Guiados pelo Santo Espírito
Todos podemos ser guiados pelo espírito de revelação e pelo dom do Espírito Santo.
Faz 400 anos desde a publicação da versão do rei Jaime da Bíblia, com significativas contribuições de William Tyndale, um grande herói a meus olhos.
O clero não queria que a Bíblia fosse publicada em inglês comum. Caçaram Tyndale de um lugar a outro. Ele disse a eles: “Se Deus poupar minha vida, farei com que daqui a vários anos um rapaz que conduz o arado saiba mais sobre as escrituras do que vocês”.1
Tyndale foi traído e confinado a uma prisão escura e fria, em Bruxelas, por mais de um ano. Suas roupas estavam em trapos. Ele rogou a seus captores que lhe dessem seu casaco, um capuz e uma vela, dizendo: “É realmente muito aborrecido ficar sentado sozinho no escuro”.2 Essas coisas lhe foram negadas. Por fim, tiraram-no da prisão e, diante de uma grande multidão, ele foi enforcado e queimado numa estaca. Mas o trabalho e a morte de mártir de William Tyndale não foram em vão.
Como as crianças da Igreja são ensinadas desde a infância a conhecer as santas escrituras, em certa medida elas cumprem a profecia feita há quatro séculos por William Tyndale.
Nossas escrituras atualmente consistem na Bíblia, no Livro de Mórmon: Outro Testamento de Jesus Cristo, na Pérola de Grande Valor e em Doutrina e Convênios.
Por causa do Livro de Mórmon, somos frequentemente chamados de a Igreja Mórmon, um título que não nos incomoda, mas que realmente não é correto.
No Livro de Mórmon, o Senhor voltou a visitar os nefitas porque eles oraram ao Pai em Seu nome. O Senhor disse:
“Que desejais que eu vos dê?
E eles responderam-lhe: Senhor, desejamos que nos digas o nome que devemos dar a esta igreja, porque há controvérsias entre o povo a respeito deste assunto.
E o Senhor disse-lhes: (…) Por que é que o povo murmura e discute sobre este assunto?
Não leram as escrituras, que dizem que deveis tomar sobre vós o nome de Cristo (…)? Porque por esse nome sereis chamados no último dia.(…)
Portanto tudo quanto fizerdes, vós o fareis em meu nome; por conseguinte chamareis a igreja pelo meu nome; e invocareis o Pai em meu nome, a fim de que ele abençoe a igreja por minha causa.
E como será a minha igreja, se não tiver o meu nome? Porque se uma igreja for chamada pelo nome de Moisés, então será a igreja de Moisés; ou se for chamada pelo nome de um homem, então será a igreja de um homem; mas se for chamada pelo meu nome, então será a minha igreja, desde que estejam edificados sobre o meu evangelho”.3
Obedientes à revelação, chamamo-nos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e não a Igreja Mórmon. Uma coisa é que os outros se refiram à Igreja como a Igreja Mórmon ou a nós como mórmons, mas é bem diferente se nós fizermos o mesmo.
A Primeira Presidência declarou:
“O uso do nome revelado, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (D&C 115:4), é cada vez mais importante em nossa responsabilidade de proclamar o nome do Salvador ao mundo inteiro. Por esse motivo, pedimos que, ao referir-nos à Igreja, usemos seu nome completo, sempre que possível.
(…) Ao referir-nos aos membros da Igreja, sugerimos ‘membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias’. Como referência abreviada, é preferível o termo ‘santos dos últimos dias’”.4
“[Nós, santos dos últimos dias] falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo com nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte procurar a remissão de seus pecados.”5
O mundo pode chamar-nos do que quiserem, mas em nosso falar sempre lembramos que pertencemos à Igreja de Jesus Cristo.
Alguns afirmam que não somos cristãos. Ou eles nos desconhecem inteiramente ou estão equivocados a nosso respeito.
