Anda Comigo
Como voltar a atenção para o nosso progresso eterno, quando vivemos em um mundo que exige que esta atenção se volte para as tarefas diárias?
Venho perante vós, hoje, grata por nosso Redentor Jesus Cristo, grata por este evangelho, grata por este sacerdócio que abençoa nossa vida e pela bondade de todos vós. Esta reunião de santos na Conferência Geral faz-me lembrar a exclamação jubilosa de Isaías: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos”. (Isaías 6:3.) Santos justos são a glória de Deus e há vigorosas legiões reunidas aqui e em muitas terras.
Antes de virmos a esta Terra, gritamos de alegria pela oportunidade de dar este salto de fé em direção ao nosso progresso eterno. Quando fomos batizados, pisamos firmes no caminho para a vida eterna. O profeta Néfi disse: “Depois de haverdes entrado neste caminho reto e apertado, eu vos pergunto: Estará tudo feito? ( … ) Não; porque não haveríeis chegado até esse ponto, se não fosse pela palavra de Cristo, com fé inabalável nele ( … )
Deveis, pois, prosseguir para a frente com firmeza em Cristo ( … )
E agora, ( … ) este é o caminho”. (2 Néfi 31:19-21.)
Como prosseguir no caminho reto e apertado? Como voltar a atenção para o nosso progresso eterno, quando vivemos em um mundo que exige que esta atenção se volte para as tarefas diárias? Como permanecer firmes quando quase tudo a nossa volta está carregado de pecado? O povo nos tempos de Enoque enfrentou estes mesmos desafios. Enoque iniciou seu ministério pregando a uma congregação iníqua, mas o povo abrandou seu coração e deu ouvidos às palavras do Senhor: “Anda Comigo” (Moisés 6:34).
Também podemos fazê-lo.
Nosso progresso eterno nesse caminho reto e apertado, na companhia do Senhor Jesus Cristo, é a essência da minha mensagem hoje. Esta jornada é efetuada por meio de muitos passos. Nosso progresso nesta jornada é determinado pelo reconhecimento do caminho reto e apertado, tendo uma perspectiva eterna e agindo de acordo com esse discernimento.
Lembrai-vos de que nosso progresso eterno é o que constitui a essência de nossa existência terrena. O plano do Senhor tem como objetivo levar-nos para casa, para nosso Pai Celestial. Isto eu sei: Cada um de nós pode chegar lá a partir de onde estiver.
O Presidente Spencer W. Kimball prometeu: “Pode parecer um pouco difícil a princípio, mas assim que uma pessoa começa a vislumbrar o verdadeiro trabalho, quando começa a ver algo da eternidade em sua verdadeira perspectiva, as bênçãos começam a exceder em muito o preço de se deixar ‘o mundo’ para trás.” (Spencer W. Kimball, A Liahona, ago.77, p.4.)
Alguns de nossos passos se iniciam ao aprendermos que o caminho é verdadeiramente reto e apertado. O conceito de um caminho reto intriga-me. Com freqüência andamos em círculos, girando nossas rodas espirituais sem sair do lugar, enquanto somente nossos passos físicos marcham na estrada. Isto parece fora de compasso e sem equilíbrio em relação ao que o Senhor pretendia. Temos conhecimento e poder espiritual; este impulso supera qualquer coisa que o mundo ofereça. Adiar para amanhã é ficar para trás, andar para trás e abrir a porta para as influências sutis de Satanás. “Não é possível permanecer parado no trabalho eterno de nosso Deus”. (George Q.Cannon, Millennial Star, 23 de fev. de 1899, p. 117.)
Élder Neal A. Maxwell disse: “Não existem caminhos separados de volta a esse lar celestial. Apenas um único caminho, estreito e apertado, e o final dele, mesmo que cheguemos marejados de lágrimas, seremos repentinamente mergulhados em alegria”. (Neal A. Maxwell, A Liahona, out. 78, p.17.)
Na verdade, o caminho não é revestido de grama verde e macia; não está livre de infortúnios ou dificuldades. Com freqüência, é uma escalada coberta de pedras, muitas delas como grandes rochas. Não podemos prever que desafios encontraremos pela frente, porque nossas vidas são diferentes. Embora o caminho seja apertado, nossos movimentos não fazem parte de um texto. Existem distrações que procuram afastar-nos do caminho reto e apertado. Nossos convênios são a sinalização que nos indica a vida eterna. Assim como é difícil distinguir os sinais da estrada principal quando olhamos de uma rua secundária, também é mais difícil ouvir a voz mansa e delicada das advertências, estrada perigosa à frente, quando nos distanciamos de nossos convênios.
Quando o Senhor diz: “Anda comigo” (Moisés 6:34), Ele está pedindo que nos tornemos mais espirituais, obedecendo a Sua palavra. O desenvolvimento da espiritualidade é decisivo para o progresso eterno.
Nosso profeta tem-nos falado em nome do Senhor e suas mensagens têm sido claras: livrai-vos do orgulho; lede o Livro de Mórmon todos os dias. Ao seguir esses conselhos, percebi coisas novas em meu Livro de Mórmon, muito pertinentes a minhas necessidades imediatas.
Foram-nos dadas ferramentas para desenvolver essa espiritualidade. Aconselha-se que freqüentemos as reuniões da Igreja, trabalhemos zelosamente em nossos chamados, vamos ao templo, que sejamos genorosos nas ofertas ao Senhor, realizemos a noite familiar e visitemo-nos uns aos outros. Nossa presença, simplesmente, não nos santifica; as estatísticas não levam ao progresso eterno. Ainda assim, não podemos ignorar que estar no lugar certo na hora certa fará com que nos sintamos mais dispostos a aprender, em um ambiente onde a influência do Senhor é solicitada e forte.
