Lembrar-se dos Convênios
Há uma relação entre lembrar-se, fazer e sentir felicidade ou entre esquecer-se, não fazer e sentir tristeza.
Como membros e líderes desta Igreja, somos freqüentemente descritos como “pessoas que estão sempre indo a reuniões ou voltando delas”. Em geral isto é verdade, mas devemos lembrar-nos da razão de assim procedermos. O Senhor, por revelação, lembra-nos de que quando nos reunimos, como nesta noite, é para sermos instruídos e edificados, para que saibamos agir de acordo com Sua lei e mandamentos. (Ver D&C 43:8-9.) Quão importante é que nos lembremos dessas instruções?
Lembrar-se significa não esquecer, significa armazenar na memória para aplicação ou exame posterior. Lembro-me das coisas para poder usá-las mais tarde. Para estudantes como vós, rapazes, significa decorar dados ou informações para passar nos exames, o que resulta em boas notas e felicidade. Talvez tenhais aprendido—através de tristes experiências—que esquecer significa parar de lembrar, resultando em notas baixas e tristeza. Há uma relação entre lembrar-se, fazer e sentir felicidade, ou entre esquecer-se, não fazer e sentir tristeza.
Naturalmente, o processo é o mesmo com as coisas espirituais. Lembro-me do evangelho e dos convênios, então ajo ou participo. Comprometo-me e recebo as bênçãos associadas com esses convênios ou mandamentos. Se me esquecer de minha fé e de meus convênios e não me comprometer nem trabalhar por minha salvação, deixarei de receber as bênçãos prometidas.
Ponderando este padrão de ensino em minha vida, gostaria de contar-vos algumas recordações que tenho, por ser um converso, e que talvez ajudem alguém—jovem ou velho—a aprender a “servir de testemunhas de Deus em qualquer tempo, em todas as coisas e em qualquer lugar” (Mosiah 18:9) sob quaisquer circunstâncias.
Tudo começou no dia de meu batismo. Estava com 22 anos de idade e era estudante universitário. Fiz parte de um pequeno grupo que se reuniu numa piscina em Bruxelas, Bélgica. Não havia pia batismal nem bispo, apenas dois missionários e alguns membros do ramo para apoiar-nos. Não havia parente algum presente. Era o primeiro passo rumo ao conhecido e ao desconhecido. O conhecido era o testemunho seguro de Jesus Cristo, nosso Salvador e Redentor, de Joseph Smith, um profeta, do Livro de Mórmon e da Igreja, a única verdadeira. O desconhecido ainda estava por ser descoberto e aprendido.
Começou a ser revelado com a ordenação ao sacerdócio após o batismo. De acordo com os procedimentos da época, um converso tinha quase que enfrentar um tribunal antes de receber o sacerdócio. Passaram-se três meses antes de ser entrevistado e ordenado diácono. Então, naquela manhã de domingo, eu estava diante da mesa de sacramento para distribuir os símbolos da Expiação do Senhor Jesus Cristo. Ainda me lembro do ambiente, muito diferente das igrejas ricamente ornamentadas que eu freqüentara. A sala de jantar da casa fora transformada em local para as reuniões sacramentais, a que poucos membros compareciam. Aquela foi a primeira experiência que tive, cuja finalidade era magnificar meu chamado no sacerdócio. Nove meses depois, fui ordenado mestre e aprendi a ensinar e a cuidar dos poucos membros do ramo nos momentos de divergência e de altos e baixos.
Foram também dias interessantes, em que participar da reunião do sacerdócio significava sentar em um círculo com dois missionários e outros dois irmãos e ler, em uma folha mimeografada, a lição do sacerdócio. Não havia manual do sacerdócio e apenas vinte seções de Doutrina e Convênios haviam sido traduzidas para o francês. Nem havia a Pérola de Grande Valor; porém o mais importante é que tínhamos o Livro de Mórmon completo. Passamos este grande livro de mão em mão e aprendemos sobre os convênios e ensinamentos do Senhor e de Sua doutrina. Preceito sobre preceito, pedra sobre pedra, eu estava preparando meu banco de memória espiritual.
