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Meu pior fim de relacionamento foi na verdade uma das minhas maiores bênçãos
Às vezes vemos motivo para a inspiração, às vezes, não. De qualquer modo, precisamos agir com fé.
Terminei o namoro com meu primeiro namorado numa clara noite de verão.
Mais cedo naquele dia, Carlos (o nome foi mudado) e eu tivemos uma briga, o que não era incomum em nosso relacionamento que, entre idas e vindas, já durava três anos. Brigávamos por tudo, desde o que comer até planos futuros. No início, eu ignorava nossas diferenças com base na ideia de que “os opostos se atraem”. Mas nossas provocações bem-humoradas acabaram se transformando numa exaustiva sequência de discórdias.
Naquela noite de verão, tínhamos levado um telescópio ao deserto para contemplar os planetas. Mas descobrimos que o brilho da luz contra o céu escuro ofuscava nossa visão. Frustrados, começamos a discutir, novamente.
Acabei saindo de perto dele para me recompor. “Essa não sou eu”, pensei. Eu era conhecida como pacificadora entre meus irmãos, e falava com gentileza e bondade com meus outros amigos. Então, por que estava gritando com o rapaz que eu dizia amar?
Ergui os olhos para o céu escuro e orei para saber como poderia melhorar meu relacionamento com Carlos. De repente, uma paz avassaladora substituiu minha raiva, e tive a impressão de que a melhor coisa que poderia fazer por nós dois seria terminar nosso relacionamento.
A cura levou tempo. Houve momentos em que me senti tentada a ignorar a inspiração de terminar o namoro com Carlos porque eu sentia falta da proximidade que tínhamos. Às vezes eu ficava frustrada com Deus, acreditando que Ele me havia fechado uma porta sem ter aberto outra. Mesmo assim, apeguei-me ao conselho do élder Jeffrey R. Holland, do Quórum do Doze Apóstolos: “Nos momentos de temor ou dúvida ou em tempos difíceis (…) preservem o que já conquistaram e permaneçam firmes até adquirirem conhecimento adicional” (“Eu creio, Senhor”, A Liahona, maio de 2013, p. 92).
Não recebi esse “conhecimento adicional” por muito meses e comecei a me questionar se viria a recebê-lo. Depois de uma oração sincera sobre o término do relacionamento, o Espírito me tocou o coração, dizendo que a inspiração do Pai Celestial é para o bem-estar de Seus filhos. Os detalhes dos motivos Dele não são tão relevantes quanto minha fé Nele.
O fato de saber que o Pai Celestial tinha um plano para mim me deu esperança no futuro e me ajudou a começar a namorar novamente. Certa manhã, li Doutrina e Convênios 88:40, em que o Senhor ensina que “a luz se apega à luz”. De repente, dei-me conta de que esse princípio pode se aplicar ao namoro. Eu soube que seria mais feliz com alguém que compartilhasse dos meus valores e de minha luz.
Por fim, conheci Augusto. Simpatizamos um com o outro instantaneamente. Tínhamos muito em comum, desde nosso amor por comida mexicana até nossa respectiva missão nos Estados Unidos. Seu espírito gentil me pareceu familiar e compatível com o meu e, no final, nós nos casamos. O que temos não é um relacionamento explosivo como se poderia esperar num filme romântico popular. É doce e estável — algo que acredito que pode durar para sempre.
Muitos de nós anseiam por uma explicação quando recebemos uma inspiração difícil. Por experiência própria, aprendi que a fé no Senhor pode nos ajudar a permanecer obedientes, sem conhecer o motivo. Se confiarmos num Deus onisciente, poderemos sentir paz em nossas decisões de seguir uma inspiração até recebermos o “conhecimento adicional” que Ele prometeu aos fiéis.