Mensagem Da Primeira Presidência
“Um Menino Pequeno os Guiará”
Durante o ministério de nosso Senhor e Salvador na Galiléia, os discípulos chegaram a Ele perguntando: “Quem é o maior no reino dos céus?
E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles,
E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.
Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.
E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe.
Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar.” (Mateus 18:1–6)
As Muitas Faces Do Abuso Infantil
Há algum tempo, ao ler o jornal diário, meus pensamentos se voltaram para essa passagem e para a firme sinceridade da declaração do Salvador. Em uma coluna do jornal li a respeito de uma batalha entre um pai e uma mãe pela custódia do filho. Foram feitas acusações, ameaças e houve demonstrações de raiva com os pais indo de lá para cá no cenário internacional, raptando a criança e levando-a de um continente para outro.
Uma segunda história referia-se a um garoto de doze anos de idade que fora espancado e queimado porque se recusara a obedecer a ordem de um valentão da vizinhança de tomar drogas.
Ainda uma terceira notícia contava de um pai que molestara sexualmente seu filho pequeno.
Um médico revelou-me o grande número de crianças que sofreram abuso e que são levadas ao pronto-socorro de hospitais locais em sua cidade e na minha. Em muitos casos os pais culpados inventam histórias fantasiosas do filho caindo do cadeirão ou tropeçando em um brinquedo e batendo a cabeça. Com demasiada freqüência descobre-se que um dos pais foi o agressor e a criança inocente, a vítima. Que vergonha dos autores de atos tão desprezíveis. Deus os responsabilizará severamente por suas ações.
As Crianças São Preciosas Para O Senhor
Quando entendermos quão preciosas são as crianças, não acharemos tão difícil seguir o exemplo do Mestre em nossa associação com elas. Não faz muito tempo, aconteceu uma cena comovente no Templo de Salt Lake. As crianças que, até aquele momento haviam sido cuidadas com todo o carinho por oficiantes no berçário do templo, partiam agora nos braços de seus pais. Uma delas voltou-se para as mulheres que haviam sido tão bondosas para com elas e, com um aceno, extravasou o que ia em seu coração ao dizer: “Boa noite, anjos”.
O poeta descreveu uma criança que esteve com seu Pai Celestial até recentemente como sendo “uma nova flor da humanidade, recém-caída do próprio lar de Deus para desabrochar na Terra.”1
Quem, entre nós, não deu graças a Deus e maravilhou-se com Seus poderes ao segurar um recém-nascido nos braços? Aquela mãozinha tão pequenina, mas tão perfeita, torna-se instantaneamente o centro da conversa. Ninguém consegue resistir ao impulso de colocar o dedinho na mão fechada de um bebê. Os lábios se abrem num sorriso, há um certo brilho no olhar e passa-se a apreciar a emoção que inspirou o poeta a escrever estes versos:
Nosso nascimento é apenas um sono e um esquecimento:
A Alma que surge conosco, a Estrela de nossa vida,
Aqui não teve seu início,
Mas de longe veio a nós;
Não em pleno esquecimento,
Nem em total nudez,
Mas trilhando nuvens de glória viemos
De Deus que é nosso lar.2
Quando os discípulos tentaram impedir que as crianças se aproximassem de Jesus, Ele declarou:
“(…) Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus.
Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino, de maneira nenhuma entrará nele.
E, tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou.” (Marcos 10:14–16)
Que padrão magnífico a ser seguido.
Podemos Abençoar a Vida Das Crianças
Vários anos atrás senti meu coração bater mais forte quando a Primeira Presidência aprovou a liberação de uma grande soma em dinheiro de algumas contribuições especiais de jejum para os fundos do Rotary Internacional para que a vacina contra a pólio fosse fabricada e as crianças que viviam no Quênia fossem imunizadas contra esse mal mórbido que aleijava e matava as crianças.
Agradeço a Deus pelo trabalho de nossos médicos que se afastam de seus consultórios e viajam a terras distantes para tratarem das crianças. Fendas palatinas e outras deformidades que prejudicariam a criança física e psicologicamente são habilmente reparadas. O desespero dá lugar à esperança. A gratidão substitui o pesar. Essas crianças podem olhar-se no espelho e maravilhar-se com o milagre ocorrido em sua própria vida.
