Gratidão pela Bondade de Deus
“De um modo silencioso, a demonstração e os sentimentos de gratidão têm uma natureza purificadora ou sanadora maravilhosa.”
Há alguns meses, passei por uma experiência que quase me levou ao fim da existência mortal. Como é do conhecimento da maioria, sofri um ataque cardíaco no mês de agosto último. Pude sentir em minha cura o poder da oração de muitos. Sempre serei grato por isso. Obrigado por vossas orações e por vossa preocupação. Vossa bondade elevou-me o espírito e contribuiu para o processo de restabelecimento. Fui grandemente abençoado com saúde e vigor.
Durante essa experiência, um sentimento especial desabrochou em mim, quase que instantaneamente, intensificando-se com o passar do tempo e ganhando dimensões ainda maiores durante o processo de minha enfermidade e restabelecimento. E continua comigo. Um sentimento de profunda gratidão pela bondade de Deus tomou conta do meu ser.
Minha maior gratidão é pelo sacrifício expiatório de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O sacrifício expiatório é o alicerce de todas as verdades do evangelho.
O Salvador nos disse:
“Vim ao mundo para fazer a vontade do Pai, porque ele me enviou. E o Pai me enviou para que eu fosse levantado sobre a cruz.” (3 Néfi 27:13–14.)
O Profeta Joseph Smith registrou o seguinte:
“Que ele veio ao mundo, Jesus mesmo, para ser crucificado por ele, para carregar os pecados do mundo, e para santificá-lo e purificá-lo de toda a iniqüidade;
Para que por intermédio dele todos pudessem ser salvos.” (D&C 76:41–42.)
Presto-vos testemunho, com toda gratidão pelo conhecimento de que nosso Salvador vive, de que ele ressuscitou, de que, por meio do sacrifício expiatório toda a humanidade pode ser redimida e salva — de que todos ressuscitaremos. Sou grato por esse conhecimento.
O Senhor disse: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). A obediência às leis, ordenanças e mandamentos é a maior demonstração de nosso amor e gratidão a ele.
A gratidão também é a base para o arrependimento.
O sacrifício expiatório trouxe a misericórdia mediante o arrependimento, para contrapor-se à justiça. Sou imensamente grato pela doutrina do arrependimento, que é essencial para a salvação. Somos mortais — não somos perfeitos — cometemos erros. Quando erramos e não nos arrependemos, sofremos.
O profeta Mórmon nos contou que viu pessoas se lamentando, pensando que era arrependimento; mas ele disse: “Mas eis que esta minha alegria foi vã, porque suas tristezas não representavam arrependimento perante á bondade de Deus; ao contrário, eram mais o lamento dos condenados porque o Senhor não lhes havia permitido deleitar-se sempre no pecado”. (Mórmon 2:13; grifo nosso.)
Mórmon nos ensina que o pecado sempre trará sofrimento e pesar, mas arrepender-nos somente porque nos sentimos mal a respeito do que fizemos, porque sofremos ou porque estamos pesarosos, não significa que compreendemos a bondade de Deus.
O que eu gostaria de ressaltar é que, ao expressarmos gratidão a Deus e a seu Filho, Jesus Cristo, estamos baseando nossa fé e arrependimento em seu perdão e bondade.
Quão grato sou pelas escrituras que nos mostram como Jesus expressava gratidão ao Pai Celestial.
Na Última Ceia, “o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão,
E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós”. (I Coríntios 11:23–24; grifo nosso.)
“E tomando o cálice, e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele.” (Marcos 14:23; grifo nosso.)
Assim como o Salvador, é importante que nós nos preparemos para dar graças pelo sacrifício expiatório, ao participarmos do sacramento cada semana.
A história de Lázaro tem grande significado para mim ao ponderar a bondade de Jesus.
Maria dirigiu-se a Jesus. Seu irmão, Lázaro, morrera. Jesus a viu chorar, e também choravam os judeus que com ela estavam. Jesus, com grande compaixão, “moveu-se muito em espírito, e perturbou-se”. (João 11:33.) E perguntou: “Onde o pusestes”? (Vers. 34.) “Jesus chorou”. (Vers. 35.)
