Vício
1° Passo: Honestidade


1° Passo

Honestidade

Princípio-Chave: Admitir que você, por si mesmo, é incapaz de vencer sua dependência e que perdeu o controle sobre sua vida.

Muitos de nós começamos nossa dependência por curiosidade. Alguns se envolveram por causa de uma necessidade justificada de um medicamento receitado ou por um ato deliberado de rebelião. Muitos começaram a trilhar esse caminho quando ainda eram quase crianças. Seja qual tenha sido o nosso motivo para iniciar e a nossa situação, em pouco tempo descobrimos que a dependência aliviava mais do que somente a dor física. Ela nos dava estímulo ou atenuava sentimentos ou estados de espírito dolorosos. Ajudava-nos a evitar os problemas que enfrentávamos. Ao menos era isso que achávamos. Por algum tempo, sentimo-nos livres de temores, preocupações, solidão, desânimo, remorso ou tédio. Mas como a vida está cheia de condições que propiciam esse tipo de sentimentos, recorríamos à nossa dependência de modo cada vez mais freqüente. Ainda assim, a maioria de nós deixava de perceber ou admitir que tínhamos perdido a capacidade de resistir e de abster-nos dessas coisas por conta própria. Como observou o Élder Russell M. Nelson, do Quórum dos Doze Apóstolos: “A dependência elimina a liberdade de escolha. Por meios químicos, a pessoa se torna literalmente desligada de sua própria vontade” (Conference Report, outubro de 1988, p. 7; ou Ensign, novembro de 1988, p. 7).

Raramente as pessoas que são enredadas em comportamentos que causam dependência admitem que estão dependentes. Para negar a gravidade de nossa condição e evitar a detecção e as conseqüências de nossas escolhas, procuramos minimizar ou ocultar nosso comportamento. Não percebíamos que ao enganarmos as pessoas e a nós mesmos, aprofundávamos cada vez mais em nossa dependência. À medida que nossa impotência em relação à dependência aumentava, muitos de nós culpavam a família, amigos, os líderes da Igreja e até Deus. Mergulhamos num isolamento cada vez maior, afastando-nos das pessoas, especialmente de Deus.

Quando nós, como dependentes, recorríamos a mentiras e segredos, esperando desculpar-nos ou culpar outros, enfraquecíamo-nos espiritualmente. A cada ato de desonestidade, amarrávamo-nos com um “cordel de linho” que em breve se tornou tão forte quanto correntes (ver 2 Néfi 26:22). Então, chegou um momento em que tivemos de encarar a realidade. Não podíamos mais esconder nossa dependência contando mentiras ou dizendo: “Não está tão mal assim!”

Um ente querido, um médico, um juiz ou um líder da Igreja nos disse a verdade que não podíamos mais negar: a dependência estava destruindo nossa vida. Quando olhamos para o passado com honestidade, admitimos que nada que tentáramos fazer por conta própria havia funcionado. Reconhecemos que a dependência tinha apenas se tornado pior. Percebemos o quanto nossa dependência tinha prejudicado nossos relacionamentos e roubado nosso senso de valor. A essa altura, demos o primeiro passo rumo à liberdade e à recuperação tendo coragem de admitir que não estávamos apenas lidando com um problema ou mau hábito. Finalmente admitimos a verdade de que tínhamos perdido o controle de nossa vida e de que precisávamos de ajuda para vencer nossa dependência. Uma coisa admirável nesse reconhecimento sincero de derrota foi que finalmente começamos a nossa recuperação.

O profeta Amon, do Livro de Mórmon, disse claramente a verdade que descobrimos quando finalmente fomos honestos com nós mesmos:

“Não me vanglorio de minha própria força nem de minha própria sabedoria; mas eis que minha alegria é completa, sim, meu coração transborda de alegria e regozijar-me-ei em meu Deus.

Sim, sei que nada sou; quanto a minha força, sou débil; portanto não me vangloriarei de mim mesmo, mas gloriar-me-ei em meu Deus, porque com sua força posso fazer todas as coisas” (Alma 26:11–12).

Ações a Serem Efetuadas

Estar disposto a abster-se

Embora as dependências das pessoas sejam diferentes, algumas verdades, como esta, nunca variam: Nada começa sem que a pessoa esteja disposta a começar. A liberdade da dependência e a pureza começam com uma ínfima partícula de vontade. As pessoas dizem que um indivíduo finalmente se torna disposto a abster-se quando a dor causada pelo problema se torna pior do que a dor da solução. Você já chegou a esse ponto? Se ainda não e continua com sua dependência, sem dúvida chegará a esse ponto, porque a dependência é um problema progressivo. Como uma doença degenerativa, ela corrói sua capacidade de funcionar normalmente.

