Não deixemos de reconhecer
Élder Jorge F. Zeballos
Dos setenta
Existe uma força mais poderosa do que os terremotos, vendavais ou incêndios violentos. Mas é delicada e leve, por isso precisamos estar atentos se quisermos que ela nos guie.
Ilustrações: Irena Freitas
Em 27 de fevereiro de 2010, às 3 horas e 34 minutos da madrugada, um terremoto de magnitude 8.8 na escala MMS atingiu com violência a maior parte do Chile, causando pânico, medo e tensão em milhões de pessoas.
Poucos dias depois, fui designado para presidir uma conferência de estaca numa localidade próxima ao epicentro desse grande tremor. Fiquei preocupado sobre como o terremoto e os tremores secundários poderiam prejudicar a frequência à conferência. Fiquei surpreso ao verificar que a frequência em cada sessão da conferência foi maior do que a verificada em conferências anteriores.
Aparentemente, o terremoto havia relembrado os membros da estaca, pelo menos temporariamente, a respeito da importância de estarem próximos a Deus, santificando o Dia do Senhor e assistindo às reuniões. Várias semanas depois, telefonei para o presidente da estaca. Perguntei se a frequência às reuniões da Igreja ainda estava alta. Ele respondeu que, assim que o número e a magnitude dos tremores diminuíram, o mesmo aconteceu com a frequência à igreja.
Um comportamento semelhante ocorreu durante os eventos terríveis que destruíram o World Trade Center em Nova York, EUA, em 11 de setembro de 2001. Milhares de pessoas procuraram suas igrejas em busca de paz e consolo de que tanto necessitavam. No entanto, com o passar do tempo, essa busca diminuiu e as coisas voltaram ao normal. Não são terremotos, tempestades, desastres ou tragédias, tanto naturais quanto provocadas pelo homem, que desenvolvem a fé, o testemunho e finalmente a conversão.
Elias e a voz mansa e delicada
Nos dias do profeta Elias, Acabe era o rei de Israel. Acabe se casou com Jezabel, uma princesa fenícia. Ela apresentou os costumes dos fenícios aos israelitas e estabeleceu a adoração de ídolos. Depois de Elias desafiar e derrotar os sacerdotes de Baal que apinhavam a corte do rei Acabe, Jezabel passou a ameaçar a vida do profeta e assim ele fugiu para o deserto (ver 1 Reis 18:4, 13, 19, 21–40; 19:1–4).
Depois de ser alimentado por um anjo no deserto, Elias caminhou durante 40 dias e 40 noites até o monte Horebe (ver 1 Reis 19:5–8). No deserto, a palavra do Senhor veio até Elias. Foi-lhe dito que saísse da caverna onde havia passado a noite. Ao se postar no monte diante do Senhor, levantou-se “um grande e forte vento”, tão poderoso que quebrava as pedras e os montes, “porém o Senhor não estava no vento”. Então ocorreu um terremoto, e “também o Senhor não estava no terremoto”. Em seguida veio um fogo, “porém também o Senhor não estava no fogo” (1 Reis 19:11–12). Apesar da força do vento, do terremoto e do fogo, estas não foram manifestações da voz do Senhor ao profeta.
Depois dessas poderosas exibições das forças da natureza, “uma voz mansa e delicada” veio até Elias, e ele a escutou (ver 1 Reis 19:12–13). A voz reconfortante do Senhor disse a ele quem deveria ser ungido como o próximo rei da Síria, a quem deveria ungir como rei subsequente de Israel e que deveria ungir a Eliseu como o profeta que viria a sucedê-lo.
Discernir a voz
A mesma voz que foi ouvida por Elias — a voz que lhe indicou o que fazer durante um período difícil em sua vida e seu ministério — ainda está disponível para cada filho de Deus que procura com sinceridade fazer a vontade do Pai. Mas, em meio a tantas vozes ruidosas e mundanas que nos convidam a trilhar caminhos obscuros e confusos, onde podemos encontrar a voz mansa e delicada que nos indicará o que fazer, o que dizer e o que o Senhor deseja que nos tornemos?
Néfi nos incentiva a “[nos banquetear] com as palavras de Cristo; pois eis que as palavras de Cristo vos dirão todas as coisas que deveis fazer” (2 Néfi 32:3).
E onde encontramos as palavras de Cristo para podermos nos banquetear com elas? Podemos buscar nas escrituras, especialmente no Livro de Mórmon, que foi escrito e preservado em sua pureza para nós, os habitantes desta geração. Também escutamos as palavras dos profetas modernos, que nos dizem atualmente qual é o desejo de nosso Pai Celestial e de nosso Salvador Jesus Cristo.