Em uma reunião, falei de um dentista de minha ala que todos os anos vai às Filipinas para trabalhar em sua área sem remuneração para corrigir defeitos dentários de crianças. Voltam os sorrisos, os espíritos se elevam e o futuro se torna promissor. Não sabia que a filha desse dentista estava na congregação a quem eu falava. Ao final de meus comentários, ela se aproximou e, com um largo sorriso de orgulho, disse: “O senhor falou a respeito do meu pai. Eu o amo demais e adoro o que ele vem fazendo pelas crianças!”
Nas distantes ilhas do Pacífico, centenas que estavam quase cegas, hoje vêem a luz devido ao que um missionário disse ao cunhado que era médico. “Deixe sua rica clientela e os confortos de sua mansão e venha a estes filhos especiais de Deus que precisam de suas habilidades e precisam delas agora.” O oftalmologista atendeu sem hesitar. Ele comenta discretamente que essa visita foi o melhor serviço que ele jamais prestou e que a paz que veio a seu coração foi a maior bênção de sua vida.
Fico com os olhos cheios de lágrimas quando leio a respeito do pai que doou um de seus rins na esperança que o filho tivesse uma vida mais abundante. Ajoelho-me à noite e acrescento minha oração de fé em favor de uma mãe de minha comunidade que viajou para Chicago para que pudesse doar parte de seu fígado à filha em uma cirurgia delicada e com risco potencial de vida. Ela, que já havia passado pelas sombras do vale da morte para trazer essa filha à mortalidade, colocou novamente sua mão nas mãos de Deus e colocou a própria vida em risco pela filha. Jamais proferiu uma queixa, mas sempre fazendo de coração e com uma oração de fé.
O Élder Russell M. Nelson do Quórum dos Doze Apóstolos compartilhou em certa ocasião a situação aflitiva de muitas crianças orfãs na Romênia — talvez 30.000 só na cidade de Bucareste. Ele visitou um dos orfanatos e providenciou para que a Igreja fornecesse vacinas, curativos e outros materiais de que precisavam com urgência. Certos casais foram encontrados e chamados para cumprir missões especiais entre essas crianças. Não consigo pensar em serviço mais cristão do que ter nos braços uma criança que perdeu a mãe ou segurar a mão de um menino que perdeu o pai.
Nós, porém, não precisamos ser chamados ao serviço missionário para abençoar a vida de crianças. As oportunidades são ilimitadas. Elas existem por toda a parte — às vezes muito perto de casa.
Como As Crianças Abençoam Nossa Vida
Há vários anos recebi uma carta de uma mulher que retornava à Igreja após um longo período de inatividade. Ela tinha grande desejo de que o marido, que ainda não era membro da Igreja compartilhasse a alegria que sentia.
Contou-me de uma viagem que, ela, o marido e os três filhos fizeram para a casa da avó em Idaho. Enquanto atravessavam Salt Lake City, foram atraídos por uma mensagem que aparecia em um grande anúncio. A mensagem os convidava a visitarem a Praça do Templo. Bob, o marido que não pertencia à Igreja, sugeriu que a visita seria agradável. A família entrou no centro de visitantes e o pai levou os filhos a uma rampa que um deles chamou de “a rampa para o céu”. A mãe e Tyler, de três anos de idade estavam um pouco atrás dos demais, pois haviam parado para observar os lindos quadros nas paredes. Ao caminharem em direção à escultura magnificente de Thorvaldsen Christus, o pequeno Tyler escapou da mãe e correu até a base do Christus enquanto exclamava: “É Jesus! É Jesus!” Enquanto a mãe tentava controlar o filho, Tyler olhou para ela e para o pai e disse: “Não se preocupem, ele gosta de crianças”.
Depois de saírem do centro e retomarem a viagem rumo à casa da avó, o pai perguntou a Tyler do que ele mais gostara em sua aventura na Praça do Templo. Tyler sorriu para ele e disse: “Jesus”.
“Como você sabe que Jesus gosta de você, Tyler?”