Na Igreja, toda ordenança é realizada pela autoridade de Jesus Cristo e em nome de Jesus Cristo.6 Temos a mesma organização existente na Igreja original, com apóstolos e profetas.7
No passado, o Senhor chamou e ordenou doze apóstolos. Ele foi traído e crucificado. Após Sua Ressurreição, o Salvador ensinou Seus discípulos por 40 dias e depois ascendeu ao céu.8
Mas ainda faltava algo. Poucos dias depois, os Doze se reuniram em uma casa e “de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. (…) E (…) línguas repartidas (…) de fogo (…) pousaram sobre cada um deles. E (…) foram cheios do Espírito Santo”.9 Seus apóstolos passaram a ter poder. Eles sabiam que a autoridade dada pelo Salvador e o dom do Espírito Santo eram essenciais para o estabelecimento de Sua Igreja. Foram ordenados a batizar e a conferir o dom do Espírito Santo.10
Após algum tempo, os apóstolos e o sacerdócio que eles portavam já não existiam. A autoridade e o poder de ministrar precisavam ser restaurados. Por séculos, os homens ansiaram pelo retorno da autoridade e pelo estabelecimento da Igreja do Senhor.
Em 1829, o sacerdócio foi restaurado a Joseph Smith e Oliver Cowdery, por João Batista e pelos Apóstolos Pedro, Tiago e João. Agora, os membros da Igreja dignos, do sexo masculino, são ordenados ao sacerdócio. Essa autoridade e o dom do Espírito Santo, que é conferido a todos os membros da Igreja após o batismo, distinguem-nos das outras igrejas.
Uma antiga revelação ordena “que todo homem, porém, fale em nome de Deus, o Senhor, sim, o Salvador do mundo”.11 O trabalho da Igreja é atualmente realizado por homens e mulheres comuns que são chamados e apoiados para presidir, ensinar e ministrar. É pelo poder da revelação e pelo dom do Espírito Santo que as pessoas chamadas são guiadas para conhecer a vontade do Senhor. Os outros talvez não aceitem coisas como profecias, revelação e o dom do Espírito Santo, mas se quiserem compreender-nos, precisam compreender que aceitamos essas coisas.
O Senhor revelou a Joseph Smith uma lei de saúde, a Palavra de Sabedoria, muito antes de os perigos serem conhecidos pelo mundo. Todos somos ensinados a abster-nos de chá preto, café, bebidas alcoólicas, fumo e, é claro, de várias drogas e substâncias que viciam, que estão sempre diante de nossos jovens. Àqueles que obedecem a essa revelação é prometido que “receberão saúde para o umbigo e medula para os ossos;
e encontrarão sabedoria e grandes tesouros de conhecimento, sim, tesouros ocultos;
E correrão e não se cansarão; e caminharão e não desfalecerão”.12
Em outra revelação, o padrão de moralidade do Senhor ordena que os poderes sagrados de gerar vida sejam protegidos e empregados apenas entre homem e mulher casados entre si.13 Os únicos pecados mais graves do que o uso indevido desse poder são o derramamento de sangue inocente e a negação do Espírito Santo.14 Se alguém transgredir a lei, a doutrina do arrependimento ensina como apagar os efeitos dessa transgressão.
Todos são testados. Alguém pode achar injusto o fato de ser diferente e de estar sujeito a uma tentação específica, mas esse é o propósito da vida mortal — sermos testados. E a resposta é a mesma para todos: Precisamos e podemos resistir a todo tipo de tentação.
“O grande plano de felicidade”15 centraliza-se na vida em família. O marido é o cabeça do lar e a mulher, o coração do lar, sendo o casamento uma parceria entre iguais. Um santo dos últimos dias é um homem de família, responsável e fiel ao evangelho. Ele é um marido e pai carinhoso e devotado. Ele reverencia a feminilidade da mulher. A esposa apoia o marido. Tanto o pai quanto a mãe nutrem o crescimento espiritual dos filhos.
Os santos dos últimos dias são ensinados a amar uns aos outros e a perdoar sinceramente as ofensas.
Minha vida mudou graças a um patriarca muito virtuoso. Ele casou-se com sua amada. Estavam profundamente apaixonados, e logo ela ficou grávida de seu primeiro filho.
Na noite em que o bebê nasceu, houve complicações. O único médico disponível naquela zona rural estava atendendo a um doente. Depois de muitas horas de trabalho de parto, as condições da futura mãe tornaram-se desesperadoras. Por fim, o médico foi localizado. Naquela emergência, ele agiu rapidamente e, pouco depois, o bebê nasceu, e a crise estava aparentemente terminada. Mas alguns dias depois, a jovem mãe morreu da mesma infecção que o médico estivera tratando em outra casa naquela noite.