As palavras dos profetas vivos nos guiam quando nos defrontamos com desafios novos e complexos. Por exemplo, nos anos recentes, enquanto a confusão predominante do mundo e das suas filosofias tem procurado de forma permanente alterar o conceito do casamento e da família, as palavras dos profetas enfatizam de maneira corajosa, firme e amorosa a natureza sagrada da família ao declarar que “o casamento entre homem e mulher foi ordenado por Deus e que a família é essencial ao plano do Criador para o destino eterno de Seus filhos”.1
Hoje em dia os profetas e apóstolos também salientam a importância de se guardar o Dia do Senhor em casa e na Igreja e de se alcançar a salvação de nossos ancestrais por meio da história da família e da obra do templo. A cada conferência geral, eles proporcionam orientação espiritual adicional para a Igreja.
O Espírito Santo os guiará
Néfi também ensina: “Se entrardes pelo caminho e receberdes o Espírito Santo, ele vos mostrará todas as coisas que deveis fazer” (2 Néfi 32:5). Sendo assim, depois de reforçar a importância de buscarmos as palavras de Cristo, Néfi então nos instrui a respeito da comunicação pessoal e direta que precisamos manter com o Espírito Santo, o terceiro membro da Trindade.
Néfi sabia exatamente do que estava falando. Cerca de 30 ou 40 anos antes, enquanto sua família ainda estava no deserto e ele estava construindo um navio que pudesse levá-los à terra da promissão, Néfi repreendeu seus irmãos mais velhos por cometerem iniquidades mesmo depois de haverem ouvido a voz de um anjo.
Néfi lhes disse: “Sois rápidos em cometer iniquidades, porém vagarosos em lembrar-vos do Senhor vosso Deus. Haveis visto um anjo que vos falou; sim, haveis ouvido sua voz de tempos em tempos; e ele vos falou numa voz mansa e delicada, mas havíeis perdido a sensibilidade, de modo que não pudestes perceber suas palavras; portanto, falou-vos ele com voz de trovão, o que fez tremer a terra como se fosse partir-se em pedaços” (1 Néfi 17:45).
Não deixemos de reconhecer
A comunicação de Deus com Seus filhos costuma vir por meio do Espírito Santo, que tende a Se comunicar conosco com uma voz que se insere em nossa mente e nosso coração, “a voz mansa e delicada, que sussurra através de todas as coisas e penetra todas as coisas” (D&C 85:6). Procuremos ouvir essa voz gentil e não esperar que alguém precise falar conosco com voz de trovão! Lembrem-se: Elias aprendeu que a voz do Senhor não estava no vento, no terremoto ou no fogo. O Senhor falou a ele por meio do Espírito Santo, uma voz mansa e delicada.
“A voz do Senhor nos advém por meio de um sentimento ao invés de uma voz”, disse o presidente Boyd K. Packer (1924–2015), que foi o presidente do Quórum dos Doze Apóstolos. “Vocês vão aprender, como eu aprendi, a ‘ouvir’ essa voz que é mais sentida do que ouvida. (…)
É uma voz espiritual que vem à mente como um pensamento ou como um sentimento colocado em seu coração.”2
Nós sentimos as palavras do Espírito Santo na mente e no coração mais do que ouvimos com os ouvidos. Não deixemos de reconhecer esses sussurros! Que abramos a mente e o coração para receber as palavras dos profetas. Que permitamos ao Espírito Santo continuar a nos ensinar por meio da voz mansa e delicada. Ao ensinar Seus discípulos a respeito do Espírito Santo, que seria enviado a eles depois de Sua partida, o Salvador disse-lhes: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26).
Todo membro fiel de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem o direito e a bênção de receber orientação pessoal, inspiração e revelação pessoal dos céus por meio do Espírito Santo.
O presidente Thomas S. Monson (1927–2018) disse: “Sejam influenciados por essa voz mansa e delicada. Lembrem-se de que alguém, com autoridade, impôs as mãos sobre sua cabeça no momento de sua confirmação e disse: ‘Recebe o Espírito Santo’. Abram o coração, sim, a própria alma, para o som daquela voz especial que testifica a verdade. Conforme prometeu o profeta Isaías: ‘E os teus ouvidos ouvirão a palavra (…) dizendo: Este é o caminho, andai nele’ (Isaías 30:21)”.3