2019
Tal como Ele fez
Maio de 2019


11:52

Tal como Ele fez

Quando procuramos ministrar tal como Ele fez, temos a oportunidade de nos esquecer de nós mesmos e edificar o próximo.

Há cerca de 18 meses, no final de 2017, meu irmão de 64 anos de idade, Mike, informou-me que foi diagnosticado com câncer no pâncreas. Ele também me disse que já havia conversado com seu bispo, e que seu mestre familiar já havia lhe dado uma bênção do sacerdócio. Posteriormente, ele me enviou uma foto do Templo de Oakland Califórnia, tirada enquanto estava no hospital fazendo tratamento, com a legenda: “Olha só o que eu vejo da janela do meu quarto no hospital”.1

Seus comentários sobre o mestre familiar, a bênção do sacerdócio, o bispo e o templo me surpreenderam tanto quanto a notícia sobre o câncer. Vejam bem, Mike era um sacerdote no Sacerdócio Aarônico, mas não frequentava a Igreja havia quase 50 anos.

Nossa família ficou intrigada com seu progresso, tanto espiritual quanto na batalha contra o câncer, em especial por causa de suas perguntas sobre o Livro de Mórmon, sobre o poder selador e sobre a vida após a morte. Porém, os meses se passaram, o câncer evoluiu, e Mike foi trazido para Utah a fim de receber tratamento mais especializado no Instituto Huntsman do Câncer.

Pouco após sua chegada, Mike recebeu a visita de John Holbrook, o líder da missão da ala onde ficava o centro de tratamento em que ele estava internado. John comentou: “Para mim, é óbvio que Mike é um filho de Deus”, e eles logo criaram um laço de amizade que levou John a tomar para si a tarefa de ministrar a Mike, mesmo sem uma designação oficial. Logo de início, John perguntou se Mike gostaria de receber a visita dos missionários, mas meu irmão recusou o convite. Porém, um mês depois, John repetiu a pergunta e acrescentou: “Acho que você vai se sentir bem ao ouvir a mensagem do evangelho”.2 Dessa vez, o convite foi aceito, resultando em visitas dos missionários e do bispo Jon Sharp. Com isso, Mike acabou recebendo sua bênção patriarcal, 57 anos após seu batismo.

No começo de dezembro do ano passado, após meses de internação, Mike decidiu parar o tratamento por causa dos graves efeitos colaterais, deixando a natureza seguir seu curso. O médico dele nos informou que Mike teria no máximo três meses de vida. Nesse meio tempo, as perguntas sobre o evangelho continuaram, assim como as visitas e o apoio dos líderes locais do sacerdócio. Em nossas visitas a Mike, sempre víamos um Livro de Mórmon aberto em cima do criado-mudo enquanto falávamos sobre a Restauração do evangelho, as chaves do sacerdócio, as ordenanças do templo e a natureza eterna do homem.

Em meados de dezembro, com sua bênção patriarcal em mãos, Mike apresentou melhoras, e o prognóstico de mais três meses de vida parecia plausível. Até mesmo planejamos nos reunir com ele no Natal, no Ano Novo e em outras datas. No dia 16 de dezembro, o bispo Sharp me ligou para dizer que Mike havia sido entrevistado por ele e pelo presidente da estaca, que o consideraram digno de receber o Sacerdócio de Melquisedeque e perguntou quando eu estaria disponível para participar. A ordenança foi agendada para a sexta-feira seguinte, dia 21 de dezembro.

Naquele dia, quando minha esposa, Carol, e eu chegamos ao centro de tratamento, fomos imediatamente informados que Mike não tinha pulso. Ao entrarmos no quarto, lá já estavam o patriarca, o bispo e o presidente da estaca, e então Mike abriu seus olhos. Ele me reconheceu, confirmou que conseguia me ouvir, e que estava pronto para receber o sacerdócio. Cinquenta anos após Mike ter sido ordenado sacerdote no Sacerdócio Aarônico, tive o privilégio de conferir o Sacerdócio de Melquisedeque a meu irmão e ordená-lo ao ofício de élder, com a ajuda de seus líderes locais. Cinco horas depois, Mike faleceu, atravessando o véu para se encontrar com nossos pais, como portador do Sacerdócio de Melquisedeque.

Há apenas um ano, o presidente Russell M. Nelson convidou cada um de nós a cuidar de nossos irmãos e irmãs “de maneira mais elevada e sagrada”.3 Falando sobre o Salvador, o presidente Nelson ensinou que, “como esta é a Igreja Dele, nós, como Seus servos, ministraremos individualmente tal como Ele fez. Ministraremos em Seu nome, com Seu poder e Sua autoridade e com Sua terna bondade”.4

Em resposta a esse convite de um profeta de Deus, grandes esforços têm sido feitos ao redor do mundo para ministrar individualmente, tanto em ações coordenadas, realizadas por membros que cumprem fielmente suas designações de ministração, quanto em ações espontâneas, à medida que muitos demonstram amor cristão em oportunidades inesperadas. Em nossa família, testemunhamos de perto esse tipo de ministração.

John, amigo e irmão ministrador de Mike, já havia sido presidente de missão e costumava dizer aos missionários: “Não desistam só porque alguém está em sua lista de pessoas não interessadas. As pessoas mudam”. Depois ele nos disse: “Mike teve uma poderosa mudança”.5 John era um amigo que proporcionava incentivo e apoio, mas sua ministração não aconteceu apenas com visitas cordiais. John sabia que um ministrador é mais do que um amigo, e que a amizade é ampliada quando ministramos.

