Tempo de Preparação
Os anos do Sacerdócio Aarônico são anos de preparação. Eles devem ser cheios de experiências espirituais significativas e inesquecíveis.
Agradeço ao Senhor por esta oportunidade maravilhosa de estar aqui convosco esta noite, vós que portais o sacerdócio. Oro para que minhas palavras sejam apropriadas, ouvidas claramente e compreendidas.
Alguns dos que estão aqui hoje completaram doze anos há pouco e são novos diáconos. Muitos têm treze, quatorze, dezesseis anos, ou são mais velhos. Quero, porém, dirigir-me especialmente ao Sacerdócio Aarônico, e os outros poderão ouvir, se quiserem.
Alguns acabam de fazer aniversário. Eu também fiz aniversário há pouco tempo — oitenta e cinco anos. Apreciastes vossa festa de aniversário, e eu gostei muito da minha. À vossa volta, tivestes vossos jovens amigos, e eu tive meus velhos amigos à minha volta. Existe, no entanto, uma diferença vital entre nós — eu já passei por setenta anos de experiência e aprendizado a mais do que vós. Tenho sido abundantemente abençoado com uma vida das mais desafiadoras, emocionantes e maravilhosamente produtiva — uma vida inteira testemunhando um mundo em ação. Houve muitas decepções e tristezas, mas sempre oportunidades, novos horizontes e bênçãos incomensuráveis. Aprendi também algumas lições e verdades. Uma delas, o lema dos Escoteiros: Sempre Alerta, é uma verdade.
Fui criado em uma cidadezinha do interior do Estado de Idaho. O futebol (futebol americano) chegou à nossa escola mais tarde do que para a maioria das outras. Estávamos em 1923. Não tínhamos nem equipamentos nem treinador. Chegou, porém, o grande dia, quando o diretor de nossa escola pôde comprar doze uniformes baratos de futebol — mas não as chuteiras especiais com travas. Usávamos nossos sapatos de basquetebol. Nosso professor de química foi recrutado para ser o treinador, porque uma vez ele havia assistido a uma partida de verdade.
Ele nos ensinou algumas jogadas simples e como derrubar o jogador adversário, e nós estávamos prontos para jogar — bem, era o que pensávamos. Fomos então para o nosso primeiro jogo com Twin Falls, os campeões do Estado de Idaho no ano anterior.
Vestimo-nos e fomos para o campo, a fim de nos aquecermos. A banda da escola deles começou a tocar (eles tinham mais alunos na banda do que tínhamos em toda a escola) — e então, pelos portões, entrou a equipe adversária. Eles entravam, um após outro, parecendo não terminar — todos os trinta e nove — completamente equipados e de chuteiras, com travas. Os nossos doze — uma equipe completa de onze, e mais um de reserva para todas as posições — observavam admirados.
O jogo foi deveras interessante. Dizer que foi uma experiência didática é uma coisa bem amena. Depois de apenas duas jogadas, não tínhamos o desejo de pegar na bola — assim, nós a chutávamos, e eles marcavam ponto. Sempre que eles pegavam a bola, corriam de modo desconcertante e faziam pontos. Nossa meta era nos livrarmos da bola — o que nos fazia sofrer menos.
Nos minutos finais do jogo, eles ficaram um pouco descuidados, e um passe rápido fez com que a bola caísse nos braços de Clifford Lee, que estava jogando comigo no ataque. Ele sobressaltou-se, sem saber exatamente o que fazer — isto é, até que viu os jogadores adversários correndo em sua direção. Então ele soube o que fazer, e, rapazes, como ele foi rápido! Não estava, porém, correndo para ganhar pontos, estava correndo para salvar a vida! Clifford alcançou a meta e fez seis pontos, que logo apareceram no marcador. Contagem final: 106 a 6! Na realidade, não merecíamos os seis pontos, mas, com as camisas e as meias ensangüentadas, com cortes e arranhões — nós os recebemos.
Uma experiência didática? É claro! Uma pessoa, ou uma equipe, precisa estar preparada. O sucesso ou a realização depende de preparação.
