2002
A Oração como Corda Salva-Vidas
Julho de 2002


A Oração como Corda Salva-Vidas

Cada um de nós tem problemas que não podem ser solucionados e fraquezas que não podemos sobrepujar sem chegarmos, por meio da oração, a uma fonte de força superior.

Presto testemunho nesta manhã a respeito da importância da oração. Ter acesso ao nosso Criador por intermédio de nosso Salvador é certamente um dos grandes privilégios e bênçãos de nossa vida. Aprendi, devido a inúmeras experiências, que grande é o poder da oração. Nenhuma autoridade terrena pode nos impedir de entrarmos em contato direto com nosso Criador. Jamais ocorrerá uma falha mecânica ou eletrônica quando oramos. Não existe limite no número de vezes em que podemos orar nem na duração dessas orações a cada dia. Não existe uma cota estabelecida para quantas necessidades podemos indicar em nossas orações todos os dias. Não precisamos passar por uma secretária nem marcar hora para chegarmos ao trono da graça. Podemos nos comunicar com Ele em qualquer hora ou lugar.

Quando Deus colocou o homem sobre a Terra, a oração tornou-se a corda salva-vidas entre a humanidade e Deus. Assim, na geração de Adão, os homens começaram a “invocar o nome do Senhor”.1 Através de todas as gerações desde aquela época, a oração tem suprido uma necessidade humana de grande importância. Cada um de nós tem problemas que não podem ser solucionados e fraquezas que não podemos sobrepujar sem chegarmos, por meio da oração, a uma fonte de força superior. Essa fonte é o Deus no céu a quem oramos em nome de Jesus Cristo.2 Ao orarmos devemos pensar que nosso Pai no céu possui todo conhecimento, entendimento, amor e compaixão.

O que é a oração? O Salvador deu-nos um exemplo no Pai Nosso quando orou: “Pai nosso, que estás no céus, santificado seja o teu nome;

Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;

O pão nosso da cada dia nos dá hoje;

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;

E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.”3

Primeiro, a oração é uma humilde admissão de que Deus é nosso Pai e que o Senhor Jesus Cristo é nosso Salvador e Redentor. Segundo, é uma confissão sincera do pecado e da transgressão e um pedido de perdão. Terceiro, é o reconhecimento de que precisamos de uma ajuda superior à nossa própria capacidade. Quarto, é uma oportunidade de dar graças e expressar gratidão ao nosso Criador. É importante que digamos, com freqüência: “Agradecemos (…)” “Reconhecemos que tudo provém de Ti (…) “Somos gratos a Ti (…)” Quinto, é um privilégio pedir bênçãos específicas à Deidade.

Muitas orações são proferidas quando estamos de joelhos. O Salvador ajoelhou-Se ao orar ao Pai no Jardim do Getsêmani.4 Mas silenciosas orações do coração também chegam ao céu. Nós cantamos: “A oração é o desejo sincero do coração, quer proferida quer silente”5. Orações sinceras vêm do coração. De fato, a sinceridade requer que busquemos os sentimentos mais verdadeiros de nosso coração quando oramos, em lugar de usar vãs repetições ou exibições artificiais como aquelas condenadas pelo Salvador na parábola do fariseu e do publicano.6 Nossas orações então serão como o “canto do coração” e “uma prece”7, não apenas chegando a Deus, mas tocando também o coração de outros.

Jeremias aconselha-nos a orar de todo nosso coração e alma.8 Enos narrou como sua alma estava faminta e como ele orarara o dia todo9 As orações variam de intensidade. Até mesmo o Salvador “[orou] mais intensamente” em Seu momento de agonia.10 Algumas orações são simples expressões de gratidão e pedidos para que as bênçãos continuem a ser recebidas por nossos entes queridos e por nós. Contudo, em períodos de grande dor ou necessidade pessoal, talvez seja exigido mais do que simplesmente pedir. O Senhor disse: “(…) supuseste que eu o concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me”.11 Algumas vezes, ao buscarmos bênçãos por meio da oração, é necessário trabalho, esforço e diligência de nossa parte.

Por exemplo, em certas ocasiões o jejum é adequado como forte evidência de nossa sinceridade. Como Alma testificou ao povo de Zaraenla: “(…) Eis que jejuei e orei durante muitos dias, a fim de saber estas coisas por mim mesmo. E agora sei por mim mesmo que são verdadeiras, porque o Senhor Deus mas revelou por seu Santo Espírito (…)”.12 Quando jejuamos, tornamos nossa alma mais humilde,13 o que nos coloca mais em sintonia com Deus e com Seus propósitos sagrados.