Nem todo mundo que precisa de ministração está sofrendo com uma doença terminal, assim como meu irmão. As pessoas têm os mais variados tipos de necessidades. Pais e mães solteiros, casais menos ativos, adolescentes com problemas, mães sobrecarregadas, provas de fé ou reveses financeiros, questões de saúde, dificuldades no casamento — a lista quase não tem fim. Contudo, assim como Mike, ninguém está fora do alcance do amor do Salvador, e nunca é tarde demais para buscá-Lo.

No site da Igreja, na seção sobre ministração, somos ensinados que, “embora haja muitos propósitos para a ministração, nosso esforço deve ser guiado pelo desejo de ajudar as pessoas a alcançarem uma conversão pessoal mais profunda e a se tornarem semelhantes ao Salvador”.6 O élder Neal L. Andersen disse o seguinte:

“Uma pessoa de bom coração pode ajudar alguém a trocar um pneu, levar um vizinho ao médico, almoçar com alguém que está triste ou sorrir e cumprimentar alguém para lhe alegrar o dia.

Mas um seguidor do primeiro mandamento naturalmente acrescentará algo a esses importantes atos de serviço”.7

Ao seguirmos o exemplo de Jesus Cristo ao ministrar, é importante lembrar que Seu empenho de amar, de elevar, de servir e de abençoar tinha um objetivo mais elevado do que suprir as necessidades imediatas. Ele certamente conhecia as necessidades cotidianas das pessoas e tinha compaixão pelo sofrimento que enfrentavam quando curou, nutriu, perdoou e ensinou. Mas Ele queria fazer mais do que apenas cuidar por um dia. Ele queria que as pessoas a Seu redor O seguissem, O conhecessem e atingissem seu potencial divino.8

Quando procuramos ministrar tal como Ele fez,9 temos a oportunidade de nos esquecer de nós mesmos e edificar o próximo. Essas oportunidades muitas vezes podem ser inconvenientes e provam nosso desejo verdadeiro de nos tornarmos mais semelhantes ao Mestre, cujo maior serviço de todos, Sua Expiação infinita, foi tudo, menos conveniente. No capítulo 25 de Mateus, aprendemos como o Senhor Se sente a nosso respeito quando, tal como Ele, somos sensíveis às dificuldades, às provações e aos desafios enfrentados por muitos que podem frequentemente não ser notados:

“Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; (…)

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? (…)

E respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.10

Seja ao servirmos como irmãos ministradores ou irmãs ministradoras, ou ao simplesmente sabermos de alguém em necessidade, somos incentivados a buscar a orientação do Espírito e então agir. Talvez nos perguntemos qual a melhor maneira de servir, mas o Senhor sabe, e, por meio de Seu Espírito, seremos orientados em nossos esforços. Assim como Néfi, que foi “conduzido pelo Espírito, não sabendo de antemão o que [ele] deveria fazer”,11 nós também seremos guiados pelo Espírito ao nos esforçarmos para ser instrumentos nas mãos de Deus para abençoar Seus filhos. Ao buscarmos a orientação do Espírito e confiarmos no Senhor, seremos colocados em situações e circunstâncias em que poderemos agir e abençoar — em outras palavras, ministrar.

Haverá ocasiões em que identificaremos uma necessidade mas nos sentiremos incapazes de ajudar, supondo que o que temos a oferecer não será suficiente. No entanto, fazer tal como Ele fez12 é ministrar oferecendo aquilo que somos capazes de oferecer e confiar que o Senhor magnificará nossos esforços para abençoar “nossos companheiros de viagem nesta jornada da mortalidade”.13 Para alguns, isso significa oferecer tempo e talentos; para outros, proferir palavras de conforto ou arregaçar as mangas. Apesar de acharmos que nossos esforços são inadequados, o presidente Dallin H. Oaks compartilhou um importante princípio a respeito das coisas “pequenas e simples”. Ele ensinou que ações pequenas e simples são poderosas porque convidam “a companhia do Espírito Santo”14, um companheiro que abençoa tanto quem serve quanto quem é servido.

Sabendo que logo iria falecer, meu irmão Mike comentou: “É incrível como um câncer no pâncreas é capaz de fazer você se concentrar no que mais importa”.15 Graças a homens e mulheres incríveis, que enxergaram a necessidade, não julgaram e ministraram como o Salvador, não foi tarde demais para Mike. Para alguns, a mudança vem cedo; para outros, talvez só depois do véu. Contudo, precisamos lembrar que nunca é tarde demais, e que ninguém jamais conseguiu se afastar tanto do caminho, a ponto de ficar fora do alcance da Expiação infinita de Jesus Cristo, a qual não tem limites em termos de duração e alcance.

Na conferência geral de outubro passado, o élder Dale G. Renlund ensinou que “não importa há quanto tempo estejamos fora do caminho (…), no momento em que decidimos mudar, Deus nos ajuda a voltar”.16 A decisão de mudar, no entanto, geralmente resulta de um convite tal como: “Acho que você iria gostar de ouvir a mensagem do evangelho”. Assim como nunca é tarde para o Salvador, também nunca é cedo demais para que façamos um convite.

Esta época de Páscoa nos proporciona, mais uma vez, uma oportunidade maravilhosa de refletir sobre o grande sacrifício expiatório de nosso Salvador, Jesus Cristo, e o que Ele fez por cada um de nós a um preço enorme, um preço que, conforme Ele declarou, “fez com que [Ele], o mais grandioso de todos, tremesse de dor”. “Todavia,” Ele declarou, “eu bebi e terminei meus preparativos para os filhos dos homens”.17

Testifico que, por Ele ter “terminado”, sempre haverá esperança. Em nome de Jesus Cristo. Amém.