O mundo do rapaz ruiu a seus pés. À medida que as semanas se passaram, sua dor aumentou. Ele não conseguia pensar em mais nada e, em sua amargura, tornou-se vingativo. Hoje, sem dúvida, ele teria sido instado a mover uma ação por erro médico, como se o dinheiro resolvesse qualquer coisa.
Certa noite, alguém bateu em sua porta. Uma menina disse simplesmente: “Meu pai quer que você venha a nossa casa. Ele quer conversar com você”.
“O pai” era o presidente da estaca. O conselho daquele sábio líder foi simplesmente: “John, esqueça. Nada do que você faça vai trazê-la de volta. Tudo o que você fizer vai piorar a situação. John, esqueça”.
Essa foi a provação de meu amigo. Como ele poderia esquecer? Um erro terrível fora cometido. Ele se debateu para controlar-se e, por fim, decidiu que devia ser obediente e seguir o conselho daquele sábio presidente de estaca. Ele esqueceria.
Ele disse: “Foi só quando fiquei velho que finalmente consegui entender a vida daquele pobre médico do interior: sobrecarregado de trabalho, mal pago, correndo sem recursos de um paciente a outro, com poucos medicamentos, sem hospital, com poucos instrumentos, lutando para salvar vidas, e tendo sucesso na maioria dos casos. Ele tinha chegado a um momento de crise, quando duas vidas estavam em risco, e agiu sem demora. Finalmente compreendi!” Ele disse: “Eu teria arruinado a minha vida e a de outros”.
Ele agradeceu muitas vezes ao Senhor de joelhos por aquele sábio líder do sacerdócio que aconselhou simplesmente: “John, esqueça”.
Ao nosso redor, vemos membros da Igreja que se ofenderam. Alguns se ofendem com incidentes da história da Igreja ou com seus líderes, e sofrem a vida inteira, incapazes de deixar para trás o erro de outras pessoas. Não esquecem. Acabam ficando inativos.
Essa atitude é parecida com a de um homem que leva uma paulada. Ofendido, ele pega um pedaço de madeira e fica batendo na própria cabeça com ele todos os dias de sua vida. Que tolice! Que tristeza! Que tipo de vingança está infligindo a si mesmo? Se vocês foram ofendidos, perdoem, esqueçam.
O Livro de Mórmon traz esta admoestação: “E agora, se há falhas, são erros dos homens; não condeneis, portanto as coisas de Deus, para que sejais declarados sem mancha no tribunal de Cristo”.16
Um santo dos últimos dias é uma pessoa bem comum. Estamos em todos os lugares do mundo, somos catorze milhões. Esse é apenas o início. Somos ensinados a estar no mundo, mas a não ser do mundo.17 Portanto, levamos uma vida comum em uma família comum, em meio à população geral.
Somos ensinados a não mentir nem enganar.18 Não dizemos palavrões. Somos otimistas e felizes, e não temos medo da vida.
Estamos “dispostos a chorar com os que choram (…) e consolar os que necessitam de consolo e servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares”.19
Se alguém procura uma igreja que exija muito pouco, não será esta aqui. Não é fácil ser um santo dos últimos dias, mas a longo prazo é o único caminho verdadeiro.
A despeito da oposição ou de “guerras, rumores de guerra e terremotos em diversos lugares”,20 nenhum poder ou influência pode parar esta obra. Todos podemos ser guiados pelo espírito de revelação e pelo dom do Espírito Santo. “Seria tão inútil o homem estender seu braço débil para deter o rio Missouri em seu curso ou fazê-lo ir correnteza acima, como o seria impedir que o Todo-Poderoso derramasse conhecimento do céu sobre a cabeça dos santos dos últimos dias.”21
Se você estiver carregando um fardo, esqueça, deixe para lá. Perdoe muito e arrependa-se um pouco e você receberá a visita do Espírito Santo e receberá confirmação por meio de um testemunho que você não sabia existir. Você estará protegido e abençoado — você e os seus. Este é um convite de vir a Cristo. Nesta igreja — A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, “a única igreja verdadeira e viva na face de toda a Terra”,22 conforme o próprio Cristo declarou — é onde encontramos “o grande plano de felicidade”.23 Disto presto testemunho em nome de Jesus Cristo. Amém.