“Fortalecei os Joelhos Enfraquecidos”
“Fortalecemos e edificamos uma pessoa ao indicar-lhe os traços bons, e causamos temor e fraqueza, quando a criticamos indevidamente.”
Existe uma frase usada quatro vezes nas obras-padrão, que sempre me intrigou. É a expressão “joelhos enfraquecidos” Por definição, enfraquecido significa fraco, pouco forte, sem força, facilmente quebrável, frágil.
Quando Frederick G. Williams foi chamado para ser conselheiro de Joseph Smith, recebeu este encargo: “Portanto, sê fiel; permanece no cargo para o qual te designei; socorre aos fracos, ergue as mãos que pendem e fortalece os joelhos enfraquecidos” (D&C 81:5).
Aliada à palavra fortalece, que significa fazer ou tornar-se mais forte, a frase fez com que eu meditasse no significado destas palavras.
De início, presumi que “joelhos enfraquecidos” significava fracos ou exaustos, mas o contexto em Isaías (vide Isaías 35:3-4) sugere que pode ter um significado mais rico, algo mais parecido com temeroso. Pessoalmente estou inclinado a esta última interpretação. Hoje em dia, ouvimos freqüentemente expressões como “de joelhos fracos” ou “joelhos trêmulos” para indicar medo.
Em Doutrina e Convênios 81:5, o versículo poderia ser interpretado como uma recomendação insistente do Senhor a Frederick G. Williams, para que transmitisse força aos fracos (socorre aos fracos), encorajasse os cansados ou desanimados (“ergue as mãos que pendem”), e desse coragem e força aos que tinham os joelhos enfraquecidos e os corações temerosos.
Em março de 1832, quando esta seção foi revelada, os membros da Igreja tinham razão de estar temerosos. Em Hiram, Ohio, onde o Profeta Joseph Smith estava morando, havia uma onda crescente de hostilidade contra os santos. Joseph e Sidney Rigdon foram atacados brutalmente por uma turba de cinqüenta homens.
Atualmente, aqueles que desejam destruir não mais usam piche e pedras; eles ridicularizam e procuram falhas.
Hoje, quase 160 anos depois, não há dúvida em minha mente de que a admoestação para fortalecer os joelhos enfraquecidos é mais oportuna do que nunca.
Quem de nós não teve os joelhos enfraquecidos ou sentiu medo e incerteza diante das responsabilidades desta existência mortal?
Que dizer do pai, por exemplo, que trabalha longas horas para sustentar sua família, e verifica, no fim de cada mês, que sua renda mal dá para as despesas? Não é provável que experimente o medo de que uma despesa imprevista possa ultrapassar o orçamento pouco equilibrado e já apertado da família? Será que ele sente temor de não ter condições de prover adequadamente às necessidades de sua família?
E os pais que se descobrem criando um filho infeliz e inconformado? Será que têm dúvida e temor de não estar proporcionando os conselhos certos, disciplinando corretamente, ensinando as regras corretas? Temem não ser capazes de dar suficiente amor incondicional a seu filho? Será que temem que o filho possa perder-se eternamente, por causa de sua maneira de criá-lo?
E o pai ou mãe que está criando sozinho(a) os filhos? Será que teme ser engolfado(a) pela miríade de responsabilidades, particularmente porque precisa enfrentar esses desafios sozinho(a)?
A impressão é de que ninguém escapa a alguma incerteza, insegurança, dúvida, ou mesmo medo. Esta existência mortal é invariavelmente desafiadora e imprevisível. Uma pessoa honesta, que está familiarizada com as características da vida, nunca pode estar completamente confiante de que a situação em que se encontra não mudará inesperadamente.
Como é que enfrentamos os momentos inevitáveis de temor ou em que nossos “joelhos (estão) enfraquecidos”? É vital que não os enfrentemos sozinhos. É sempre útil e confortador poder confiar em um amigo ou parente amoroso e de confiança, que ouça compreensivamente nossas incertezas. Descobrimos com freqüência que nosso confidente já experimentou temores semelhantes e podemos até partilhar de seus sábios conselhos.
A vida nunca é fácil, e não podemos evitar que nossos próprios joelhos se enfraqueçam de tempos em tempos. É, portanto, essencial que amemos e apoiemos uns aos outros.
