Ensinar como o Salvador Ensinou
O Salvador usou perguntas que estimulam nossa memória, raciocínio e emoções. Podemos fazer o mesmo.
“Portanto, que tipo de homens devereis ser? Em verdade vos digo que devereis ser como eu sou.” (3 Néfi 27:27) Esse convite do Salvador para que nos tornemos como Ele é, abrange todos os aspectos de nossa vida, inclusive nossa responsabilidade como professores do evangelho. Podemos aprender como nos tornar melhores professores não apenas com Seus preceitos mas também com a maneira que Ele ensinou.
O Salvador usou diversas abordagens para tocar a vida das pessoas a Seu redor. Observem, por exemplo, a maneira que Ele fazia perguntas. Entre as perguntas que o Salvador fazia, havia aquelas que testavam a memória dos ouvintes, as que visavam estimular o raciocínio e as dirigidas aos sentimentos de Seus seguidores.
Perguntas que Testam a Memória
Em certa ocasião, um doutor e intérprete da lei perguntou ao Senhor o que devia fazer para herdar a vida eterna. O Salvador respondeu com outra pergunta, dizendo: “Que está escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10:26)
A resposta se encontrava na memória do doutor da lei. Depois que ele respondeu corretamente, o Salvador fortaleceu o indivíduo, dizendo: “Respondeste bem; faze isso, e viverás”. (Lucas 10:28)
Em outra ocasião, “passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer”. (Mateus 12:1) Os fariseus, então, disseram que os Seus discípulos estavam violando a lei do Sábado. O Salvador respondeu com perguntas dirigidas à memória dos fariseus:
“Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?
Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes?” (Mateus 12:3–4)
As perguntas que avivam a memória das pessoas são provavelmente as que consideraremos mais fáceis de utilizar. Essas perguntas tendem a mostrar até que ponto os alunos conhecem a letra da lei. Quando eu era um membro novo e jovem, eu achava que esse era o tipo de perguntas que os professores precisavam fazer. Por isso, procurei adquirir algum conhecimento dos eventos históricos: nomes, datas, lugares, etc. Foi bom fazer isso, porque a maioria das perguntas que ouvimos na escola e na Igreja são perguntas do tipo memória, que visam dar aos alunos uma oportunidade de participar da aula. São boas perguntas, mas não tiveram muita influência em meu comportamento ou meu empenho de tornar-me mais semelhante a Ele. É importante notar que o Salvador também usou outro tipo de pergunta para ajudar Seus ouvintes que buscam se tornar como Ele é.
Perguntas que Estimulam o Raciocínio
Quando o doutor da lei fez a pergunta: Quem é o meu próximo?” o Salvador contou a parábola do bom samaritano e então perguntou: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lucas 10:29, 36)
Essa pergunta fez o doutor da lei e os outros ouvintes raciocinarem para encontrar a resposta. Esse tipo de pergunta faz-nos utilizar nossa capacidade de adquirir conhecimento. Perguntas como “O que você acha de…?” ou “Qual a sua opinião a respeito de…?” ou “Por quê…?” podem ajudar-nos a compreender-nos mutuamente. (Ver D&C 50:22.) Pensem nos seguintes exemplos de ensino do Salvador:
“Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou?” (Mateus 18:12; grifo do autor.)
“Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”. (Mateus 21:28; grifo do autor.)
Às vezes, uma pergunta retórica — uma pergunta que fazemos sem esperar que haja uma resposta — também pode ajudar a aumentar a compreensão entre aquele que prega e o que ouve a pregação. No Sermão da Montanha, nosso Senhor disse:
“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mateus 5:46–47)
Minha mulher nunca esquece como sua vida foi tocada por uma pergunta feita pelos missionários. Ela possuía uma ampla formação religiosa, e seu irmão a convidou, certo dia, para ouvir os missionários. Depois de ensinar a doutrina, eles lhe fizeram uma pergunta que a fez raciocinar: “Por que você acha que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a Igreja verdadeira?” As idéias que essa pergunta inspirou influenciaram-na de tal maneira que em poucos segundos os seus sentimentos também foram tocados. Lágrimas vieram-lhe aos olhos ao responder à pergunta, e o Espírito prestou-lhe testemunho, tornando mais profundo o processo de conversão pelo qual ela estava passando.
Perguntas para o Coração
Todos já ouvimos perguntas que nos ajudaram a expressar nossos sentimentos. Também sabemos que não expressaremos nossos sentimentos a menos que tenhamos certeza de que não serão criticados. Era o que acontecia quando o Salvador dirigia perguntas ao coração dos ouvintes.
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (…) Os discípulos responderam que algumas pessoas estavam dizendo que Ele era João Batista; outros disseram que Ele era Jeremias ou outro profeta.
Então o Salvador fez uma pergunta que permitiu que os discípulos expressassem seus próprios sentimentos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Simão Pedro expressou seus sentimentos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Nosso Mestre confirmou a resposta do principal dos Apóstolos, dizendo: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”. (Mateus 16:13–17; grifo do autor)
Em outra oportunidade de ensino, depois que o irmão de Marta, Lázaro, havia morrido, o Salvador testificou primeiro a respeito de Si mesmo, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá”.
Em seguida, Ele fez uma pergunta dirigida ao coração de Marta: “Crês tu isto?”
Marta pôde expressar seus sentimentos: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. (João 11:25–27; grifo do autor.)
Sabemos que “quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo, o poder do Espírito Santo leva as suas palavras ao coração dos filhos dos homens”. (2 Nefi 33:1) Perguntas adequadas dirigidas ao coração podem convidar o Espírito em qualquer situação de ensino.
Numa recente reunião de família, uma parente contou que um missionário lhe fez uma pergunta que tocou seu coração. Depois de ensinar-lhe a primeira palestra, aquele missionário simplesmente perguntou: “Como você se sentiu a respeito do que ensinamos?” Essa pergunta criou uma excelente e edificante conclusão para a palestra.
Perguntas que permitem que as pessoas expressem seus sentimentos incluem: “Por que você acredita…?” ou “Como você se sente a respeito de…?” ou “Você já teve uma experiência com…?” Todos os professores precisam compreender que quando os sentimentos são expressos, estamos pisando em solo sagrado. Não devemos exigir que as pessoas expressem seus sentimentos, eles devem ser compartilhados voluntariamente, e sempre devem ser respeitados, e nunca criticados de forma alguma.
Aprender com Ele
O Salvador é o professor exemplar com quem podemos aprender como ensinar em nosso lar, na Igreja e na comunidade. Conforme Ele disse aos nefitas: “Eis que eu sou a luz; eu dei-vos o exemplo”. (3 Néfi 18:16) Ou conforme explicou a Seus discípulos: “Em verdade, em verdade vos digo que este é o meu evangelho; e sabeis o que deveis fazer em minha igreja; pois as obras que me vistes fazer, essas também fareis; porque aquilo que me vistes fazer, isso fareis”. (3 Néfi 27:21)
Um excelente exercício em nosso treinamento para tornar-nos semelhantes a Cristo é observar o tipo de perguntas que fazemos às pessoas em situações de ensino formais e informais. Fazer perguntas para obter informações podem nos ajudar a saber o que as pessoas sabem. As perguntas que fazem as pessoas raciocinar podem ajudá-las a descobrir verdades. Fazer perguntas que permitam que as pessoas expressem sentimentos nos conduzem a um solo sagrado na conversão e edificação daqueles a quem amamos. Ao esforçar-nos para ensinar como Ele ensinou, tornamo-nos mais semelhantes a Ele.