre todos os outros que me antecederam. Não falo isso com empáfia, mas sim com gratidão. Em janeiro passado passei por uma cirurgia séria. Foi uma experiência terrível, particularmente para alguém que jamais fora internado em um hospital. Depois disso a pergunta era se eu deveria continuar o tratamento ou não. Resolvi fazê-lo. Meus médicos chamam o resultado de milagroso. Sei que os resultados positivos vieram de suas muitas orações por mim. Sou profundamente grato a vocês.

O Senhor permitiu que eu vivesse; não sei por quanto tempo. Mas seja o quanto for, continuarei a dar o melhor de mim nas tarefas que desempenho. Não é fácil presidir esta grande e complexa Igreja. Nada escapa à atenção da Primeira Presidência. Nenhuma decisão importante, nenhum dispêndio de fundos é feito sem sua aprovação. A responsabilidade e as pressões são enormes.

Mas iremos adiante por tanto tempo quanto o Senhor quiser. Como disse em abril passado, estamos em Suas mãos. Sinto-me bem, minha saúde é relativamente boa. Mas quando a hora chegar para um sucessor, a transição será serena e de acordo com a vontade Daquele a quem esta Igreja pertence. E assim, prosseguimos com fé — e fé é o tema que quero abordar nesta manhã.

Desde o início esta Igreja progride pela fé. A fé foi a força do Profeta Joseph.

Sou grato pela fé que o levou ao bosque para orar. Sou grato por sua fé para traduzir e publicar o Livro de Mórmon. Sou grato por ele ter procurado o Senhor em uma oração que foi respondida com a concessão do Sacerdócio Aarônico e do Sacerdócio de Melquisedeque. Sou grato porque pela fé, ele organizou a Igreja e colocou-a no curso correto. Agradeço a ele por ter dado a sua vida como testemunho da verdade de seu trabalho.

A fé foi também a força motriz por trás de Brigham Young. Reflito com freqüência na enorme fé que ele teve para trazer um número imenso de pessoas para povoar este Vale do Lago Salgado. Ele sabia bem pouco sobre a área. Jamais a havia visto, exceto em visão. Suponho que ele tenha estudado as parcas informações disponíveis, porém mal sabia algo a respeito do solo, da água ou do clima. E ainda assim, quando olhou para o vale, disse sem hesitação: “Este é o lugar certo, prossigam” (B. H. Roberts, AComprehensive History of the Church, volume III, p. 224).

E o mesmo aconteceu com cada um dos Presidentes da Igreja. Em face à terrível oposição, eles seguiram em frente com fé. Quer fossem gafanhotos destruindo suas colheitas. Quer fosse a seca ou a geada na primavera. Quer fosse a perseguição do governo federal. Ou, mais recentemente, quer fosse a necessidade urgente de estender ajuda humanitária às vítimas do tsunami, ou de terremotos ou inundações em muitos lugares diferentes, o progresso tem sido o mesmo. As prateleiras do bem-estar têm sido esvaziadas. Dinheiro vivo aos milhões tem sido enviado aos necessitados, independente de serem ou não membros da Igreja — tudo pela fé.

Este é um ano importante de aniversário na história desta Igreja, como todos sabem. É o sesquicentenário da chegada das companhias Willie e Martin de carrinhos de mão e das companhias de carroções de Hunt e Hodgett que os acompanharam.

Muito foi escrito no que se refere a isso, e eu não preciso entrar em detalhes. Todos vocês estão familiarizados com a história. É o suficiente dizer que aqueles que empreenderam a longa jornada desde as Ilhas Britânicas até o vale do grande Lago Salgado começaram sua viagem pela fé. Eles tinham pouco ou nenhum conhecimento do que enfrentariam. Mas foram em frente. Iniciaram sua jornada com grande expectativa. Essa expectativa diminuiu gradualmente à medida que rumavam para o oeste. Ao começarem a tediosa jornada seguindo o rio Platte e depois ao subirem o vale do Sweetwater, a fria mão da morte levou muitos deles. Seu alimento foi racionado; os bois morreram; seus carrinhos quebraram; tinham trajes e roupas de cama inadequados. As tempestades vinham furiosas. Eles buscavam abrigo, mas nada encontravam. As tempestades rugiam a seu redor. Eles literalmente morriam de fome. Dezenas morriam e eram enterrados no solo congelado.

Felizmente, encontraram-se com Franklin D. Richards que retornava da Inglaterra. Ele tinha um transporte leve, puxado a cavalos, capaz de viajar muito mais rápido. Ele chegou neste vale. Era esta mesma época do ano. A conferência geral estava em sessão. Quando Brigham Young recebeu a notícia, colocou-se imediatamente diante da congregação e disse:

“Darei agora o assunto e o texto para os élderes que vão falar hoje e durante a conferência, neste quinto dia de outubro de 1856, muitos de nossos irmãos e irmãs estão nas planícies puxando carrinhos de mão, e provavelmente muitos estão a 1.125 quilômetros daqui. Eles precisam ser trazidos para cá, temos de enviar-lhes ajuda. O texto será — ‘tragam-nos para cá’. Quero que os irmãos que vão falar entendam que seu assunto é o povo que está nas planícies, e o assunto importante para esta comunidade é mandar buscá-los e trazê-los antes que o inverno fique forte demais (…)

Conclamo os bispos no dia de hoje. Não esperarei até amanhã nem até o dia seguinte para reunir 60 boas mulas e 12 ou 15 carroções. Não quero mandar bois. Quero bons cavalos e boas mulas. Eles existem neste território, e precisamos reuni-los. Também 12 toneladas de farinha e 40 bons cocheiros (…) 60 ou 65 boas parelhas de mulas ou cavalos, com arreios. (…)

Declaro a todos,” disse ele, “que sua fé, religião e consagração à religião, jamais salvarão sequer uma alma no reino celestial de nosso Deus, a menos que possam cumprir da mesma maneira os princípios que lhes estou ensinando agora. Vão e tragam as pessoas que estão nas planícies e cuidem estritamente das coisas que chamamos de temporais ou deveres temporais, de outro modo sua fé será em vão; a pregação que ouviram terá sido em vão e vocês afundarão no inferno, a menos que cuidem das coisas de que lhes falei” (Deseret News, 15 de outubro de 1856, p. 252).

