O Que Há de Tão Atraente no Grande e Espaçoso Edifício?
O autor mora em Utah, EUA.
Quando o mundo lhe disser que a maneira dele é melhor, tenha coragem de defender e viver as verdades do evangelho.
Abby está animada com o baile da escola, mas gostaria que seu novo vestido fosse só um pouquinho mais parecido com os que as colegas vão usar. Ela acha que suas amigas vão ficar mais bonitas e sofisticadas com seus vestidos sem mangas do que ela em seu vestido recatado. Ela está preocupada com a possibilidade de destoar do grupo.
Nate sai com amigos certa noite, e um deles tira da mochila algumas latinhas de cerveja e as distribui. Diante da recusa inicial de Nate (“Não posso”), seus amigos começam a rir e a zombar dele. Nate não quer ser considerado careta, por isso pensa em tomar apenas uns goles de cerveja só para os amigos pararem de rir.
Já passou por situações semelhantes? Assim como Abby e Nate, cada um de nós passa por momentos-chave na vida em que escolhas diferentes se apresentam a nós como caminhos distintos. Nesses momentos difíceis e importantes de decisão, às vezes temos medo de defender nossas crenças por não querermos chamar atenção.
Abby e Nate estão vivenciando em primeira mão algumas das dificuldades descritas na visão de Leí da árvore da vida. Nessa visão, aprendemos que duas das principais razões que levam as pessoas a deixar o caminho estreito e apertado são que elas ficam cegas pela tentação (ver 1 Néfi 8:23; 12:17) e que ficam envergonhadas por causa das zombarias dos habitantes do grande e espaçoso edifício (ver 1 Néfi 8:26–28). Examinemos essas duas partes da visão de Leí para ver se conseguimos não só compreendê-las melhor, mas também aprender com elas a fim de achar forças para defender o que é certo e assim nos destacar.
Trilhar o Caminho
O problema com as tentações do mundo é que são muito tentadoras, não é mesmo? Como disse o Presidente Spencer W. Kimball (1895–1985): “Quem disse que o pecado não é divertido? (…) O pecado é atraente e desejável. (…) O pecado é fácil e está sempre cercado de companhias agradáveis”.1
Por mais que detestemos admiti-lo, muitos desses outros caminhos costumam ser atraentes. Alguns caminhos tomam de repente direções emocionantes, enquanto outros se curvam de modo tão sutil que por algum tempo parecem correr paralelamente ao caminho do evangelho. Alguns contam com um glamoroso tapete vermelho e recebem aplausos efusivos. Outros parecem pavimentados com ouro e joias.
O poder de atração do grande e espaçoso edifício é muito parecido. Afinal, algumas das pessoas mais ricas, populares, atraentes e poderosas do mundo moram lá! Quem não gostaria de conviver com essas pessoas e agir e vestir-se como elas? Em geral, elas parecem divertir-se muito mais do que o restante de nós que estamos tentando permanecer no caminho do evangelho.
Assim como nossa amiga Abby, quanto mais atenção dermos aos moradores do grande e espaçoso edifício, mais inveja, frustração ou até raiva poderemos vir a sentir. Talvez achemos injusto que eles tenham tantas coisas boas enquanto estamos empenhados em ficar no caminho da árvore da vida.
Satanás sabe que uma das melhores maneiras de tirar as pessoas do caminho do evangelho é iludi-las para que achem demasiado difícil, entediante ou antiquado permanecer no caminho. Pouco importa para ele os outros caminhos que seguiremos — qualquer caminho serve — desde que não seja o caminho do evangelho.
“Que Gosto Tem Esse Fruto?”
Zombar dos fiéis é uma das atividades prediletas dos habitantes do grande e espaçoso edifício. O Presidente Thomas S. Monson disse: “Cada vez mais, vemos certas celebridades e outras pessoas (…) ridicularizarem a religião em geral e, às vezes, a Igreja, de modo específico. Se nosso testemunho não estiver firmemente alicerçado, essas críticas podem fazer com que duvidemos de nossas próprias crenças ou hesitemos em nossa determinação”.2
Parece que, onde quer que estejamos na vida, seja pessoalmente ou online, sempre haverá uma janela aberta do grande e espaçoso edifício por perto com alguém pronto para apontar o dedo e rir das coisas que valorizamos. É bem provável que todos nós já tenhamos sofrido esse tipo de zombaria em diferentes momentos, e pode ser muito doloroso. Sabemos que devemos reagir à maneira de Cristo, mas nem sempre é fácil. Ninguém gosta de ser alvo de chacota ou ver crenças queridas menosprezadas. Assim como Nate, ao respondermos com uma frase como “Não posso, sou mórmon”, às vezes as pessoas só aumentam as risadas.
