Agir por Nós Mesmos: O Dom e as Bênçãos do Arbítrio
O arbítrio, usado com retidão, permite que a luz disperse a escuridão e nos capacite a viver com alegria e felicidade.
Sou grato pelo testemunho do nosso profeta, o Presidente Gordon B. Hinckley. Em nome de todos os membros em todo o mundo, expresso gratidão por ele ter escolhido seguir a inspiração do Senhor e ter-nos pedido que lêssemos o Livro de Mórmon. Fomos abundantemente abençoados por seu conselho inspirado.
O patriarca Leí, primeiro profeta mencionado no Livro de Mórmon, também escolheu seguir ao Senhor. Ele foi instruído a que “partisse com a família para o deserto”.1 A despeito das duras condições da viagem e das reclamações de seus filhos Lamã e Lemuel, Leí guiou sua família a uma terra de promissão. Mas não era um lugar de paz. Quando Lamã e Lemuel usaram seu arbítrio para desobedecer ao Senhor, o coração de Leí “[se encheu] de pesar [por eles]”.2 Antes de sua morte, Leí reuniu os filhos à sua volta, abençoou-os e os aconselhou.3 A seus filhos rebeldes, recomendou que se arrependessem e fossem fiéis: “Despertai, meus filhos (…). Sacudi as correntes com que estais amarrados”.4 E a seu filho justo, Jacó, ele ensinou uma lição final muito importante.
Se pudéssemos deixar uma lição da maior importância para nossos filhos e netos, qual seria ela? De todos os gloriosos princípios do evangelho, Leí escolheu ensinar a seu filho sobre o plano de salvação — e o dom do arbítrio.
Ele ensinou que “os homens são ensinados suficientemente para distinguirem o bem do mal”.5 Essa instrução sagrada começou nos céus. Lá, em um Grande Conselho, nosso Pai Celestial deu continuidade ao dom do arbítrio para nos provar aqui na mortalidade, “para ver se [faremos] todas as coisas que o Senhor [nosso] Deus [nos] ordenar”.6
Mas Satanás se opôs a Deus e a Seu plano, dizendo: “Redimirei a humanidade toda, (…) portanto dá-me a tua honra”.7 “Portanto, por ter Satanás se rebelado contra mim e procurado destruir o arbítrio do homem, o qual eu, o Senhor Deus, lhe dera; (…) fiz com que ele fosse expulso”.8 “E, naquele dia, muitos o seguiram”.9 Na verdade, “uma terça parte das hostes do céu”10 usou seu arbítrio para rejeitar o plano de Deus.
Você e eu estávamos entre aqueles que usaram seu arbítrio para aceitar o plano do Pai Celestial de vir à Terra, ter uma vida mortal, e progredir. “Bradamos de alegria (…) por ter a oportunidade de vir à terra e receber um corpo [pois sabíamos] que poderíamos nos tornar, pela fidelidade, semelhantes a [nosso] Pai, Deus”. 11
Agora estamos aqui na Terra, onde há várias oportunidades de usar nosso arbítrio; pois aqui “[há] uma oposição em todas as coisas”.12 Essa oposição é essencial ao propósito de nossa vida. Como Leí explicou: “Para conseguir seus eternos propósitos com relação ao homem, (…) o Senhor Deus concedeu, portanto, que o homem agisse por si mesmo; e o homem não poderia agir por si mesmo a menos que fosse atraído por um ou por outro”.13
Adão e Eva foram os primeiros filhos de Deus a experimentarem essas tentações. Objetivando a miséria de toda a humanidade, Satanás, “o pai de todas as mentiras”,14 tentou Adão e Eva. Por terem escolhido partilhar do “fruto proibido, foram expulsos do Jardim do Éden para cultivar a terra”.15 Por causa daquela escolha, também “tiveram filhos, (…) a família de toda a Terra”,16 e esta existência terrena “se tornou um estado de provação”17 para eles e para sua posteridade. Pois, “eis que todas as coisas foram feitas segundo a sabedoria daquele que tudo conhece”, disse Leí a Jacó. “Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria.” 18
Às vezes esquecemos que nosso Pai Celestial deseja que cada um de nós tenha essa alegria. Somente cedendo à tentação e ao pecado poderemos ser impedidos de sentir tal alegria. E ceder é exatamente o que Satanás quer que façamos.
Certa vez tive a oportunidade de acompanhar o Presidente Spencer W. Kimball a uma terra distante. Visitamos vários lugares naquela região, incluindo catacumbas subterrâneas — locais de sepultamento dos que tinham sido perseguidos por cristãos fanáticos. Ao subirmos as estreitas e escuras escadas para sair daquele lugar, o Presidente Kimball ensinou-me uma lição inesquecível. Ele puxou a barra de meu paletó e disse: “Sempre me perturbou o que o adversário faz usando o nome de nosso Salvador”. E então, disse: “Robert, o adversário nunca terá alegria a não ser que você e eu pequemos”.
