2023
Meu livro viajante
Junho de 2023


Meu livro viajante

Era mais uma manhã de sol no inverno paulista em Espírito Santo do Pinhal, no interior do estado de São Paulo. O ano era 1989. A linha de ônibus da cidade consistia em apenas um ônibus, que passava pela manhã e, no final da tarde, fazia o caminho de volta. Meu companheiro, élder Casey, e eu estávamos animados, pois estávamos abrindo a cidade para a pregação do evangelho restaurado e estávamos ansiosos para visitar uma família do outro lado da cidade.

Como sempre, eu levava comigo meu Livro de Mórmon em couro e zíper, que um grande amigo me dera no Centro de Treinamento Missionário (CTM) com uma dedicatória. Comecei a lê-lo no CTM e terminei quando estava em minha primeira área. Essa já era a minha terceira área, e meu Livro de Mórmon continuava comigo, firme e forte até esse dia. Quando entramos no ônibus, percebi que havia esquecido minha bolsa de escrituras no ponto de ônibus. Já estávamos bem distante e tínhamos horário marcado com uma família, então, seguimos em frente, e essa foi a última vez que vi meu Livro de Mórmon na missão.

Muitos anos se passaram e, em 1995, minha esposa e eu nos mudamos para Fortaleza, quase três mil quilômetros de distância de São Paulo, onde morávamos. Após dois anos, fui transferido para Salvador, na Bahia. Meu último domingo na ala Nova Aldeota, ainda em Fortaleza, foi um domingo de testemunhos. Eu estava sentado na primeira fileira com minha esposa quando uma moça que havia sido batizada havia algumas semanas subiu ao púlpito para prestar seu testemunho.

Ela contou a seguinte história: “Há algumas semanas, meu irmão sentiu o desejo de endireitar sua vida e estava procurando uma Bíblia. Um colega lhe disse que tinha uma Bíblia e perguntou se ele estaria interessado em trocá-la por um relógio. Ele concordou, deu seu relógio e adquiriu o que pensava ser sua nova Bíblia. O nome na capa de couro ficou apagado pelo tempo de uso. Chegando em casa, ao abrir o zíper da Bíblia, ele teve uma grande surpresa ao ler o título ‘Um outro testamento de Jesus Cristo’. Ele ficou muito frustrado e largou o livro na estante. Quando entrei na sala, aquele livro com capa de couro preta chamou minha atenção. Peguei o livro, abri e comecei a ler. Senti algo inexplicável à medida que avançava em minha leitura. Senti o desejo de orar e pedi a Deus que me mostrasse a igreja que seguia os preceitos daquele livro. Alguns dias após minha oração, dois missionários bateram à minha porta, ensinaram a mim e a minha família e em seguida fomos batizados”.

Minha esposa e eu ficamos admirados com a força daquela história e profundamente tocados com o testemunho daquela jovem. Ao final da reunião sacramental, o missionário que havia batizado a família veio em minha direção com um Livro de Mórmon na mão. Meu coração acelerou quando ele disse: “Este Livro de Mórmon é seu?”

Muitas coisas passaram em minha mente enquanto abria o livro. Lá estava a dedicatória de meu amigo. Tive um sentimento muito doce ao me lembrar da minha missão de tempo integral. Com um sorriso infantil no rosto, fiquei ponderando como aquele livro havia percorrido quase três mil quilômetros e chegado àquela moça.

Ao final da reunião, ela veio ao meu encontro para me devolver o livro. Arranquei cuidadosamente a página com a dedicatória e devolvi o livro a ela, dizendo: “De alguma forma que provavelmente nunca compreenderemos, este livro veio parar milagrosamente em suas mãos. Não vou ousar tirá-lo de você”.

Foi a primeira e a última vez que vi aquela moça, mas aprendi por essa experiência que o Livro de Mórmon é um livro vivo e poderoso para salvar. Se tivermos a coragem de presentear nosso próximo com um exemplar do Livro de Mórmon, ou ainda que o esqueçamos acidentalmente na casa de um amigo, quem sabe o que pode acontecer? Por essa experiência posso dizer que, sem dúvida alguma, tudo pode acontecer.

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