Os anos do Sacerdócio Aarônico são anos críticos de preparação. O Senhor sabia que os rapazes precisariam desses anos preciosos da adolescência, a fim de preparar-se para a vida — anos preciosos com experiências espirituais significativas, inesquecíveis. Vós enfrentareis algumas decisões importantes, mas espera-se que tireis vantagens da experiência e dos conselhos amadurecidos e interessados de vossos queridos pais e líderes do sacerdócio.
Na segunda epístola a Timóteo, no Novo Testamento, o Apóstolo Paulo está aprisionado em uma masmorra escura e triste, esperando ser executado por causa de sua crença em Jesus Cristo e por ensinar o seu evangelho. Extravasando a alma agitada e sua firme convicção, ele suplica, em uma carta escrita ao seu querido e jovem amigo, Timóteo, que seja fiel às verdades que lhe foram ensinadas e que se lembre de despertar “o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (II Timóteo 1:6). Paulo havia abençoado e ordenado Timóteo pessoalmente e agora o incentivava a ser forte e a não se envergonhar de seu testemunho do Senhor, não importando o que acontecesse.
O Apóstolo Paulo era destemido e nunca fraquejou no testemunho de Jesus. A fé e a determinação fizeram com que, de fazedor de tendas, se transformasse em mestre, missionário, líder e organizador de ramos cristãos. Certamente ele não era um “maricas” nem um fraco. As pessoas de grande fé sabem o que é certo, e fazem-no. Elas têm determinação e compromisso inflexíveis e são capazes de suportar as pressões ou adversidades. Paulo sabia o que era certo, e vós sabeis o que é certo. Quando tomardes coragem como Paulo e fizerdes aquilo que sabeis ser certo, nada impedirá vosso progresso, a não ser vós mesmos.
“Compromisso é o que transforma uma promessa em realidade. Vem a ser palavras que falam corajosamente de vossas intenções; e… ações que falam mais alto do que… palavras. É… fazer o que é devido vez após vez, ano após ano. É aquilo de que é feito o caráter.”
Oh! Como este mundo precisa de jovens dedicados, determinados e corajosos — rapazes com uma convicção digna — que ajudem a tratar de suas feridas e ensinar fé, esperança e verdade! De onde virão esses jovens? Virão das fileiras de rapazes e moças desta Igreja — é daí que virão.
O Senhor perguntou: “Para que fostes ordenados?” e respondeu: “Para pregar o meu evangelho pelo Espírito,… para ensinar a verdade.” (D&C 50:13–14.)
O Presidente Spencer W. Kimball declarou: “Vós sois os filhos de Deus, sois os eleitos de Deus, e tendes ao vosso alcance a possibilidade de vos tornardes um deus e de passardes pelos anjos… para a vossa exaltação” — possibilidades que parecem estar além da imaginação comum — no entanto, as promessas são divinas” (The Teachings of Spencer W. Kimball, ed. Edward L. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1982, p. 496).
Quando os alicerces do Templo de Lago Salgado estavam lançados, com sapatas de dezesseis pés de largura, o Presidente Brigham Young descobriu que os trabalhadores estavam usando pedras porosas. O trabalho foi suspenso, as pedras porosas tiradas e substituídas por gigantescos blocos de granito. Ele declarou: “Estamos construindo este templo para permanecer através do milênio” (LeGrand Richards, Conferência Geral, outubro de 1971).
“Portanto, não vos canseis de fazer o bem, pois estais construindo o alicerce de um grande trabalho.” (D&C 64:33.)
Vós, portadores do Sacerdócio Aarônico, estais assentando as vossas pedras fundamentais pessoais — pedras de granito — pedras de caráter que, espera-se, durarão para sempre. Vossas pedras fundamentais devem incluir princípios ensinados pelo Salvador: princípios de fé, oração, obediência, honestidade, verdade e responsabilidade por vossas ações. E, é claro, uma das pedras angulares de vosso alicerce será o sacerdócio — o poder e autoridade de Deus delegado a vós para agir em assuntos relativos à salvação — com as obrigações e bênçãos que o acompanham.
