2010
Por Causa de Vossa Fé
Novembro de 2010


Por Causa de Vossa Fé

Agradeço a todos os maravilhosos membros da Igreja (…) por provarem a cada dia de sua vida que o puro amor de Cristo “nunca falha”.

Elder Jeffrey R. Holland

Presidente Monson, os membros desta igreja em todo o mundo unem-se nesse hino ao magnífico coro e dizem “Graças Damos, Ó Deus, por um Profeta”. Obrigado por sua vida, por seu exemplo e por essa mensagem de boas-vindas a mais uma conferência geral da Igreja. Nós o amamos, o admiramos e o apoiamos. De fato, na sessão desta tarde, teremos uma oportunidade mais formal de erguer a mão em voto de apoio não apenas para o Presidente Monson, mas também para todos os outros líderes gerais da Igreja. Como meu nome está incluído na lista, tomo a liberdade de falar em nome de todos para agradecer a vocês antecipadamente por seu voto de apoio. Nenhum de nós poderia servir sem suas orações e sua ajuda. Sua lealdade e seu amor significam para nós muito mais do que podemos expressar.

Nesse espírito, minha mensagem de hoje é de que nós os apoiamos, de que também oramos sinceramente por vocês e de que os amamos tanto quanto vocês nos demonstram seu amor. Sabemos que há chaves, convênios e responsabilidades especiais concedidas aos líderes presidentes da Igreja, mas também sabemos que a Igreja extrai sua força incomparável, sua vitalidade realmente ímpar, da devoção e da contribuição de todo membro desta Igreja, seja ele quem for. Não importa o país em que você more, por mais jovem e incapaz que se sinta, ou por mais idoso ou limitado que você se considere, digo-lhe que você é amado individualmente por Deus; você é essencial para o significado de Sua obra e é amado pelos líderes presidentes de Sua Igreja, que oram por você. O valor pessoal, o sagrado esplendor de cada um de vocês, é o verdadeiro motivo de haver um plano para a salvação e exaltação. Ao contrário do que se diz hoje, tudo tem a ver com você. Não, não se vire nem olhe para a pessoa ao lado. Estou falando com você!

Tive dificuldade para encontrar um meio adequado de dizer-lhe o quanto Deus o ama e quão gratos, nós aqui neste púlpito, somos por você. Procuro ser porta-voz dos próprios anjos dos céus para agradecer-lhe por todas as coisas boas que você fez, por todas as palavras bondosas que já disse, por todo sacrifício que já fez ao levar a alguém, — seja quem for — a beleza e as bênçãos do evangelho de Jesus Cristo.

Sinto-me grato pelas líderes das Moças que vão aos acampamentos com elas e, sem xampu, chuveiro nem maquiagem, transformam esfumaçadas reuniões de testemunhos ao redor da fogueira em algumas das mais marcantes experiências espirituais que aquelas moças — ou aquelas líderes — terão na vida. Sinto-me grato por todas as mulheres da Igreja que em minha vida foram tão fortes quanto o Monte Sinai e tão compassivas quanto o Monte das Bem-Aventuranças. Sorrimos, às vezes, com as histórias das nossas irmãs, vocês sabem: gelatina verde, colchas de retalhos e lanchinhos em reuniões. Mas meus familiares foram os agradecidos beneficiários de cada uma dessas coisas, em diversas ocasiões, e em uma delas, a colcha e o lanche vieram no mesmo dia. Era apenas uma colcha bem pequena — minúscula mesmo — para proporcionar ao corpinho do meu irmãozinho uma jornada de volta ao lar celestial que fosse tão cálida e confortável quanto nossas irmãs da Sociedade de Socorro queriam que fosse. O lanche providenciado para nossa família depois do funeral, oferecido de boa vontade, sem que tivéssemos pedido, foi recebido com muita gratidão. Sorriam, se quiserem, por causa de nossas tradições, mas de alguma forma, são as mulheres menos aclamadas desta Igreja que estão sempre presentes, quando há mãos que pendem e joelhos enfraquecidos.1 Elas parecem compreender instintivamente a divindade desta declaração de Cristo: “Quando o fizestes a um destes meus pequeninos (…), a mim o fizestes”.2

E os irmãos do sacerdócio não ficam atrás. Lembro-me, por exemplo, dos líderes de nossos rapazes que, dependendo do clima e do continente, fazem caminhadas extenuantes de mais de 80 quilômetros (50 milhas) ou abrem cavernas no gelo — e até tentam dormir nelas — nas mais longas noites da experiência humana. Sinto-me grato pela lembrança dos membros de meu grupo de sumos sacerdotes que, há alguns anos, se revezaram por semanas, dormindo em uma pequena poltrona no quarto de um membro agonizante do quórum, para que sua idosa e igualmente frágil esposa conseguisse dormir um pouco, nas semanas finais de vida de seu querido marido. Sinto-me grato pelo exército de professores, líderes, consultores e secretários da Igreja, sem mencionar as pessoas que estão sempre montando mesas e guardando cadeiras. Sinto-me grato pelos patriarcas ordenados, pelos músicos, pelos consultores de história da família, pelos casais com osteoporose que caminham com dificuldade às cinco horas da manhã até o templo, carregando malas quase maiores que eles próprios. Sinto-me grato pelos pais discretos e abnegados que — talvez por toda a vida — cuidam de um filho deficiente, às vezes com mais de uma deficiência, e às vezes com mais de um filho. Sinto-me grato pelos filhos que retribuem mais tarde o carinho que receberam, cuidando de pais enfermos ou idosos.

