Ao Tomar o Sacramento
Tomar o sacramento nos proporciona momentos sagrados em um lugar santo.
Há um ou dois anos tive a oportunidade de visitar o instituto de religião de Logan, Utah. O edifício no qual o instituto se reúne foi reformado recentemente. Disseram-me que quando os operários removeram o antigo púlpito da capela, descobriram algumas prateleiras que tinham ficado seladas por algum tempo. Ao remover a cobertura, encontraram uma bandeja de sacramento. Aparentemente era bem antiga, porque os copinhos do sacramento eram feitos de vidro. Um dos copinhos de vidro, como podem ver, foi colocado numa base e me dado de presente, provavelmente por eu ser o único que era suficientemente velho para lembrar-me da época em que se usavam copinhos de vidro.
Ao ver o copinho de vidro, minha mente se encheu de lembranças agradáveis. Os copinhos de vidro de sacramento eram usados na época que fiz 12 anos, um importante marco na minha vida. Meu aniversário de 12 anos foi num domingo. Por muitos anos, observei os diáconos distribuírem o sacramento, ansiando pelo dia em que eu teria a bênção de receber o Sacerdócio Aarônico e de adquirir aquele privilégio.
Quando o dia finalmente chegou, pediram-me que fosse cedo à Igreja para falar com o irmão Ambrose Call, o segundo conselheiro do bispado de nossa ala. O irmão Call me convidou a entrar em uma sala de aula e pediu-me que fizesse uma oração. Depois, abriu as escrituras e leu para mim a seção 13 de Doutrina e Convênios:
“A vós, meus conservos, em nome do Messias, eu confiro o Sacerdócio de Aarão, que possui as chaves do ministério de anjos e do evangelho do arrependimento e do batismo por imersão para remissão de pecados; e ele nunca mais será tirado da Terra, até que os filhos de Levi tornem a fazer, em retidão, uma oferta ao Senhor.”
O irmão Call então me pediu que comentasse aquela seção. Minha explicação sem dúvida estava incompleta, pois o irmão Call despendeu algum tempo me explicando o que significava ser um portador do santo sacerdócio. O fato de eu ser digno de possuir o sacerdócio dava-me o direito de usar o poder de Deus delegado ao homem. Todo aquele que possui o sacerdócio dignamente pode, com legitimidade, realizar as ordenanças que Deus prescreveu para a salvação da humanidade. Essa autoridade vem diretamente do próprio Salvador, por meio de uma linha contínua de portadores do sacerdócio.
Minha entrevista com o irmão Call deve ter sido bastante satisfatória, porque fui levado para a reunião do quórum de diáconos. Ali, os membros do bispado impuseram as mãos sobre minha cabeça, e o bispo, que era, na época, o meu pai, conferiu-me o Sacerdócio Aarônico e ordenou-me ao ofício de diácono. Fui também apoiado pelos outros diáconos para, com eles, tornar-me membro de um quórum do sacerdócio.
Na reunião sacramental daquela noite, tive a minha primeira oportunidade de exercer o sacerdócio distribuindo o sacramento aos membros de nossa ala. O sacramento adquiriu um novo significado para mim naquele dia. Ao observar a bandeja ser passada pelas fileiras de membros da Igreja, percebi que nem todos tomavam o sacramento com a mesma atitude. Havia aqueles que pareciam tomar o sacramento apenas por rotina, mas havia muitos que aceitavam o sacramento com grande reverência.
Ao longo dos anos, participei, como todos nós, de muitas reuniões sacramentais, e para mim elas foram realmente mais do que apenas outra reunião. Tomar o sacramento nos proporciona momentos sagrados em um lugar santo. Fazemos isso de acordo com o mandamento do Senhor que nos foi dado na seção 59 de Doutrina e Convênios:
“E para que mais plenamente te conserves limpo das manchas do mundo, irás à casa de oração e oferecerás teus sacramentos no meu dia santificado” (vers. 9).
Desde o princípio, antes de o mundo ser organizado, Deus estabeleceu um plano pelo qual ofereceria bênçãos a Seus filhos, de acordo com a obediência deles a Seus mandamentos. Ele sabia, porém, que às vezes nos distrairíamos pelas coisas do mundo e precisaríamos ser lembrados regularmente de nossos convênios e de Suas promessas.
