As três irmãs
Somos responsáveis por nosso próprio discipulado, e isso está pouco relacionado — se é que há alguma relação — à maneira como outras pessoas nos tratam.
Queridas irmãs e queridas amigas, iniciar a conferência geral com uma sessão mundial de irmãs é significativo e maravilhoso. Imaginem só: irmãs de todas as idades, vivências, nacionalidades e idiomas, unidas na fé e no amor ao Senhor Jesus Cristo.
Quando nos reunimos com nosso amado profeta, o presidente Thomas S. Monson, ele expressou a nós o quanto ele ama o Senhor. E sei que o presidente Monson é muito grato por seu amor, por suas orações e por sua devoção ao Senhor.
Há muito tempo, em uma terra distante, vivia uma família que consistia de três irmãs.
A primeira irmã era triste. Nada, do nariz ao queixo e da pele aos dedos dos pés, parecia ser bom o bastante para ela. Quando ela falava, suas palavras soavam estranhas e as pessoas riam. Quando alguém a criticava ou se “esquecia” de convidá-la para alguma atividade, ela corava, afastava-se e buscava um lugar secreto onde dava um triste suspiro e se perguntava por que a vida tinha se tornado tão deprimente e melancólica.
A segunda irmã era brava. Ela enxergava a si mesma como muito inteligente, mas sempre havia alguém que tirava notas maiores na escola. Ela se considerava engraçada, justa, elegante e fascinante. Mas sempre parecia haver alguém que era mais engraçado, mais justo, mais elegante ou mais fascinante.
Ela nunca era a primeira em nada, algo que ela não conseguia suportar. A vida não precisava ser dessa forma!
Às vezes ela ofendia outras pessoas e parecia que sempre estava prestes a se revoltar por qualquer motivo.
Obviamente, isso não a tornava mais admirada nem mais popular. Às vezes ela cerrava os dentes, fechava os punhos e pensava: “A vida é muito injusta!”
E havia a terceira irmã. Ao contrário de sua irmã triste e de sua irmã brava, ela era feliz. Não porque fosse mais inteligente, mais bonita ou mais capaz do que suas irmãs. Não, as pessoas também a evitavam ou a ignoravam de vez em quando. Às vezes, zombavam do que ela vestia ou das coisas que ela falava. Às vezes, diziam coisas maldosas a respeito dela. Mas ela não permitia que isso a incomodasse muito.
Essa irmã adorava cantar. Ela não era muito afinada e as pessoas riam, mas isso não a impedia de continuar cantando. Ela dizia: “Não vou deixar que outras pessoas e sua opinião me impeçam de cantar!”
O próprio fato de continuar cantando fez com que sua primeira irmã ficasse triste e com que sua segunda irmã ficasse brava.
Muitos anos se passaram e, por fim, cada irmã chegou ao término de seu tempo na Terra.
A primeira irmã, que constatou diversas vezes que não havia fim para as frustrações da vida, acabou morrendo triste.
A segunda, que todos os dias encontrava algo que a desagradava, morreu brava.
E a terceira irmã, que passou a vida cantando com toda a sua energia, com um sorriso confiante, morreu feliz.
Obviamente, a vida não é tão simples, e as pessoas não são tão unidimensionais como as três irmãs dessa história. Mas mesmo exemplos extremos como esses podem nos ensinar algo a respeito de nós mesmos. Se vocês são como a maioria das pessoas, talvez tenham reconhecido parte de si mesmas em uma, em duas ou talvez em todas as três irmãs. Vamos refletir mais atentamente sobre cada uma delas.
A vítima
A primeira irmã se via como uma vítima — como alguém que recebia a ação.1 Parecia que uma coisa após a outra continuava a acontecer com ela e isso a tornava infeliz. Com esse jeito de ser, ela dava a outras pessoas o controle sobre como ela se sentia e como ela agia. Quando fazemos isso, somos levados por todo vento de opinião — e, durante esta época de crescente atividade em mídias sociais, esses ventos sopram na intensidade de um furacão.
Queridas irmãs, por que renunciariam à sua felicidade por alguém ou um grupo de pessoas que se importa muito pouco com vocês ou com sua felicidade?
