2018
Ministrar com inspiração
Maio de 2018


Ministrar com inspiração

Recebemos o Espírito Santo quando estamos focados em servir ao próximo. É por isso que temos a responsabilidade do sacerdócio de servir em nome do Salvador.

Meus queridos irmãos, sou grato pelo privilégio de falar a vocês nesta histórica conferência geral. Apoiamos o presidente Russell M. Nelson como o 17º presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Ao ter a bênção de trabalhar com ele todos os dias, senti uma confirmação do Espírito de que o presidente Nelson foi chamado por Deus para liderar a verdadeira Igreja do Senhor.

Também presto meu testemunho de que o Senhor chamou o élder Gerrit W. Gong e o élder Ulisses Soares para servir como membros do Quórum dos Doze Apóstolos. Eu os amo e os apoio. Por meio de seu ministério, eles abençoarão vidas ao redor do mundo e por muitas gerações.

Esta conferência é histórica por mais um motivo. O presidente Nelson anunciou um inspirado avanço no plano organizado do Senhor para Sua Igreja. Esse plano inclui uma nova estrutura dos quóruns do sacerdócio em alas e estacas a fim de que melhor desempenhemos nossas responsabilidades do sacerdócio. Todas essas responsabilidades estão relacionadas a cuidar dos filhos de nosso Pai como portadores do sacerdócio.

O plano do Senhor para Seus santos, que é o de prover cuidado amoroso, já foi realizado de várias maneiras ao longo dos anos. Nos primeiros dias de Nauvoo, o profeta Joseph Smith precisava de um modo organizado para cuidar do grande número de conversos necessitados que entravam na cidade. Quatro de meus bisavós estavam entre eles — a família Eyring, a família Bennion, a família Romney e a família Smith. O profeta organizou o auxílio àqueles santos por meio de distribuição geográfica. Em Illinois, essas divisões da cidade foram chamadas de “alas”.

À medida que os santos cruzavam as planícies, o cuidado que eles tinham uns pelos outros era organizado em “companhias”. Um de meus bisavôs paternos estava voltando da missão, no local que hoje é chamado de Oklahoma, quando encontrou uma companhia no caminho. Por estar doente, meu bisavô estava tão fraco que ele e seu companheiro vinham deitados em uma pequena carroça.

O líder da companhia enviou duas moças para ajudar quem estivesse naquela carroça desolada. Uma delas, uma jovem irmã que havia sido convertida na Suíça, olhou para um dos missionários e sentiu compaixão. Ele foi salvo por aquela companhia de santos. Ele se recuperou o suficiente para andar o resto do caminho até o Vale do Lago Salgado com a jovem que o salvou a seu lado. Eles se apaixonaram e se casaram. Ele se tornou o meu bisavô, Henry Eyring, e ela, minha bisavó, Maria Bommeli Eyring.

Anos mais tarde, quando as pessoas mencionavam a grande dificuldade de cruzar um continente, ela dizia: “Ah não, não foi difícil. Enquanto caminhávamos, falávamos durante todo o caminho sobre o milagre de nós dois termos encontrado o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. Foi o momento mais feliz de que me lembro”.

Desde aquela época, o Senhor usou uma variedade de maneiras para ajudar Seus santos a cuidar uns dos outros. Agora Ele nos abençoou com quóruns fortalecidos e unificados em âmbito de ala e de estaca — quóruns que trabalham em conjunto com todas as organizações da ala.

Alas locais, companhias e quóruns fortalecidos exigem no mínimo duas coisas para que tenham sucesso no objetivo do Senhor de fazer com que Seus santos cuidem uns dos outros da maneira que Ele cuida deles. Eles têm sucesso quando os santos sentem o amor de Cristo uns pelos outros acima de seu próprio interesse. As escrituras chamam isso de “caridade[,] (…) o puro amor de Cristo” (Morôni 7:47). E eles têm sucesso quando o Espírito Santo os guia para saber aquilo que o Senhor sabe que é melhor para a pessoa que eles estão tentando ajudar.

Diversas vezes nas últimas semanas, membros da Igreja agiram em minha presença como se, de algum modo, soubessem o que o Senhor faria, como foi anunciado aqui hoje. Quero compartilhar com vocês somente dois exemplos. Primeiro, um simples discurso em uma reunião sacramental feito por um mestre do Sacerdócio Aarônico, de 14 anos de idade, que entende o que os portadores do sacerdócio podem realizar no seu serviço ao Senhor. Segundo, um portador do Sacerdócio de Melquisedeque que, com o amor de Cristo, foi inspirado a servir a uma família.