Ao procurar meios de fortalecer os amigos e entes queridos que possam estar com os joelhos enfraquecidos, seria bom que examinássemos a nós mesmos. Estão nossos joelhos enfraquecidos, a ponto de, por palavras e ações, nos abaterem e enfraquecerem os nossos semelhantes?
Desejo falar sobre algumas das tendências e tentações atuais que podem fazer com que nossos joelhos se tornem enfraquecidos. Nenhuma delas, por si só, vai causar apostasia, mas, à medida que a conduta persiste, nossos joelhos podem perder a força de que necessitamos para enfrentar as realidades e temores da vida.
Lemos, em Doutrina e Convênios 11:22; “Estuda a minha palavra, que foi enviada aos filhos dos homens.” Em lugar algum somos aconselhados a modificar as doutrinas do evangelho com sugestões pessoais. Nosso ponto de vista é limitado, e nossa força pessoal depende de compreendermos e seguirmos sua palavra.
Alguns podem estar inclinados a estudar a palavra com a idéia de que precisamos acrescentar muito onde o Senhor disse pouco! Aqueles que querem “acrescentar”, bem poderiam ser guiados pela pergunta: Será que meus escritos, comentários, ou observações edificam a fé e fortalecem testemunhos? Muitas vezes poderemos causar confusão e desvio em nossa vida e na de outras pessoas, se incentivarmos o que é chocante e não-convencional. Ôs joelhos enfraquecidos recebem força dos que lideram com fidelidade, em lugar de seguir interpretações pessoais.
Alguns atualmente estão perdendo o reforço que se recebe ao observar o Dia Santificado. Dizem eles: “Domingo é o meu dia de folga. Farei o que bem entender. Posso adorar sem uma programação de reuniões, ou sem contatos significativos com minha família e meu próximo.”
Às vezes, a liberdade e as bênçãos do Dia Santificado se perdem por causa de atitudes que indicam egoísmo e falta de envolvimento pessoal em padrões testados e verdadeiros. Vamos perdendo os Dias Santificados uma hora de cada vez. Vamos perdendo os Dias Santificados um passeio de cada vez.
A controvérsia e a contenda são outros hábitos enfraquecedores. Se Satanás puder ser bem sucedido, criando em nós o costume de discutir, debater e contender, será mais fácil para ele nos enredar em pecados que podem destruir nossa vida eterna. A ira é um mau substituto para o autocontrole e para o serviço de solidariedade.
Ultimamente, todos nós temos visto pessoas que se enfraqueceram, a ponto de cair completamente, quando sacrificaram princípios básicos de honestidade e retidão, para galgar uma escada falsa de realizações. Ninguém atinge um progresso pessoal duradouro, pisando nos outros para subir.
Não é de surpreender que pessoas que contam pequenas mentiras, logo se tornem mentirosos inveterados.
A despeito dos exemplos incontáveis de escândalos em negócios, religiões e governos, a honestidade e a integridade ainda são os ingredientes que fortalecem os joelhos.
Certo treinador do Ginásio Leste de St. Louis, Illinois, nos Estados Unidos, transformou um grupo de rapazes em campeões. Um editor de esportes do jornal St. Louis Post Dispatch, escreveu:
“Esta é uma história em que Hollywood não acreditaria: rapazes crescendo no pior ambiente urbano da América do Norte, lutando pela sobrevivência, ano após ano, sem dinheiro, nem lugar adequado para jogar, somente com um treinador que ainda acredita que o orgulho e o trabalho pesado podem significar alguma coisa.”
O treinador disse aos seus jogadores: “A vida nem sempre é justa, mas ainda podemos exigir o melhor de nós mesmos.”
Ele insistia que todos os seus jogadores, inclusive os astros da equipe, trabalhassem arduamente. Sua equipe ganhou muitos campeonatos.
Em nossa última viagem à Grã-Bretanha, tive a oportunidade de conversar com um rapaz de dezoito anos que se tornara muito amigo de alguns missionários. Como eu ia falar a um grande número de missionários nos próximos dias, perguntei-lhe qual era a característica mais importante que os missionários necessitavam para serem bem sucedidos. Sua resposta foi simples: “Eles precisam saber como trabalhar. Alguns vêm para a missão sem saber como trabalhar.” Minha experiência com o passar dos anos atesta que joelhos enfraquecidos não são conseqüência de trabalho árduo nem de dedicação aos próprios objetivos.