Se vocês se preocupam com o que outras pessoas dizem a seu respeito, gostaria de sugerir um antídoto: lembrem-se de quem vocês são. Lembrem-se de que vocês são da casa real do reino de Deus, filhas de Pais Celestiais que reinam em todo o universo.
Vocês possuem o DNA espiritual de Deus. Possuem dons incomparáveis que foram formados em sua criação espiritual e desenvolvidos durante o amplo período de sua vida pré-mortal. Vocês são filhas de um Pai Celestial misericordioso e eterno, o Senhor dos Exércitos, que criou o universo, propagou as estrelas por toda a vasta extensão do espaço e dispôs os planetas em sua determinada órbita.
Vocês estão nas mãos Dele.
Em boas mãos.
Mãos amorosas.
Mãos acolhedoras.
E nada do que qualquer pessoa diga a respeito de vocês pode mudar essas verdades. As palavras dessas pessoas são insignificantes em comparação ao que Deus mencionou a seu respeito.
Vocês são filhas preciosas Dele.
Ele as ama.
Mesmo quando tropeçam, mesmo quando se desviam dele, Deus as ama. Se estiverem se sentindo perdidas, abandonadas ou esquecidas, não temam. O Bom Pastor vai encontrá-las. Ele vai colocá-las sobre Seus ombros, cheio de júbilo. E vai carregá-las de volta para casa.2
Minhas queridas irmãs, permitam que essas verdades divinas penetrem profundamente em seu coração. Vocês descobrirão que há muitos motivos para não serem tristes, pois vocês têm um destino eterno a cumprir.
O amado Salvador do mundo deu Sua vida para que vocês escolhessem fazer desse destino uma realidade. Vocês tomaram sobre si o Seu nome; vocês são Suas discípulas. E, por meio Dele, vocês podem se revestir de glória eterna.
A que demonstrava raiva
A segunda irmã estava brava com o mundo. Assim como sua irmã triste, ela achava que os problemas em sua vida eram causados por outras pessoas. Ela culpava a família, os amigos, o chefe, os colegas de trabalho, a polícia, os vizinhos, os líderes da Igreja, as tendências atuais da moda, até mesmo a intensidade das explosões solares e a má sorte. Ela fazia críticas a respeito de todas essas coisas.
Ela não achava que era uma pessoa má. Muito pelo contrário; achava que estava apenas se defendendo. Acreditava que todas as pessoas eram motivadas pelo egoísmo, pela mesquinhez e pelo ódio. Ela, por outro lado, era motivada por boas intenções — pela justiça, pela integridade e pelo amor.
Infelizmente, a linha de pensamento da irmã brava é algo muito comum. Isso foi observado em um recente estudo que examinou conflitos entre grupos rivais. Como parte do estudo, pesquisadores entrevistaram palestinos e israelitas no Oriente Médio, e republicanos e democratas nos Estados Unidos. Eles descobriram que “cada lado achava que seu próprio grupo era mais motivado pelo amor do que pelo ódio, mas, quando foram questionados sobre por que razão o grupo rival estava envolvido no conflito, eles indicaram que o ódio era o fator que motivava o outro grupo”.3
Em outras palavras, cada grupo via a si mesmo como as “boas pessoas” — justas, bondosas e sinceras. Por outro lado, viam seus rivais como as “pessoas ruins” — desinformadas, desonestas e até mesmo más.
No ano em que nasci, o mundo estava imerso em uma terrível guerra que provocava um pesar agonizante e intensa dor ao mundo. Essa guerra foi causada por minha própria nação — por um grupo de pessoas que considerava certos grupos como ruins e que incentivava o ódio contra eles.
Eles silenciavam aqueles de quem não gostavam. Eles os ridicularizavam e faziam com que fossem vistos como pessoas ruins. Eles os consideravam inferiores — muito menos do que humanos. Quando você degrada um grupo de pessoas, é mais provável que você justifique as palavras e os atos de violência contra ele.
Sinto pavor ao pensar no que aconteceu na Alemanha do século 20.
Quando alguém se opõe a nós ou discorda de nós, é tentador presumir que deve haver algo de errado com essa pessoa. E após isso, basta um pequeno passo para que associemos os piores motivos a suas palavras e ações.
