2015
Nunca É Cedo Demais e Nunca É Tarde Demais
Novembro de 2015


Nunca É Cedo Demais e Nunca É Tarde Demais

Nunca é cedo demais ou tarde demais para guiar, orientar e estar ao lado de nossos filhos, porque as famílias são eternas.

Irmãos e irmãs, estamos batalhando contra o mundo. No passado, o mundo competia pela atenção e energia dos nossos filhos. Hoje, ele luta pela identidade e pela mente deles. Muitas e fortes influências estão tentando definir quem nossos filhos são e no que devem acreditar. Não podemos permitir que a sociedade influencie nossa família para que se pareça com o mundo. Temos que ganhar essa batalha. Tudo depende disso.

As crianças da Igreja cantam um hino que as ensina sobre sua verdadeira identidade: “Sou um Filho de Deus. (…) Mandou-me à Terra, deu-me um lar e pais”. Depois, as crianças nos fazem este apelo: “Ensinai-me, ajudai-me. As leis de Deus guardar, para que um dia eu vá, com Ele habitar”.1

O Presidente Russell M. Nelson nos ensinou na última conferência que, de agora em diante, precisamos exercer nosso papel como pais “em retidão e diligência”.2 Estes são tempos trabalhosos. Mas a boa notícia é que Deus sabia que seria assim e providenciou para que tivéssemos conselhos nas escrituras a fim de sabermos como ajudar nossos filhos e netos.

O Salvador com as crianças do Livro de Mórmon

No Livro de Mórmon, o Salvador apareceu aos nefitas. As criancinhas O rodearam. Ele as abençoou, orou por elas e chorou por causa delas.3 Depois, disse aos pais: “Olhai para vossas criancinhas”.4

A palavra olhai quer dizer prestem atenção nelas. O que Jesus queria que os pais vissem em suas criancinhas? Ele queria que tivessem um vislumbre do potencial divino delas?

Ao olharmos para os nossos filhos e netos hoje, o que o Salvador deseja que vejamos neles? Será que reconhecemos que nossos filhos são o maior grupo de pesquisadores da Igreja? O que devemos fazer para que tenham uma conversão duradoura?

No livro de Mateus, o Salvador nos ensina sobre isso. Um grande grupo de pessoas havia se reunido perto do Mar da Galileia para ouvi-Lo ensinar.

Nessa ocasião, Jesus contou uma história sobre plantar sementes — a parábola do semeador.5 Ao explicá-la para os discípulos, e no final, para nós, Ele disse: “Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração”.6 A mensagem para os pais é clara: há uma diferença entre ouvir e entender. Se nossos filhos simplesmente ouvirem, mas não entenderem o evangelho, haverá uma porta aberta para que Satanás remova a verdade do coração deles.

Contudo, se os ajudarmos a desenvolver raízes de conversão profunda, mesmo com o calor do dia, quando a vida ficar difícil — e vai ficar —, o evangelho de Jesus Cristo poderá dar-lhes algo interiormente que não será afetado por influências externas. Como podemos garantir que essa verdade fundamental não esteja simplesmente entrando por um ouvido e saindo pelo outro? As palavras podem não ser suficientes.

Todos nós sabemos que as palavras evoluem. Às vezes, usamos os nossos termos, e eles escutam os deles. Talvez, se vocês disserem a seus filhos pequenos: “Você está parecendo um disco arranhado”, eles provavelmente vão perguntar: “Pai, o que é um ʻdisco arranhadoʼ?”

O Pai Celestial deseja que sejamos bem-sucedidos porque, na verdade, eles são filhos Dele antes de serem nossos. Como pais em Sião, vocês receberam o Espírito Santo. Quando orarem para pedir orientação, “ele [lhes] mostrará todas as coisas que [devem] fazer”7 para educar seus filhos. Ao desenvolverem métodos de aprendizado, “o poder do Espírito Santo [levará] as suas palavras ao coração dos filhos”.8

Não consigo pensar em um exemplo melhor de ajudar alguém a ganhar entendimento do que a história de Helen Keller. Ela era surda e cega, e vivia em um mundo escuro e silencioso. Uma professora chamada Anne Sullivan a ajudou. Como ensinar uma criança que não consegue ver nem ouvir você?

Helen Keller e Anne Sullivan

Por um longo tempo, Anne fez de tudo para se comunicar com Helen. Certa ocasião, perto do meio-dia, Anne a levou a uma bomba de água, colocou as mãos de Helen no local por onde a água saía e começou a bombear. Em seguida, Anne soletrou escrevendo a palavra Á-G-U-A em uma das mãos de Helen. Nada aconteceu. Então, ela tentou de novo. Á-G-U-A. Helen apertou a mão de Anne porque estava começando a compreender. Ao cair da noite, Helen tinha aprendido 30 palavras. Em alguns meses, ela aprendeu 600 palavras e aprendeu a ler em Braille. Helen Keller seguiu em frente e cursou a faculdade, ajudando a mudar o mundo das pessoas que não conseguiam ver nem ouvir.9 Foi um milagre, e sua professora tornou possível que o milagre acontecesse, assim como vocês pais podem fazê-lo.

Vi os resultados de outro grande professor quando era presidente de uma estaca de adultos solteiros na BYU–Idaho. Aquela experiência mudou minha vida. Em uma noite de terça-feira, entrevistei um rapaz chamado Pablo, da Cidade do México, que queria servir missão. Perguntei-lhe sobre seu testemunho e seu desejo de servir. Suas respostas para minhas perguntas foram perfeitas. Depois, perguntei sobre sua dignidade. Suas respostas foram exatas. De fato, foram tão boas que fiquei pensando: “Talvez ele não esteja entendendo a pergunta”. Então, refiz a pergunta com outras palavras e constatei que ele sabia exatamente do que eu estava falando e foi completamente honesto.

