2013
Para Meus Netos
Novembro de 2013


Para Meus Netos

Há um mandamento abrangente que vai ajudar-nos a enfrentar os desafios e levá-los ao cerne de uma vida feliz em família.

Neste ano, nossos dois primeiros netos vão se casar. Em poucos anos, quase dez de seus primos provavelmente chegarão a um ponto de sua vida em que seguirão para o maravilhoso mundo da criação de uma família.

Esse alegre prospecto me fez refletir profundamente quando vieram me pedir conselhos. Essencialmente eles perguntaram: “Que escolhas posso fazer que me conduzirão à felicidade?” E por outro lado: “Que escolhas são mais prováveis de me conduzir à infelicidade?”

O Pai Celestial fez cada um de nós inigualável. Não há dois de nós que tenham exatamente as mesmas experiências de vida. Não há duas famílias idênticas. Assim, não é de surpreender que esse conselho sobre como escolher a felicidade na vida em família seja tão difícil de dar. Mas um amoroso Pai Celestial estabeleceu o mesmo caminho da felicidade para todos os Seus filhos. Sejam quais forem nossas características ou experiências pessoais, há um único plano de felicidade. Esse plano é seguir todos os mandamentos de Deus.

Para todos nós, inclusive meus netos que vão se casar, há um mandamento abrangente que vai ajudar-nos a enfrentar os desafios e levá-los ao cerne de uma vida feliz em família. Ele se aplica a todos os relacionamentos, independentemente das circunstâncias. É repetido ao longo de todas as escrituras e nos ensinamentos dos profetas de nossos dias. Aqui está a versão da Bíblia do conselho do Senhor para todos os que querem viver para sempre em amorosa felicidade:

“E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo:

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.

Este é o primeiro e grande mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”.1

A partir dessa declaração simples não é difícil resumir tudo o que aprendi sobre as escolhas que conduzem à felicidade na família. Comecei com uma pergunta: “Que escolhas me levaram a amar o Senhor de todo o coração, mente e alma?” Para mim, foi a escolha de colocar-me em posição de sentir a alegria do perdão por meio da Expiação do Senhor.

Há vários anos, batizei um rapaz em Albuquerque, Novo México, que meu companheiro missionário e eu havíamos ensinado. Eu imergi o rapaz na água e o levantei de volta. Ele devia ser quase tão alto quanto eu, porque falou diretamente em meu ouvido. Com água na testa, lágrimas escorrendo pelo rosto e muita alegria na voz, ele disse: “Estou limpo, estou limpo”.

Vi essas mesmas lágrimas de felicidade nos olhos de alguém que relatou as palavras de um apóstolo de Deus. Ele disse a ela, depois de uma entrevista minuciosa e carinhosa: “Eu te perdoo em nome do Senhor. Ele lhe dará a certeza de Seu perdão a Seu próprio tempo e a Sua própria maneira”. E foi o que Ele fez.

Vi por que o Senhor pode dizer que, quando os pecados são perdoados, Ele não Se lembra mais deles. Pelo poder da Expiação, pessoas que eu conheço bem e amo se tornaram novas, e os efeitos do pecado foram eliminados. Meu coração se encheu de amor pelo Salvador e pelo amoroso Pai que O enviou.

Recebi essa grande bênção ao incentivar pessoas com quem eu me importo a se achegarem ao Salvador para obter alívio da dor, um alívio que só Ele pode conceder. É por isso que instei aqueles a quem amo a aceitar e a magnificar todo chamado oferecido a eles na Igreja. Essa escolha é uma das grandes chaves da felicidade na família.

As pressões de cada estágio da vida podem nos tentar a rejeitar ou negligenciar chamados para servir ao Salvador. Isso pode nos colocar em perigo espiritual para nós mesmos, nosso cônjuge e nossa família. Alguns desses chamados podem parecer pouco importantes, mas minha vida e minha família mudaram para melhor quando aceitei um chamado para dar aulas para um quórum de diáconos. Senti o amor que aqueles diáconos tinham pelo Salvador e o Seu amor por eles.

Vi isso acontecer na vida de um ex-presidente de estaca e missão ao ser chamado por Deus como consultor de um quórum de mestres. Sei de outro que foi bispo e depois Setenta de Área que foi usado pelo Senhor para socorrer um menino de um quórum de mestres que se machucou num acidente. Os milagres daquele serviço prestado tocaram muitas vidas — inclusive a minha — e aumentaram seu amor pelo Salvador.

