“Você Não É Mórmon?”
“Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza.” (I Timóteo 4:12)
Baseado numa história verídica
A Lillie estava ansiosa para que o sinal do almoço tocasse. Ela não tirava os olhos do relógio, cujos ponteiros se aproximavam lentamente das 12h. A professora designara uma leitura silenciosa, mas a Lillie estava empolgada demais para concentrar-se. O almoço era sua parte favorita do dia: hora de estar com seus novos amigos, conversar, rir e fazer planos para depois das aulas.
A Lillie mudara-se poucos meses antes, e no início sentira-se sozinha e amedrontada. Na primeira semana na Primária, conhecera outra menina em sua classe, mas ela morava do outro lado da cidade e foi estudar em uma escola diferente. Felizmente, em seu primeiro dia no colégio, a Lillie foi matriculada na mesma classe de sexta série que a Teresa. A Teresa era muito simpática, e agora a Lillie fazia parte de um grupo divertido de amigos. Era difícil ser novata na escola, mas a Teresa e seus amigos ajudaram a Lillie a sentir-se à vontade.
Finalmente o sinal tocou, e a Lillie pegou a lancheira que guardara na carteira. A Teresa pediu: “Espere por mim na porta. Vou buscar minha mochila”.
A Lillie viu a Jackie sair de uma sala mais à frente e acenou. “Oi, Lillie”, gritou a Jackie em meio ao burburinho. “Já está pronta para o almoço?”
“Estou”, respondeu ela quando a Teresa chegou, e elas seguiram de braços dados. Foram com a Jackie até a cantina e encontraram uma mesa com espaço para todos. A Lillie sentou-se entre a Jackie e um menino chamado Brad e rapidamente abriu o almoço que trouxera de casa. O Brad perguntou se ela vira a partida esportiva na televisão na noite anterior. A Jackie falou de sua festa de aniversário que aconteceria no mês seguinte. A Lillie almoçou com alegria.
Depois do almoço, a maioria dos alunos se dispersou, mas a Lillie e seus amigos afastaram as cadeiras e continuaram a conversar. O Brad contou piadas hilárias que fizeram todos rir. A Jackie disse algo engraçado que sua irmãzinha fizera. A Lillie desejava também ter algo divertido ou impressionante para dizer, mas nada lhe vinha à mente.
O intervalo do almoço chegara quase ao fim. Os funcionários da cantina começaram a limpar as mesas. A Teresa imitou uma estrela de cinema popular, e todos caíram na gargalhada. A Lillie respirou fundo e decidiu fazer algo que jamais fizera antes. Ela tomou o nome do Senhor em vão, riu, e então disse: “Que engraçado, Teresa!”
De repente, a cantina ficou em silêncio. A Lillie sentiu seu rosto enrubescer de vergonha enquanto todos olhavam para ela. O Brad balançou a cabeça lentamente e perguntou em voz baixa: “Lillie, você não é mórmon?”
“É mesmo”, disse a Jackie, “eu achava que os mórmons não usavam esse tipo de linguagem.”
A Lillie sentiu-se péssima. Não conseguia dizer mais nada. O sinal tocou, e todos voltaram com relutância para a sala de aula. A Teresa estava atrás da Lillie, mas não disse uma palavra.
Durante a tarde inteira, a Lillie ficou a perguntar-se por que dissera aquilo. Ela sabia que era errado. Ela nunca fizera algo assim antes. A professora lançou várias perguntas sobre a lição do dia, mas a Lillie só balançava a cabeça e dizia que não sabia. Ela mal podia esperar o fim do dia a fim de voltar para casa e esconder-se debaixo da cama.
Depois das aulas, a Lillie disse à Teresa que precisava ir embora logo. Saiu correndo, com lágrimas nos olhos e um enorme nó na garganta. Quando sua mãe perguntou como tinha sido seu dia, a Lillie estava envergonhada demais para responder e correu para seu quarto.
Como aquilo podia ter acontecido? Ela estava ansiosa para impressionar seus colegas, mas na verdade ferira seu espírito. Ela sabia que precisava pedir perdão. Se seus atos haviam decepcionado seus novos amigos, quanto mais deveriam ter decepcionado o Pai Celestial.
Naquela noite, a Lillie não conseguiu jantar, e foi difícil encarar seus pais. Por fim, seu pai perguntou gentilmente o que a perturbava. Ela terminou por relatar o que ocorrera, em meio a lágrimas amargas. “Pai, lamento muito. Sinto-me muito mal”, disse Lillie aos prantos.
O pai abraçou-a. “Essa é uma parte importante do arrependimento, Lillie. Você precisa mesmo sentir tristeza pelo que fez ou pelo que disse.”
A Lillie secou as lágrimas. “Sinto uma enorme tristeza, papai. Mas nunca vou dizer esse tipo de coisas de novo. Nunca mais!”
O pai acenou com a cabeça. “Muito bem. Agora vá dizer ao Pai Celestial exatamente o que você me disse. Tenho certeza de que você logo se sentirá melhor.”
Quando a Lillie se ajoelhou ao lado de sua cama e orou, seu coração estava despedaçado. Ela pensou em outros erros que cometera e perguntou-se como o Pai Celestial e Jesus poderiam continuar a amá-la e perdoá-la. Mas ao sussurrar: “Sinto muito”, ela sentiu o calor e a paz do Espírito Santo. Ao terminar sua oração, ela estava cheia de forças para fazer mais uma coisa necessária.
Tremendo, a Lillie discou o número de telefone da Teresa. Ela mal conseguia falar, mas teve forças para dizer que lamentava muito o que dissera na hora do almoço. Em seguida, telefonou para a Jackie e o Brad.
“Preciso ir à escola hoje?” ela perguntou a sua mãe na manhã seguinte. Ela não queria encarar seus amigos. O que eles estariam pensando dela?
Sua mãe abraçou-a. “Precisa, sim. Se você não for hoje, vai ser ainda mais difícil amanhã.”
A Teresa viu a Lillie antes das aulas e deu-lhe um abraço rápido. “Nem acredito que você telefonou para todo mundo para desculpar-se. Eu nunca conseguiria fazer isso!”
A Jackie gritou da porta de sua sala: “Lillie! Preciso falar com você sobre a minha festa de aniversário, está bem? Vamos conversar na hora do almoço”.
A Lillie deu um suspiro de alívio e sentou-se em sua carteira. Ela nunca mais queria sentir a dor de uma má escolha de novo. Mesmo que seus amigos não soubessem que ela pertencia à Igreja, ela teria sentido a mesma dor. Ela era membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e dali por diante pretendia agir como tal.
Lisa Passey Boynton é membro da Ala Val Verda IX, Estaca Bountiful Utah Val Verda.
“Não podemo-nos permitir dizer palavrões. Não podemos ser culpados de usar linguagem profana; não podemos permitir-nos ser impuros em palavras, pensamentos e ações e devemos ter o Espírito do Senhor conosco.”
Presidente Gordon B. Hinckley, “Conversos e Rapazes”, A Liahona, julho de 1997, p. 56.