2016
Que Faremos?
Maio de 2016


Que Faremos?

Edificamos o reino quando nutrimos outras pessoas. Também edificamos o reino quando nos manifestamos e testificamos da verdade.

Pouco depois da Ressurreição e da ascensão de Jesus, o Apóstolo Pedro ensinou: “Saiba, (…) com certeza, (…) que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. Aqueles que o ouviam foram tocados em seu coração e perguntaram a Pedro e aos outros: “Que faremos, homens irmãos?”1 Em seguida, obedeceram com alegria aos ensinamentos de Pedro.

Amanhã é domingo de Páscoa, e espero que também sejamos tocadas em nosso coração para reconhecer o Salvador, arrepender-nos e obedecer-Lhe com alegria.

Nesta conferência geral, ouviremos a orientação inspirada dos líderes da Igreja, tanto homens como mulheres. Sabendo que nosso coração será tocado por suas palavras, pergunto a vocês, mulheres e irmãs: “Que faremos?”

Há quase 150 anos, a presidente geral da Sociedade de Socorro, Eliza R. Snow, declarou às irmãs: “O Senhor nos encarregou de altas responsabilidades”.2 Testifico que essa declaração permanece verdadeira hoje.

A Igreja do Senhor precisa de mulheres que sejam orientadas pelo Espírito, que usem seus dons singulares para nutrir, para se manifestar e para defender as verdades do evangelho. Nossa inspiração e nossa intuição são partes necessárias para edificar o reino de Deus, o que significa, na verdade, fazer nossa parte para trazer a salvação aos filhos de Deus.

Edificar o Reino ao Nutrir

Edificamos o reino quando nutrimos outras pessoas. No entanto, o primeiro filho de Deus que devemos edificar no evangelho restaurado somos nós mesmos. Emma Smith disse: “Desejo o Espírito de Deus para conhecer-me e compreender-me, de modo a ser capaz de superar qualquer tradição ou natureza que não contribua para a minha exaltação”.3 Devemos desenvolver uma fé alicerçada no evangelho do Salvador e seguir adiante, fortalecidas pelos convênios do templo, rumo à exaltação.

E se algumas de nossas tradições não forem condizentes com o evangelho restaurado de Jesus Cristo? Deixar para trás essas tradições pode exigir que outros venham a nos apoiar emocionalmente e a nos nutrir, assim como aconteceu comigo.

Quando nasci, meus pais plantaram uma árvore de magnólia no quintal para que houvesse magnólias em minha cerimônia de casamento, que seria realizada na igreja protestante de meus antepassados. Mas no dia de meu casamento, não havia pais ao meu lado nem magnólias, pois eu tinha sido batizada na Igreja havia um ano e viajara para Salt Lake City, Utah, para receber minha investidura no templo e selar-me a David, meu noivo.

Quando saí de Louisiana e cheguei a Utah, senti falta do meu lar. Antes do casamento, eu ficaria com a madrasta da mãe de David, que era carinhosamente conhecida como tia Carol.

Ali estava eu, que nunca conhecera Utah, hospedando-me na casa de uma desconhecida antes de ser selada — para a eternidade — a uma família que eu mal conhecia. (Que bom que eu amava meu futuro marido e confiava nele, e no Senhor também!)

Ao ficar em frente à porta de entrada da casa da tia Carol, quis recuar. A porta se abriu — fiquei ali parada, como um coelho amedrontado — e a tia Carol, sem dizer uma palavra, estendeu as mãos e me tomou em seus braços. Ela, que não tinha filhos, sabia — seu coração amoroso sabia — que eu precisava me sentir incluída. Ah, o conforto e a doçura daquele momento! Meu medo se dissipou, e me veio à mente uma sensação de estar ancorada em um lugar espiritualmente seguro.

Amar significa abrir um espaço em sua vida para outra pessoa, tal como a tia Carol fez por mim.

As mães literalmente abrem um espaço em seu corpo para nutrir um bebê que ainda está por nascer e, espera-se que abram um lugar em seu coração enquanto o criam; mas nutrir não está limitado a gerar filhos. Eva foi chamada de “mãe” antes de ter filhos.4 Acredito que “ser mãe” significa “dar vida”. Pensem nas diversas maneiras pelas quais vocês dão vida. Pode significar dar vida emocional para os desesperançosos ou vida espiritual para os céticos. Com a ajuda do Espírito Santo, podemos criar um lugar de cura emocional para os discriminados, os rejeitados e os desconhecidos. Edificamos o reino de Deus por meio dessas maneiras ternas, porém poderosas. Irmãs, todas nós viemos à Terra com essas caraterísticas maternas e com o dom de dar vida e de nutrir, pois esse é o plano de Deus.

Seguir Seu plano e tornar-nos edificadoras do reino requer sacrifício abnegado. O Élder Orson F. Whitney escreveu: “Tudo o que sofremos e tudo o que suportamos, principalmente quando o fazemos com paciência, (…) purifica nosso coração (…) e nos torna mais ternos e caridosos, e (…) é por meio (…) do labor e da tribulação que adquirimos a educação (…) que nos tornará mais semelhantes ao nosso Pai e à nossa Mãe celestiais”.5 Essas provações purificadoras nos aproximam de Cristo, que pode nos curar e fazer com que sejamos úteis na obra de salvação.

