Manter a fé em meio ao isolamento
Leia como alguns membros da Igreja permaneceram fiéis quando guerra, doença ou outras circunstâncias os deixaram sozinhos em seu país.
A maioria dos santos dos últimos dias adora em alas e ramos, onde pode “[reunir-se] frequentemente para jejuar e orar e para falar a respeito do bem-estar de suas almas” (Morôni 6:5). Mas Morôni, o profeta que escreveu essas palavras, fez alguns de seus mais duradouros trabalhos quando servia sozinho como discípulo depois da destruição de seu povo.
Em toda a história da Igreja, muitos santos dos últimos dias mantiveram a fé mesmo em circunstâncias que os deixaram isolados. Alguns, como Morôni, viveram seus dias como testemunhas e exemplos para as futuras gerações. Outros viveram para ver o dia quando novamente poderiam compartilhar sua fé.
Orar por anos para ver este dia
Františka Brodilová mal poderia vislumbrar o papel que desempenharia na história da Igreja quando um missionário bateu à sua porta em Viena, em 1913. No ano após sua conversão, a Primeira Guerra Mundial tomou conta do Império Austro-Húngaro, os missionários voltaram para casa e muitos irmãos foram chamados para o serviço militar, deixando Františka e algumas outras irmãs para fazer as reuniões sozinhas.
Esse foi o maior contato que Františka teria com os membros da Igreja por muitos anos. Depois da guerra, o marido de Františka, František, recebeu a promessa de um cargo no novo governo da Tchecoslováquia. Quando se mudaram para Praga, Františka se tornou o único membro da Igreja no país. František faleceu alguns meses depois e Františka ficou sozinha para sustentar suas duas filhas pequenas, Frances e Jane.
Sozinha, Františka ensinou o evangelho às filhas. “Fui criada na Igreja”, disse Frances. “A igreja era nosso lar!”1 Františka também escreveu para líderes da Igreja na Áustria pedindo que designassem missionários para a Tchecoslováquia. Os líderes da Igreja estavam relutantes porque o último missionário em Praga, 40 anos antes, foi preso por pregar o evangelho e depois expulso da cidade. Apesar do novo governo, os líderes da Igreja temiam que pouco houvesse mudado.
Com determinação, Františka continuou a escrever cartas e orar para o estabelecimento de uma missão. Em 1928, depois de Františka ter ficado sozinha por uma década, Thomas Biesinger, de 83 anos de idade, o mesmo missionário que estivera em Praga anos antes, retornou. Parecia que o isolamento da família havia terminado. Pouco tempo depois, contudo, o declínio da saúde do élder Biesinger o forçou a sair do país.
Františka ficou desanimada, mas decidiu continuar a escrever cartas para membros e líderes da Igreja no exterior. Sua perseverança foi recompensada: em 24 de julho de 1929, o élder John A. Widtsoe (1872–1952), do Quórum dos Doze Apóstolos, chegou em Praga com um grupo de missionários. Naquela noite, Františka e o grupo subiram um monte perto de Karlštejn Castle, onde o élder Widtsoe dedicou a Tchecoslováquia para a pregação do evangelho e formalmente organizou uma missão. “Poucas pessoas conseguem imaginar a alegria que sentimos”, Františka escreveu mais tarde. “Oramos por anos para a chegada desse dia.”2
Por quase seis meses, o ramo se reuniu na casa de Františka. Františka ajudou suas filhas na tradução do Livro de Mórmon para o tcheco e no estabelecimento dos alicerces para a Igreja no que hoje é a República Tcheca.
Como Františka, muitos santos dos últimos dias perseveraram em meio ao isolamento. Os homens e as mulheres a seguir estão entre os primeiros a compartilhar o evangelho e lançar as bases da Igreja em sua terra natal, o que permitiu que outros, mais tarde, usufruíssem da companhia dos santos.
O dom constante da fé verdadeira
Quando a Missão Japão foi fechada em 1924, muitos membros se sentiram perdidos e abandonados. A liderança para os cerca de 160 membros do Japão recaiu sobre Fujiya Nara, o élder presidente no país, cujo emprego no sistema ferroviário permitia que ele visitasse os membros mais distantes. Quando não conseguia fazer as visitas, Fujiya mantinha contato por meio da publicação da revista intitulada Shuro [Folha de Palmeira], na qual ele compartilhava mensagens do evangelho e incentivava os santos a perseverar em meio aos anos turbulentos que se seguiram.
Depois de ser transferido para a Manchúria a trabalho e o élder presidente que o substituiu falecer repentinamente em 1937, o contato com os membros do Japão foi perdido. “Mesmo não tendo contato com Salt Lake City”, Fujiya disse, “tínhamos a certeza de que a Igreja seria reaberta [aqui]”.3
Durante a Segunda Guerra Mundial, Fujiya voltou a Tóquio, onde pregou a seus vizinhos e organizou reuniões semanais da Escola Dominical. Depois da guerra, Fujiya encontrou um anúncio colocado por Edward L. Clissold, um santo dos últimos dias que servia nas forças armadas americanas, convidando os membros da Igreja no país e entrarem em contato com ele. Fujiya imediatamente visitou Edward em seu quarto de hotel. Quando Edward foi às reuniões dos santos dos últimos dias em Tóquio, ficou surpreso de encontrar quase cem pessoas presentes.