Alma descreveu o que acontece quando não estamos apenas presentes, mas quando somos contados entre os discípulos de Cristo, ao perguntar: “Haveis nascido espiritualmente de Deus? Haveis recebido sua imagem em vossos semblantes? Haveis experimentado essa poderosa mudança em vossos corações?” (Alma 5:14.) Haveis “sentido o desejo de cantar o cântico do amor que redime?” (Alma 5:26.) Espiritualidade é sentir o espírito de Deus, desejar tê-lo conosco, partilhar o Espírito com outros e dar ouvidos a suas instruções.
Por fim, progredir ao longo do caminho reto e apertado significa fazer do trabalho do Senhor o nosso trabalho, servindo como Ele o faria. Este trabalho está baseado na caridade, um príncipio que as irmãs da Sociedade de Socorro adotaram há muitos anos, pois “a caridade nunca falha”. (I Coríntios 13:8.) A caridade faz com que nos mantenhamos de pé quando todos a nossa volta estão caindo.
Priscilla Samson-Davis, uma irmã de Ghana, tem enfrentado dificuldades. Encontrou muitas pedras no caminho de sua vida. Como professora, observou famílias amamentarem crianças durante crises de disenteria e malária, trabalhar com afinco, negociar diariamente para obter sacos de arroz, cebolas, tomates, qualquer comida para manter vivos os seus entes queridos. Ela trabalha como professora visitante e viaja regularmente de ônibus para visitar uma irmã do outro lado da cidade. Quando lhe perguntaram se a tarefa era difícil, devido a tudo o que precisava enfrentar, ela simplesmente respondeu: “Não é difícil. A irmã que visito não sabe ler. Leio as escrituras para ela quando a visito”.
A resposta simples confirmou sua fé e segurança de que estava no caminho certo. Embora o itinerário do ônibus fosse tortuoso e interrompido por muitas paradas, aos olhos do Senhor era verdadeiramente reto e apertado, pois seguia na direção certa. Ela estava tratando dos negócios de seu Pai. Ela exemplificou o espírito descrito pelo Presidente Ezra Taft Benson, quando disse: “A melhor medida da verdadeira grandeza é quão semelhantes a Cristo nós somos”. (Ezra T. Benson, A Liahona, jul. 86, p.80.)
Sem dúvida, os que progridem eternamente são aqueles que estão no caminho reto e apertado; são espirituais e caridosos. Um bispo da Républica Dominicana é um exemplo desse tipo de vida. Após a reunião sacramental em sua ala, um recém-converso aproximou-se dele e disse: “Bispo, eu percebi que os membros estão sempre olhando para uns livros quando cantam. Quero fazer o mesmo. Eles olham para os livros na Escola Dominical. Eu quero fazer o mesmo”. Tranqüilamente, o irmão continuou: “Bispo, quero ser um bom membro. Quero fazer todo o trabalho do Senhor. Mas não sei ler. Há alguém que possa ensinar-me a ler?”
“Sim”, disse o bispo. E ficou pensando quem poderia ser um bom instrutor. De repente, ouviu-se dizendo: “ Eu o ensinarei a ler”.
Durante muitos meses este recém-converso e a esposa reuniram-se semanalmente com o bispo. Aprenderam a ler utilizando as escrituras. Bem, este era um bispo ocupado, como todos o são. Poderia ter delegado a responsabilidade, mas o Espírito o impeliu a aceitar a designação. Tornaram-se amigos no evangelho estudando juntos as escrituras. Depois de dois anos, o bispo foi desobrigado e um novo bispo foi chamado. A pessoa apoiada para substituí-lo como líder da ala foi seu aluno das escrituras. Este bispo dispôs-se a ensinar seus amigos a ler a mensagem do evangelho; e, nesse processo, mostrou-lhes a maneira de vivê-lo. Este bispo teria visto o fim desde o início? Quantas vezes seguimos as palavras do Senhor e, ao fazê-lo influenciamos a eternidade?
Centralizar nossa atenção em propósitos eternos pode aliviar nossas cargas e tornar a vida mais produtiva e feliz. Na verdade, com freqüência podemos ter menos atividade e mais qualidade no que fazemos. Em Lucas lemos uma passagem na qual Marta recebeu Jesus em sua casa. Sua irmã Maria, “assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.
Marta, porém, andava distraída em muitos serviços” (10:39-40) e reclamou que Maria não a ajudava. Jesus persuadiu Maria a voltar às tarefas do dia? Não. “Jesus, disse-lhe: Marta, ( … ) estás ansiosa e afadigada com muitas coisas.
Mas uma coisa só é necessária; e Maria escolheu a boa parte”. (Versículos 41-42.) A mensagem é verdadeira ainda hoje: Escolhei o caminho do Senhor, pois é glória eterna.
Sabemos por que estamos aqui. Quando estamos no caminho, podemos senti-lo. Os frutos do progresso eterno são alegria, paz, amor, esperança, e confiança no Senhor. Embora o caminho seja apertado, é o caminho certo. É neste caminho que testificamos diariamente nosso amor pelo Senhor, por Seus filhos, Sua igreja, Seu conselho e a riqueza de Suas bênçãos. Por intermédio de boas obras magnificamos o que há de melhor em nós, um passo de cada vez, um dia após outro, ininterruptamente.
Conhecemos o caminho; na verdade, conhecemo-lo bem. O profeta Néfi prometeu: “Se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com a palavra de Cristo e perseverando até o fim, eis que, diz o Pai: Tereis vida eterna”. (2 Néfi 31:20.) Que assim seja. Em nome de Jesus Cristo. Amém.