Perseverar até o Início
Foram sete anos de espera, mas valeu a pena.
“Quem são os professores?”, perguntei a minha amiga enquanto descíamos a rua numa manhã de sábado, em fevereiro de 2000. Tínhamos 14 anos na época.
“Eles são meus amigos e estão aqui em uma espécie de missão”, ela respondeu. Nunca havíamos conversado sobre religião antes, apesar de sermos muito amigas. Ela disse que íamos ter aulas de inglês, e que seus amigos ensinavam de graça. Ela sabia que eu me interessaria, porque ia freqüentar uma escola inglesa de ensino médio.
Quando entramos no edifício, meus olhos fixaram-se nas gravuras que vi nas paredes. Aquilo era uma igreja? Não se parecia com a Igreja Ortodoxa Búlgara, a única que eu tinha visitado. A maioria das pessoas pensa que quaisquer outras igrejas são seitas. Além disso, enquanto a Bulgária esteve sob o regime comunista, até 1989, as crenças religiosas eram condenadas, e muitas pessoas ainda vêem a religião como algo não muito correto.
Minha amiga perguntou se eu gostaria de ir à igreja no dia seguinte. Respondi que sim — mais por curiosidade do que por religiosidade. Eu sabia que se ela estava freqüentando, era porque não havia nada de errado com a igreja.
Comecei a freqüentar a Igreja regularmente. Queria aprender mais a respeito do que era ensinado lá. Queria saber por que aqueles jovens com plaquetas deixavam seu país e vinham para a Bulgária e mergulhavam no ambiente religiosamente hostil que havia lá. Apesar de eu não ser religiosa na época, alguma coisa fazia com que continuasse a participar das atividades da Igreja. Amava o espírito de amizade dos missionários e o sorriso cordial dos membros.
Tornei-me amiga das moças do ramo. Fiquei surpresa com sua fé e seu desejo de servir aos outros. Lembro-me da primeira vez em que ofereci a oração na classe das Moças. Nunca havia orado antes e não conhecia o poder da oração. Nunca experimentara essa ligação poderosa com o Pai Celestial, que é proporcionada pela oração. Não sabia que eu era Sua filha. Depois daquele dia, nunca mais parei de orar. Sempre que precisava vencer uma provação, eu sabia que podia pedir ao Pai Celestial que me guiasse. Freqüentemente, a oração trazia-me lágrimas aos olhos, porque sentia a confirmação do Espírito Santo de que Deus me amava. Comecei então a confiar no Senhor.
Quando as tentações da adolescência chegaram, eu já possuía uma firme fé em Jesus Cristo, o que me deu forças para sobrepujá-las. Era visível como Satanás tentava meus amigos com coisas mundanas, e como pequenas concessões facilitam as grandes. Era difícil manter os padrões, mas a ligação que existia entre mim e o Pai Celestial, por meio da oração, ajudou-me a me manter longe das tentações. Eu havia decidido viver de acordo com os princípios do plano de salvação. E eu sabia, sem dúvida, que um dia seria abençoada.
Infelizmente, eu não pude filiar-me à Igreja naquela época. Meus pais eram totalmente contra, especialmente meu pai. Isso era compreensível. Os pais dele nunca o levaram para a igreja. Ele cresceu em um país que estava sob o regime comunista. Entretanto, eu sabia que o Senhor havia preparado um caminho para que eu me filiasse à Igreja algum dia. Eu já sabia que a caminhada seria árdua, mas havia aprendido nas escrituras que as tribulações podem ser para o nosso bem.
Freqüentei o seminário e, mais tarde, o instituto; participei das atividades da Igreja e até mesmo iniciei meu Progresso Pessoal. Eu aguardava ansiosamente as atividades das Moças. Nunca vou-me esquecer das horas que passamos cozinhando, fazendo cartões postais ou marcadores de livros, decorando a sala das Moças, jogando, bem como do maravilhoso espírito de amizade entre nós. Cada uma das atividades me ajudava a entender minha natureza divina e meu papel nesta vida.
Um dos projetos mais difíceis do Progresso Pessoal foi memorizar “O Cristo Vivo”1. Quando olhava o texto, imaginava que seria um grande desafio decorá-lo. Depois de algumas semanas, porém, eu já sabia por que esse projeto estava no valor Fé. Foi um teste de fé e paciência, um teste com conseqüências recompensadoras. O testemunho dos Apóstolos ajudou a fortalecer minha fé e meu testemunho. Ao relembrar suas palavras inspiradoras sobre a vida e o ministério divinos de Cristo, obtive coragem para testificar a respeito Dele.
Quando eu estava com aproximadamente 16 anos, tivemos uma atividade sobre como ser um missionário de tempo integral. Separamo-nos em duplas e vivemos como missionárias por uma semana. Foi a primeira vez que aprendi quão importante é compartilhar nosso testemunho com os outros. Essa atividade me ajudou a compreender não só como é difícil servir ao Senhor, mas também a alegria que sentimos ao compartilhar o evangelho e ver como os ensinamentos de Cristo podem mudar a vida de uma pessoa. Isso me ajudou a entender o que significa “servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares” (Mosias 18:9).
Sendo “não-membro ativo”, como todos carinhosamente me chamavam, aprendi a desenvolver a paciência e a esperança de que, um dia, poderia tornar-me membro da Igreja. Eu sabia que isso era um teste para minha paciência e minha fé. Perguntava-me quanto tempo ainda levaria para que eu fosse batizada e pudesse começar uma nova vida.
Esse dia chegou quase sete anos depois de minha amiga ter-me levado para a Igreja, naquela fria manhã de fevereiro de 2000. Fui batizada aos 21 anos, na casa da missão, em Sofia. O dia de meu batismo foi o mais feliz de minha vida. Naquele momento senti o grande amor redentor que o Pai Celestial tem por mim. Esse sentimento foi ainda maior quando participei do sacramento no dia seguinte. Não conseguia conter as lágrimas. O espírito ardendo-me no peito dizia que valera a pena esperar. Eu podia finalmente desfrutar o dom do Espírito Santo e outras bênçãos de ter-me tornado membro da Igreja.
Sou grata pela bênção de conhecer o evangelho restaurado. Sei que posso sobrepujar as tribulações da vida por meio da fé e da paciência. Não há privilégio maior e mais recompensador do que ser membro da única Igreja verdadeira na Terra. Nada traz maior alegria do que saber que, como membros dignos da Igreja, poderemos viver com Deus novamente.