O poder de cura do Salvador nas ilhas do mar
Por meio das bênçãos do templo, o Salvador cura pessoas, famílias e nações.
Na década de 1960, meu pai dava aulas na Church College do Havaí em Laie, onde nasci. Minhas sete irmãs mais velhas insistiram com meus pais para que me dessem o nome “Kimo”, um nome havaiano. Morávamos perto do Templo de Laie Havaí, na época em que esse templo atendia grande parte dos membros da Igreja que residiam na área Ásia Pacífico, incluindo o Japão.1 Nessa época, grupos de membros japoneses começaram a viajar até o Havaí para receber as bênçãos do templo.
Um desses membros era uma irmã que morava na bela ilha de Okinawa. A história de sua viagem ao Templo do Havaí é extraordinária. Duas décadas antes, ela tivera um casamento arranjado tradicional budista em 1941. Poucos meses depois, ainda em 1941, o Japão atacou Pearl Harbor, no Havaí, levando os Estados Unidos a entrarem em guerra contra o Japão. No desenrolar das batalhas, como as de Midway e Iwo Jima, o curso da guerra impeliu os exércitos japoneses de volta às praias da ilha onde ela morava, a última linha de defesa remanescente contra as forças aliadas, antes de chegarem às regiões centrais do Japão.
Por três angustiantes meses, em 1945, a batalha de Okinawa foi avassaladora. Uma frota de 1.300 navios de guerra americanos cercaram e bombardearam a ilha. O número de militares e civis mortos foi imenso. Hoje um solene monumento em Okinawa exibe mais de 240 mil nomes confirmados de pessoas que morreram na batalha.2
Em uma tentativa desesperada de fugir do massacre, aquela mulher de Okinawa, seu marido e seus dois filhos pequenos buscaram refúgio em uma caverna nas montanhas. Passaram por um sofrimento indescritível nas semanas e meses que se seguiram.
Em uma noite desesperadora em meio à batalha, a ponto de morrerem de fome e com seu marido inconsciente, ela cogitou findar o sofrimento da família com uma granada que as autoridades tinham dado a ela e a outras pessoas para aquele propósito. No entanto, quando se preparava para fazer isso, ela teve uma experiência profundamente espiritual, dando-lhe um sentimento indiscutível da realidade de Deus e de Seu amor por ela, que lhe deu forças para não desistir. Nos dias subsequentes, ela conseguiu reanimar seu marido e alimentar a família com ervas, com mel de uma colmeia silvestre e com peixes que ela apanhou em um riacho próximo. Surpreendentemente, conseguiram resistir por seis meses na caverna, até que aldeões locais os informaram que a batalha chegara ao fim.
Quando voltaram para casa e começaram a se reerguer, aquela mulher japonesa começou a buscar respostas a respeito de Deus. Isso gradualmente lhe acendeu uma crença em Jesus Cristo e a necessidade de ser batizada. No entanto, ela ficou preocupada quanto a seus entes queridos que tinham morrido sem o conhecimento de Jesus Cristo ou do batismo, inclusive sua mãe, que falecera ao lhe dar à luz.
Imaginem sua alegria quando duas missionárias de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foram à sua casa um dia e lhe ensinaram que as pessoas podem ser ensinadas sobre Jesus Cristo no mundo espiritual. Ela ficou encantada com o ensinamento de que seus pais poderiam decidir seguir Jesus Cristo depois da morte e aceitar o batismo realizado em favor deles em lugares sagrados chamados templos. Ela e sua família foram convertidos ao Salvador e batizados.
Sua família trabalhou arduamente e começou a prosperar; e tiveram mais três filhos. Eram fiéis e ativos na Igreja. Então, inesperadamente, seu marido sofreu um derrame e faleceu, levando-a a ter de trabalhar por muitas horas em vários empregos por muitos anos para sustentar seus cinco filhos.
Algumas pessoas de sua família e vizinhança a criticavam. Atribuíam os problemas dela à decisão de se filiar a uma igreja cristã. Sem se deixar abalar por essa enorme tragédia e por duras críticas, ela manteve sua fé e continuou determinada a seguir em frente, confiando que Deus a conhecia e que haveria dias melhores no futuro.3
Poucos anos após a morte prematura do marido, o presidente da missão no Japão se sentiu inspirado a incentivar os membros japoneses a se esforçarem para ir ao templo. O presidente de missão era um veterano americano do confronto em Okinawa, o mesmo confronto que havia causado tanto sofrimento à irmã de Okinawa e à família dela.4 Apesar de tudo, essa humilde irmã disse o seguinte sobre ele: “Na época, ele era um de nossos mais odiados inimigos, mas agora ele está aqui com o evangelho de amor e paz. Para mim, isso é um milagre”.5
Após ouvir a mensagem do presidente da missão, essa irmã viúva teve o desejo de ser selada à sua família no templo algum dia. No entanto, aquilo era impossível para ela devido a dificuldades financeiras e com o idioma.
