2022
Fortalecer a fé das crianças com necessidades especiais
Outubro de 2022


Fortalecer a fé das crianças com necessidades especiais

“Quando uma criança tem uma doença prolongada, uma deficiência ou uma necessidade especial, as líderes da Primária conversam com os pais e o bispado. Juntos, eles fazem planos para apoiar a família e ajudar a criança a participar da Primária. As crianças com necessidades especiais frequentam normalmente a classe da Primária. Se necessário, podem ser chamados professores adicionais para auxiliar. As crianças com deficiências ou outras necessidades especiais normalmente terminam o programa da Primária no começo do mês de janeiro do ano em que completam 12 anos de idade. Talvez, algumas crianças não concluam a Primária dentro dessa programação. O bispo e os pais trabalham juntos a fim de decidir o que é melhor para cada criança” (Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, item 12.5.2).

“O Matheus chegou em nossa ala no meio do ano de 2021 e, na época, ainda estávamos com as reuniões da Igreja no formato virtual. Logo que voltamos a frequentar a capela presencialmente, a Marília, mãe do Matheus, nos procurou para conversar sobre autismo dele e explicar algumas necessidades específicas que o Matheus tem para frequentar a Primária. Nós da liderança da Primária marcamos uma visita com a família para entendermos como o Matheus se relaciona com os irmãos, que também frequentam a Primária, para descobrirmos o que ele gosta e o que ele não gosta, para entendermos qual seria a melhor forma de nos comunicarmos com ele e para conhecê-lo um pouquinho melhor. Essa visita foi muito importante porque já abriu um canal entre a família e a organização da Primária para termos uma comunicação aberta, entendermos o que precisávamos ajustar e adequar para proporcionar um ambiente acolhedor e espiritual para o Matheus.

Ainda não chegamos no modelo perfeito, muitas coisas ainda podem ser feitas, mas todas as líderes e crianças da Primária têm o desejo de servir e incluir o Matheus, mesmo não tendo o conhecimento perfeito de como isso pode ser feito. Estamos aprendendo juntos. Acredito que o mais importante é esse elo com a família, ter essa comunicação aberta com eles, entender se o domingo foi legal ou não para o Matheus, identificar o que pode ser melhorado, sempre buscando entender como podemos criar um ambiente mais inclusivo para ele” (Karina Kazue, president da Primária da Ala).

“O autismo do Matheus é um autismo severo. Ele é uma criança não verbal, devido a uma apraxia de fala, que é uma dificuldade motora na boca que prejudica a fala. Desde que tivemos o diagnóstico do Matheus, quando ele tinha 2 anos e 8 meses, eu sempre tive dificuldade de mantê-lo na Primária por causa do entendimento dele, das atividades e do formato da Primária. Quanto mais novo ele era, mais difícil era para que ele ficasse na Primária. Ele sempre teve muitas crises de choro.

Nossa família morou em Belo Horizonte por três anos, e havia uma irmã da ala que acompanhava o Matheus na Primária. Foi um trabalho muito bem feito, foram momentos em que o Matheus se sentia mais incluído durante as aulas da Primária. Diferente das outras crianças, o Matheus tinha muita dificuldade de obedecer a comandos, de prestar atenção na professora e de acompanhar a aula. É muito difícil para um único professor acompanhar todos os alunos e o Matheus ao mesmo tempo na sala de aula, mas, desde que ele passou a ser acompanhado por uma pessoa específica que o ajudava, quando ele se cansava não queria ficar na sala da Primária, ela dava uma volta com ele pela capela, e isso ajudava a acalmá-lo para que ele pudesse voltar para o tempo de cantar. Ele conseguia se sentir mais incluído porque a Primária passou a ser um ambiente agradável para ele. Essa irmã era muito cuidadosa e amável. Ela não tinha experiência com crianças especiais, com inclusão ou com autismo, mas ela sempre acompanhava o Matheus com o coração aberto, com aquela vontade de ajudar e incluir, e isso ajudou muito o Matheus a se sentir bem na Primária.

Quando voltamos a morar em São Paulo, senti um pouco de dificuldade no começo por causa da idade do Matheus. Ele estava na classe do CTR, classe da Primária para crianças de 4 a 7 anos, com aulas um pouco mais complexas. A professora da classe nunca tinha lidado com crianças especiais e, então, nós tivemos que nos adaptar. Logo entrei em contato com a presidência da Primária, contei sobre o trabalho que havia sido feito em Belo Horizonte, e a presidência da Primária chamou uma irmã muito prestativa e aberta a entender e a ajudar o Matheus a participar das aulas do CTR. Essa irmã adaptou alguns materiais visuais e sensoriais, incluindo músicas na aula que chamassem a atenção dele e pudessem ajudá-lo a participar da aula. Quando necessário, ela também saía da aula com ele, passeava pela capela, mas sempre com o intuito de voltar a fim de que ele entendesse que lá era o ambiente em que deveria estar. Foram essas irmãs, com esse chamado específico, que conseguiram trazer essa inclusão para o Matheus na Primária.

Precisamos buscar aprender sobre o autismo, sobre as crianças e os jovens com autismo, quais são suas necessidades e por que eles não conseguem acompanhar o ritmo de outras crianças. Os professores podem buscar a inspiração do Espírito Santo para adaptar as lições de acordo com a necessidade das crianças.