A única exigência para se iniciar a recuperação é o desejo de parar de ceder à dependência. Se seu desejo ainda for pequeno e inconstante, não se preocupe. Ele crescerá!

Algumas pessoas reconhecem a necessidade de se libertarem da dependência, mas ainda não estão dispostas a começar. Se você estiver nessa situação, talvez possa começar reconhecendo sua falta de vontade e ponderando os custos de sua dependência. Você pode fazer uma lista do que é importante para você. Pense em sua família e seus relacionamentos sociais, seu relacionamento com Deus, sua força espiritual, sua capacidade de ajudar e abençoar as pessoas, sua saúde. Depois, procure contradições entre suas crenças e esperanças e o seu comportamento. Pondere como suas ações prejudicam as coisas que você considera valiosas. Você pode orar para que o Senhor o ajude a ver-se a si mesmo e a sua vida como Ele vê — com todo o seu potencial divino — e a que você está se arriscando se continuar com sua dependência.

Um reconhecimento do que você perderia tolerando sua dependência pode ajudá-lo a ter o desejo de parar. Se puder sentir ainda que seja um mínimo de desejo, conseguirá iniciar o passo 1. E se progredir ao longo dos passos desse programa e vir as mudanças que acontecerão em sua vida, seu desejo aumentará.

Deixar o orgulho de lado e procurar ser humilde.

O orgulho e a honestidade não podem coexistir. O orgulho é uma ilusão e é um elemento essencial de toda dependência. O orgulho distorce a verdade sobre as coisas como elas são, como foram e como serão. É um grande obstáculo à sua recuperação. O Presidente Ezra Taft Benson definiu o orgulho:

“O orgulho é um pecado muito mal compreendido. (…)

A maioria de nós considera o orgulho como egocentrismo, convencimento, jactância, arrogância ou soberba. Tudo isso faz parte do pecado, mas continua faltando a essência, o cerne.

O elemento central do orgulho é a inimizade — inimizade para com Deus e inimizade para com o próximo. Inimizade significa ‘ódio, hostilidade ou oposição’. É o poder pelo qual Satanás quer reinar sobre todos nós.

O orgulho é essencialmente competitivo por natureza. Colocamo-nos em oposição à vontade de Deus. Quando lançamos nosso orgulho contra Deus, é no sentido de ‘seja feita a minha vontade e não a tua’. (…)

Nosso desejo de competir com a vontade de Deus dá vazão desenfreada aos desejos, apetites e paixões (ver Alma 38:12; 3 Néfi 12:30).

O orgulhoso não consegue aceitar que sua vida seja dirigida pela autoridade de Deus (ver Helamã 12:6). Ele opõe sua percepção da verdade ao conhecimento maior de Deus, sua capacidade ao poder do sacerdócio de Deus, suas realizações às poderosas obras Dele” (Conference Report, abril de 1989, pp. 3–4; ou Ensign, maio de 1989, p. 4).

À medida que você tiver a disposição de abster-se e de admitir os problemas que está enfrentando, seu orgulho será gradativamente substituído pela humildade.

Admitir o problema; procurar ajuda; freqüentar as reuniões

Quando cedemos à nossa dependência, mentimos para nós mesmos e para os outros. Mas não podemos enganar-nos de verdade. Fingimos que estamos bem, cheios de arrogância e desculpas, mas bem lá no fundo sabemos a verdade. A Luz de Cristo continua a lembrarnos. Sabemos que estamos deslizando por uma ladeira escorregadia rumo a sofrimentos cada vez maiores. Negar essa verdade era um trabalho tão árduo que foi um grande alívio finalmente admitirmos que tínhamos um problema. De repente, permitimos que uma minúscula esperança entrasse em nossa vida. Quando decidimos admitir para nós mesmos que tínhamos um problema e tivemos a vontade de procurar apoio e ajuda, abrimos espaço para que a esperança crescesse. Estávamos prontos então para o próximo passo, participando de uma reunião de recuperação.

A participação num grupo de apoio ou em uma reunião de recuperação talvez não seja possível a todos. Se não puder participar de uma reunião de recuperação, ainda assim você pode seguir cada um dos passos, com pequenas modificações, ao trabalhar com seu bispo ou um profissional cuidadosamente escolhido.

Se for possível participar de uma reunião de recuperação, você descobrirá pelo menos dois motivos pelos quais essa participação será muito útil. Primeiro, nessas reuniões você estudará princípios específicos do evangelho que, se colocados em prática, o ajudarão a mudar seu comportamento. O Presidente Boyd K. Packer, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou: “O estudo das doutrinas do evangelho melhorará o comportamento mais rapidamente do que o estudo do comportamento conseguirá melhorá-lo. A preocupação com o comportamento indigno pode conduzir a esse mesmo comportamento. É por isso que salientamos tão enfaticamente o estudo das doutrinas do evangelho” (Conference Report, outubro de 1986, p. 20; ou Ensign, novembro de 1986, p. 17). Segundo, essas reuniões são um lugar em que nos reunimos com outras pessoas que procuram a recuperação e com aquelas que já trilharam esse caminho e são uma prova viva de sua eficácia. Nas reuniões de recuperação, você encontrará compreensão, esperança e apoio.