E pela quase perfeita irmã idosa que, como se pedisse perdão, disse-me recentemente: “Nunca fui líder ou qualquer coisa parecida na Igreja. Acho que só ajudei um pouco”, digo, “querida irmã, Deus a abençoe, assim como a todos os que ‘ajudam’ no reino”. Alguns de nós, que somos líderes esperamos um dia ter a mesma condição no céu que vocês já alcançaram.

Muito frequentemente deixei de expressar gratidão por essas pessoas que foram tão boas em minha vida. O Presidente James E. Faust subiu a este púlpito, há treze anos, e disse: “Lembro de quando eu era garotinho (…) e minha avó (…) preparava refeições deliciosas no calor do fogão a lenha. Quando a caixa de lenha ao lado do fogão esvaziava, minha avó (…), sem fazer alarde, saía para enchê-la com lenha de cedro que ficava numa pilha lá fora e depois trazia a pesada caixa de volta para casa. Eu era tão insensível (…) que ficava lá, sentado, e deixava minha querida avó encher [aquela] caixa”. Então, com a voz embargada de emoção, ele disse: “Sempre me arrependi e me envergonhei de minha omissão. Espero um dia pedir-lhe perdão”.3

Se um homem tão perfeito quanto o Presidente Faust pôde reconhecer essa negligência da juventude, não posso deixar de admitir algo semelhante e prestar hoje um tributo que há muito estou devendo.

Quando fui chamado para servir em uma missão, antes da aurora dos tempos, não havia custos missionários equalizados. Cada um tinha de arcar com todas as despesas da missão à qual tinha sido enviado. Algumas missões eram muito caras, e aconteceu que a minha foi uma delas.

Conforme incentivamos os missionários a fazerem, eu tinha economizado dinheiro e vendido alguns de meus pertences para conseguir o máximo de meu sustento. Achei que tinha dinheiro suficiente, mas não sabia como ficariam as coisas nos meses finais de minha missão. Mesmo com essa dúvida, abençoadamente deixei minha família e parti para a melhor experiência pessoal que alguém pode desejar. Adorei minha missão, e estou certo de que nenhum rapaz, antes ou depois de mim, tenha gostado tanto da missão.

Então, voltei para casa, pouco depois de meus pais terem sido chamados para cumprir sua própria missão. O que eu iria fazer, então? Como é que eu poderia pagar minha faculdade? Como conseguiria me sustentar? E como conseguiria realizar o grande sonho de meu coração, que era o de casar-me com a incrivelmente perfeita Patricia Terry? Não me importo em admitir que me senti desanimado e temeroso.

Hesitante, fui até o banco local e perguntei ao gerente, que era amigo da família, quanto havia em minha conta. Ele pareceu surpreso e disse: “Ora, Jeff, está tudo em sua conta. Eles não contaram para você? Seus pais quiseram fazer de tudo, por mínimo que fosse, para ajudá-lo a iniciar sua vida quando voltasse para casa. Eles não sacaram um centavo da conta durante sua missão. Achei que você soubesse”.

Bem, eu não sabia. O que eu sei é que meu pai, que era o que chamávamos em nossa cidadezinha de “guarda-livros” autodidata, tendo pouquíssimos clientes, provavelmente passara dois anos sem um terno novo ou camisa nova ou par de sapatos novos, para que o filho tivesse tudo isso na missão. Além disso, o que eu não sabia, mas fiquei sabendo então, foi que minha mãe, que nunca tinha trabalhado fora de casa depois de casada, arrumara um emprego numa loja de departamentos local para custear minha missão. E nada disso me foi contado durante a missão. Nem uma palavra sequer foi dita a esse respeito. Quantos pais na Igreja fizeram exatamente o mesmo que o meu? E quantas mães, nesta época de dificuldades econômicas, ainda fazem o que minha mãe fez?

Meu pai já morreu há 34 anos; por isso, tal como o Presidente Faust, vou ter de esperar para poder agradecer plenamente a ele do outro lado do véu. Mas minha querida mãe, que fará 95 anos na próxima semana, está assistindo feliz a esta transmissão em casa hoje, em St. George e, por isso, não é tarde para agradecer a ela. A vocês, Mamãe e Papai, e a todas as mães e pais e famílias e boas pessoas do mundo inteiro, agradeço por terem-se sacrificado tanto por seus filhos (ou pelos filhos dos outros!), por terem desejado tanto dar-lhes as vantagens que nunca tiveram, por terem desejado tanto proporcionar-lhes a vida mais feliz que lhes podiam oferecer.

Agradeço a todos os maravilhosos membros da Igreja — e a legiões de boas pessoas que não são da nossa fé — por provarem a cada dia de sua vida que o puro amor de Cristo “nunca falha”.4 Nenhum de vocês é pequeno ou insignificante, em parte por que vocês tornam o evangelho de Jesus Cristo o que ele é: um lembrete vivo de Sua graça e misericórdia, uma manifestação particular, porém vigorosa, em pequenas vilas e grandes cidades, do bem que Cristo fez e da vida que Ele deu, procurando trazer paz e salvação a outras pessoas. Sentimo-nos honrados, mais do que podemos expressar, por participarmos com vocês de uma causa tão sagrada.

Como disse Jesus aos nefitas, digo hoje:

“Por causa de vossa fé (…), é completa minha alegria.

E depois de haver proferido estas palavras, ele chorou.”5

Irmãos e irmãs, ao ver seu exemplo, asseguro novamente a minha determinação de ser melhor, mais fiel — mais bondoso e dedicado, mais caridoso e verdadeiro — como é o nosso Pai Celestial e como muitos de vocês já são. É minha oração, em nome de nosso Grande Exemplo em todas as coisas, o Senhor Jesus Cristo. Amém.