Com uma expressão muito séria no rosto, Tyler olhou para direto nos olhos do pai e respondeu: “Papai, você não viu Seu rosto?” Não era preciso dizer mais nada.
Ao ler esse relato, lembrei-me da declaração encontrada no livro de Isaías: “(…) e um menino pequeno os guiará”. (Isaías 11:6)
A letra de um hino da Primária expressa os sentimentos que vão no coração de uma criança:
Conta-me histórias de Cristo, eu quero ouvir
Belas histórias de quando andou aqui.
Cenas passadas em terra ou mar
Coisas de Cristo vem-me contar.
Conta-me como as crianças Ele amou
Para que eu tenha esperança em Seu amor
Meigas palavras, graça sem par,
Do amor de Cristo vem me contar.3
A Bênção das Crianças Nefitas
Não conheço passagem mais comovente nas escrituras do que o relato de como o Salvador abençoou as crianças, conforme registrado em 3 Néfi. O Mestre emocionou a grande multidão de homens mulheres e crianças. Depois, reagindo à sua fé e ao desejo deles para que Ele se demorasse mais, Ele pediu que Lhe trouxessem os coxos, cegos e doentes para que os curasse. Eles aceitaram Seu convite com alegria. O registro conta que “ele curou a todos”. (3 Néfi 17:9) Seguiu-se então Sua poderosa oração. A multidão testificou: “(…) Os olhos jamais viram e os ouvidos jamais ouviram, até agora, coisas tão grandes e maravilhosas como as que vimos e ouvimos Jesus dizer ao Pai”. (3 Néfi 17:16)
Ao concluir esse magnífico acontecimento, Jesus “(…) chorou (…) E pegou as criancinhas, uma a uma, e abençoou-as e orou por elas ao Pai (…).
E dirigindo-se à multidão, disse-lhes: Olhai para vossas criancinhas.
E ao olharem, lançaram o olhar ao céu e viram os céus abertos e anjos descendo dos céus, (…) e eles desceram e cercaram aqueles pequeninos (…); e os anjos ministraram entre eles”. (3 Néfi 17:21, 23–24)
Pondero, constantemente, a frase: “(…) qualquer que não receber o reino de Deus como menino, de maneira nenhuma entrará nele”. (Marcos 10:15)
Thomas Michael Wilson
Alguém que cumpriu, nesta vida, a admoestação do Salvador foi um missionário, Thomas Michael Wilson. Ele é o filho de Willie e Julia Wilson, Rota 2, Caixa 12, Lafayette, Alabama. O Élder Wilson concluiu sua missão terrena em 13 de janeiro de 1990. Quando adolescente, ele e a família ainda não eram membros da Igreja e ele foi acometido de câncer, seguido por uma penosa radioterapia e então pela abençoada remissão. Essa doença fez com que a família compreendesse não apenas o quanto a vida é preciosa, mas que também pode ser curta. A família voltou-se para a religião para ajudá-la a atravessar esse período de tribulação. Em seguida conheceram a Igreja e foram batizados. Depois de haver aceito o evangelho, o jovem irmão Wilson ansiava pela oportunidade de ser um missionário. O chamado chegou para que servisse na Missão Utah Salt Lake City. Que privilégio representar a família e o Senhor como missionário!
Os companheiros do Élder Wilson descreviam sua fé como sendo a de uma criança indiscutível, inabalável, inflexível. Ele foi um exemplo para todos. Depois de onze meses, a doença voltou. O câncer ósseo agora exigiu a amputação do braço e do ombro. Ainda assim ele persistiu no trabalho missionário.
A coragem do Élder Wilson e seu desejo imenso de permanecer na missão emocionou o pai que ainda não era membro, de forma que ele pesquisou os ensinamentos da Igreja e também se afiliou a ela.
Um telefonema anônimo trouxe a situação do Élder Wilson à minha atenção. Ela disse que não queria deixar seu nome e indicou que jamais ligara para uma Autoridade Geral antes. Contudo ela disse: “Não é sempre que se encontra alguém do calibre do Élder Wilson”.