Ao meditar sobre aquele comentário e estudar as escrituras, comecei a entender o que o Presidente Kimball disse. Lembrei-me da palavra do Senhor a todos os habitantes da Terra, registrada no Livro de Mórmon: “Ai, ai, ai deste povo! Ai dos habitantes de toda a Terra, a não ser que se arrependam; porque o diabo ri e seus anjos se regozijam em virtude da morte dos belos filhos e filhas de meu povo”.19 São nossos pecados que fazem o diabo rir; é nossa tristeza que dá a ele falsa alegria.
Embora o diabo ria, seu poder é limitado. Alguns devem lembrar-se do velho adágio: “O diabo me fez fazer isto”. Hoje quero afirmar, em termos absolutamente claros, que o adversário não pode fazer com que façamos coisa alguma. Ele jaz à nossa porta, como dizem as escrituras, e deseja possuir-nos.20 A cada vez que saímos, a cada decisão que tomamos, estamos escolhendo nos mover na direção dele ou de nosso Salvador. Mas o adversário terá que ir embora se dissermos a ele que vá. Ele não pode influenciar-nos a não ser que permitamos que o faça, e ele sabe disso! O único momento em que ele pode afetar nossa mente e corpo — ou mesmo nosso espírito — é quando permitimos que o faça. Em outras palavras, não temos que sucumbir às suas tentações!
Recebemos o arbítrio, recebemos as bênçãos do sacerdócio, e recebemos a Luz de Cristo e o Espírito Santo para um propósito. Esse propósito é nosso crescimento e felicidade neste mundo e vida eterna no mundo futuro. Hoje eu pergunto: haveis recebido esse Espírito? Nós estamos seguindo pelo caminho estreito e apertado que leva a Deus e à vida eterna? Estamos segurando na barra de ferro? Ou estamos indo em outra direção? Testifico que o modo como escolhemos sentir e pensar e agir a cada dia é a maneira de chegar ao caminho, e permanecer nele, até que alcancemos nosso destino eterno.
Mas nenhum de nós permanece no caminho estreito o tempo todo. Todos cometemos erros. Foi por isso que Leí, que entendia o papel do Salvador na preservação e recuperação de nosso arbítrio, ensinou a Jacó — e a nós: “O Messias vem na plenitude dos tempos para redimir da queda os filhos dos homens. E porque são redimidos da queda tornaram-se livres para sempre, distinguindo o bem do mal; para agirem por si mesmos e não para receberem a ação”.21 Essa é a resposta: “para agirem por si mesmos e não para receberem a ação”.
Nestes últimos dias, como nos tempos antigos, temos que evitar receber a ação, agindo por nós mesmos para fugir do mal. O Espírito Santo nos orientará. José foi orientado a fugir da mulher de Potifar. Abraão obedeceu ao mandamento de fugir da terra de Ur. Leí foi instruído a fugir de Jerusalém antes que ela fosse destruída. E para proteger a vida do Salvador, Maria e José foram inspirados a fugir para o Egito.
A inspiração que recebemos para fugir do mal reflete o entendimento que o Pai Celestial possui de nossas forças e fraquezas, e Sua consciência das circunstâncias imprevistas em nossa vida. Quando essa inspiração ocorre, geralmente não nos faz parar de imediato, pois o Espírito de Deus não fala com uma voz de trovão. A voz será tão suave quanto um sussurro, vindo como um pensamento a nossa mente ou como um sentimento a nosso coração. Dando ouvidos a sua inspiração delicada, estaremos protegidos das conseqüências destrutivas do pecado.
Mas se ignorarmos tal inspiração, a luz do Espírito se desvanecerá. Nosso arbítrio será limitado ou perdido e perderemos a confiança e a habilidade de agir. Estaremos “[andando] em trevas [espirituais] ao meio-dia”.22 E quão fácil é desviar-nos por caminhos estranhos e perder-nos! Quão rapidamente somos presos às correntes do pecado mencionadas por Leí a seus filhos rebeldes.23 Por exemplo, se fizermos escolhas que nos coloquem em sério débito, perderemos o arbítrio de prover nossos desejos e necessidades, ou de poupar para aquele inevitável dia chuvoso. Se escolhermos quebrar a lei, podemos ser colocados na prisão onde nosso arbítrio é tão limitado que não podemos escolher aonde ir, com quem nos encontrar ou o que fazer. A prisão espiritual também é assim. Portanto, para preservar nosso arbítrio, temos que caminhar diariamente na luz de nosso Senhor e Salvador e seguir o caminho da obediência. Esse é o único caminho que leva ao nosso Pai Celestial.
