Até a Última Fronteira
Uma história real
Fazia um frio cortante naquela madrugada de outubro, quando eu ajudava a encher o carroção com nossos pertences. O peso que sentia em meu coração, com apenas dez anos, era maior do que o dos suprimentos que carregava. Isso não é justo, pensei. Não quero deixar a minha casa e os meus amigos, e viajar para um lugar desconhecido.
Era o ano de 1877, e nossa casa perto de St. George, no território de Utah, ficava bem longe de Salt Lake City. Agora nos mudávamos para mais longe ainda.
Minha mãe pediu, “Mary Agnes, antes de irmos, por favor, verifique se tudo foi retirado da varanda, lá atrás”.
Ao dar a volta pela casa, relembrei o dia, seis meses antes, em que meu pai retornara da dedicação do Templo de St. George. Minha mãe e eu tínhamos ficado em casa porque meu irmãozinho estava doente. Só de olharmos para o papai, já sabíamos que algo grave havia acontecido.
Mamãe falou logo: “William, o que aconteceu?”
Papai envolveu-a nos braços e, com lágrimas no rosto, disse: “Precisamos deixar nosso lindo lar”. Não conseguiu dizer mais nada.
Ir embora? Como ir embora? Depois de anos guardando economias, tínhamos conseguido finalmente comprar uma propriedade e construir uma casa confortável para os dez membros de nossa família. Tínhamos cavalos, gado e outros animais. Morávamos perto de minha avó e de meus primos. Eu freqüentava a escola da cidade. Quem nos pediria para sacrificar tudo isso?
Mais tarde ouvi meus pais conversando sobre o que estava acontecendo. A Igreja precisava de famílias para aumentar suas colônias na parte sul. O Presidente Brigham Young pediu a nossa família que se mudasse para lá. Aconselhou meu pai a vender tudo o que tínhamos, a fim de que não fôssemos tentados a voltar para Utah. Precisávamos ir para o Arizona.
O Arizona era um lugar onde havia pouca água e nada para se ver. O profeta chamara pessoas para lá no ano anterior. Muitos retornaram para Utah, porque não conseguiram suportar as privações. Meu pai disse que não se poderia exigir dele sacrifício maior.
A voz de minha mãe trouxe-me de volta à realidade. “É difícil ir embora, não é, Mary Agnes? Você sabe por que estamos mudando?”
Fiz que não.
“Estamos indo para o Arizona porque o profeta pediu-nos para ir”, explicou ela. “Lembra-se de quando lhe contei da época em que tinha a sua idade e morava em Nauvoo com minha família? Depois da morte do Profeta Joseph Smith, houve desentendimentos com nossos vizinhos. Os irmãos pediram-nos que deixássemos nossa casa e fôssemos para o oeste, pois lá nossa vida seria poupada e poderíamos adorar em paz.
“Foi terrível ter que partir, mas não havia nada mais a fazer, a não ser que déssemos as costas a Deus, aos irmãos e à Igreja. Fizemos a longa e difícil jornada até Salt Lake. Sacrificamo-nos novamente, quando seguimos o conselho do Presidente Young, ao sairmos de lá e virmos para cá.
“Agora fomos chamados a ir para o Arizona. Não temos que ir. Ninguém está-nos forçando a isso. Não é uma questão de vida ou morte. Poderíamos encontrar motivos para não ir. Desta vez, a luta para obedecer está-se dando dentro de nós.”
Mamãe abraçou-me e continuou: “O Senhor disse que quando recebemos um mandamento ‘seja pela [Sua] própria voz ou pela voz de [Seus] servos, é o mesmo’. (D&C 1:38) Nosso profeta falou para nós. Sei que fala por Deus. Seu pai e eu decidimos, há muito tempo, seguir o profeta, não importa o sacrifício que façamos”.
O Espírito confortou-me enquanto ouvia o testemunho de minha mãe. Senti-me fortalecida para enfrentar o futuro incerto.
Ao subir no carroção lotado, dei uma última olhada para nossa antiga casa, e virei-me, olhando a trilha em direção ao Arizona. Percebi que também tinha um testemunho do representante de Deus na Terra. Tal como meus pais, decidi que seguiria o profeta — mesmo até a última fronteira.
“Temos a promessa de que o Presidente da Igreja, como revelador da Igreja, receberá orientação para todos nós. Nossa segurança está em acatarmos aquilo que ele diz e seguirmos seus conselhos.” —Presidente James E. Faust, Segundo Conselheiro na Primeira Presidência (“Revelação Contínua”, A Liahona, agosto de 1996, p. 6)