Imediatamente cavalos, mulas e carroções resistentes foram oferecidos. Trouxeram farinha em abundância. Trajes quentes e roupas de cama foram rapidamente reunidos. Em um ou dois dias os carroções dirigiram-se para o leste pela neve.

Quando a equipe de resgate alcançou os santos sitiados, eles foram como anjos do céu. Derramaram lágrimas de gratidão. As pessoas dos carrinhos de mão foram transferidas para os carroções, para viajarem mais rapidamente até a comunidade de Salt Lake.

Cerca de duzentos morreram, mas mil foram salvos.

Entre os que enfrentaram essas horrendas circunstâncias nas planícies estava a bisavó de minha esposa. Ela fazia parte da companhia Hunt de carroções.

Hoje, o túmulo de minha esposa no Cemitério de Salt Lake City tem vista para o túmulo de sua bisavó, Mary Penfold Goble, que morreu nos braços da filha ao entrar neste vale em 11 de dezembro de 1856. Ela foi enterrada no dia seguinte. Perdera três de seus filhos durante aquela longa jornada. Os pés de uma das filhas que sobreviveu estavam seriamente congelados.

Que história é essa! Cheia de sofrimento, fome, frio e morte. Repleta de relatos de rios congelados que tinham que ser penosamente atravessados, de tempestades de neve uivantes, da longa e lenta subida de Rocky Ridge. Com o passar deste ano de aniversário, isso poderá ser esquecido. Mas espera-se que seja citado com freqüência para lembrar às gerações futuras do sofrimento e da fé daqueles que nos precederam. Sua fé é nosso legado. Sua fé é um lembrete para nós do preço que eles pagaram pelo conforto que desfrutamos.

Mas a fé não é demonstrada apenas nos grandes acontecimentos heróicos, tais como a vinda dos pioneiros dos carrinhos de mão. Ela é também demonstrada em eventos pequenos, porém significativos. Deixem-me narrar-lhes um deles.

Quando o Templo de Manti Utah estava em construção, há cerca de 120 anos, George Paxman trabalhava como um carpinteiro que fazia os acabamentos. Ele e a jovem esposa Martha tinham um filho e esperavam outro.

Enquanto levantava uma das pesadas portas na parte leste do templo, George teve uma hérnia estrangulada. Sentia dores terríveis. Marta deitou-o em um carroção e levou-o até a cidade de Nephi, onde o colocou no trem e levou-o até Provo. Lá ele faleceu. Recusando-se a se casar novamente, ela ficou viúva por 62 anos, sustentando-se com o trabalho de bordadeira.

Agora deixem que me desvie dessa narrativa para contar que, quando eu estava noivo de minha esposa, dei-lhe um anel. Quando nos casamos, dei-lhe uma aliança. Ela usou-os durante anos. Então um dia notei que ela os havia tirado e estava usando uma pequena aliança de ouro que pertencera à avó. O anel havia sido dado por seu marido, George, que mais tarde falecera devido ao ferimento que descrevi. O único bem que deixara nesta vida. Certo dia de primavera, Martha fazia uma limpeza. Ela tirou toda a mobília da casa para limpar tudo. Ao afofar a palha do colchão, olhou para a mão e a aliança não estava mais no dedo. Procurou-a cuidadosamente em todos os lugares. Era a única lembrança material de seu marido amado. Ela revolveu toda a palha com os dedos, mas não conseguiu encontrá-la. Lágrimas escorriam-lhe pelo rosto. Ela ajoelhou-se e orou com toda convicção para que o Senhor a ajudasse a encontra-la. Quando abriu os olhos, olhou para o chão e lá estava a aliança.

Estou com ela agora em minha mão. É muito pequena para que todos vocês a vejam. É de ouro 18 quilates, velha, arranhada e amassada. Mas representa fé, a fé possuída por uma viúva que rogou ao Senhor em seu momento crítico. Tal fé é a fonte da atividade. É a raiz da esperança e da confiança. É esse tipo de fé simples que todos nós tanto precisamos.

No trabalho contínuo desta grande causa, mais fé é o de que realmente precisamos. Sem ela, o trabalho estagnaria. Com ela, ninguém pode parar seu progresso.

Disse o Salvador: “(…) se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível” (Mateus 17:20).

A seu filho Helamã, Alma declarou: “Prega-lhes arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo; ensina-os a humilharem-se, a serem mansos e humildes de coração; ensina-os a resistirem a todas as tentações do diabo com sua fé no Senhor Jesus Cristo” (Alma 37:33).

Que o Senhor nos abençoe com fé na grande causa da qual fazemos parte. Que a fé seja como uma vela para guiar-nos à noite com sua luz. Que ela siga diante de nós como uma nuvem para guiar-nos durante o dia.

Por isso oro humildemente, no sagrado e santo nome Daquele que é a força de nossa fé, o Senhor Jesus Cristo. Amém.