Estudo e Compreensão

O estudo das escrituras e declarações dos líderes da Igreja o ajudará a iniciar sua recuperação. Esse estudo aumentará sua compreensão e o ajudará a aprender.

Você pode usar as escrituras, declarações e perguntas abaixo em seu fervoroso estudo pessoal, ao escrever seu diário e nos debates em grupo. A idéia de ter que escrever pode amedrontá-lo, mas escrever é uma poderosa ferramenta para a recuperação. Isso lhe dará tempo para refletir, ajudará você a concentrar seus pensamentos, e o ajudará a ver e compreender as questões, pensamentos e comportamentos que cercam sua dependência. Se você escrever, também terá um registro de seus pensamentos. Ao progredir ao longo dos passos, será capaz de avaliar seu progresso. Por enquanto, seja apenas honesto e sincero ao escrever seus pensamentos, sentimentos e impressões.

Cercado por tentações

“Estou cercado por causa das tentações e pecados que tão facilmente me envolvem!

E quando desejo alegrar-me, meu coração geme por causa de meus pecados; não obstante, sei em quem confiei.

Meu Deus tem sido meu apoio; guiou-me através de minhas aflições no deserto e salvou-me das águas do grande abismo.

Encheu-me com seu amor até consumir-me a carne” (2 Néfi 4:18–21).

  • Você se sente cercado ou preso? Quando é que se sente assim mais freqüentemente?

  • Que situações ou sentimentos enfraqueceram você de modo a ceder à sua dependência?

  • Quando Néfi se sentiu sobrecarregado, em quem ele confiou? O que você pode fazer para confiar mais no Senhor?

“Sei que o homem nada é”

“E aconteceu que se passaram muitas horas antes que Moisés recobrasse sua força natural como homem; e disse a si mesmo: Ora, por esta razão sei que o homem nada é, coisa que nunca havia imaginado” (Moisés 1:10).

  • Como Moisés se descreveu em comparação a Deus?

  • Como uma criancinha pode ser de infinito valor e ainda ser nada quando comparada a seus pais?

  • De que modo você é nada quando não tem a ajuda de Deus?

  • De que maneiras você tem infinito valor?

  • Escreva sobre como o reconhecimento de sua impotência de vencer sua dependência por conta própria pode levá-lo a admitir sua própria nulidade e a tornar-se como uma criancinha.

Fome e sede

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5:6).

“Minha alma ficou faminta e ajoelhei-me ante o meu Criador e clamei-lhe, em fervorosa oração e súplica, por minha própria alma; e clamei o dia inteiro; sim, e depois de ter anoitecido, continuei a elevar minha voz até que ela chegou aos céus” (Enos 1:4).

  • Nessas duas escrituras, aprendemos que nossa alma pode ter fome. Já sentiu um vazio por dentro, mesmo quando não estava fisicamente faminto? O que causa esse vazio?

  • Como sua fome pelas coisas do Espírito pode ajudá-lo a ser mais honesto?

Honestidade

“Alguns talvez considerem a qualidade conhecida como honestidade como algo muito comum. Mas creio que ela é a própria essência do evangelho. Sem honestidade, nossa vida (…) se desintegrará em hediondez e caos” (Gordon B. Hinckley, “We Believe in Being Honest”, Ensign, outubro de 1990, p. 2).

  • Escreva maneiras pelas quais você mentiu e tentou ocultar sua dependência de si mesmo e dos outros. Como esse comportamento causou “hediondez e caos”?

Humildade

“Porque fostes compelidos a ser humildes, benditos sois; porque o homem, às vezes, se é compelido a humilhar-se, procura o arrependimento; e certamente quem se arrepender encontrará misericórdia; e quem encontrar misericórdia e perseverar até o fim, será salvo” (Alma 32:13).

  • Escreva sobre as situações que o compeliram a ser humilde e a buscar arrependimento. Que esperança Alma lhe dá? Como você pode encontrar ou receber essa esperança?

O deleite do Senhor

“Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente são o seu deleite” (Provérbios 12:22).

  • Escrever as respostas dessas perguntas exigiu um nível mais profundo de honestidade a respeito de você mesmo. Como essa passagem de escritura se relaciona com esse tipo de honestidade? Como você pode tornar-se o deleite do Senhor?

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