“Em meio a tudo isso”, Fujiya escreveu mais tarde, “o maior e mais constante dom foi conhecer e abraçar a verdadeira fé — o que significa conhecer o Pai Celestial, Jesus Cristo e o Espírito Santo”.4
Edificar a Igreja no Havaí
Jonathan H. Napela era um juiz respeitado na ilha de Maui antes de ele e a esposa, Kiti, serem batizados em 1851. Depois que Jonathan foi forçado a renunciar à magistratura por ter se filiado à Igreja, dedicou sua energia a edificar a Igreja entre os havaianos. Jonathan ensinou o idioma ao missionário George Q. Cannon, ajudou a traduzir o Livro de Mórmon e desenvolveu o primeiro programa para treinar missionários em qualquer idioma.
Como resultado, mais de 3 mil havaianos nativos se filiaram à Igreja em três anos. “É evidente para nós que esta é a Igreja de Deus”, Jonathan escreveu. “Há muitas pessoas nestas ilhas que desenvolveram uma poderosa fé pela graça de Deus, por meio de Jesus Cristo, o Senhor, para que pudéssemos receber o Espírito Santo.”5
Em 1872, Kiti Napela contraiu lepra e foi obrigada a se mudar para uma colônia de leprosos em Moloka’i. Em vez de ficar entre os santos, Jonathan pediu à colônia que o aceitasse também. “Durante o pouco tempo restante”, ele escreveu à junta de saúde, “quero estar com minha esposa”.6 O pedido foi aceito e Jonathan se tornou o presidente de ramo em Moloka’i. Jonathan trabalhou com o sacerdote católico local, padre Damien, para ministrar a todas as pessoas afligidas com a doença. Jonathan acabou morrendo de lepra, que contraiu na colônia.
“Alegro-me de ser um instrumento nas mãos de Deus”
As famílias Friedrichs e Hoppe eram os únicos santos dos últimos dias na Argentina quando se mudaram da Alemanha para aquele país no início dos anos 1920. Wilhelm Friedrichs e Emil Hoppe tentaram compartilhar o evangelho em seu novo país ao distribuir panfletos e convidar as pessoas para assistirem às reuniões. “Tenho completa confiança em meu Pai Celestial de que Ele enviará amigos sinceros que aceitarão o evangelho”, Wilhelm escreveu, “porque me alegro em ser um instrumento nas mãos de Deus”.7
Entretanto, havia grandes desafios. As famílias viviam longe uma da outra e tinham que viajar duas horas para se reunirem. Como Emil era diácono e Wilhelm, mestre no Sacerdócio Aarônico, não podiam administrar ordenanças como o sacramento ou dar bênçãos do sacerdócio.
Em 1924, Hildegarde Hoppe deu à luz uma menina que morreu dois meses depois. Em meio ao pranto, Hildegarde perguntou como o nome do bebê poderia ser incluído nos registros da Igreja. Como resultado, Wilhelm começou a se corresponder com líderes da Igreja em Salt Lake City.
Um ano e meio depois, o élder Melvin J. Ballard (1873–1939), do Quórum dos Doze Apóstolos, foi enviado com outros missionários para se reunirem com o crescente grupo de conversos em Buenos Aires. Quando chegaram, em dezembro de 1925, o élder Ballard batizou vários conversos e organizou um ramo. No dia de Natal, o élder Ballard dedicou a América do Sul para o trabalho missionário e organizou a primeira missão do continente.
Levar o evangelho de volta a seu povo
Phillipe e Annelies Assard tinham uma vida confortável quando os missionários bateram à sua porta em Colônia, na Alemanha, em 1980. Rapidamente aceitaram o evangelho e se sentiram “muito abençoados”. Phillipe logo sentiu um forte desejo de voltar a seu país natal, a Costa do Marfim, para compartilhar o evangelho restaurado. “Assim, em 1986, depois de muitas orações e jejuns com minha esposa”, Phillipe recorda, “decidi voltar à Costa do Marfim para dar o que havia recebido, para melhorar o futuro de minha família e meu povo”.8
Antes de deixar a Alemanha, Phillipe se aconselhou com líderes da Igreja. Apesar de não haver unidades da Igreja na Costa do Marfim, havia membros lá que se filiaram à Igreja quando estavam em outros países. A família Assard recebeu uma lista com o nome deles e no ano seguinte diligentemente escreveram para cada um. Gradualmente, a família reavivou a centelha de fé de alguns e teve permissão de começar a realizar reuniões dominicais em sua casa. Logo havia alas e ramos e, em 1997, a primeira estaca da Costa do Marfim foi organizada.