“Chame-me de Irmão”
Era abril e o sol da manhã cintilava em cada partícula do prédio grande e moderno. O prédio era de cor creme e ficava no meio de um gramado verdinho, parecia uma escola. Passamos pela porta carregando alguns catálogos de limpeza de tapetes.
Erika, minha noiva, estava ajudando-me nas visitas comerciais: estávamos tentando conseguir novos clientes para a companhia que eu representava. Nossos sapatos já estavam gastos de tanto caminhar e os nossos passos iam produzindo estalidos de encontro ao piso vermelho. Enquanto andávamos pelo corredor, percebemos que o prédio era uma igreja. Prosseguimos com cuidado porque não sabíamos que comportamento seria considerado adequado nesse lugar.
Fiquei imaginando se essa igreja teria tapetes vermelhos como os que eu já vira em casamentos, mas tudo no prédio era simples e, ainda assim, elegante.
Um grupo de crianças e jovens cumprimentou-nos amigavelmente e Erika perguntou-lhes com quem deveríamos falar.
“Robert Vázquez”, respondeu um menininho. “Deixe que eu vou chamar.”
Olhei para Erika e disse-lhe baixinho que se tentassem nos converter diríamos que tínhamos outro compromisso e escaparíamos para a casa dela.
Eu estava perfeitamente satisfeito com a religião de minha família. Apesar de não ser muito praticante, também não era nenhuma ovelha negra. Era uma daquelas ovelhinhas que vão à Igreja às vezes, mais assiduamente em certas épocas do que em outras. Contudo, os sermões, o estudo da Bíblia e as lições morais me convenceram da existência de um Pai Celestial que nos ama, de Seu Filho Jesus Cristo, que expiara nossos pecados, e do Espírito Santo. Eu aprendera os mandamentos e ritos religiosos e sabia que, sendo mortais, somos incontestavelmente imperfeitos.
Opunha-me à compra de indulgências, idolatria e a todas as outras superstições ou preceitos que não fossem alicerçados no amor e na justiça divinos. Aprendera a orar e adorar a Deus diretamente, sem a interseção de santos. Acreditava no amor, na humildade e no serviço, que é perigoso julgar os outros e que o perdão é um bálsamo. Sabia que muitos membros de minha igreja eram virtuosos, íntegros e exemplares. A idéia de mudar de religião parecia-me praticamente impossível.
Andando de mãos dadas com Erika, cheguei ao que parecia ser uma sala de aulas. Foi ali que conheci o sr. Vázquez.
“Como devo tratá-lo? Padre, reverendo ou pastor?” perguntei.
“Chame-me de irmão”, respondeu ele. Ele nos convidou para ir às reuniões religiosas do dia seguinte em sua companhia e, quando dei por mim, já estava aceitando o convite.
No dia seguinte, Erika e eu fomos à Escola Dominical. Ouvimos pela primeira vez nomes como Néfi, Morôni e Helamã. Parecia que estávamos em outro país sem intérprete. Entretanto, tanto Erika como eu sentimos que havia algo familiar nas idéias que escutamos. Pareciam-se com as da Bíblia e, sendo assim, tive coragem de levantar a mão, ficar de pé e dizer que Jesus Cristo era nosso exemplo supremo de humildade porque sempre obedecera à vontade do Pai. O irmão Jorge Montoya, que era o professor, concordou comigo, e eu fiquei espantado. Que igreja era essa em que até um herege (eu supunha que os membros da Igreja me considerassem herege) podia falar e em que o professor concordava com ele?
Por isso continuamos freqüentando. Ganhei o Livro de Mórmon e li-o em uma semana. Recebi um testemunho, participei das palestras dos missionários e, no dia 3 de maio de 1996, fui batizado e confirmado.
No dia seguinte, parecia que eu estava andando nas nuvens. Estava tão contente que interrompi o que estava fazendo para ajudar estranhos.
No mês seguinte, Erika e eu nos casamos e, no dia 29 de setembro, tive o privilégio de batizá-la. Um ano depois, fomos selados no templo da Cidade do México.
O melhor é que nunca tive a sensação de estar abandonando o que já seguia em minha antiga religião. A Igreja verdadeira de Jesus Cristo aceitou e aperfeiçoou o que eu já sabia. Minha conversão foi como passar da luz de um dia nublado para a luz mais forte de um dia de sol… foi como se alguém desse a partida no motor de um barco que eu estivesse remando.
Percebi que há muitas pessoas íntegras, boas e virtuosas em outras religiões e que, apesar de não terem a companhia constante do Espírito Santo, recebem a Luz de Cristo. Mesmo assim, pergunto-me o que poderíamos fazer para ajudar essa boa gente a ver que quando temos a luz resplandecente de Jesus Cristo as lanternas, lâmpadas e velas das outras religiões não bastam. Não existe verdade maior do que a verdade pura e a verdade pura aceita e aperfeiçoa as crenças verdadeiras de toda a boa gente do mundo.
Sei agora que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a única Igreja em que se encontra a plenitude da verdade. Sei também que Jesus Cristo está de braços abertos e que as portas de Sua casa estão abertas para receber todos os que queiram segui-Lo.
Naquela manhã de abril não consegui nenhum cliente para o serviço de limpeza de tapetes. Na verdade, nenhum membro da Igreja nunca me contratou para limpar nem sequer um metro quadrado de carpete, mas tenho certeza de que nesse dia ganhei mais, mil vezes mais, do que imaginara.
José Bataller Sala é membro da Ala Ermita, Estaca Cidade do México, México.