É claro que devemos sempre defender o que é correto, e há ocasiões em que precisamos elevar nossa voz por essa causa. No entanto, quando o fazemos com raiva ou com ódio no coração — quando atacamos outras pessoas com o intuito de magoá-las, de envergonhá-las ou de silenciá-las —, há uma chance de não estarmos fazendo isso em retidão.
O que o Salvador ensinou?
“Eu vos digo, porém: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;
Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.”4
Essa é a maneira do Salvador. É o primeiro passo para quebrar as barreiras que causam tanta raiva, ódio, divisão e violência no mundo.
Vocês podem dizer: “Sim. Estaria disposta a amar meus inimigos se eles estivessem dispostos a fazer o mesmo”.
Mas isso não importa, não é? Somos responsáveis por nosso próprio discipulado, e isso está pouco relacionado — se é que há alguma relação — à maneira como outras pessoas nos tratam. Obviamente esperamos que elas também sejam compreensivas e caridosas, mas nosso amor por elas não depende dos sentimentos que elas têm por nós.
Talvez nossos esforços em amar nossos inimigos abrandarão o coração deles e os influenciarão para o bem. Talvez não. Mas isso não altera nosso compromisso de seguir a Jesus Cristo.
Então, como membros da Igreja de Jesus Cristo, vamos amar nossos inimigos.
Vamos vencer a raiva e o ódio.
Vamos preencher nosso coração com amor por todos os filhos de Deus.
Vamos estender a mão para abençoar as pessoas e ministrar a elas — mesmo aquelas que “[nos] maltratam e [nos] perseguem”.5
A discípula genuína
A terceira irmã representa o genuíno discípulo de Jesus Cristo. Ela fazia algo que pode ser extremamente difícil de se fazer: ela confiava em Deus mesmo diante da ridicularização e das dificuldades. Por alguma razão, ela mantinha a fé e a esperança a despeito do desdém e do cinismo a seu redor. Ela vivia em alegria não porque suas circunstâncias eram agradáveis, mas porque ela era feliz.
Nenhum de nós vai trilhar a jornada da vida sem que haja oposição. Com tantas forças tentando nos atrair, como mantemos nossa visão centralizada na gloriosa felicidade que é prometida aos fiéis?
Creio que essa resposta pode ser encontrada em um sonho que um profeta teve há milhares de anos. O nome desse profeta é Leí, e seu sonho está registrado no precioso e magnífico Livro de Mórmon.
Em seu sonho, Leí viu um vasto campo e, no meio dele, havia uma árvore cuja beleza era indescritível. Ele também viu grandes grupos de pessoas que se dirigiam à árvore. Eles queriam provar daquele fruto glorioso. Eles tinham o sentimento e a confiança de que aquele fruto lhes daria grande felicidade e paz duradoura.
Havia um caminho estreito que levava à árvore e, ao lado, uma barra de ferro que os auxiliava a permanecer no caminho. Mas havia também uma névoa de escuridão que obscureceu sua visão do caminho e da árvore. E talvez até mais perigoso fosse o som do riso escandaloso e do escárnio que vinha de um grande e espaçoso edifício situado por perto. Surpreendentemente, a zombaria fez com que algumas pessoas que tinham chegado até a árvore e que tinham provado do maravilhoso fruto começassem a se sentir envergonhadas e se perdessem.6
Talvez começaram a duvidar de que a árvore fosse realmente tão linda quanto o que antes haviam imaginado. Talvez começaram a questionar a realidade do que haviam vivenciado.
Talvez pensaram que, se elas se afastassem da árvore, a vida seria mais fácil. Talvez as pessoas não mais zombassem ou rissem delas.
E, na verdade, as pessoas que caçoavam delas pareciam ser muito felizes e pareciam estar se divertindo. Então, se talvez abandonassem a árvore, seriam recebidas na congregação do grande e espaçoso edifício e seriam aplaudidas por sua decisão, inteligência e sofisticação.
Permaneçam no caminho
Queridas irmãs, queridas amigas, se tiverem dificuldades em segurar a barra de ferro e caminhar firmemente rumo à salvação; se o riso e o escárnio de outras pessoas que parecem tão confiantes fazem com que vocês vacilem; se ficam perturbadas com perguntas sem resposta ou com doutrinas que vocês ainda não entendem; se vocês sentem tristeza por causa de decepções, exorto-as a se lembrarem do sonho de Leí.