Quatro meses depois fui ordenado sacerdote. Agora estava do outro lado da mesa do sacramento. O cenário era o mesmo, mas sentia-me diferente. O que ficou gravado é que, então, eu estava abençoando os símbolos da expiação e decorando “para que o comam em lembrança do corpo do Teu Filho, e testifiquem a Ti, ( … ) recordá-lo sempre e guardar os mandamentos ( … ) para que possam ter sempre consigo o Seu espírito”. Foi uma experiência inesquecível. Ainda hoje me lembro dela quando abençôo o sacramento como Autoridade Geral.
Passaram-se dois anos de meu batismo e, então, chegou o dia em que receberia o Sacerdócio de Melquisedeque, sendo ordenado élder. O presidente da missão impôs novamente as mãos sobre minha cabeça. A autoridade e o poder para agir em nome do Senhor me foram conferidos. Foi recebido por meio de acordo mútuo, por juramento e convênio. O juramento representava a certeza de que as promessas do acordo seriam mantidas por ambas as partes; o convênio significava que as condições do acordo seriam mantidas.
Ao lembrar-me da preparação do sacerdócio no serviço do Senhor, percebo que recordar os convênios que fiz me ajudou a honrar e magnificar meu chamado no sacerdócio, guardar os mandamentos e trazer felicidade espiritual a minha vida, em preparação para a vida eterna. Durante aqueles anos difíceis, muitos de meus jovens amigos da Igreja esqueceram-se dos convênios e, um a um, retornaram ao mundo. O mundo sempre esteve entre o homem e Deus, representando duas alternativas, porém apenas uma escolha verdadeira.
Como podemos adquirir a força para nos decidirmos a servir ao Senhor? Simplesmente nos concentrando na doutrina de Jesus Cristo, que garantirá a salvação daqueles que se lembram dela, aceitam-na e pautam sua conduta por ela. Como esse processo funcionou no meu caso?
Quando rapaz, considerei e aprendi a doutrina do casamento e da família eterna. Foi um assunto que atraiu meu interesse e, também, um fator determinante em minha conversão. Presenciara o fim do casamento de meus pais; vira a tristeza causada pela morte sem o conhecimento espiritual e presenciara o casamento de amigos sem as ordenanças do templo. Queria evitar essas tragédias.
O que significa essa doutrina? A Bíblia declara que Adão foi criado, mas estava só. Lemos: “Mas para o homem não se achava adjutora que estivesse como diante dele” (Gên. 2:20). Assim, o Senhor criou a mulher—não outro homem—e ordenou-lhes que se unissem pelos sagrados laços do matrimônio. A primeira união divina e honrada, estabelecida entre um homem e uma mulher, foi selada com as seguintes palavras: “O varão ( … ) apegar-se-á a sua mulher” (Gên. 2:24). Esta é a doutrina instituída e nunca mudará. É repetida em revelação moderna: “Amarás a tua esposa de todo o teu coração e a ela te apegarás e a nenhuma outra” (D&C 42:22). Esta união é solenizada pela autoridade do sacerdócio eterno em uma ordenança santa e sagrada, o selamento no templo. É também chamada de novo e eterno convênio do casamento e seu propósito é unir os casais na Terra e levá-los à plenitude da exaltação no reino de Deus. Depois, Adão e Eva também receberam o mandamento de multiplicar-se e povoar a Terra. “E chamou Adão o nome de sua mulher, Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes” (Gên. 3:20).
O verdadeiro conceito de casamento e família, a unidade composta de marido, mulher e filhos selados uns aos outros, foi instituído no início, por Deus, para criar famílias eternas. Esse princípio fundamental tornou-se minha visão, meu objetivo e também a realidade, quando eu e minha companheira fomos selados no templo em Zullikofen, Suíça. Sendo eu marido, pai e posteriormente avô, era e ainda sou responsável pelo desenvolvimento, sustento material, proteção e salvação de minha família.