Enquanto servimos ao próximo, é mais provável que supliquemos pela companhia do Espírito Santo. O sucesso no serviço do Senhor sempre produz milagres que estão além de nossa própria capacidade. O pai de um filho muito rebelde sabe que isso é verdade, assim como a professora visitante que é procurada por uma mulher que busca consolo, quando seu marido lhe diz que vai deixá-la. Esses dois servos ficaram gratos quando oraram naquela manhã para que o Senhor enviasse o Espírito Santo como companheiro.

É somente com a companhia do Espírito Santo que podemos ter a esperança de estar unidos num casamento livre de discórdia. Vi como essa companhia é essencial para a felicidade no casamento. O milagre de se tornarem um exige a ajuda do céu, e leva tempo. Nossa meta é viver para sempre na presença do Pai Celestial e de nosso Salvador.

Meu pai e minha mãe eram muito diferentes entre si. Minha mãe era cantora e artista. Meu pai adorava química. Certa vez, num concerto sinfônico, minha mãe ficou surpresa quando meu pai se levantou e começou a sair antes do início dos aplausos. Minha mãe perguntou aonde ele estava indo. Sua resposta foi, com toda a inocência: “Ora, já acabou, não é?” Somente a gentil influência do Espírito Santo fez com que ele estivesse ali com ela, naquela primeira vez, e o levou de volta a concertos muitas e muitas vezes.

Minha mãe morou em Nova Jersey por 16 anos para que meu pai pudesse sustentar a família fazendo pesquisas e dando aulas de química. Para ela foi um sacrifício estar separada de sua mãe viúva e de sua irmã solteira que cuidava dela na velha casa da fazenda da família. As duas morreram enquanto minha mãe estava distante, em Nova Jersey. Aquelas foram as únicas vezes em que vi minha mãe chorar.

Anos depois, meu pai recebeu uma oferta de emprego em Utah. Ele perguntou a minha mãe, novamente com toda a inocência: “Mildred, o que você acha que devo fazer?”

Ela disse: “Henry, faça o que acha ser o melhor”.

Ele recusou a oferta. Na manhã seguinte, ela lhe escreveu uma carta que eu desejaria ainda ter comigo. Lembro-me de que ela lhe disse: “Não abra a carta aqui. Vá para o escritório e a abra lá”. A carta começava com uma reprimenda. Ele havia prometido a ela, anos antes, que assim que pudesse, ele a levaria para estar perto da família dela. Ele ficou surpreso com a expressão de irritação dela. Não se havia lembrado do desejo que ela trazia no coração. Imediatamente enviou uma mensagem aceitando a oferta de emprego.

Ele disse: “Mildred, por que você não me disse?”

Ela disse: “Você devia ter-se lembrado”.

Ele sempre falava daquela mudança para Utah como algo que ele havia decidido, nunca como um sacrifício de sua carreira profissional. Eles tinham recebido o milagre de se tornarem um. Teria sido melhor se o Espírito Santo tivesse lembrado meu pai da promessa que ele havia feito, anos antes. Porém, meu pai permitiu que o Espírito Santo lhe abrandasse o coração para que a decisão fosse dele.

O Pai Celestial tem uma visão perfeita do futuro, conhece cada um de nós e conhece nosso futuro. Ele sabe quais são as dificuldades pelas quais vamos passar. Ele enviou Seu Filho para sofrer, a fim de que soubesse como nos socorrer em todas as nossas provações.

Sabemos que o Pai Celestial tem filhos espirituais neste mundo que às vezes escolhem o pecado e grande infelicidade. É por isso que Ele enviou Seu Primogênito para ser nosso Redentor, o maior ato de amor de toda a criação. É por isso que devemos esperar que necessitemos da ajuda de Deus e de tempo para nos refinar para a vida eterna, a fim de vivermos com nosso Pai.

A vida em família vai pôr-nos à prova. Esse é um dos propósitos de Deus ao conceder-nos o dom da mortalidade: para nos fortalecer por meio de testes pelos quais passamos. Isso será particularmente verdadeiro na vida em família, na qual encontraremos grande alegria e grandes tristezas e desafios, que às vezes podem parecer estar acima de nossa capacidade de suportar.

