Conferência Geral
Os favoritos de Deus
Conferência Geral de Outubro de 2024


10:31

Os favoritos de Deus

Estar repletos do amor de Deus não só nos protege durante as tempestades da vida, mas também torna os momentos felizes ainda mais felizes.

Antes de começar, preciso dizer que dois de meus filhos já desmaiaram enquanto estavam ao púlpito, e nunca me senti tão conectado a eles como neste momento. Tenho mais preocupação em mente do que apenas o alçapão.

Nossa família tem seis filhos que, às vezes, provocam uns aos outros dizendo que são os filhos favoritos. Cada um tem motivos diferentes para ser o preferido. Nosso amor por cada um deles é puro, gratificante e completo. Não poderíamos amar um deles mais do que o outro — com o nascimento de cada filho, houve a mais bela expansão de nosso amor. Entendo muito melhor o amor do Pai Celestial por mim por causa do amor que sinto por meus filhos.

Quando eles declaram suas razões para ser o filho mais amado, qualquer um pensaria que nunca houve um quarto bagunçado em nossa casa. A percepção das imperfeições nos relacionamentos entre pais e filhos diminui com o foco no amor.

Em alguns momentos, talvez por perceber que estamos nos encaminhando para um desentendimento familiar, eu digo: “Certo, vocês venceram, mas não vou revelar; vocês sabem quem é o meu favorito”. Meu objetivo é que cada um dos seis se sinta vitorioso e uma guerra seja evitada — pelo menos, até que essa conversa ocorra novamente!

Em seu evangelho, João descreve a si mesmo como “aquele discípulo a quem Jesus amava”, como se fosse algo único. Gosto de pensar que isso se deve ao fato de que João se sentia plenamente amado por Jesus. Tive a mesma sensação quando Néfi escreveu: “Glorio-me em meu Jesus”. É claro que Jesus não é mais Salvador de Néfi do que é de João; ainda assim, a natureza pessoal do relacionamento de Néfi com “seu” Jesus o levou a fazer essa terna descrição.

Não é maravilhoso que haja momentos em que podemos nos sentir tão plena e pessoalmente notados e amados? Néfi pode chamá-Lo de “meu Jesus”, e nós também podemos. O amor do Salvador é “a espécie de amor mais sublime, nobre e forte”, e Ele o provê até estarmos saciados. O amor divino nunca cessa, e cada um de nós é um estimado favorito. Como círculos em um diagrama de Venn, o amor de Deus está onde todos nós nos sobrepomos. Sejam quais forem as partes de nós que pareçam diferentes, encontramos comunhão em Seu amor.

É alguma surpresa que os mandamentos mais básicos sejam amar a Deus e amar ao nosso próximo? Quando vejo pessoas demonstrando amor cristão umas pelas outras, sinto que esse amor contém mais do que apenas o amor delas; é um tipo de amor que contém algo divino. Quando amamos uns aos outros dessa maneira, tão completa e plenamente quanto podemos, há uma influência dos céus.

Então, se alguém com quem nos importamos parece distante desse sentimento de amor divino, podemos seguir este padrão — fazendo coisas que nos aproximam de Deus e, depois, fazendo algo que nos aproxime da pessoa —, um convite implícito para nos achegar a Cristo.

Gostaria de poder me sentar com vocês e perguntar quais circunstâncias os levam a sentir o amor de Deus. Quais versículos das escrituras, quais atos de serviço em particular? Onde vocês estariam? Que tipo de música? Estariam na companhia de quem? A conferência geral é um excelente momento para aprender sobre nos conectarmos com o amor divino.

Mas talvez vocês se sintam muito distantes do amor de Deus. Talvez haja um coro de vozes de desânimo e escuridão que pesa em seus pensamentos, mensagens dizendo que vocês estão muito feridos e confusos, muito fracos e menosprezados, muito diferentes ou desorientados para merecerem o amor celestial de modo real. Se estiverem dando ouvidos a essas ideias, por favor ouçam isto: essas vozes estão erradas. Podemos desconsiderar com confiança que o sofrimento de alguma forma nos desqualifica para o amor celestial — a todo momento, cantamos o hino que nos lembra de que nosso amado e perfeito Salvador escolheu “com sofrimento e dor [cumprir] a lei; para nos resgatar”, todas as vezes que partilhamos do pão do sacramento. Certamente Jesus remove todo o constrangimento daqueles que se sentem fracos. Por Se deixar derrotar, Ele Se tornou perfeito e pode nos tornar perfeitos a despeito de nossas fraquezas. Ele foi surrado, abandonado, dilacerado e machucado — e talvez nos sintamos assim —, mas não estamos separados do amor de Deus. “Perfeito amigo, amor real”, como diz a canção.