Se, por meio de nossas escolhas iníquas, desviamo-nos daquele caminho, temos que nos lembrar do arbítrio que nos foi dado, arbítrio que podemos escolher exercitar novamente. Falo especialmente àqueles vencidos pela espessa escuridão do vício. Se você sucumbiu a algum comportamento vicioso, pode sentir-se em um buraco negro espiritual. Como no buraco negro de verdade, no espaço, pode parecer impossível que a luz penetre até onde você está. Como escapar? Testifico que a única maneira é por meio do próprio arbítrio que você exercitou tão valentemente na vida pré-mortal, o arbítrio que o adversário não pode retirar de você a menos que você o dê a ele.
Como recuperar tal arbítrio? Como começar a exercê-lo novamente da maneira correta? Você escolhe agir em fé e obediência. Quero sugerir algumas escolhas básicas que você pode começar a fazer agora — neste mesmo dia.
Escolha aceitar — aceitar de verdade — que você é um filho de Deus, que Ele o ama e que Ele tem o poder para ajudá-lo.
Escolha depositar tudo — literalmente tudo — no altar diante Dele. Acreditando que é Seu filho, decida que sua vida pertence a Ele e que você usará seu arbítrio para fazer a vontade Dele. Você pode fazer isso várias vezes na vida; mas nunca, nunca desista.
Escolha colocar-se em posição de ter experiências com o Espírito de Deus por meio da oração, do estudo das escrituras, das reuniões da Igreja, em seu lar, e da interação sadia com outras pessoas. Quando sentir a influência do Espírito, você estará começando a ser limpo e fortalecido. A luz estará sendo ligada, e quando aquela luz brilha, a escuridão do mal não consegue permanecer.
Escolha obedecer e manter seus convênios, a começar pelo convênio batismal. Renove esses convênios partilhando dignamente do sacramento.
Escolha preparar-se para freqüentar dignamente o templo, fazer e renovar convênios sagrados e receber todas as ordenanças e bênçãos salvadoras do evangelho.
Finalmente, e mais importante que tudo, escolha acreditar na Expiação de Jesus Cristo. Aceite o perdão do Salvador e perdoe a si mesmo. Por causa do sacrifício Dele por você, Ele tem o poder de “não mais [Se lembrar de seus pecados]”.24 Você deve fazer o mesmo.
Depois que estiver no caminho e “livre para escolher” novamente, escolha rejeitar os sentimentos de vergonha por pecados dos quais já tenha se arrependido, recuse-se a ser desencorajado pelo passado e regozije-se na esperança no futuro. Lembre-se: é Satanás quem quer que sejamos “tão miseráveis como ele próprio”.25 Faça com que seus desejos sejam mais fortes do que os dele. Seja feliz e confie na vida e nas oportunidades e bênçãos que esperam por você aqui e por toda a eternidade.
Por fim, lembre-se de que nosso arbítrio não é apenas para nós. Temos a responsabilidade de usá-lo em benefício de outras pessoas, para edificá-las e fortalecê-las em suas provações e tribulações. Alguns de nossos irmãos e irmãs perderam o uso pleno de seu arbítrio por causa de escolhas iníquas. Sem nos expor a tentações, podemos e devemos convidar outras pessoas a receberem a luz do evangelho de Jesus Cristo. Por intermédio de amizade e amor, podemos conduzi-las ao caminho da obediência e encorajá-las a usar seu arbítrio para fazerem as escolhas certas uma vez mais.
Assim como o patriarca Leí testificou a sua família sobre as bênçãos do arbítrio, também desejo testificar a vocês, meus amados irmãos e irmãs em todo o mundo, e a minha família. O arbítrio foi manifestado no Conselho dos Céus quando escolhemos seguir o plano de nosso Pai Celestial e vir à mortalidade para este período probatório. O arbítrio permite que sejamos testados para ver se iremos ou não perseverar até o fim e voltar a nosso Pai Celestial com honra. O arbítrio é o catalisador que nos leva a expressar nossos desejos espirituais internos com comportamentos externos cristãos. O arbítrio permite-nos fazer escolhas de fé e obediência que nos fortaleçam para que edifiquemos e fortaleçamos outras pessoas. O arbítrio, usado com retidão, permite que a luz disperse a escuridão e nos capacite a viver com alegria e felicidade no presente, olhar com fé para o futuro, mesmo para as eternidades, e não se ater às coisas do passado. O uso que fazemos do arbítrio determina quem somos e o que seremos.
A todos que desejarem desfrutar as grandiosas bênçãos do arbítrio, testifico que ele é fortalecido por nossa fé e obediência. O arbítrio nos leva a agir: buscar para que encontremos, pedir para que recebamos orientação do Espírito, bater naquela porta que conduz à luz espiritual e, finalmente, à salvação. Presto testemunho especial de que nosso Salvador, Jesus Cristo, é a fonte dessa luz, mesmo a Luz e a Vida do Mundo. Quando usarmos nosso arbítrio para segui-Lo, Sua luz brilhará em nós sempre mais intensamente, até aquele dia perfeito26 em que seremos admitidos na presença de nosso Pai Celestial por toda a eternidade. Que usemos nosso arbítrio para esse fim sagrado e glorioso, eu oro em nome de Jesus Cristo. Amém.