Fiquei sabendo que uma pesquisadora a quem o Élder Wilson ensinara, fora batizada no batistério na Praça do Templo, mas queria ser confirmada pelo Élder Wilson a quem tanto respeitava. Ela, em companhia de algumas outras pessoas, dirigiu-se ao hospital onde o Élder Wilson estava internado. Lá, com a mão que lhe restava colocada sobre a cabeça dessa irmã, o Élder Wilson confirmou-a membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
O Élder Wilson prosseguiu mês após mês com seu trabalho precioso, porém doloroso como missionário. Bênçãos foram dadas, orações oferecidas. O espírito de seus companheiros de missão elevou-se às alturas. Seu coração bateu mais forte. Viviam mais perto de Deus.
As condições físicas do Élder Wilson foram deteriorando-se. O fim estava próximo. Ele deveria voltar para casa; entretanto, pediu para ficar mais um mês. E que mês! Como uma criança que confia implicitamente nos pais, o Élder Wilson colocou sua confiança em Deus. Aquele em quem Thomas Michael Wilson confiava silenciosamente, abriu as janelas do céu e abençoou-o em profusão. Seus pais, Willie e Julia Wilson e o irmão Tony vieram a Salt Lake City para levarem o filho e irmão de volta para o Alabama. Faltava, porém, uma bênção para ser concedida. A família convidou-me para ir com eles ao Templo de Jordan River Utah, onde as sagradas ordenanças que unem as famílias nesta vida e para a eternidade foram realizadas.
Despedi-me da família Wilson. Ainda lembro do Élder Wilson quando agradeceu-me por estar lá com ele e com seus entes queridos. Ele disse: “Não importa o que aconteça conoco nesta vida, contanto que tenhamos o evangelho de Jesus Cristo e o vivamos”. Que coragem. Que confiança. Que amor. A família Wilson empreendeu a longa jornada daqui para sua casa em Lafayette, onde o Élder Thomas Michael Wilson deixou esta vida terrena rumo à eternidade.
O presidente Kevin K. Meadows, o presidente de ramo do Élder Wilson, presidiu os serviços fúnebres. Compartilho com vocês o conteúdo da carta que me escreveu posteriormente: “No dia do enterro, Presidente Monson, expressei à família seus sentimentos, conforme me enviara. Lembrei-os do que o Élder Wilson lhe dissera naquele dia no templo, que não importava se ele ensinaria o evangelho deste ou do outro lado do véu, contanto que pudesse fazê-lo. Transmiti a eles as palavras inspiradas, que o senhor fornecera, dos escritos do Presidente Joseph F. Smith [1838–1918] — que o Élder Wilson terminara sua missão terrena e que ele, assim como todos os ‘(…) Élderes fiéis desta dispensação, quando deixam a vida mortal, continuam seus labores na pregação do evangelho e da redenção, por meio do sacrifício do Filho Unigênito de Deus, entre aqueles que estão nas trevas e sob a servidão do pecado no grande mundo dos espíritos dos mortos.’ [D&C 138:57] O Espírito prestou testemunho de que esse era o caso. O Élder Thomas Michael Wilson foi enterrado com sua plaqueta de missionário”.
Quando a mãe e o pai do Élder Wilson visitam aquele cemitério rural e colocam flores de recordação na sepultura do filho, estou certo de que eles se recordam do dia que nasceu, do orgulho que sentiram e de sua alegria genuína. Aquela criança pequenina tornara-se o homem poderoso que, mais tarde, proporcionou-lhes a oportunidade de atingir a glória celestial. Talvez, nessas perigrinações, quando as emoções estiverem à flor da pele e as lágrimas não puderem ser controladas, eles agradecerão a Deus por seu filho missionário que jamais perdeu a fé de uma criança e então irão ponderar, em seu coração as palavras do Mestre: “(…) E um menino pequeno os guiará”. (Isaías 11:6)
A paz é a bênção deles. Será também a nossa, à medida que nos lembrarmos e seguirmos o Príncipe da Paz.
Idéias para os mestres familiares
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Nós, porém, não precisamos ser chamados ao serviço missionário para abençoar a vida de crianças. As oportunidades são ilimitadas. Elas existem por toda a parte.
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Não conheço passagem mais comovente nas escrituras do que o relato de como o Salvador abençoou as crianças, conforme registrado em 3 Néfi 17.