Permaneçam no caminho!
Nunca soltem a barra de ferro — a palavra de Deus!
E, quando alguém tentar fazer com que vocês se sintam envergonhadas por partilhar do amor de Deus, ignorem.
Nunca se esqueçam de que vocês são filhas de Deus e galardão terão. Se cumprirem Sua lei aqui, com Ele viverão!7
As promessas de louvor e de aceitação oferecidas pelo mundo são duvidosas, infundadas e insatisfatórias. As promessas de Deus são seguras, verdadeiras e jubilosas — agora e para sempre.
Convido-as a ponderar sobre religião e fé a partir de uma perspectiva mais elevada. Nada do que foi oferecido no grande e espaçoso edifício pode ser comparado ao fruto de viver o evangelho de Jesus Cristo.
Certamente, “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam”.8
Aprendi por mim mesmo que o caminho do discipulado no evangelho de Jesus Cristo é o caminho para a alegria. É o caminho para a segurança e para a paz. É o caminho para a verdade.
Testifico que, pelo dom e poder do Espírito Santo, vocês podem aprender essas coisas por si mesmas.
Entretanto, se o caminho se tornar difícil para vocês, espero que encontrem refúgio e força em nossas maravilhosas organizações da Igreja: a Primária, as Moças e a Sociedade de Socorro. Elas são pontos de referência ao longo do caminho, em que vocês podem renovar sua confiança e sua fé para a jornada que têm à frente. Elas são um lar seguro em que vocês podem ter um sentimento de inclusão e receber incentivo de suas irmãs e de outras discípulas.
O que aprendem na Primária as prepara para verdades adicionais que aprenderão nas Moças. O caminho do discipulado que é trilhado por vocês nas Moças as prepara para a integração e para a irmandade da Sociedade de Socorro. Em cada passo no caminho, vocês recebem outras oportunidades de demonstrar seu amor pelas pessoas por meio de atos de fé, compaixão, caridade, virtude e serviço.
Escolher esse caminho do discipulado conduz à felicidade e realização indescritíveis de sua natureza divina.
Não será fácil. Isso exigirá o máximo de vocês — toda a sua inteligência, criatividade, fé, integridade, força, determinação e amor. Mas um dia olharão para trás e verão seu esforço; e oh, quão gratas vocês serão por terem permanecido fortes, por terem acreditado e por não terem se desviado do caminho.
Sigam adiante
Pode haver coisas na vida que estão fora de nosso controle. Mas, no final, vocês têm o poder de escolher tanto seu destino como muitas de suas experiências ao longo do caminho. Não são apenas suas habilidades, mas suas escolhas que fazem a diferença na vida.9
Vocês não podem permitir que as circunstâncias as deixem tristes.
Não podem permitir que elas as deixem bravas.
Vocês podem ter alegria por serem filhas de Deus. Podem encontrar alegria e felicidade na graça de Deus e no amor de Jesus Cristo.
Vocês podem ser felizes.
Eu as exorto a preencher seu coração com gratidão pela abundante e ilimitada bondade de Deus. Minhas amadas irmãs, vocês podem fazê-lo! Oro com toda a afeição de minha alma para que façam a escolha de seguir em frente em direção à árvore da vida. Oro para que escolham elevar sua voz e fazer com que sua vida seja uma sintonia de louvor, alegrando-se no que o amor de Deus e as maravilhas de Sua Igreja e o evangelho de Jesus Cristo podem trazer ao mundo.
O canto do verdadeiro discipulado pode soar desafinado ou até um pouco fora de tom para algumas pessoas. Isso acontece desde o início dos tempos.
Mas, para nosso Pai Celestial e para aqueles que O amam e O honram, é a canção mais preciosa e bela — a sublime e santificadora canção do amor redentor e do serviço a Deus e ao próximo.10
Deixo com vocês minha bênção como apóstolo do Senhor, que encontrem forças e coragem para persistirem alegremente como filhas de Deus ao trilharem diariamente de bom grado o glorioso caminho do discipulado. No sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.