Um dos primeiros mandamentos dados a Adão foi o de que ele devia adorar a Deus e oferecer as primícias de seus rebanhos como oferta a Ele. Essa ordenança foi dada para lembrar as pessoas que Jesus Cristo viria ao mundo e que por fim ofereceria a Si mesmo em sacrifício.
“E Adão foi obediente aos mandamentos do Senhor.
E após muitos dias, um anjo do Senhor apareceu a Adão, dizendo: Por que ofereces sacrifícios ao Senhor? E Adão respondeu-lhe: Eu não sei, exceto que o Senhor me mandou.
E então o anjo falou, dizendo: Isso é à semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai que é cheio de graça e verdade” (Moisés 5:6–7).
Daquele dia até a época de nosso Salvador, os filhos do Pai Celestial foram ordenados a oferecer sacrifícios. Isso teve fim com o sacrifício expiatório do Salvador. Então, na noite anterior ao sacrifício que Ele realizou, o Salvador instituiu o sacramento da Ceia do Senhor para ajudar a lembrar-nos Dele e da Expiação que fez por toda a humanidade. Assim, na antiga lei do sacrifício e no sacramento, o Senhor nos ajudou a não nos esquecermos de Suas promessas e da exigência de O seguirmos e de obedecermos à Sua vontade.
No Novo Testamento temos o relato de quando o Senhor ministrou o sacramento a Seus discípulos. Encontra-se em Mateus, capítulo 26:
“E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo.
E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos;
Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” (vers. 26–28).
O Livro de Mórmon, em 3 Néfi, capítulo 18, contém um relato detalhado de quando o Salvador ministrou o sacramento aos nefitas:
“E aconteceu que Jesus ordenou aos seus discípulos que lhe trouxessem pão e vinho.
E enquanto foram buscar o pão e o vinho, ele ordenou à multidão que sentasse no chão.
E quando os discípulos chegaram com pão e vinho, Jesus tomou do pão e partiu-o e abençoou-o; e deu a seus discípulos e mandou que comessem.
E quando eles acabaram de comer e achavam-se fartos, mandou que dessem à multidão.
E depois que a multidão comeu e fartou-se, disse ele aos discípulos: Eis que um dentre vós será ordenado e a ele eu darei poder para partir o pão e abençoá-lo e distribuí-lo ao povo de minha igreja, a todos os que crerem e forem batizados em meu nome.
E sempre procurareis fazer isto tal como eu fiz, da mesma forma que eu parti o pão, abençoei-o e dei-o a vós.
E isto fareis em lembrança de meu corpo, o qual vos mostrei. E será um testemunho ao Pai de que vos lembrais sempre de mim. E se lembrardes sempre de mim, tereis meu Espírito convosco.
E aconteceu que depois de haver proferido estas palavras, ordenou aos discípulos que tomassem do vinho do cálice, bebessem-no e dessem-no também à multidão para bebê-lo.
E aconteceu que eles assim procederam e beberam dele e fartaram-se; e deram à multidão e eles beberam e fartaram-se.
E depois de haverem os discípulos feito isso, Jesus disse-lhes: Bem-aventurados sois por isto que fizestes, porque isto cumpre meus mandamentos e testifica ao Pai que tendes o desejo de fazer o que vos ordenei” (vers. 1–10).
Suas instruções foram bem claras no sentido de que devemos estar dispostos a fazer o que Ele nos ordenou. Sem dúvida era de se esperar que em nossos dias fôssemos novamente ordenados a tomar o sacramento. Como lemos em Doutrina e Convênios:
“É conveniente que a igreja se reúna amiúde para partilhar do pão e do vinho, em lembrança do Senhor Jesus” (D&C 20:75).
O propósito de tomarmos o sacramento, evidentemente, é renovar os convênios que fizemos com o Senhor.
O Élder Delbert L. Stapley nos ensinou ao dizer o seguinte sobre os convênios:
“O evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é um convênio entre Deus e Seu povo. Quando somos batizados por um servo autorizado de Deus, fazemos o convênio de seguir a vontade do Senhor e obedecer a Seus mandamentos. Ao tomarmos o sacramento renovamos todos os convênios que fizemos com o Senhor e fazemos a promessa de tomar sobre nós o nome de Seu filho, sempre nos lembrar Dele e guardar Seus mandamentos” (Conference Report, outubro de 1965, p. 14).