Edificar o Reino ao Falar e ao Testificar

Também edificamos o reino quando nos manifestamos e testificamos da verdade. Seguimos o padrão do Senhor. Ele fala e ensina com o poder e a autoridade de Deus. Irmãs, assim podemos fazer também. Geralmente, as mulheres adoram conversar e estar juntas! Ao trabalharmos por meio da autoridade do sacerdócio que nos é delegada, nossas conversas e nossos momentos de união tornam-se em ensino do evangelho e em liderança.

A irmã Julie B. Beck, ex-presidente geral da Sociedade de Socorro, ensinou: “A capacidade de qualificar-nos para receber revelação pessoal, de recebê-la e de agirmos de acordo com essa inspiração é a habilidade mais importante que podemos adquirir nesta vida. (…) É necessário um esforço consciente”.6

A revelação pessoal proveniente do Espírito Santo nos levará a aprender, a falar e a agir de acordo com verdades eternas — as verdades do Salvador. Quanto mais seguimos a Cristo, mais sentimos Seu amor e Sua orientação; quanto mais sentimos Seu amor e Sua orientação, mais desejamos falar e ensinar a verdade como Ele fez, mesmo que haja oposição.

Há alguns anos, orei para saber o que falar a fim de defender a maternidade quando recebi um telefonema anônimo.

A mulher ao telefone perguntou: “Você é Neill Marriott, a mãe de uma grande família?”

Respondi com alegria: “Sim!”, à espera de ouvi-la dizer algo como: “Bem, que bom!”

Mas não! Nunca vou esquecer a resposta dela enquanto sua voz, ao telefone, esbravejava: “Estou extremamente ofendida por você trazer filhos para este planeta superlotado!”

“Ah”, respondi. “Entendo como você se sente.”

Ela retrucou bruscamente: “Não, você não entende!”

Então lamentei: “Bem, talvez não”.

Ela iniciou um discurso inflamado sobre minha escolha tola de ser mãe. Ao ouvi-la, comecei a orar pedindo ajuda, e um pensamento sutil me veio à mente: “O que o Senhor diria a ela?” Então senti que estava com os pés firmes no chão e adquiri coragem ao pensar em Jesus Cristo.

Respondi: “Sou feliz por ser mãe e prometo-lhe que farei tudo ao meu alcance para nutrir meus filhos de maneira tal que eles tornem o mundo um lugar melhor”.

Ela respondeu: “Bem, assim espero!”, e desligou.

Não foi algo grandioso. Afinal de contas, eu estava segura em minha própria cozinha! Mas, em minha maneira simples, fui capaz de me manifestar em defesa da família, das mães e daquelas que nutrem por causa de duas coisas: (1) Eu compreendia a doutrina de Deus sobre a família e acreditava nela, e (2) orei para saber quais palavras usar para testificar dessa verdade.

Ser distintas e diferentes do mundo vai atrair algumas críticas, mas precisamos nos ancorar em princípios eternos e testificar deles a despeito da resposta do mundo.

Quando perguntarmos a nós mesmas: “Que devemos fazer?”, ponderemos esta pergunta: “O que o Salvador faz continuamente?” Ele nutre. Ele cria. Ele incentiva o crescimento e a bondade. Mulheres e irmãs, podemos fazer essas coisas! Meninas da Primária, há alguém em sua família que precisa de seu amor e de sua bondade? Vocês edificam o reino nutrindo outras pessoas também.

A Criação da Terra, realizada pelo Salvador, sob a direção de Seu Pai, foi um poderoso ato de nutrir. Ele providenciou um lugar onde poderíamos crescer e desenvolver fé em Seu poder expiatório. A fé em Jesus Cristo e em Sua Expiação é a principal fonte de cura e de esperança, de crescimento e de propósito. Todas nós precisamos de um lugar de inclusão espiritual e física. Nós, irmãs de todas as idades, podemos criar esse lugar; sim, um lugar santo.

Nossa grande responsabilidade é tornar-nos mulheres obedientes que seguem o Salvador, que nutrem com inspiração e que vivem a verdade destemidamente. Ao pedirmos ao Pai Celestial que nos torne edificadoras de Seu reino, Seu poder fluirá até nós e saberemos como nutrir, tornando-nos, por fim, como nossos pais celestiais. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Atos 2:36–37.

  2. Eliza R. Snow, citada em Filhas em Meu Reino: A História e o Trabalho da Sociedade de Socorro, 2011, p. 46.

  3. Emma Smith, citada em Filhas em Meu Reino, p. 12.

  4. Ver Gênesis 3:20.

  5. Orson F. Whitney, citado em Spencer W. Kimball, Faith Precedes the Miracle [A Fé Precede o Milagre], 1972, p. 98.

  6. Julie B. Beck, “E Também sobre os Servos e sobre as Servas Naqueles Dias Derramarei Meu Espírito”, A Liahona, maio de 2010, p. 11.