Primeiro, gostaria de compartilhar as palavras do rapaz que discursou em uma reunião sacramental. Eu estava lá. Tentem se lembrar de como vocês eram quando tinham 14 anos de idade e ouçam-no falar mais do que um rapaz tão jovem poderia saber:

“Desde que fiz 14 anos no ano passado, estou feliz por ser um membro do quórum de mestres em nossa ala. Um mestre tem todas as responsabilidades de um diácono e mais algumas outras.

Já que alguns de nós somos mestres, e outros um dia vão ser, e todos na Igreja são abençoados pelo sacerdócio, então é importante para todos nós sabermos mais sobre nossos deveres como mestres.

Em primeiro lugar, Doutrina e Convênios 20:53 diz: ‘O dever do mestre é zelar sempre pela igreja, estar com os membros e fortalecê-los’.

Depois, Doutrina e Convênios 20:54–55 diz:

‘E certificar-se que não haja iniquidade na igreja nem aspereza entre uns e outros nem mentiras, maledicências ou calúnias;

E certificar-se que a igreja se reúna amiúde e também certificar-se que todos os membros cumpram seus deveres’”.

O rapaz continuou:

“O Senhor está nos dizendo que é nossa responsabilidade não somente cuidar da Igreja, mas também cuidar das pessoas dentro da Igreja, da maneira que Cristo cuidaria, porque esta é Sua Igreja. Se tentarmos guardar os mandamentos, ser gentis uns com os outros, ser honestos, ser bons amigos e aproveitar o tempo juntos, seremos capazes de ter o Espírito conosco e saber o que o Pai Celestial quer que façamos. Se não tentarmos, não poderemos cumprir com o nosso chamado”.

Ele continuou, dizendo:

“Quando um mestre escolhe dar o exemplo correto ao ser um bom mestre familiar, ao cumprimentar os membros na igreja, ao preparar o sacramento, ao ajudar em casa e ao ser um pacificador, ele está escolhendo honrar seu sacerdócio e cumprir com seu chamado.

Ser um bom mestre não significa apenas ser responsável quando estamos na igreja ou em atividades da Igreja. O apóstolo Paulo ensinou: ‘Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza’ (1 Timóteo 4:12)”.

O rapaz então disse:

“Não importa onde estamos ou o que estamos fazendo, podemos ser um bom exemplo de retidão o tempo todo e em todos os lugares.

Meu pai e eu somos mestres familiares da família Brown.1 Todas as vezes que vamos lá, sinto-me muito bem em visitá-los e conhecê-los. Uma coisa de que realmente gosto na família Brown é que sempre quando vamos lá, eles estão dispostos a ouvir e sempre têm boas histórias para contar.

Quando conhecemos bem as pessoas da ala por causa do ensino familiar, nossa outra responsabilidade como mestre, que é cumprimentar os membros na igreja, se torna mais fácil. Ajudar as pessoas a se sentirem bem-vindas na igreja faz com que todos os membros da ala se sintam amados e preparados para tomar o sacramento.

Depois de cumprimentarem os membros na igreja, os mestres ajudam preparando o sacramento todos os domingos. Eu gosto muito de distribuir e de preparar o sacramento nesta ala porque todos são muito reverentes. Sempre sinto o Espírito quando preparo e distribuo o sacramento. Para mim, ser capaz de fazer isso todos os domingos é uma grande bênção.

Alguns tipos de serviço, como distribuir o sacramento, são coisas que as pessoas veem e nos agradecem por fazê-lo, mas o outro serviço, que é preparar o sacramento, é feito sem ninguém perceber. Não é importante que as pessoas nos vejam servindo; o que é importante é que o Senhor saiba que nós servimos a Ele.

Como mestres, devemos sempre tentar fortalecer a Igreja, nossos amigos e nossa família ao cumprirmos nossas responsabilidades do sacerdócio. Nem sempre é fácil, mas o Senhor não nos dá mandamentos ‘sem antes preparar um caminho pelo qual suas ordens possam ser cumpridas’ (1 Néfi 3:7)”.

Enquanto aquele rapaz concluía, eu continuava impressionado com sua maturidade e sabedoria. Ele resumiu, dizendo: “Sei que nos tornaremos melhores se escolhermos seguir a [Jesus Cristo]”.

Outra história de serviço no sacerdócio foi contada há um mês em uma reunião sacramental de uma ala. Mais uma vez, eu estava presente. Nesse caso, esse experiente portador do Sacerdócio de Melquisedeque não sabia que, ao discursar, ele estava descrevendo exatamente o que o Senhor deseja que aconteça com quóruns do sacerdócio fortalecidos. Esta é a essência de seu relato:

Seu companheiro de ensino familiar e ele foram designados a servir a sete famílias. Quase todas elas não queriam receber visitas. Quando os mestres familiares visitavam seu apartamento, eles se recusavam a abrir a porta. Quando telefonavam, as famílias não atendiam o telefone. Quando deixavam uma mensagem, não ligavam de volta. Esse companheiro sênior por fim recorreu a um ministério por meio de cartas. Ele até começou a usar envelopes amarelos brilhantes na esperança de obter uma resposta.

