2018
Desabrigado, Destituído e Solitário: Lições Aprendidas ao Longo do Caminho
Dezembro de 2018


SÉRIE DE AUTOSSUFICIÊNCIA

Desabrigado, Destituído e Solitário: Lições Aprendidas ao Longo do Caminho

“O evangelho de Jesus Cristo pode nos mudar na essência, e isso é o que nos ajuda a mudar nossas circunstâncias.”

Quando Etienne Marakavi chegou à África do Sul com 25 anos de idade, ele não tinha família, nem casa e muito pouco dinheiro.

Tendo perdido seus pais e sobrevivido à muitas atrocidades da guerra civil na República Democrática do Congo, ele saiu do país sozinho, a pé. Aos 19 anos, começou uma jornada épica, viajando de país para país, em busca de uma nova casa. Ele ficou em campos de refugiados ao longo do caminho, contando com alimento e abrigo doado para sobreviver.

Eventualmente, Etienne encontrou-se na Noruega. Lá, teve a experiência transformadora de conhecer os missionários e unir-se à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Mas uma tentativa infrutífera de obter status de asilo significou que, depois de algum tempo, ele foi forçado a sair do país. “Fui a Ruanda, Uganda e depois ao Quênia”, disse Etienne, “onde fui aconselhado a deixar o país. Depois mudei-me para a Tanzânia, onde disseram-me que o país não aceita pedidos de asilo. Mudei-me para o Malawi, onde tentei, sem sucesso, pedir asilo e tive que sair devido às duras condições de vida, consegui passar por Moçambique, onde fui assaltado e roubado.” Conseguiu chegar a Tongogara, um campo de refugiados no Zimbábue. Mas as condições no acampamento eram extremamente duras e “sem esperança”, disse Etienne, então ele partiu novamente — desta vez com destino à costa da África do Sul.

Porque havia encontrado a igreja, ele tinha algo que não tinha antes: um testemunho. Mas suas circunstâncias temporais eram terríveis.

“Eu tinha toda a expetativa de ficar desabrigado por vários anos”, diz Etienne.

E no princípio, ele estava. Ele juntou-se a um grupo de moradores de rua, nas ruas de uma pequena cidade fronteiriça chamada Musina e viveu de alimentos descartados para se manter vivo.

Mas alguns meses depois ele conseguiu viajar para Joanesburgo. Lá, ele gradualmente começou a encontrar empregos subalternos. Hoje, alguns anos depois, ele paga o seu próprio aluguel, completou seu certificado de ensino médio, concluiu recentemente o programa “Meu Caminho”, um programa de ensino à distância patrocinado pela Igreja e agora está registado na BYU–Idaho para se formar em ciência de computação. Ele também permaneceu ativo e fiel na igreja — atualmente a servir como secretário assistente da ala.

Etienne compartilha as três grandes coisas que aprendeu sobre autossuficiência nessa jornada extraordinária, e suas respostas mostram um entendimento de que a autossuficiência permeia todas as partes das nossas vidas. “As pessoas não devem confundir o tema autossuficiência com independência”, diz ele. “Acredito firmemente que a autossuficiência envolve aspetos espirituais e temporais da vida das pessoas”.

As suas três lições pessoais são:

1. Desenvolver a fé e praticar hábitos de fidelidade

“O que aprendi primeiro sobre o princípio da autossuficiência, é sempre confiar no Senhor por meio das rotinas básicas, como orações matinais e estudos diários das escrituras, enquanto estou tentando alcançar as metas que estabeleci”, diz Etienne. “A autossuficiência, nesse caso, significa ter fé no Senhor e, nesse momento, estou a exercer o livre arbítrio que o Senhor concedeu-me”.

Realizar os hábitos diários de oração e leitura das escrituras requer disciplina. E disciplina requer trabalho.

O manual de instrução da igreja lembra-nos que o trabalho é fundamental para qualquer tipo de autossuficiência, e que é o fundamento da alegria: “Para tornar-se autossuficiente, uma pessoa deve trabalhar”, lê-se. “O trabalho é um esforço físico, mental ou espiritual. É uma fonte básica de felicidade, auto-estima e prosperidade. Através do trabalho, as pessoas realizam muitas coisas boas em suas vidas” (Church Handbook of Instructions, Book 2: Priesthood and Auxiliary Leaders [1998], 257).

2. Procure ajuda para desenvolver habilidades, não doações.

“A segunda coisa que aprendi é a capacidade de procurar ajuda que irá ter impacto na sua vida, positivamente, no longo prazo, tanto temporal quanto espiritualmente”, diz Etienne. “Em outras palavras, é melhor aprender a pedir as pessoas para ensiná-lo a pescar, em vez de pedir constantemente as pessoas que lhe dêem o peixe”.

Quando chegou pela primeira vez à África do Sul, Etienne lembra-se da luta para cumprir as obrigações financeiras básicas. “Foi realmente muito difícil”, disse ele. Mas enquanto ele lutava com esses desafios e pedia ajuda quando precisava, ele sempre mantinha em mente o seu objetivo final: “encontrar um emprego para que eu pudesse cuidar de mim mesmo”.

3. Procure maneiras de ajudar os outros a desenvover a sua própria força

“A terceira coisa que aprendi sobre autossuficiência é a capacidade de ajudar os outros a tornarem-se autossuficientes”, diz Etienne. “Todos somos abencoados de um jeito ou de outro, e podemos usar nossos dons para ajudar e abençoar os outros, para que eles também possam, por sua vez, ajudar à muito mais pessoas. Ao capacitar nossos semelhantes, aprendemos e enriquecemos nossas vidas no processo”.

A vida de Etienne é a prova viva de como o evangelho de Jesus Cristo pode mudar-nos a essência, e isso é o que nos ajuda a mudar nossas circunstâncias. O Presidente Ezra Taft Benson colocou desta forma: “O mundo tiraria as pessoas das favelas. Cristo tira as favelas das pessoas e elas saem das favelas. O mundo moldaria os homens mudando seu ambiente. Cristo muda os homens, que então mudam seu ambiente. O mundo moldaria o comportamento humano, mas Cristo pode mudar a natureza humana” (“Born of God,” Ensign, Nov. 1985, 6).

Acima de tudo, a fé de Etienne no Senhor ajuda-o a manter a perspetiva durante tempos difíceis. “Acho que minhas provações são pequenas comparadas ao que Joseph Smith e os pioneiros da igreja primitiva passaram”, diz ele. “Nos momentos difíceis, sempre tento lembrar as palavras que Deus disse ao Profeta Joseph Smith enquanto ele estava na prisão de Liberty, conforme registado em Doutrina e Convênios 122:

“Se te for requerido sofrer tribulações; se te encontrares em perigo entre os falsos irmãos; se te encontrares em perigo entre salteadores; se te encontrares em perigo na terra ou no mar …

… e acima de tudo, se as próprias mandíbulas do inferno escancararem a boca para tragar-te, sabe, meu filho, que todas essas coisas te servirão de experiência, e serão para o teu bem.

… portanto, não temas o que o homem possa fazer, pois Deus estará contigo para todo o sempre” (versos 5, 7, 9).