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A Correção Divina — uma Prova do Amor de Deus por Nós
Não deveríamos surpreender-nos quando um Pai amoroso nos convida a progredir ao nos proporcionar momentos de disciplina divina.
Somos os pais de seis rapazes agitados. Durante os últimos 17 anos, aprendemos que, muitas vezes, o Espírito usa a nossa própria experiência como pais para nos ensinar como o Pai Celestial trabalha com os Seus filhos.
Há uns bons anos, a Jéssica ouviu os meninos a brincar no andar de cima. Ao ouvir com mais atenção, percebeu o som distinto de um objeto de escrita a rabiscar uma parede.
Ela perguntou: “Meninos… está alguém a pintar a parede?”
Passados três segundos de silêncio, o responsável respondeu: “Nãoooooo”. Ela pediu-lhe então que trouxesse para baixo o objeto de escrita.
“Está bem, mamã”, disse ele a saltitar, enquanto lhe entregava de bom grado e até mesmo com alegria um lápis.
Na outra mão, escondida atrás das costas, trazia um marcador permanente e era bem visível para a Jess.
Depois de se sentar com este pequenino, de o ouvir, de o corrigir e de o tentar ajudar, teve uma impressão inequívoca:
“Porque é que eu às vezes tento esconder os meus próprios pecados e defeitos de um Pai Celestial omnisciente e amoroso?”
Três Propósitos da Correção Divina
No que diz respeito às responsabilidades parentais, há uma diferença fundamental entre castigar e disciplinar. Segundo ensinou o Presidente James E. Faust (1920–2007): “A palavra discípulo e a palavra disciplina vêm da mesma raiz latina — discipulus”. Ao nos esforçarmos por nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo mais dedicados, não devemos ficar surpreendidos quando um Pai amoroso nos convida a progredir no caminho do discipulado ao nos proporcionar estes momentos de disciplina divina.
O Elder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou-nos que esta “repreensão divina tem, no mínimo, três propósitos: (1) persuadir-nos a arrependermo-nos, (2) refinar-nos e santificar-nos, e (3) por vezes, redirecionar o rumo da nossa vida para um caminho que Deus sabe ser melhor”.
O Senhor enviou Samuel, um profeta lamanita, para pregar aos nefitas por volta do ano 6 a.C. Ao pregar, ele exemplificou e destacou primorosamente os três propósitos da correção divina ensinados pelo Elder Christofferson. O mais importante, talvez, é que Samuel tentou ensinar àqueles nefitas que estavam a passar por dificuldades, que a correção imediata que estavam a receber não era um sinal de que Deus não se importava com eles. Pelo contrário, aquela correção devia-se precisamente ao Seu amor por eles.
Samuel deixou isso claro quando ensinou: “Ele amou o povo de Néfi e também o castigou; sim, nos dias [das] suas iniquidades castigou-o, porque o ama” (Helamã 15:3). Pois, tal como disse o Senhor: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo” (Apocalipse 3:19).
Para nos Persuadir a Arrependermo-nos
O primeiro propósito da correção divina mencionado pelo Elder Christofferson é persuadir-nos a arrependermo-nos. Na abertura do seu discurso, Samuel deixa claro que, devido à iniquidade dos nefitas, nada os poderia salvar “a não ser o arrependimento e a fé no Senhor Jesus Cristo” (Helamã 13:6). Segundo ele, esta mensagem de arrependimento foi a razão de ele lhes ter sido enviado: “Para que tenhais boas novas” (Helamã 13:7).
Repare na relação que Samuel faz entre o arrependimento e as boas novas. O Elder Neil L. Andersen ensinou: “O convite ao arrependimento […] é […] um pedido amoroso para que nos voltemos e retornemos a Deus (ver Helamã 7:17). É o convite de um Pai amoroso e do Seu Filho Unigénito para que sejamos mais do que aquilo que somos, que busquemos um modo de vida mais elevado e que sintamos a felicidade de guardar os mandamentos”.
Samuel afirmava, constantemente, o seu objetivo ao pregar: “Por este motivo subi às muralhas desta cidade, […] [para] que vos inteireis das condições do arrependimento” (Helamã 14:11). As suas profecias sobre Cristo foram proferidas “para que acrediteis [no] seu nome. E se acreditardes [no] seu nome, arrepender-vos-eis de todos os vossos pecados” (Helamã 14:12–13).
A mensagem de Samuel é clara: “[Arrependei-vos] e [voltai] para o Senhor vosso Deus” (Helamã 13:11).