Fiquei tão impressionado com esse rapaz que lhe perguntei: “Pablo, quem o ajudou a chegar a tal ponto de andar tão retamente diante de Deus?”

Ele disse: “Meu pai”.

E eu pedi: “Pablo, conte-me a sua história”.

Pablo continuou: “Quando eu tinha 9 anos, meu pai me chamou para conversar e disse: ‘Pablo, eu também já tive 9 anos. Vou lhe dizer algumas coisas que você vai enfrentar. Você vai ver alunos colando na escola. Talvez conviva com pessoas que falem palavrão. Provavelmente vai haver dias em que você não vai querer ir à Igreja. Quando essas coisas acontecerem — ou qualquer outra coisa que o perturbe — quero que venha falar comigo e eu vou ajudá-lo a passar por esses problemas. E depois, vou lhe contar quais serão as próximas dificuldades’”.

“Então, Pablo, o que ele lhe disse quando você tinha 10 anos?”

“Bom, ele me falou sobre pornografia e piadas sujas.”

“E quando você tinha 11?” perguntei.

“Ele me advertiu sobre coisas que podem se tornar vícios e me lembrou sobre o meu arbítrio.”

Ele foi pai, ano após ano, “linha sobre linha, um pouco aqui, um pouco ali”10, ajudando seu filho não apenas a ouvir, mas também a entender. O pai do Pablo sabia que as crianças aprendem quando estão prontas para aprender, não só quando estamos prontos para ensinar. Senti orgulho quando Pablo enviou seus papéis para o serviço missionário naquela noite, mas fiquei mais orgulhoso do pai dele.

Quando fui para casa naquela noite, perguntei a mim mesmo: “Que tipo de pai o Pablo será?” E a resposta foi bem clara: ele será exatamente como seu pai. Jesus disse: “O Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se não o vir fazer o Pai”.11 Esse é o padrão que o Pai Celestial utiliza para abençoar Seus filhos, de geração em geração.

Enquanto meditava sobre minha experiência com Pablo, fiquei triste porque minhas quatro filhas eram adultas e os nove netos que eu tinha na época não moravam perto. Depois, pensei: “Será que algum dia vou poder ajudá-las do jeito que o pai do Pablo o ajudou? Será que já não é tarde demais?” Ao fazer uma oração silenciosa, o Espírito sussurrou-me essa verdade profunda: “Nunca é cedo demais e nunca é tarde demais para começar esse processo importante”. Percebi imediatamente o que aquilo significava. Mal podia esperar para chegar em casa. Pedi à minha mulher, Sharol, que ligasse para todos os nossos filhos e dissesse que precisávamos ir à casa deles; eu tinha algo muito importante para lhes dizer. A urgência deixou-os um pouco alarmados.

Começamos com nossa filha mais velha e seu marido. Eu lhes disse: “Sua mãe e eu queremos que saibam que já tivemos a idade de vocês. Tínhamos 31 anos e uma família pequena. Temos uma ideia do que vocês podem encontrar. Pode ser um problema financeiro ou de saúde. Pode ser uma crise de fé. A vida pode apenas ser estressante. Quando essas coisas acontecerem, queremos que vocês nos procurem e falem conosco. Vamos ajudá-los a superar essas coisas. Não queremos nos meter na vida de vocês, mas queremos que saibam que vão ter nosso apoio. E enquanto estamos aqui, quero contar-lhes sobre uma entrevista que acabei de fazer com um rapaz chamado Pablo”.

Depois da história, eu disse: “Não queremos que vocês percam a chance de ajudar seus filhos e nossos netos a entender esses princípios importantes”.

Irmãos e irmãs, hoje eu percebo de maneira mais significativa o que o Senhor espera de mim como pai e avô para começar o processo de ajudar minha família não somente a ouvir, mas a entender.

À medida que vou ficando mais velho, estas palavras são um espelho de mim mesmo:

Oh, tempo, tempo, volte ao passado,

E deixe, só por mais uma noite, meus filhinhos ao meu lado!12

Sei que não posso voltar no tempo, mas disso sei — que nunca é cedo demais ou tarde demais para guiar, orientar e estar ao lado de nossos filhos, porque as famílias são eternas.

Tenho testemunho de que o Pai Celestial nos amou tanto que enviou Seu Filho Unigênito para viver uma vida mortal, a fim de que Jesus pudesse dizer-nos: “Já passei pelo que você está passando, sei o que o espera e vou ajudá-lo a passar por isso”. Sei que Ele o fará. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. “Sou um Filho de Deus”, Hinos, nº 193.

  2. Ver Russell M. Nelson, “O Dia do Senhor É Deleitoso”, A Liahona, maio de 2015, p. 131.

  3. Ver 3 Néfi 17:21.

  4. 3 Néfi 17:23.

  5. Ver Mateus 13:1–13.

  6. Mateus 13:19; grifo do autor.

  7. 2 Néfi 32:5.

  8. 2 Néfi 33:1.

  9. Ver “Anne Sullivan”, biography.com/people/anne-sullivan-9498826; “Helen Keller”, biography.com/people/helen-keller-9361967.

  10. Isaías 28:10.

  11. João 5:19.

  12. Adaptado do poema de Elizabeth Akers Allen “Rock Me to Sleep” [Faz-me Dormir], William Cullen Bryant, ed., The Family Library of Poetry and Song, 1870, pp. 222–223.