A Garrafinha do Silêncio
O autor mora em Utah, EUA.
Por que o vovô deu uma garrafa vazia ao Carlos?
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” (João 14:27).
Carlos ficou olhando a velha garrafa vazia e girando-a nas mãos. Era pequena e verde pastel, com uma rolha de cortiça como tampa. O vovô Roberto lhe dera a garrafa após seu batismo.
“O que é isso?” perguntou Carlos. “Sei que é uma garrafa, mas não há nada dentro.”
“Ah, ela está cheia”, garantiu o vovô.
Carlos sacudiu a garrafa. “Ora, para mim parece vazia.”
O vovô riu. Tirou a rolha e segurou a garrafinha perto da orelha de Carlos. “Consegue ouvir?” sussurrou ele.
“Ouvir o quê?” sussurrou de volta Carlos.
O vovô sorriu. “O silêncio”, respondeu ele. Depois, pôs a rolha de volta na garrafa. “No mundo de hoje, é bem difícil encontrar o silêncio. É como um remédio, e cada gota é tão preciosa quanto o ouro.”
Carlos agradeceu e levou o estranho presente do avô para casa. Mas não pensou muito nele.
Algumas semanas depois, o tio de Carlos, Vicente, veio a falecer. Após o funeral, muitos parentes estavam reunidos na sala da casa de Carlos para conversar. Carlos escapou para seu quarto e fechou a porta. Conseguia ouvir o som abafado da voz dos pais e parentes no andar de baixo.
Carlos viu a velha garrafa verde em sua mesa e a apanhou. Girou-a nas mãos. O avô dissera que o silêncio era como um remédio. Carlos precisava de um pouco de paz e consolo depois do funeral do tio Vicente.
Carlos soltou a rolha da garrafa e inclinou-a sobre a cabeça, fingindo derramar nela um pouco de silêncio. Ele sabia que, na verdade, a garrafa não estava cheia de silêncio. Mas sabia que precisava de um momento de serenidade para sentir-se próximo de Deus.
Sentiu lágrimas brotarem-lhe nos olhos. O tio Vicente não estaria mais ali — não haveria mais piadas bobas nem disputas de luta romana com ele. Carlos sentia a saudade ferir-lhe o coração.
Então, no silêncio, Carlos sentiu um calor crescer-lhe no peito e abrandar a dor. Lembrou-se de que o tio Vicente não tinha desaparecido para sempre, apenas se mudara para o mundo vindouro. Graças a Jesus Cristo e ao Plano de Salvação, todos viveriam para sempre. Carlos sabia que um dia veria o tio Vicente novamente.
Com a garrafa nas mãos, Carlos sentiu uma grande paz interior. Sabia que era por causa do Espírito Santo e não por causa da garrafa. A garrafa apenas o lembrava de ficar em silêncio para poder sentir o Espírito Santo. Tampou a garrafa e colocou-a de lado.
Depois, voltou à sala para estar com a família. Conseguiu levar dentro de si a paz e o consolo do Espírito Santo mesmo fora da serenidade de seu quarto.