“Tiraram pois a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. (Vers. 41; grifo nosso.)
E então ordenou a Lázaro que se levantasse dentre os mortos. (Vide vers. 43.)
Não deveríamos lembrar-nos de dar graças ao Pai Celestial, antes de pedir-lhe ajuda para resolver nossos problemas?
Em João 6:5–14 há um belo relato sobre Jesus, os cinco pães e os dois peixes:
“E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos.” (João 6:11; grifo nosso.)
Em outra ocasião, os discípulos de Jesus oraram fervorosamente pelo Espírito Santo. E quando estavam cheios do Espírito Santo, Jesus, “inclinando-se por terra, disse:
Pai, graças te dou por teres dado o Espírito Santo a estes que escolhi; e é por terem crido em mim que os escolhi dentre o mundo.
Pai, rogo-te que dês o Espírito Santo a todos os que crerem em suas palavras”. (3 Néfi 19:20–21; grifo nosso.)
A oração é essencial para expressarmos gratidão ao Pai Celestial. Ele espera que expressemos gratidão, pela manhã e à noite, em orações sinceras, simples, vindas do coração, pelas inúmeras bênçãos, dons e talentos.
Ao agradecermos fervorosamente, demonstramos nossa dependência de uma fonte mais elevada de sabedoria e conhecimento — Deus, o Pai, e seu Filho, o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Fomos ensinados a “(render) diariamente graças”. (Alma 34:38.)
“Ó, quanto mais não deveis agradecer a vosso Rei Celestial!” ensinou o rei Benjamim. (Mosiah 2:19.)
Com o passar dos anos, a gratidão que sinto por meus pais é cada vez maior. Eles viveram o evangelho, estudaram as escrituras e prestaram testemunho de Deus, o Pai, e seu Filho Jesus Cristo. Também prestaram testemunho do Profeta Joseph Smith.
Foi por intermédio de seus ensinamentos e exemplos que, ainda pequeno, obtive o conhecimento absoluto da existência da vida eterna e de nosso objetivo de voltar com honra, como família, à presença do Pai Celestial.
Uma das lições que meu pai me ensinou foi a gratidão pelas Autoridades Gerais. Há alguns anos, meu pai, na época com mais de oitenta anos, esperava a visita de um membro do Quorum dos Doze Apóstolos num dia de inverno e de muita neve. Meu pai era artista e havia pintado um quadro da casa do apóstolo. Ao invés de esperar que o quadro lhe fosse entregue, esse amável apóstolo preferiu ir buscá-lo e agradecer pessoalmente. Sabendo que meu pai deveria estar interessado em que tudo estivesse em ordem para receber a visita, fui a sua casa. Por causa da nevasca, as máquinas que haviam limpado as ruas provocaram um acúmulo de neve nas calçadas. Meu pai trabalhara duramente com uma pá, para retirar o monte de neve da frente do portão. Voltara para dentro de casa exausto e dolorido. Quando cheguei, encontrei-o com dores no peito devido ao esforço e preocupação excessivos. Minha primeira reação foi falar-lhe sobre sua imprudência. Não sabia quais seriam as conseqüências daquele esforço físico?
“Robert”, disse ele, entre um fôlego e outro, “você não percebe que um apóstolo do Senhor Jesus Cristo virá a minha casa? A entrada deve estar limpa. Não vou permitir que ele atravesse uma montanha de neve”. Ele levantou a mão e disse: “Oh, Robert, jamais se esqueça do privilégio que temos de conhecer e servir os apóstolos do Senhor.”
Sou grato pela oportunidade de servir com os ungidos do Senhor e de prestar testemunho daqueles que foram chamados para nos guiar como profetas, videntes e reveladores nesta dispensação.
Também sou grato pelos conselheiros que servem comigo, pelos Setenta e pela fidelidade de todos os líderes do sacerdócio e das auxiliares em toda a Igreja. Sou grato pelo exemplo de amor de meu pai e pela diligência de minha mãe. Com mais de oitenta anos, ele nos disse que estava prestes a nos deixar e encontrar-se com minha mãe, já falecida, e que desejava que vivêssemos dignamente para nos reunirmos no céu e tornarmo-nos uma família eterna. Nós, seus filhos, somos gratos por esses ensinamentos.