Sois membros de um quorum do sacerdócio com oficiais escolhidos entre vossos colegas — com deveres, poderes e responsabilidades. Estais aprendendo como membros da Igreja estendem a mão para resgatar e ajudar aqueles que se desencaminharam, ou sofrem, ou estão feridos. Estais começando a desenvolver uma sensibilidade para o serviço cristão, e que traz alegria à alma.
Nosso Pai Celestial e seu Filho Jesus Cristo determinaram — imaginem só! — que, aos quatorze anos, Joseph Smith tinha idade suficiente para começar a receber instruções, que trariam à luz a poderosa obra da restauração do Evangelho de Jesus Cristo. Joseph viu o Deus vivo! Viu o Cristo vivo! Recebeu uma tarefa celestial e completou-a. Vós também tendes idade suficiente para receber tarefas cada vez maiores.
Vós, rapazes do Sacerdócio Aarônico, tendes idade suficiente para distinguir o certo do errado — para saber a respeito de Satanás e sua influência perniciosa. Satanás é um nome hebreu para o demônio. Significa o adversário — aquele que declara guerra aberta à verdade e àqueles que obedecem a princípios verdadeiros. Satanás escolheu o caminho do mal desde o princípio. Sua maior meta, como ensinado por Moisés a Enoque, é fazer com que os homens o adorem. (Vide Moisés 1:12; Moisés 6:49.) Ele tem tido grande sucesso. Como o professado deus deste mundo, Satanás recebe a adoração e veneração daqueles que vivem de acordo com o mundo. Todas as formas de iniquidade, mal e rebelião contra os santos propósitos de Deus, são do diabo. Somos, porém, testados e desafiados e devemos obter a salvação na presença do mal. Néfi ensinou: “Porque é necessário que haja uma oposição em todas as coisas” (2 Néfi 2:11). Temos o livre-arbítrio para escolher o que é certo ao invés do que é errado, o bem, ao invés do mal. Só porque o mal existe, não quer dizer que precisamos participar dele. Não podeis fazer o que é errado e vos sentirdes certos.
Os membros de nossa igreja sabem que o fumo, a cerveja e o álcool, em todas as suas formas, foram condenados para o uso do homem pelos médicos e pelo mundo científico, assim como por Deus. As leis civis de controle são, geralmente, fracas e difíceis de aplicar. Com uma compreensão inspirada, o maior controle desses produtos venenosos vem de nosso íntimo.
Embora Steve Young, o famoso zagueiro norte-americano, fosse o único mórmon de sua escola, em Connecticut, ele relatou que seu grupo de amigos não bebia, apesar da grande pressão exercida pelos colegas de classe.
Vós tendes idade suficiente para saber as sérias conseqüências e a cadeia de acontecimentos decorrentes de tomar cerveja e bebidas mais fortes — que levam à ausência de controle mental e, freqüentemente, desastres automobilísticos, perda de respeito e imoralidade sexual.
Algumas jovens têm declarado à mídia que são pressionadas pelos rapazes, para que se envolvam sexualmente, e são até ameaçadas com a impopularidade, se não cooperarem. Certamente elas não se referem a vós, não é?
Vós, rapazes, sois os protetores de vossas irmãs e das jovens com quem tendes amizade. Vosso dever para com elas e para com vós mesmos é ser moralmente limpos e sexualmente puros diante do Senhor. Os filmes e cenas da televisão insinuam que a pureza moral está fora de moda e destoando deste mundo moderno, mas os mandamentos de Deus gravados em tábuas de pedra pelo dedo de Deus não mudaram. O Senhor declarou: “(Não) cometerás adultério”, e mais tarde acrescentou: “Nem farás coisa alguma semelhante.” (D&C 59:6.) Os mandamentos são claros, evidentes e inflexíveis.
Lúcifer é esperto, traiçoeiro, compreende as fraquezas, e assim pode destruir. As emoções e paixões foram dadas por Deus, mas são controláveis.
Meu pai faleceu quando eu tinha apenas nove anos. Enquanto crescia, com freqüência pensei: “O que meu pai pensaria de mim?” ou “Como é que eu poderia desapontar minha mãe?” Ela me ensinava e acreditava em mim. Eu já não era uma criancinha, mas um homem que desabrochava, assim precisava agir de acordo.