Talvez vocês tenham um segredo que faz com que não se sintam dignos de serem amados. Porém, independentemente do que sabem sobre si mesmos, estão errados se pensam que não podem ser amados por Deus. Às vezes, somos cruéis e impacientes conosco mesmos de um modo que jamais imaginaríamos ser com outras pessoas. Há muito que podemos fazer nesta vida, mas a autoaversão e a autocondenação vergonhosa não fazem parte desta lista. Por mais imperfeitos que nós nos sintamos, Seus braços podem nos alcançar. Sim. Eles sempre nos alcançam, o Senhor “virá [conosco]” e abraçará cada um de nós.

Quando não sentimos o aconchego do amor divino, não significa que ele desapareceu. Deus nos diz que “os montes se moverão, e os outeiros tremerão, porém a [Sua] benignidade não se desviará de [nós]”. Então, apenas para ficar claro, a ideia de que Deus parou de nos amar deve estar tão no final da lista de possíveis explicações na vida que não podemos considerá-la até que os montes se movam, e os outeiros tremam!

Adoro esse simbolismo dos montes como uma evidência da garantia do amor de Deus. Esse poderoso simbolismo se encontra nos relatos daqueles que vão às montanhas para receber revelação e na descrição de Isaías do “monte da casa do Senhor” sendo “[firmado] no cume dos montes”. A Casa do Senhor é o lar de nossos mais preciosos convênios e um lugar de refúgio para todos nós, onde podemos mergulhar nas evidências do amor do Pai por nós. Tenho me regozijado no consolo que sinto em minha alma quando honro meu convênio batismal e encontro alguém que está de luto por uma perda ou sofrendo uma decepção, e tento ajudá-lo a conduzir e processar seus sentimentos. Essas são maneiras de nos tornarmos mais imersos no precioso convênio de amor, chamado hesed?

Então, se o amor de Deus não nos abandona, por que nem sempre o sentimos? Apenas para que não criem expectativas: não sei. Mas ser amado definitivamente não é o mesmo que se sentir amado, e tenho algumas ideias que podem ajudá-los em sua busca por respostas a essa pergunta.

Talvez vocês estejam lidando com o luto, a depressão, a traição, a solidão, a decepção ou outra interferência poderosa em sua capacidade de sentir o amor de Deus por vocês. Se esse for o caso, essas coisas podem entorpecer ou interromper nossa habilidade de sentir o que normalmente sentiríamos. Pelo menos por um tempo, talvez não consigam sentir o amor Dele, e saber que Ele existe precisará ser o suficiente. Mas me pergunto se podemos experimentar — pacientemente — diferentes maneiras de expressar e receber o amor divino. Vocês conseguem dar um passo atrás, em relação ao que está à sua frente, e talvez mais um passo, e outro, até verem um cenário mais amplo, mais amplo e mais amplo, se necessário, até que estejam literalmente “pensando celestial” porque estão vendo as estrelas e se lembrando dos mundos incontáveis e, por meio deles, seu Criador?

Ouvir o canto dos pássaros, sentir o sol ou uma brisa, ou a chuva em minha pele, quando a natureza aumenta minha admiração por Deus — cada uma dessas sensações me proporcionou uma conexão celestial. Talvez o consolo de amigos fiéis possa ajudar. Talvez a música? Ou servir? Já escreveram um registro ou diário dos momentos em que sua conexão com Deus ficou mais clara para vocês? Talvez possam convidar pessoas nas quais confiam para compartilharem suas fontes de conexão divina com vocês enquanto buscam alívio e entendimento.

Eu me pergunto se Jesus escolhesse um lugar onde vocês e Ele pudessem se encontrar, um local privado onde pudessem focar unicamente Nele, será que Ele escolheria seu local único de sofrimento pessoal, o lugar de sua necessidade mais profunda, onde ninguém mais pode ir? Um lugar onde vocês se sentem tão isolados que acreditam estar totalmente sozinhos, mas não estão, um lugar para o qual talvez apenas Ele tenha ido, e tem tudo preparado para encontrá-los quando vocês chegarem? Se vocês estão esperando Ele chegar, será que talvez Ele já não esteja lá e até próximo a vocês?

Se vocês se sentem repletos de amor neste momento da vida, tentem não guardar isso só para vocês. Espalhem esse amor por onde forem. Um dos milagres da economia divina é que, quando tentamos compartilhar o amor de Jesus, percebemos que estamos ainda mais repletos dele, uma espécie de variação do princípio de que “quem perder a sua vida por causa de mim, achá-la-á”.

Estar repletos do amor de Deus não só nos protege durante as tempestades da vida, mas também torna os momentos felizes ainda mais felizes — nossos dias alegres, quando o Sol está brilhando no céu, tornam-se ainda mais brilhantes devido ao esplêndido clarão em nossa alma.

Que “[estejamos] arraigados e fundados” em nosso Jesus e em Seu amor. Que busquemos e valorizemos experiências nas quais sentimos Seu amor e Seu poder em nossa vida. A alegria do evangelho está disponível para todos, não apenas para os felizes, não apenas para os abatidos. A alegria é nosso propósito, não uma dádiva devido às nossas circunstâncias. Temos todas as razões para nos “[regozijar] e [nos encher] de amor para com Deus e todos os homens”. Que estejamos cheios desse amor. Em nome de Jesus Cristo, amém.