O Presidente George Q. Cannon disse o seguinte sobre como Deus preparou a nós e a nossos filhos para os testes que enfrentaremos: “Não há nenhum de nós por quem Deus não exerceu Seu amor. Não há nenhum de nós por quem Ele não Se tenha preocupado e expressado Seu carinho. Não há nenhum de nós que Ele não tenha desejado salvar, e para quem não tenha planejado meios para salvar. Não há nenhum de nós a quem Ele não tenha encarregado Seus anjos de cuidar. Podemos ser insignificantes e desprezíveis a nossos próprios olhos, e à vista de outros, mas a verdade é que somos filhos de Deus, e que Ele realmente nos enviou Seus anjos — seres invisíveis de força e poder — encarregando-os de cuidar de nós, zelar por nós e guardar-nos”.2

O que o Presidente Cannon ensinou é verdade. Vocês precisam dessa segurança, como eu precisei e dependi dela.

Orei com fé para que alguém que eu amo buscasse e sentisse o poder da Expiação. Orei com fé para que anjos humanos fossem a seu socorro, e eles foram.

Deus planejou meios para salvar cada um de Seus filhos. Para muitos, isso envolve ser colocado com um irmão ou irmã ou avó ou avô que os amam, não importando o que façam.

Há vários anos, um amigo me falou de sua avó. Ela teve uma vida plena, sempre fiel ao Senhor e a Sua Igreja. Mas um de seus netos escolheu uma vida de crime. Por fim, ele foi condenado à prisão. Meu amigo relembra que sua avó, enquanto dirigia pela estrada para visitar o neto na prisão, tinha lágrimas nos olhos ao orar com angústia: “Tentei viver uma boa vida. Por que tenho essa tragédia de um neto que parece ter destruído sua vida?”

A resposta lhe veio à mente com estas palavras: “Eu o dei a você porque sabia que você podia e iria amá-lo, não importando o que ele fizesse”.

Há uma lição maravilhosa para todos nós. O caminho dos pais e avós amorosos e de todos os servos de Deus não será fácil, neste mundo decadente. Não podemos obrigar os filhos de Deus a escolher o caminho para a felicidade. Deus não pode fazer isso por causa do arbítrio que nos concedeu.

O Pai Celestial e Seu Filho Amado amam todos os filhos de Deus, não importando o que eles escolham fazer ou no que venham a se tornar. O Salvador pagou o preço de todos os pecados, por mais hediondos que sejam. Mesmo que seja preciso haver justiça, há a oportunidade de misericórdia que não roubará a justiça.

Alma expressou essa esperança a seu filho Coriânton com estas palavras: “Portanto, de acordo com a justiça, o plano de redenção não poderia ser realizado senão em face do arrependimento dos homens neste estado probatório, sim, neste estado preparatório; porque, a não ser nestas condições, a misericórdia não teria efeito, pois destruiria a obra da justiça. Ora, a obra da justiça não poderia ser destruída; se o fosse, Deus deixaria de ser Deus”.3

Minha mensagem então para meus netos, e para todos nós que procuramos criar uma família eterna, é que há alegria garantida para os fiéis. Desde antes que o mundo existisse, um Pai Celestial amoroso e Seu Filho Amado amaram e trabalharam com aqueles que Eles sabiam que iriam desviar-se. Deus os amará para sempre.

Vocês têm a vantagem de saber que eles aprenderam o plano de salvação por meio dos ensinamentos que receberam no mundo espiritual. Eles e vocês foram suficientemente fiéis para terem a permissão de vir ao mundo, ao passo que muitos outros não puderam vir.

Com a ajuda do Espírito Santo, todas as verdades serão trazidas a nossa lembrança. Não podemos forçar isso nos outros, mas podemos deixar que o vejam em nossa vida. Sempre podemos adquirir coragem com a certeza de que todos já sentimos uma vez a alegria de estarmos juntos, como membros da amada família de nosso Pai Celestial. Com a ajuda de Deus, todos podemos ter essa esperança e essa alegria novamente. Oro para que isso aconteça com todos nós, em nome do Senhor Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Mateus 22:35–40.

  2. George Q. Cannon, “Our Pre-existence and Present Probation”, Contributor, outubro de 1890, p. 476.

  3. Alma 42:13.