Tivemos uma experiência bem legal e divertida ano passado, na sacramental da Primária. As crianças falaram e cantaram músicas, mas o Matheus nunca conseguiu acompanhar as músicas devido à apraxia da fala. Porém, nós, com a presidência da Primária, pensamos em uma forma de fazer com que o Matheus participasse da sacramental da Primária. Dei a sugestão de usarmos placas com frases. O Matheus então poderia subir ao púlpito e mostrar essas placas, e a Sarah, irmã do Matheus, poderia ler as frases que ele estava segurando. Foi muito especial! Ele entendeu que estava participando de uma apresentação, entendeu a importância de ir ao púlpito mostrar as placas, e a irmã dele leu todas as frases que ele estava mostrando. Foi muito bom ter a participação do Matheus e a ajuda da presidência da Primária, que se preocupou em incluí-lo na apresentação. Houve a preocupação de perguntar para mim, que sou mãe do Matheus, como poderíamos incluí-lo Nessa apresentação tão especial. A comunicação entre os pais e as líderes é muito importante” (Marília Thomazini, mãe do Matheus).

Depois de ouvir as famílias sobre as características e as preferências de cada uma das quatro crianças com autismo, algumas estratégias foram implementadas. A primeira delas é que irmãos da ala passaram a servir como professors assistentes, fornecendo apoio às crianças e aos professores, criando laços e estabelecendo uma relação de confiança com os pequenos, o que fez toda a diferença para Diogo, de 6 anos, aceitar ficar na sala com o grupo.

“É muito gratificante receber o amparo e o incentivo dos membros da ala naqueles momentos em que você se sente esgotada, sem muita esperança de que sua frequência e estabilidade nas reuniões da Igreja possam ser algo contínuo. É gratificante quando os líderes da Primária, com toda a paciência e todo o amor, conseguem utilizer recursos para a inclusão, buscando a atenção de seu filho e estimulando seu interesse em participar da classe da Primária para aprender mais sobre Jesus Cristo.

Como membro da Igreja de Jesus Cristo e mãe de um filho autista, entendo perfeitamente as dificuldades em frequenter regularmente a igreja que muitas famílias, cujos filhos diagnosticados com TEA, enfrentam.

A inclusão de autistas e demais pessoas com diferentes transtornos no ambiente religioso tem sido um verdadeiro desafio. Os comportamentos variam bastante, e nem sempre sabemos o que esperar. Há dias em que é possível contornar situações, apesar das circunstâncias. Porém, existem aqueles dias em que a criança está extremamente agitada e desorganizada. Nesses dias, você esgota todas as suas estratégias e não obtém sucesso.

Diversas vezes fui embora no meio da reunião sacramental, pois era impossível manter a atenção nos discursos. Outras vezes, eu me senti envergonhada, achando que o barulho e a agitação do meu filho estavam incomodando as outras pessoas. Precisamos conversar sobre o autismo e os demais transtornos que apresentam como característica a dificuldade comportamental para ajudar melhor as crianças da Primária que apresentem esses transtornos. Podemos auxiliar, acolher e fortalecer as famílias tal como Cristo faria.

Para mim, a base da verdadeira inclusão vem revestida de muita fé, paciência e amor. Assim, o Pai Celestial vai inspirar todas as pessoas em seus chamados para que essa integração seja possível” (Jaqueline dos Santos Azeredo, mãe do Diogo).

Algumas estratégias

A liderança tem utilizado recursos visuais para acolher os interesses das crianças.

Recursos visuais são instrumentos fundamentais na aprendizagem das crianças com autismo por expandir sua capacidade de interagir com o ambiente. Além da abordagem diferenciada utilizada nas aulas, os professors também buscam nos interesses das crianças uma oportunidade para aprendizagem e inclusão.

Ao demonstrar interesse por fotografia, uma criança do grupo recebeu a incumbência de ser o fotógrafo mirim da Primária. Aos domingos, essa criança se sente mais motivada a participar das aulas e a registrar os momentos com os amigos na classe.

Apresentar a rotina da Primária traz segurança para as crianças.

Outra estratégia que começa a ser implementada é a apresentação antecipada da rotina da Primária com recursos visuais: oração, mensagem, tempo de cantar e tempo de aula. As irmãs da liderança acreditam que apresentar para as crianças, logo no início da abertura da Primária, o que vai acontecer e as atividades que serão realizadas contribui para que elas se sintam mais seguras e, assim, participem da aula com o grupo.

Permanecer nas aulas da Primária ainda é um desafio que a doce Melina, de 8 anos, vai superar com a ajuda dos irmãos que servem na Primária.

“Minha filha de 8 anos é autista. Sempre tive muita dificuldade em permanecer na igreja com ela. Passamos por várias fases: a de não querer entrar na capela, a de querer ir embora após a reunião sacramental, a de não aceitar usar vestidos. Porém, o ponto fundamental para que nossa família persistisse e nunca deixasse de estar na igreja foi o nosso testemunho do evangelho verdadeiro de Jesus Cristo e o amor e apoio de todos os membros. A Ala Iriry é abençoada por ter irmãos tão cheios de carinho e empatia e por ter líderes realmente preocupados em ensinar o evangelho a todas as pessoas, independentemente de sua condição. Sou muito grata por ser membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e por saber que, independentemente da dificuldade, sempre acharemos uma solução se colocarmos o Senhor em primeiro lugar em nossa vida” (Gabriela Pires Almeida Cunha Araújo).

“Sou grata ao Pai Celestial pelo privilégio de poder servir na presidência da Primária. Estamos ao lado de irmãs que oferecem todo seu amor aos pequenos, que se dedicam a estudar e que estão engajadas neste projeto. Ajudar as crianças autistas na socialização e na integração está sendo uma bênção em nossa ala.

Os vídeos, as músicas e as aulas ilustrativas têm ajudado as crianças a se achegarem a Cristo. As estratégias estão sendo bem aceitas pelas crianças, e isso tem nos ajudado muito. Amo servir na Primária!” (Gilcimara de Lemos da Silva, president da Primária da Ala Iriry.)