O mesmo acontece convosco. Boas pessoas acreditam em vós. Nós acreditamos em vós, vossos pais, irmãos e irmãs acreditam em vós, e Deus espera o máximo de vós. Precisais crer em vós mesmos.
Não desistais, quando as coisas ficarem difíceis, pois estais construindo os alicerces de uma grande obra, e essa grande obra é vossa vida, o cumprimento de vossos sonhos. Nunca subestimeis o que podeis vir a ser, ou o modo como vossos talentos poderão um dia ser usados.
Não me lembro, em meus anos de juventude, de uma ocasião em que tivesse estreado um sapato novo. Geralmente, quando chegavam a mim, já tinham sido bem usados.
Ouvimos dizer que alguns rapazes não apenas pedem um par de sapatos novos para a escola, mas um outro para praticar esportes, e ainda outro para ir à igreja. Não é, porém, qualquer sapato que serve. Eles precisam ter uma etiqueta famosa ou ser de uma marca especial. Suas calças “jeans” precisam ser de marcas famosas. Haveis vós caído na armadilha da pressão de grupo, que exige que tenhais uma certa aparência para serdes incluídos na turma e serdes aceitos, tenham ou não vossos pais meios de atender a essas exigências?
Será que outros estabelecem os vossos padrões — o que vestireis e o que fareis ou não fareis? Rapazes e moças que crêem e que têm padrões e valores, tomam essas decisões por si mesmos e deixam que os outros os sigam. Por que não somos, como santos dos últimos dias — com nossos altos ideais — os exemplos, os líderes da turma, que estabelecem os padrões e os critérios a serem seguidos?
As marcas das roupas e sapatos que usais, e as aparelhagens modernas, provavelmente fora do alcance de vossos pais, não têm absolutamente nada a ver com o que um dia vos tornareis. As ações, o comportamento pessoal e a atitude determinam nosso caráter e nosso futuro.
O mundo precisa de alguém para admirar e imitar — alguém como vós. Certo líder nacional declarou: “Chega uma época em que precisamos tomar uma posição — quando traçamos uma linha na areia e dizemos: “Além dessa linha, não iremos.”
Vossa preparação deve incluir conversão pessoal às verdades do evangelho — saber quem é o Salvador e quem sois vós, e por que ele vos amou o suficiente para fazer o sacrifício expiatório por vós.
Parece difícil? Prometo-vos que podereis sabê-lo, mas só se o desejardes, com humilde oração e estudo cuidadoso das escrituras. O Senhor ensinou: “Examinais as escrituras… que de mim testificam” e “meditai sobre estas coisas por mim faladas” (João 5:39; 3 Néfi 17:3).
Vossa preparação contínua tem a finalidade de vos tornar dignos de receber o Sacerdócio de Melquisedeque, de manter-vos limpos e honrados, orando para receberdes força e coragem para resistir às tentações perniciosas que certamente todo rapaz tem. Se cometerdes um erro, conversai imediatamente com vosso bispo. Não deixeis que os erros vos dominem. Transformai o mau comportamento em bom — e fazei-o agora. Isto se chama arrependimento.
Espero que já tenhais assumido o compromisso, com vós mesmos e com o Pai Celestial, de que cumprireis missão de tempo integral. O Senhor necessita de vosso serviço, e vós necessitais das inumeráveis bênçãos.
O Profeta Joseph Smith, em resposta a uma pergunta a respeito desta notável organização, disse: “Eu lhes ensino princípios corretos, e eles se governam a si mesmos.” Eu vos prometo, jovens portadores do sacerdócio, que se seguirdes o conselho de vos governardes a vós mesmos por meio de princípios corretos — princípios que aprendeis no lar, nas escrituras, com os profetas modernos e o Espírito Santo — vossas decisões serão tomadas com confiança e calma. E mesmo que fortes ventos fustiguem as árvores, vossas raízes estarão profundamente arraigadas no solo.
Sou uma testemunha viva do amor e misericórdia de nosso Eterno Pai Celestial. Ele vive, assim como seu Filho, nosso Salvador. Esta é sua santa obra, o que testifico em nome de Jesus Cristo, amém.