Como observou esse rapaz de dezoito anos, podemos fortalecer os joelhos enfraquecidos dos outros e os nossos próprios, empenhando-nos no trabalho.
Muitos de nós hoje em dia tendemos a procurar força instantânea, prazer instantâneo, aceitação instantânea, alívio instantâneo, respostas instantâneas, mudança instantânea, sucesso instantâneo, conhecimento instantâneo, riqueza instantânea, menosprezando o esforço e o trabalho diário. Ficamos desencorajados e com os joelhos mais enfraquecidos ainda, se as metas não são alcançadas imediatamente. O trabalho é um padrão necessário na vida sólida.
Ouvimos com freqüência: “Sede um farol, não um juiz”, mas assumimos o direito de apontar imperfeições nos outros e de insistir em nossas próprias fraquezas. A crítica constante pode desgastar uma pessoa e enfraquecer-lhe os joelhos. Observando intimamente os familiares, amigos e líderes, está claro que veremos suas limitações humanas.
Uma fábula antiga, que é uma de minhas favoritas há anos, conta esta história:
Certo erudito japonês falava todas as noites com os trabalhadores de uma fábrica. Uma noite, ele disse aos homens que lhes traria algo de belo na manhã seguinte. Um dos homens pediu-lhe que trouxesse uma rosa; outro pediu-lhe um ramo; e o terceiro um lírio. No outro dia, entregou-lhes a rosa, o ramo e o lírio.
“Há um espinho na rosa”, disse o primeiro homem. O segundo reclamou: “Há uma folha morta no ramo.” “Existe um torrão de lodo no lírio”, disse o terceiro.
O erudito recolheu todos os seus presentes e comentou: “Tinhas uma bela rosa e viste somente o espinho; tinhas um belo ramo verde e viste apenas a folha morta; e, no glorioso lírio, viste apenas o torrão de lodo.”
Cada um de nós pode ter um espinho no caráter, uma folha morta pendendo da reputação, ou um torrão de lodo no passado. Se nos apegarmos aos erros passados, certamente nos tornaremos fracos e inseguros.
Quando apontamos falhas ou erros alheios, não estamos, de modo algum fortalecendo joelhos enfraquecidos nem erguendo mãos que pendem.
William James escreveu: “A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar” (Familiar Quotations, ed. John Bartlett, Boston: Little, Brown and Co., 1980, p. 649).
Joseph Smith disse: “Eu lhes afirmei ser apenas um homem, e que não deveriam esperar que eu fosse perfeito; se esperassem perfeição de mim, eu deveria esperá-la deles; mas, se eles suportassem minhas fraquezas e as fraquezas dos irmãos, da mesma forma eu suportaria as fraquezas deles.” (History of the Church, 5:181.) Como estamos longe dos tempos em que se costumava dizer: “Economize a vara e estrague a criança.” Hoje em dia, tanto no mundo dos negócios como no lar, somos encorajados a prestar atenção ao que-as pessoas fazem de bom e elogiá-las por isso.
Fortalecemos e edificamos uma pessoa ao indicar-lhe os traços bons, e causamos temor e fraqueza, quando a criticamos indevidamente. Concordo que tato é apagar os erros das outras pessoas, em vez de acentuá-los.
Certa escritura diz isto desta forma: “Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias e toda a malícia seja tirada de entre vós.
Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios, 4:31-32).
O Profeta Joseph Smith disse: “A mão do ímpio não poderá obstar o progresso da obra; a perseguição poderá aumentar, o populacho poderá agir em combinação, inimigos unir-se, propagando calúnias, mas a verdade de Deus irá avante com grande ímpeto, com nobreza e independência, até que tenha penetrado em todos os continentes, visitado todo clima, varrido todo país e soado em todos os ouvidos; até que os propósitos de Deus sejam realizados, e o grande Jeová possa afirmar que o trabalho está consumado.” (History of the Church, 4:540; também em A Liahona, junho de 1983.)
Com este tipo de declaração de um profeta de Deus, que joelhos precisam continuar enfraquecidos?
Que Deus possa ajudar-nos a fortalecer os joelhos enfraquecidos, os nossos e os daqueles que nos cercam, por meio do aperfeiçoamento diário de nossas atitudes e exemplos, oro em nome de Jesus Cristo, amém.