Sou grato pela mãe que tive, dedicada ao marido e aos filhos — que ensinava pelo exemplo. Sou grato pelo serviço que devotou à Sociedade de Socorro por mais de trinta anos. Depois de obter minha carta de motorista, aos dezesseis anos, tive o privilégio de aprender uma lição com ela, quando a acompanhei ao ir, com o bispo, cuidar dos pobres e necessitados.
Sou grato por meu irmão e minha irmã, que amam ao Senhor e permaneceram fiéis. Expresso-lhes meu amor, por seus cuidados comigo durante estas seis décadas.
Amo minha querida companheira, Mary, meus dois filhos, Steven e David e suas famílias. Gostaria de agradecer-lhes por toda a alegria que me têm proporcionado. Um colega, há alguns anos, disse-me que o maior bem que eu possuía era minha querida esposa, Mary. Expresso publicamente gratidão a ela pelo que significa em minha vida.
Vós, que sois abençoados por terdes vossos companheiros, mães, pais, irmãos e irmãs, filhos e filhas convosco nesta existência, por favor, expressai-lhes amor e gratidão enquanto é possível fazê-lo deste lado do véu.
Lembremo-nos de agradecer ao Pai Celestial pelas bênçãos e dádivas que nos tem dado.
“E em Espírito deveis render graças a Deus por todas as bênçãos com que sois abençoados.” (D&C 46:32.)
“E todos estes dons vêm de Deus, para o benefício dos filhos de Deus.”(D&C 46:26.)
Como Bispo Presidente, sou grato aos membros desta Igreja, que prontamente doam tempo, bens e talentos por meio de dízimos e ofertas, e também de serviço de solidariedade. Que maravilhoso exemplo dão aos filhos e ao próximo. Deveríamos render graças pela juventude desta Igreja e por sua fidelidade. Essa é verdadeiramente uma geração real, que se prepara e prepara os filhos e netos para a segunda vinda de Jesus Cristo.
Gratidão é um estado de apreciação, uma ação de graças, que nos faz humildes por reconhecermos a bondade, o serviço ou a preocupação de alguém, que nos eleva e fortalece.
Ingratidão é não termos consciência e não reconhecermos quando alguém nos socorre ou ajuda, e, ainda pior, quando sabemos que fomos auxiliados e não agradecemos em particular ou publicamente.
De um modo silencioso, a demonstração e os sentimentos de gratidão têm uma natureza purificadora ou sanadora maravilhosa. A gratidão aquece o coração de quem a expressa e de quem a recebe.
Ao expressarmos gratidão ao Pai Celestial em oração, por tudo que temos, sentimos uma paz — tranqüilizadora — uma paz que nos permite não corroer a alma pelo que não temos. A gratidão nos proporciona uma paz que nos ajuda a sobrepujar a dor da adversidade e do insucesso. Gratidão, dia após dia, significa reconhecer o que temos hoje, sem pensar no que tínhamos no passado ou desejamos ter no futuro. Ao reconhecermos e apreciarmos as dádivas e os talentos que nos foram dados, também reconhecemos a necessidade da ajuda proveniente dos dons e talentos que outros possuem.
A gratidão é um princípio divino:
“Em todas as coisas renderás graças ao Senhor teu Deus.” (D&C 59:7.)
Esta escritura nos ensina que devemos agradecer por tudo que acontece em nossa vida, não só pelas coisas boas, mas também pela oposição e pelos desafios que aumentam nossa experiência e fé. Confiamos a vida nas mãos de Deus, compreendendo que tudo que acontece é para nossa experiência.
Nas orações, quando dissermos: “Seja feita a tua vontade”, estaremos realmente expressando fé, gratidão, e reconhecimento de que aceitaremos o que quer que aconteça em nossa vida.
Que sejamos verdadeiramente gratos pela bondade de Deus, por todas as bênçãos que ele nos concede, e que possamos expressar essa gratidão nas orações ao Pai Celestial, é minha oração, em nome de Jesus Cristo, amém.