Para nos Refinar e Santificar
Um dos principais propósitos do arrependimento é refinar e “mudar” o coração humano. No seu convite ao arrependimento, Samuel dá ênfase à condição do coração do povo. Ele fala sobre a “dureza de coração do povo dos nefitas” (Helamã 13:8). Ele adverte-os contra o facto de colocarem “o coração nas riquezas” (versículo 20). Diz-lhes que o seu “coração não se achega ao Senhor” (versículo 22) e que eles andam “segundo o orgulho [do seu] próprio coração” (versículo 27).
As correções divinas ajudam-nos a ver o nosso coração errante e, pela “fé e arrependimento”, provocam o que Samuel chama de uma “[mudança de] coração” (Helamã 15:7). Esta mudança, ensinou Samuel, torna-nos “firmes e inquebrantáveis na fé” (versículo 8), ao unir o nosso coração errante ao Salvador Jesus Cristo.
Para Redirecionar o Rumo da Nossa Vida
O Elder Neal A. Maxwell chamou a estes momentos de correção de “descontentamento divino”. Ao valer-se desta ideia, a Irmã Michelle D. Craig explicou: “O descontentamento divino surge quando comparamos ‘o que somos com o que temos poder para nos tornarmos’. Todos nós, se formos honestos, sentimos a diferença entre a nossa capacidade atual e aquilo em que nos queremos tornar. Ansiamos por ter mais capacidade de realização. […] Estes sentimentos são-nos dados por Deus e motivam-nos a agir”.
Ao referir-se a este terceiro e último propósito da correção divina, Samuel convida veementemente os nefitas a usar o seu arbítrio para escolher seguir “o caminho do seu dever” (Helamã 15:5) ou, como o Elder Christofferson disse, “um caminho que Deus sabe ser melhor”.
“Sois livres”, ensinou Samuel. “Tendes permissão para agir por vós mesmos; porque Deus deu-vos o conhecimento e fez-vos livres” (Helamã 14:30). Ele ajudou-os a ver que, embora sejam livres para agir, não são livres para escolher as consequências das suas ações. Ele alertou: “Porque durante todos os dias [da] vossa vida buscastes aquilo que não podíeis obter; e buscastes felicidade na iniquidade o que é contrário à natureza daquela retidão” (Helamã 13:38).
A boa vida — a vida farta, a vida feliz — é encontrada naquilo a que Samuel chama de andar “circunspectamente perante Deus”, ao procurar “guardar os seus mandamentos e os seus estatutos e os seus juízos” e ao nos esforçarmos “com infatigável diligência” por ajudar outros a fazer o mesmo (Helamã 15:5–6).
Tornarmo-nos na Pessoa Que o Senhor Quer Que nos Tornemos
John Newton tinha seis anos quando a sua mãe faleceu. Ela tinha-o educado como um crente, ao ensinar-lhe as escrituras e ao lê-las com ele. Aos 11 anos, o seu pai, um marinheiro, levou-o para o mar. Rodeado de profanidades, blasfémias e promiscuidade, John não demorou muito a afastar-se da sua fé. Ele dizia: “Eu pecava com arrogância e fazia questão de os tentar e persuadir em todas as ocasiões”.
Certa vez, numa viagem, uma tempestade surgiu de repente. A sua tripulação começou a clamar a Deus para que os salvasse. A princípio, ele ridicularizou-os e repreendeu-os, mas quando ficou claro que o seu destino era inevitável, John clamou àquele Deus de quem a sua mãe lhe tinha ensinado.
Orou do género: “Deus, se estás aí, por favor, salva-nos. E se nos salvares, dedicarei o resto da minha vida a servir-Te”. A tempestade cessou, as ondas acalmaram e as suas vidas foram salvas. Fiel à sua palavra, John dedicou o resto da sua vida a servir ao Senhor. Tornou-se um pregador e, como parte do seu ministério, escreveu poemas. Muitos destes poemas viriam a ser convertidos em hinos, como o seu mais famoso:
Este hino é a história de John Newton, mas é também a nossa história e é provavelmente a sua história. Todos nós, à nossa maneira e nos nossos momentos de aflição, somos contemplados por um Senhor omnisciente que, no momento certo, intervém. Ele corrige-nos. Resgata-nos. Transforma-nos. E desperta em nós um desejo insaciável de viver o que Néfi certa vez chamou de “a vida que está em Cristo” (2 Néfi 25:27).
Ao confiarmos na disciplina divina do Senhor, tornamo-nos quem Ele tão sinceramente quer que nos tornemos: homens e mulheres de Cristo e discípulos de Jesus Cristo.