“Não Posso…”
Já percebeu como os escarnecedores sempre tendem a focar no verbo poder? Como na pergunta: “Por que você não pode beber isto?” “Por que não pode fazer compras comigo no domingo?” ou “Por que não pode fazer sexo antes do casamento?”
Essa insistência na negativa do verbo poder pode nos levar a sentir-nos impotentes. Podemos ter a sensação de ser fracos e covardes. Podemos ter a impressão de que somos vítimas indefesas de um Deus impessoal que nos trancafiou para nos negar qualquer forma de diversão.
Essa tática é antiquíssima. De fato, Satanás a vem usando desde o princípio. Quando Deus colocou Adão e Eva no Jardim do Éden, disse: “De toda árvore do jardim podes comer livremente” (Moisés 3:16). Será que as palavras “toda árvore” lhe parecem restritivas? Embora tenha dito a Adão e Eva que haveria consequências específicas se eles comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus nunca os restringiu fisicamente. Eles tinham o jardim inteiro para si mesmos e foi-lhes dito: “Podes escolher segundo tua vontade, porque te é dado” (Moisés 3:17). Para mim isso é pura liberdade!
Portanto, é interessante que Satanás tenha chegado depois e dito: “Sim, Deus disse — Não comereis de todas as árvores do jardim?” (Moisés 4:7). Essencialmente Satanás estava perguntando: “Por que vocês não podem comer do fruto dessa árvore?” com o mesmo tom escarnecedor encontrado nas janelas do grande e espaçoso edifício. Satanás ressaltou a única coisa a que Deus atrelara consequências e deu a entender que Deus queria privar Adão e Eva de sua liberdade. Satanás distorceu as palavras de Deus, acrescentando mentiras com o intuito de convencê-los a segui-lo e não a Deus. Na realidade, comer do fruto estava previsto no plano desde o início. E Deus proporcionou um Salvador para dar a Adão e Eva, e a todos os seus filhos a chance de crescer e voltar para casa.
“Não Quero”
E o que estamos dizendo de verdade quando dizemos: “Não posso, sou mórmon”? Será que na verdade estamos dizendo: “Eu até gostaria e se não fosse mórmon certamente aceitaria”? Eu tinha um amigo que costumava brincar sobre as coisas que gostaria de fazer se não fosse membro da Igreja. O problema é que nem sempre dava para saber se ele estava brincando ou não.
Em vez de insistirmos em dizer não posso, melhor seria dizer não quero. Como: “Não quero, sou mórmon”. Ao usarmos o verbo querer em vez de poder, mudamos o foco da frase e mostramos que temos o poder de escolher por nós mesmos. Ao dizer “Não quero”, estamos dizendo: “Estou escolhendo não fazer isso, não porque sou um seguidor cego ou por ter restrições, mas porque creio no arbítrio e na responsabilidade e desejo fazer o que é certo. Estou optando por agir e não por sofrer a ação” (ver 2 Néfi 2:14, 26).
O uso de “Não quero” em vez de “Não posso” também é um monumental ato de coragem. Não é preciso coragem para seguir as multidões nos vários caminhos do mundo. Qualquer um pode fazer isso. Defender a verdade, por outro lado, é uma demonstração de fé verdadeira. Destoar do mundo exige verdadeira coragem. Mostra que estamos realmente usando nosso arbítrio e realmente pensando por nós mesmos. As pessoas do grande e espaçoso edifício são sempre citadas como uma multidão sem nome, uma turba sem rosto. No fim, suas palavras são vazias e sem significado. Ao exercermos fielmente nosso arbítrio, poderemos encontrar coragem para dizer, tal como Leí e seus familiares fiéis e corajosos: “Não lhes demos atenção” (1 Néfi 8:33).
Num mundo cada vez mais iníquo, aqueles que se levantam e trilham o caminho do evangelho verdadeiramente se destacam. Mas não estão sozinhos. Como o Presidente Thomas S. Monson nos convidou: “Que sempre sejamos corajosos e estejamos preparados para defender nossa crença. E, se for preciso ficar sozinho nesse processo, que o façamos com coragem, fortalecidos pelo conhecimento de que, na realidade, nunca estamos sozinhos quando nos colocamos ao lado de nosso Pai Celestial”.3