O sacramento é uma das ordenanças mais sagradas da Igreja. Quando tomamos o sacramento dignamente temos a oportunidade de crescer espiritualmente.
Lembro-me de quando eu era menino, uma bela música era tocada enquanto o sacramento era distribuído. Pouco depois, as Autoridades Gerais pediram que interrompêssemos essa prática porque nossa mente se concentrava mais na música do que no sacrifício expiatório do nosso Senhor e Salvador. Durante a ministração do sacramento, deixamos o mundo de lado. É um período de renovação espiritual ao reconhecermos o profundo significado espiritual que a ordenança oferece a cada um de nós. Se não levarmos o sacramento a sério, perderemos a oportunidade de renovar nosso crescimento espiritual.
O Élder Melvin J. Ballard disse:
“Sou testemunha de que há um espírito presente na ministração do sacramento que aquece a alma dos pés à cabeça. Sentimos as feridas do espírito serem curadas, e a carga é aliviada. Consolo e felicidade são concedidos à alma que é digna e verdadeiramente desejosa de partilhar desse alimento espiritual” (“The Sacramental Covenant”, Improvement Era, outubro de 1919, p. 1027).
Quando tomamos o sacramento dignamente, lembramos o sacrifício de nosso Senhor e Salvador, que Ele deu a vida e tomou sobre Si os pecados do mundo para que tenhamos as bênçãos da imortalidade. Tomamos sobre nós o nome do nosso Salvador e prometemos sempre nos lembrar Dele e guardar Seus mandamentos, ou seja “[viver] de toda palavra que sai da boca de Deus” (D&C 84:44).
Pais, vocês têm a responsabilidade de ensinar à sua família a importância de assistirmos a reunião sacramental todas as semanas. Deve ser uma prática familiar regular. Toda família precisa desse momento de renovação e comprometimento de viver o evangelho de acordo com os ensinamentos do Salvador. As famílias, devidamente preparadas, assistirão a reunião sacramental com reverência e gratidão pela oportunidade de tomar os emblemas sagrados.
Lembro-me de uma experiência que nossa família teve quando estávamos passando as férias em um hotel. Como o período que passaríamos ali incluía um domingo, tomamos as providências para assistir a reunião sacramental em uma capela próxima. O mesmo fizeram centenas de outras pessoas que estavam no hotel. A capela estava lotada. Antes do início da reunião, o bispo convidou todos os diáconos presentes que estivessem dignos e devidamente vestidos a participarem da distribuição do sacramento. Um número adequado, todos de camisa branca e gravata, se apresentou para receber instruções sobre como lidar com uma congregação tão grande. A ordenança foi ministrada com reverência e eficácia. Ao observar a congregação, vi que muitos estavam profundamente tocados pelo espírito da reunião.
Depois de voltarmos ao hotel, houve uma diferença visível nas atividades realizadas no Dia do Senhor em comparação com aquelas dos dias de semana. Os barcos permaneceram atracados; o lago estava quase sem nenhum banhista; e os trajes eram muito adequados ao Dia do Senhor. Aquelas famílias viram o cumprimento da promessa do Senhor: Indo à casa de oração em Seu dia santificado e renovando os convênios de obedecer aos mandamentos, elas puderam manter-se mais plenamente limpas das manchas do mundo (ver D&C 59:9).
Que se instile em nós uma reverência cada vez maior pelo Dia do Senhor. Que estejamos mais plenamente cientes da bênção especial de podermos tomar o sacramento e de seu significado em nossa vida. Que sempre nos lembremos Dele e guardemos os mandamentos que Ele nos deu, a fim de alcançarmos o propósito da vida e termos esperança nas eternidades futuras. Esta é a obra do Senhor. Deus vive. Jesus é o Cristo, o Salvador do mundo. Temos o privilégio de fazer parte do grande plano do evangelho, do qual o sacramento é uma peça tão vital. Em nome de Jesus Cristo. Amém.