Uma das sete famílias era a de uma irmã solteira menos ativa que havia emigrado da Europa. Ela tinha dois filhos pequenos.

Depois de muitas tentativas de contato, ele recebeu uma mensagem de texto. Ela prontamente informou a ele que estava muito ocupada para receber seus mestres familiares. Ela tinha dois empregos e também era militar. Seu trabalho principal era de policial, e seu objetivo de carreira era se tornar detetive e então voltar a seu país de origem e continuar seu trabalho por lá.

O mestre familiar nunca conseguiu visitá-la em sua casa. Ele ocasionalmente enviava mensagens de texto. Todos os meses ele enviava uma carta escrita à mão, com cartões de datas comemorativas para cada filho.

Ele não recebia respostas. Mas ela sabia quem eram seus mestres familiares, como contatá-los e que eles persistiriam em seu serviço do sacerdócio.

Então, certo dia, ele recebeu uma mensagem de texto urgente enviada por ela. Ela precisava desesperadamente de ajuda. Ela não sabia quem era o bispo, mas sabia quem eram seus mestres familiares.

Em poucos dias, ela teria que deixar o estado por um mês para um exercício de treinamento militar. Ela não podia levar os filhos. Sua mãe, que tomaria conta das crianças, havia acabado de viajar para a Europa com o intuito de cuidar do marido, que passou por uma emergência médica.

Essa irmã solteira menos ativa tinha dinheiro suficiente para comprar uma passagem para a Europa para seu filho mais novo, mas não para seu filho de 12 anos de idade, Eric.2 Ela perguntou a seu mestre familiar se ele poderia encontrar uma boa família da Igreja para ficar com ele pelos próximos 30 dias!

O mestre familiar mandou outra mensagem de texto falando que ele faria seu melhor. Ele então entrou em contato com seus líderes do sacerdócio. O bispo, que era o sumo sacerdote presidente, deu a ele aprovação para falar com os membros do conselho da ala, inclusive com a presidente da Sociedade de Socorro.

A presidente da Sociedade de Socorro rapidamente encontrou quatro boas famílias da Igreja, com filhos da idade de Eric, que cuidariam dele por uma semana, revezando entre elas. Durante o mês seguinte, essas famílias alimentaram Eric, encontraram espaço para ele em seu apartamento apertado ou em sua casa pequena. Elas o levaram em suas atividades de verão em família que já haviam sido planejadas. Levaram Eric para a igreja e o incluíram em suas noites familiares e em muitas outras atividades.

As famílias que tinham meninos com a idade de Eric o incluíram em suas reuniões e atividades do quórum de diáconos. Durante esse período de 30 dias, Eric foi para a igreja todos os domingos pela primeira vez em sua vida.

Após sua mãe voltar do treinamento, Eric continuou indo à igreja normalmente com uma dessas quatro famílias voluntárias da Igreja ou com outras pessoas com quem ele havia feito amizade, inclusive os mestres familiares de sua mãe. Com o passar do tempo, ele foi ordenado diácono e começou a distribuir o sacramento regularmente.

Agora, vamos imaginar o futuro de Eric. Não nos surpreenderemos se ele se tornar um líder na Igreja no país de origem de sua mãe quando sua família voltar para lá — graças aos santos que trabalharam juntos em união, sob a direção de um bispo, para servir por causa da caridade em seu coração e com o poder do Espírito Santo.

Sabemos que a caridade é essencial para sermos salvos no reino de Deus. Morôni escreveu: “E a não ser que tenhais caridade, não podeis de modo algum ser salvos no reino de Deus” (Morôni 10:21; ver também Éter 12:34).

Também sabemos que a caridade é uma dádiva concedida a nós depois de tudo o que pudermos fazer. Devemos “[rogar] ao Pai, com toda a energia de [nosso] coração, que [sejamos] cheios desse amor que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo” (Morôni 7:48).

Creio que seja mais fácil receber o Espírito Santo quando estamos focados em servir ao próximo. É por isso que temos a responsabilidade do sacerdócio de servir em nome do Salvador. Quando estamos empenhados em servir ao próximo, pensamos menos em nós mesmos, e o Espírito Santo pode mais facilmente vir até nós e nos ajudar em nossa busca contínua de termos a dádiva da caridade concedida a nós.

Presto meu testemunho de que o Senhor já deu um grande passo em Seu plano para que sejamos ainda mais inspirados e caridosos ao ministrarmos em nosso serviço no sacerdócio. Sou grato por Seu amor, que Ele, de maneira tão generosa, nos concede. Presto testemunho disso no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. O nome foi alterado.

  2. O nome foi alterado.