Somos privilegiados por orar diariamente pelas grandes e pelas pequenas preocupações de nossa vida. Considerem as palavras de Amuleque, que nos advertiu a orar em nossos campos e por nossos rebanhos; em nossa casa, tanto de manhã como ao meio-dia e à noite; a orar contra o poder de nossos inimigos e do diabo; a clamar a Ele por nossas colheitas; abrir nossa alma em nossos aposentos e em nossos desertos. Quando não estivermos clamando diretamente a Deus, devemos deixar que nosso coração se volte continuamente para Ele em oração.14

O conselho de Amuleque aplicado hoje em dia pode ser a oração profundamente preocupada de uma esposa: “Abenções Jason e protegei-o enquanto ele serve nosso país nessa época de guerra”. A oração de uma mãe: “Por favor, abençoa minha querida Jane para que ela tome as decisões corretas”. A oração de um pai: “Pai Celestial, por favor, abençoe o Johnny em seu trabalho como missionário, para que as portas se abram para ele, para que ele encontre o honesto de coração”. A oração simples e básica de uma criança: “que eu não seja traquinas hoje” ou “que todo mundo tenha muita coisa para comer” ou “que mamãe fique boa logo”. Essas são orações sublimes que ressoam nas mansões eternas no céu. Deus conhece suas necessidades melhor do que podemos indicá-las,15 mas Ele quer que nos acheguemos a Ele com fé para pedir bênçãos, segurança e consolo.

Já mencionei anteriormente uma experiência que tive no exército durante a Segunda Guerra Mundial. Apresso-me a dizer que não fui nenhum herói. Mas cumpri meu dever. Perseverei e sobrevivi. Fui designado para o navio cargueiro britânico que iria de São Francisco até Suez. Fiquei no navio durante 83 dias, com exceção de uma breve escala em Auckland, Nova Zelândia. Eu era o único homem de nossa religião a bordo. Aos domingos eu ia para a parte dianteira do navio com meu pequeno conjunto de escrituras e hinário preparados para os soldados. Em meio ao barulho muito forte do vento, eu lia as escrituras, orava e cantava sozinho. Nunca tentei fazer qualquer barganha com o Senhor, mas orava fervorosamente dizendo a Ele que se eu sobrevivesse à guerra e voltasse para minha esposa e família, eu tentaria sinceramente permanecer fiel aos convênios sagrados que fizera no batismo, ao juramento e convênio do sacerdócio e aos meus convênios do templo.

Como parte de nossos deveres, nosso pequeno navio cargueiro recebeu ordens para rebocar um petroleiro incendiado até Auckland, Nova Zelândia. O petroleiro não tinha propulsão e vagava indefeso no oceano. Embora nunca os víssemos, sabíamos que submarinos inimigos estavam à espreita. Enquanto rebocávamos o navio fomos pegos por uma tempestade terrível que de acordo com o que ficamos sabendo depois, afundara muitos barcos. Devido à carga que estávamos rebocando, não tínhamos impulso suficiente para atravessar as ondas gigantes com a proa então nosso navio era atirado lateralmente na depressão formada entre as ondas violentas. Ele tremia, rangia e pendia de um lado para outro, correndo o risco de emborcar a cada vez. Sou grato pela influência sustentadora e pelo consolo que minhas orações traziam naquela ocasião e em outros momentos de perigo desde aquela época.

O Salvador nos disse: “Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados”.16 Em nossa época, a Igreja nos insta a que tenhamos uma oração em família todas as noites e todas as manhãs.

Certa vez ouvi uma professora da Primária perguntando a um garotinho se ele orava todas as noites.

“Sim”, foi a resposta do garoto.

“E você ora pela manhã também?” perguntou a professora da Primária.

“Não”, respondeu o menino. “‘Num’ sinto medo durante o dia”.17

Medo do escuro não deveria ser a única motivação para orarmos — seja pela manhã ou pela noite.

A oração familiar é uma influência marcante e que sustém. Durante os dias negros da Segunda Guerra Mundial, uma bomba de mais de 500 libras caira do lado de fora da pequena casa do irmão Patey, um jovem pai de Liverpool, Inglaterra, mas a bomba não havia explodido. Sua esposa falecera e ele criava os cinco filhos sozinho. Ele reuniu a todos nesse momento de grande ansiedade para fazerem a oração familiar. Eles “todos oraram (…) sinceramente e quando acabaram de orar, as crianças disseram: “Papai, vai ficar tudo bem. Estaremos seguros em nossa casa esta noite”.

Assim foram para a cama, com aquela bomba terrível bem ali do lado de fora , meio submersa no solo. Se ela tivesse explodido teria destruído provavelmente quarenta ou cinqüenta casas e matado duzentas ou trezentas pessoas (…)

Na manhã seguinte (…) toda a vizinhança foi retirada por um prazo de quarenta e oito horas e a bomba foi finalmente removida (…)

Ao retornarem, o irmão Patey perguntou ao líder do Esquadrão de Prevenção a Ataques Aéreos: ‘Bem, o que encontrou?’

