Hikueru
Por volta de 1900, muitos dos habitantes de Hikueru — um atol ovalado que circunda uma laguna — ganhavam a vida mergulhando em busca de pérolas negras e suas conchas. A população de mil a 2 mil pessoas incluía quase 500 santos dos últimos dias e várias centenas de membros da Igreja Reorganizada. As reuniões das duas religiões eram ocasionalmente pontuadas por animosidades à medida que os missionários das duas igrejas contendiam por conversos.
Em 14 de janeiro de 1903, um ciclone varreu o arquipélago Tuamotu, causando uma destruição generalizada. No início da tarde, grande parte de Hikueru estava inundada. Durante a noite, muitas pessoas subiram em árvores próximas para garantir sua segurança, amarrando-se aos troncos com cobertores e casacos. Pinga a Tekehu, um membro da Igreja Reorganizada, e sua família fugiram para terras mais altas, onde construíram um pequeno abrigo com folhas de coqueiro. À medida que as águas foram subindo, o pequeno abrigo da família Tekehu foi tragado pelas ondas e, apesar de se esforçar ao máximo, Tekehu perdeu seis de seus filhos para o mar.
Heber Sheffield, um missionário da Igreja de Jesus Cristo, e seu companheiro, James Allen, viram “mães com seus bebês tentando se proteger do vento, da chuva e do mar revolto; pais com os filhos se arrastando contra as ondas, que avançavam terra a dentro”. Toda vez que as ondas recuavam, Sheffield e Allen ajudavam as pessoas a subir para um lugar seguro. Por fim, com o incentivo de Allen, Sheffield “repreendeu a tempestade em nome do Senhor e orou a Deus para que ela cessasse”. Em uma hora, a tormenta havia passado.
Quando as águas baixaram, 378 pessoas tinham morrido e quase todas as construções e barcos da ilha estavam danificados ou destruídos. Os sobreviventes estavam em uma situação crítica. As cisternas, a única fonte de água potável da ilha, foram inundadas pelas águas do mar. Os alimentos foram recolhidos do meio dos entulhos por vários dias, até que um pequeno barco, o Teiti, chegou trazendo forragem, bananas, batatas doces, inhame e melões.
Os membros das duas religiões rivais deixaram de lado as desavenças para salvar vidas. Eles mergulhavam para recuperar sucatas e todo metal que conseguissem encontrar na laguna, de modo que o missionário da Igreja Reorganizada, J. W. Gilbert, com a ajuda de Sheffield e Allen, conseguiu construir dois condensadores para destilar água potável usando as peças de uma cama de ferro como canos. A engenhosidade deles lhes permitiu produzir água potável suficiente para dar a cada sobrevivente meio litro de água por dia, até que, no sétimo dia, choveu. No dia seguinte, o vapor Excelsior chegou trazendo alívio aos sobreviventes famintos.