Outro fator determinante em minha conversão foi a Igreja como uma instituição divina, guiada pela autoridade do sacerdócio. Ela fornecia a estrutura de que eu precisava como membro daquele grupo do convênio. Não poderia salvar minha família sozinho.
O Élder John A. Widtsoe escreveu: “A Igreja, uma comunidade de pessoas com a mesma fé, desejo e prática inteligentes, é a agência organizada que Deus utiliza para comunicar-se com Seus filhos e apresentar Sua vontade. Ademais, a autoridade para agir em nome de Deus deve ser investida na Terra em alguma organização e não independentemente em cada homem. A Igreja, por meio do Sacerdócio, possui esta autoridade para uso do homem [Priesthood and Church Government (O Sacerdócio e o Governo da Igreja), Cidade do Lago Salgado: Deseret Book Co., 1939, p.180].
A Igreja proporciona um apoio único para que indivíduos e famílias façam coisas que não poderiam fazer por si próprios, como receber as ordenanças essenciais de salvação. Traz alívio material em momentos de necessidade. É também um laboratório fora do lar, onde podemos servir, aprender e praticar a caridade, o puro amor de Cristo.
Também descobri que nesta Igreja o sacerdócio segue a ordem patriarcal e que Deus é um Deus de ordem. Ele é o cabeça e, seguindo este padrão, o sacerdócio é conferido a homens dignos, para que presidam seu lar e sua família. O marido e pai, um patriarca, deve presidir em retidão e exercer o poder do sacerdócio para abençoar a mulher e a família. O marido e a mulher trabalham como parceiros ao governar a família, ambos agindo em uma liderança conjunta e dependendo um do outro. Estão unidos na visão da salvação eterna, um portando o sacerdócio, o outro honrando e desfrutando suas bênçãos. Um não é superior ou inferior ao outro. Cada um tem suas responsabilidades e seu papel a desempenhar.
Muito mais poderia ser dito a respeito do sacerdócio e sua singularidade, este chamado divino dado ao homem, por meio do qual ele atua no plano de salvação. Em suma, lá se encontra a verdadeira doutrina do Pai, os princípios corretos irreversíveis para governar a nós mesmos e o conhecimento de como agir quanto à lei e aos mandamentos que nos foram dados.
Nesta época de individualismo e egoísmo crescentes, as opiniões importam mais do que verdades ou doutrina; as atitudes glorificam a escolha pessoal acima de outros valores e princípios; e a linguagem é caracterizada por esta afirmação: “Não preciso que alguém me diga como ser salvo; não preciso de profetas, videntes ou reveladores para me dizerem o que Deus espera de mim; não preciso ir às reuniões da Igreja, ouvir discursos nem ser desafiado”.
Hoje em dia o conceito de sacerdócio e da autoridade da Igreja está em julgamento pelo mundo e mesmo por alguns membros, que acham que a expressão latina vox populi, vox Dei pode ser literalmente interpretada na Igreja como sendo “a voz do povo é a voz de Deus”. O slogan comercial “Faça do seu jeito”, certamente não se aplica ao plano de Deus para a salvação de Seus filhos, quando lemos que a causa real da apostasia é aquela em que “cada um segue seu próprio caminho, segundo a imagem do seu próprio deus” (D&C 1:16). Como superar a tentação de fazer as coisas a vossa maneira, de satisfazer vossos próprios apetites e de seguir as tendências do mundo?
Uma de minhas respostas simples esta noite é que deveis lembrar-vos constantemente de vossos convênios, agir de acordo com eles e assumir um compromisso em relação a eles. Esta seqüência, conforme declarada repetidamente nas escrituras, é um padrão de ensino espiritual clássico para preparar-nos para a vida eterna. É centralizado em Cristo, em Sua doutrina e Seus ensinamentos. Lembrar-me-ei eternamente deles.
Testifico que Jesus vive, que esta é a única Igreja verdadeira, que o sacerdócio do Filho de Deus está aqui investido e que os profetas, videntes e reveladores que presidem esta Igreja são indicados para preservar a doutrina pura de Jesus Cristo e a autoridade de Seu sacerdócio, para a salvação de Seu povo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.