“Sr. Patey, quando chegamos até a bomba que estava do lado de fora de sua casa descobrimos que poderia explodir a qualquer momento. Não havia nada de errado com ela. Ficamos intrigados por ela não ter explodido’”.18 Coisas milagrosas acontecem quando as famílias oram juntas.

O Salvador aconselhou-nos a orarmos por aqueles que nos menosprezam.19 Esse princípio é freqüentemente ignorado em nossas orações. O Profeta Joseph Smith entendia isso claramente. Suas petições eram fervorosas, seus motivos puros, e as bênçãos do céu, regulares. Daniel Tyler, um amigo do Profeta, recordava-se de uma ocasião importante: “Na ocasião em que William Smith e outros se rebelaram contra o Profeta em Kirtland, eu estava na reunião (…) em que Joseph presidia. Ao entrar no prédio da escola pouco antes do início da reunião e observando o homem de Deus, notei tristeza em seu semblante e lágrimas escorrendo-lhe pelas faces. Momentos depois foi cantado um hino e ele iniciou a reunião com uma oração. Em lugar de se voltar para a congregação, ajoelhou-se de frente para a parede. Isso, eu suponho, foi para esconder a tristeza e as lágrimas.

Já ouvira homens e mulheres orarem—especialmente os primeiros—desde o mais ignorante, tanto nas letras quanto ao intelecto, até o mais culto e eloqüente. Mas jamais até então ouvira um homem dirigir-se ao seu Criador como se Ele estivesse presente ouvindo, como um pai bondoso ouve os lamentos de um filho obediente. Joseph era na época inculto, mas aquela oração, que fora em grande parte por aqueles que o acusavam de se haver desviado e caído em pecado, a fim de que o Senhor os perdoasse e lhes abrisse os olhos, para que enxergassem da forma correta. Aquela oração, eu suponho, em minha mente humilde, partilhou do saber e da eloqüência do céu. Ele não demonstrou ostentação, nem elevou a voz em sinal de entusiasmo, mas usou um tom simples como que conversando, como um homem fala a um amigo que esteja diante de si. Pareceu-me, que se o véu fosse retirado, eu poderia ver o Senhor diante do mais humilde dentre Seus servos que eu já vi. Foi a maior de todas as orações que eu jamais ouvi”.20

Ao aproximar-se a hora da morte e ressurreição do Salvador, Ele ofereceu Sua grande oração intercessória. Depois de recomendar Seus apóstolos ao Pai e orar por eles, Ele então orou por todos aqueles que acreditariam Nele por intermédio da palavra desses apóstolos e rogou ao Pai por todos nós. Ele orou para que pudéssemos ser um como Ele é um com o Pai, e que o mundo acreditasse que o Pai O enviara.21

Nenhuma oração foi tão comovente como a que foi proferida pelo próprio Salvador no Jardim do Getsêmani. Ele afastou-Se de Seus apóstolos, ajoelhou-Se e orou: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua”.22 Um elemento importante em todas as nossas orações seria seguir o padrão daquela oração no Getsêmani: “não se faça a minha vontade, mas a tua”. Dessa forma admitimos nossa devoção e submissão aos propósitos superiores do Senhor em nossa vida. Como Ele disse: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”.23 Que dia glorioso, para cada um de nós, será aquele em que oraremos com a confiança de que “se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve”.24

Espero sinceramente que ao fazermos nossas orações diárias, lembremo-nos de pedir que as bênçãos do Senhor continuem a repousar sobre nosso líder amado, o Presidente Gordon B. Hinckley. Ninguém sabe totalmente, nem mesmo seus conselheiros, do peso que têm seus fardos e quão grande é sua responsabilidade. Testifico isso em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Gên. 4:26.

  2. 2 Né. 32:9; 3 Né. 20:31.

  3. Mat. 6:9–13.

  4. Lucas 22:41.

  5. Hinos, nº 82 [tradução livre].

  6. Ver Lucas 18:10–14.

  7. D&C 25:12.

  8. Jeremias 29:13.

  9. Enos 1:4.

  10. Lucas 22:44.

  11. D&C 9:7.

  12. Alma 5:46.

  13. Salmos 35:13.

  14. Ver Alma 34:20–27.

  15. Mat. 6:8.

  16. 3 Né. 18:21.

  17. Adaptado de Tal D. Bonham, The Treasury of Clean Church Jokes [“O Tesouro de Piadas Limpas para a Igreja”], conforme citado em Holy Humor [Humor Santo], comp. por Cal e Rose Samra, p. 23.

  18. Andre K. Anastasiou, Conference Report, out. 1946, p. 26.

  19. Mat. 5:44.

  20. The Juvenile Instructor, fev. 1892, vol. 27, pp. 127–128.

  21. João 17:21.

  22. Lucas 22:41–42.

  23. João 15:7.

  24. I João 5:14.