Notas

  1. João 21:20; ver também João 13:23; 19:26; 20:2; 21:7.

  2. 2 Néfi 33:6; grifo do autor.

  3. Guia para Estudo das Escrituras, “Caridade”.

  4. Na Terra Santa: Mateus 14:15–20. Nas Américas: 3 Néfi 27:16.

  5. Ver Mateus 22:35–40.

  6. Ver 1 João 4:12.

  7. O guia Força dos Jovens: Um Guia para Fazer Escolhas pede que “[ajudemos outros] a sentir o amor do Pai Celestial por [nosso] intermédio”, 2022, p. 12.

  8. Ver “Jesus de Nazaré, Mestre e Rei”, Hinos, nº 106; ver também Isaías 53:5; Mateus 26:26.

  9. O presidente Russell M. Nelson explicou: “Pouco antes da Crucificação [do Salvador], Ele disse: ‘No terceiro dia sou consumado’ [Lucas 13:32); grifo do autor]. Pensem nisso! O Senhor, sem pecados e sem erros — já perfeito segundo nossos padrões mortais — proclama Seu próprio estado de perfeição como algo ainda a ser alcançado no futuro. Sua perfeição eterna seguiria Sua Ressurreição e o recebimento de ‘todo o poder no céu e na terra’ (Mateus 28:18; ver também Doutrina e Convênios 93:2–23)” (“Perfeição incompleta”, A Liahona, janeiro de 1996, p. 96). O profeta Morôni convidou a todos: “Vinde a Cristo, sede aperfeiçoados nele e negai-vos a toda iniquidade; e se vos negardes a toda iniquidade e amardes a Deus com todo o vosso poder, mente e força, então sua graça vos será suficiente; e por sua graça podeis ser perfeitos em Cristo” (Morôni 10:32).

  10. “Savior of My Soul”, Álbum dos jovens de 2024, ChurchofJesusChrist.org.

  11. Ver Isaías 59:1.

  12. “Onde encontrar a paz?”, Hinos, nº 73.

  13. Isaías 54:10.

  14. Por exemplo, Néfi (ver 1 Néfi 17:7), Moisés (ver Êxodo 19:3), os 11 discípulos (ver Mateus 28:16) e o Salvador (ver Mateus 14:23); ver também Salmos 24:3.

  15. Isaías 2:2; ver também versículo 3. Esse simbolismo me leva a considerar ainda mais os propósitos do Senhor em fornecer centenas de templos para Seus filhos em todo o mundo.

  16. Minha experiência confirma a veracidade da promessa do presidente Nelson de que o lugar mais seguro para viver é dentro de nossos convênios do templo (ver “O templo e o nosso alicerce espiritual”, Liahona, Nov. 2021, p. 96).

  17. O presidente Nelson nos assegurou:

    “O tempo despendido no templo vai ajudá-los a pensar celestial e a captar a visão de quem vocês realmente são, de quem podem se tornar e do tipo de vida que podem ter para sempre. A adoração regular no templo vai melhorar a maneira como vocês veem a si mesmos e como se encaixam no magnífico plano de Deus. Prometo isso a vocês. (…)

    Nada vai acalmar mais seu espírito durante os momentos de dor. Nada abrirá mais os céus. Nada!” (“Alegrar-se com a dádiva das chaves do sacerdócio”, Liahona, maio de 2024, pp. 121–122).

  18. Ver Mosias 18:8–10, 13. “O convênio batismal é um testemunho público para o Pai Celestial de três compromissos específicos: servir a Deus, guardar os mandamentos Dele e ter o desejo de tomar o nome de Jesus Cristo sobre nós. Os outros aspectos geralmente associados ao convênio batismal — que estamos ‘dispostos a carregar os fardos uns dos outros’, ‘chorar com os que choram’; ‘e consolar os que necessitam de consolo’ (Mosias 18:8–9) — são os frutos de fazermos os convênios e não parte do convênio em si. Esses aspectos são importantes porque são o que uma alma convertida faria naturalmente” (Dale G. Renlund, “Stronger and Closer Connection to God through Multiple Covenants”, devocional da Universidade Brigham Young, 5 de março de 2024, speeches.byui.edu).

  19. Ver Russel M. Nelson, “O convênio eterno”, Liahona, outubro de 2022, p. 4.

  20. Ver Russell M. Nelson, “Pensem celestial!”, Liahona, novembro de 2023, pp. 117, 118.

  21. Mateus 16:25.

  22. Efésios 3:17.

  23. Ver 2 Néfi 2:25; Russell M. Nelson, “Alegria e sobrevivência espiritual”, A Liahona, novembro de 2016, pp. 81–84.

  24. Mosias 2:4.

  25. Ver Morôni 7:48.