Ele Me Disse: ”De Jeito Nenhum!”
“Eis que não é bom nem aceitável aos olhos de vosso Pai que alguém entre vós tome vinho ou bebida forte” (D&C 89:5).
Eu achava que meu melhor amigo, Carlos, faria qualquer coisa. Quando o desafiei a saltar do degrau mais alto da entrada de minha casa, ele não só pulou, mas até fez disso o ponto de partida para uma corrida!”
Quando o desafiei a andar numa montanha russa que ia de cabeça para baixo, ele não só andou, mas sentou-se no banco da frente!
E quando lhe disse que ele jamais teria coragem de cumprimentar Juliana — a menina mais bonita de toda a escola — ele não só a cumprimentou, mas conversou com ela durante cinco minutos!
Achei que Carlos faria qualquer coisa. Pelo menos era o que eu achava até hoje.
O Carlos vem aqui em casa quase todos os dias. Moramos muito perto um do outro. Há somente uma casa entre a casa dele e a minha. Mas o Carlos não vem no domingo nem na segunda-feira. Aos domingos, vai à Igreja. Na segunda-feira, a família dele faz um tipo de reunião. Ele me convidou algumas vezes. Comemos bolo de chocolate e fizemos brincadeiras. Foi muito divertido.
O Carlos costuma vir a minha casa para brincar depois das aulas. É bom ter a companhia dele, pois minha mãe e meu pai só chegam do trabalho mais tarde. Adoro brincar com o Carlos. Gostamos de inventar piadas. O Carlos faz amizade com todos. Nunca o ouvi falar mal dos outros — ainda que todos a sua volta o façam.
Hoje eu e Carlos jogamos basquete. Estava fazendo muito calor, por isso perguntei ao Carlos se queria beber algo.
“Claro”, respondeu o Carlos, jogando a bola na grama e correndo para meu jardim.
Entramos na casa e fomos até a cozinha. Quando abri a geladeira, a golfada de ar frio deixou em pé os pelos de nossos braços. Assim que bati os olhos na geladeira, vi somente suco e leite. Depois, uma latinha aberta no canto chamou-me a atenção.
Meu pai deixara uma lata de cerveja aberta. Se déssemos alguns goles, ele nunca ficaria sabendo. Peguei a latinha.
“Quer experimentar?” perguntei.
“O que é?” perguntou o Carlos.
“É cerveja”, respondi. “Meu pai toma toda hora. Ele nem vai perceber se dermos só um golinho.”
O Carlos olhou para mim. Levantou a sobrancelha e pôs as mãos na cintura. Depois, disse algo que nunca achei que sairia de sua boca.
“De jeito nenhum!” disse o Carlos.
“Você acabou de dizer não?” indaguei.
“Cerveja não faz bem”, explicou ele. “Não devemos tomar. Ela nos leva a fazer coisas estúpidas.”
“Não se for apenas um golinho”, respondi. “Olhe, vou fazer uma demonstração.”
Levei a lata à boca, dei um gole e sorri. O gosto era horrível, mas eu não queria dar o braço a torcer.
“Viu? Estou com cara de mais estúpido do que você?” perguntei.
“Acho que vou para casa”, disse o Carlos. “Não beba mais isso. Não é uma boa ideia.”
Ao ver o Carlos ir embora e correr pela calçada de volta para a casa dele, não me saía da cabeça por que motivo ele estava disposto a fazer quase qualquer coisa, mas não a tomar nem mesmo um golinho de cerveja.
Tomei outro gole depois que Carlos se foi. “Nossa! Que coisa nojenta!”, pensei ao pôr a latinha de volta no canto da geladeira.
Talvez o Carlos tivesse razão, afinal de contas.