Então, várias soluções inovadoras surgiram. O custo poderia ser reduzido à metade se os membros do Japão fretassem um avião inteiro para viajar até o Havaí, fora da alta temporada.6 Os membros também gravaram e venderam discos de vinil intitulados Os Santos Japoneses Cantam. Alguns membros até venderam a casa. Outros pediram demissão do emprego para fazer a viagem.7
O outro desafio para os membros era que a apresentação do templo não estava disponível em japonês. Os líderes da Igreja chamaram um irmão japonês para viajar ao templo havaiano para traduzir a cerimônia de investidura.8 Ele foi o primeiro japonês a ser convertido após a guerra, tendo sido ensinado e batizado por soldados americanos fiéis.9
Quando os membros japoneses com investidura que moravam no Havaí ouviram pela primeira vez a tradução, eles choraram. Um membro escreveu: “Fomos ao templo muitas e muitas vezes. Ouvimos as cerimônias em inglês. [Mas] nunca sentimos o espírito do (…) trabalho do templo como sentimos agora [ao ouvi-lo] em nosso próprio idioma”.10
Posteriormente, naquele mesmo ano, 161 adultos e crianças embarcaram em Tóquio para fazer a viagem até o Templo do Havaí. Um membro japonês refletiu a respeito da jornada, dizendo: “Ao olhar para fora do avião e ver Pearl Harbor e lembrar o que nosso país tinha feito àquelas pessoas, em 7 de dezembro de 1941, meu coração se encheu de medo. Será que eles vão nos aceitar? Mas para minha surpresa, eles demonstraram mais amor e bondade do que eu jamais tinha visto na vida”.11
Quando os santos japoneses chegaram, os membros havaianos lhes deram as boas-vindas com inúmeros colares de flores, trocando abraços e beijos no rosto, um costume diferente da cultura japonesa. Depois de passarem dez dias que transformaram sua vida no Havaí, os santos japoneses se despediram ouvindo a melodia de “Aloha Oe” entoada pelos santos havaianos.10
A segunda caravana ao templo organizada para os membros japoneses incluiu a irmã viúva de Okinawa. Ela embarcou em sua jornada de 16 mil quilômetros graças a um generoso presente dos missionários que tinham servido em seu ramo e que haviam desfrutado de muitas refeições em sua casa. Enquanto estava no templo, ela derramou lágrimas de alegria ao realizar o batismo vicário de sua mãe e foi selada ao marido falecido.
As caravanas ao templo do Japão para o Havaí continuaram regularmente até que o Templo de Tóquio Japão foi dedicado em 1980, tornando-se o décimo oitavo templo dedicado nesta dispensação. Em novembro deste ano, o templo de número 186 da Igreja será dedicado em Okinawa, Japão. E ele está situado não muito longe da caverna localizada na região central de Okinawa, onde aquela mulher e sua família se abrigaram.13
Embora eu nunca tenha conhecido pessoalmente essa maravilhosa irmã de Okinawa, seu legado continua vivo por meio de sua fiel posteridade, muitos dos quais eu conheço e amo.14
Meu pai, um veterano da Segunda Guerra Mundial nas ilhas do Pacífico, ficou emocionado quando recebi meu chamado para servir no Japão como um jovem missionário. Cheguei ao Japão logo depois que o Templo de Tóquio foi dedicado e vi em primeira mão o amor do povo pelo templo.
Os convênios do templo são dádivas de nosso Pai Celestial aos fiéis seguidores de Seu Filho Jesus Cristo. Por meio do templo, nosso Pai Celestial une as pessoas e famílias ao Salvador e uns aos outros.
Ano passado, o presidente Russell M. Nelson declarou:
“Cada pessoa que faz convênios em uma pia batismal e no templo — e os guarda — recebe acesso ampliado ao poder de Jesus Cristo. (…)
A recompensa que recebemos ao guardarmos os convênios que fizemos com Deus é o poder celestial — um poder que nos fortalece para suportarmos melhor nossas provações, tentações e tristezas. Esse poder alivia nosso caminho”.15
Por meio das bênçãos do templo, o Salvador cura pessoas, famílias e nações — até aqueles que já foram ferrenhos inimigos. No Livro de Mórmon, o Senhor ressuscitado declarou a um povo marcado por conflitos que aqueles que “[honram o seu] nome, o Filho da Retidão se levantará com poder de cura nas suas asas”.16
Sinto-me grato por testemunhar o cumprimento em andamento da promessa feita pelo Senhor de que “chegará o tempo em que o conhecimento de um Salvador se espalhará por toda nação, tribo, língua e povo”,17 inclusive entre aqueles “nas ilhas do mar”.18
Testifico do Salvador Jesus Cristo e de Seu profeta e apóstolos nestes últimos dias. Presto solene testemunho do poder celeste para selar no céu o que é selado na Terra.
Esta é a obra do Salvador, e os templos são Sua casa santa.
Com inabalável convicção, declaro essas verdades em nome de Jesus Cristo, amém.