Guardai a Fé
Os próprios obstáculos sobrepujados aproximam mais do Pai Celestial os fiéis.
Quando eu era um jovem ex-missionário, meus ex-companheiros de missão e eu despediamo-nos costumeiramente com as palavras: “Guarda a fé”. Embora fosse uma frase corriqueira, dita informalmente e sem muita reflexão, a admoestação é séria e foi feita pelo Senhor.
O Apóstolo Paulo, na segunda epístola a Timóteo, declarou: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. (II Timóteo 4:7.) Tem sido sempre nossa responsabilidade guardar a fé até o fim. Na seção dezoito de Doutrina e Convênios, o Senhor admoesta: “E todos os que se arrependerem e forem batizados em meu nome, que é Jesus Cristo, e perseverarem até o fim serão salvos”. (V. 22.)
Nunca esquecerei a impressão que me causou o Presidente Joseph Fielding Smith, em seu nonagésimo quinto aniversário ao exclamar: “Espero que eu persevere até o fim nesta vida”. Hoje, talvez mais do que nunca, nossa fé sofra desafios de todo tipo. Isso não nos deve surpreender, já que os desafios fazem parte do plano de Deus. Como Abraão se provou a si mesmo perante o Senhor com fé inabalável quando levou o filho Isaque à montanha para ser sacrificado, nós também devemos provar ao Pai Celestial nossa devoção, perseverança e fé.
Todos nos defrontamos com os desafios normais e esperados da mortalidade. Passamos pela experiência da morte, batalhamos contra a transgressão, tentamos vencer as dificuldades do arrependimento, às vezes lutamos contra a rebelião e lidamos com o estresse de sustentar nossas famílias. Essas coisas são esperadas. Nós nos preparamos para elas e as enfrentamos.
Para os fiéis, os testes e provações normais da vida não precisam ser inimigos da fé. Embora não busquemos esses obstáculos e desafios, nós os aceitamos, e por meio deles edificamos a vida e a fé. Os próprios obstáculos sobrepujados aproximam mais do Pai Celestial os fiéis, ajudando-os a desenvolver um espírito humilde e submisso, tornando-os gratos e fazendo que apreciem as bênçãos que emanam de um Pai amoroso. Em resumo, essas experiências podem aumentar e, muitas vezes, realmente aumentam a fé. Os fiéis não oram para serem poupados das provações da vida, mas sim para que tenham forças para se elevarem acima delas. Dessa forma, aproximam-se mais do Pai Celestial e do estado de perfeição que buscam.
Para os santos dos últimos dias, muitas vezes o maior teste de fé — o mais sutil, mas também o mais sério — vem, não dos obstáculos normais da mortalidade, mas do sucesso. Há uma forte relação, até uma relação de causa e efeito, entre a fé e as virtudes da humildade e de se ter um coração submisso, que sempre foram ingredientes fundamentais da fé. As assim chamadas realizações da vida, sejam materiais ou intelectuais, quando não contrabalançadas pelos princípios do evangelho e com a influência do Espírito Santo, freqüentemente afastam a pessoa dos princípios fundamentais que promovem a fé. Quando o sucesso é alcançado sem o reconhecimento a Deus, que é quem concede todas as bênçãos, esse mesmo sucesso leva à arrogância e a uma deterioração das virtudes que nos conduzem à fé. Quando o sucesso conduz ao auto- engrandecimento ou à substituição da vontade do Pai Celestial por nosso conhecimento terreno, colocamos em risco os princípios sobre os quais nossa fé está fundamentada. Qualquer coisa que destrua a humildade e a submissão é, na verdade, uma ameaça à fé.
Não importa qual seja nossa posição na vida ou nossas realizações, se grandes ou não; um coração submisso e um espírito humilde são ainda fundamentais para a fé. Devemos tomar cuidado para não permitir que o sucesso no mundo ou o aprendizado terreno substitua a sabedoria espiritual e a orientação divina dada por intermédio dos profetas.
No Livro de Mórmon, Mórmon explica a degeneração dos nefitas, resultante do senso de realização distorcido em relação a assuntos terrenos: “Porque viram e verificaram, com grande tristeza, que o povo da igreja começava a se exaltar no orgulho de seus olhos, voltava seu coração para as riquezas e para as coisas vãs do mundo, principiava a fazer pouco caso dos outros e a perseguir os que não criam, de acordo com a sua vontade e prazer”. (Alma 4:8.)
Além disso, o Senhor nos adverte acerca de confiar apenas na força e sabedoria humanas. Disse ele: “Maldito é aquele que confia no homem, ou faz da carne o seu braço, ou ouve os preceitos do homem, a menos que seus preceitos sejam dados pelo poder do Espírito Santo”. (2 Néfi 28:31.)
Jacó também nos esclareceu com o seguinte: “Oh! Quão astuto é o plano do maligno! Oh! A vaidade, fraqueza e insensatez dos homens! Quando são instruídos, pensam que são sábios e não ouvem os conselhos de Deus, pondo-os de lado, supondo que sabem por si mesmos; portanto sua sabedoria é insensatez e não lhes traz proveito. E eles perecerão”. (2 Néfi 9:28.) Jacó, depois, elucida, de forma que todos podemos compreender, que aquele aprendizado, sob as devidas circunstâncias, tem um papel importante em nossa vida. Ele explica: “Mas é bom ser instruído quando se ouve os conselhos de Deus”. (V. 29.)
Há os assim chamados “instruídos” que deixaram que o intelecto destruísse sua base espiritual e que tentam também desviar os fiéis daqueles que o Senhor designou para liderar. Existem pessoas que acham que nossos líderes não estão informados das realidades do dia-a-dia. Tentam guiar os membros, substituindo as revelações de Deus aos profetas, por seu próprio conhecimento. Infelizmente, há pessoas que os seguem. Cristo advertiu: “Acautelai- vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores”. (Mateus 7:15.)
Numa tentativa de melhor preparar os santos para os inevitáveis lobos ameaçadores, o Apóstolo Paulo advertiu: “Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho”. (Atos 20:29.) Onde esses lobos conseguiriam vestir-se como ovelhas de forma tão autêntica que enganariam o rebanho do Senhor? Será que eles estariam “vestidos” com grandes riquezas e roupas finas como Mórmon alertou? (Vide Alma 4:8.) A vaidade, fraqueza e insensatez dos homens, os instruídos que não dão ouvidos aos mandamentos de Deus, como advertiu Jacó? (Vide 2 Néfi 9:28.) Será que, às vezes, podem vestir-se de modo a parecerem bons pastores, que até os próprios eleitos poderiam ser enganados?
Sim, como Abraão dos tempos antigos, nossa fé será testada. Sofreremos doença, dor, morte e tragédia. Isso é inevitável. Essa é a razão principal pela qual optamos por participar da mortalidade. Podemos suportar essas provações e tribulações porque dispomos dos dons divinos, que nos ajudarão a vê- las como são. Ao vencê-las, aproximamo-nos mais do Pai Celestial, sentimos seu amor e ganhamos seu conhecimento e verdade. Somos capazes de vencer esses testes e de perseverar até o fim.
Devemos preocupar-nos com aquilo que podemos não reconhecer pelo que verdadeiramente é — a substituição da orientação inspirada de Deus pela vontade do homem. Não nos deixemos levar pelos sofismas dos homens, não contrabalançados pelos princípios do evangelho e pelo Espírito do Senhor. Não percamos de vista aqueles princípios duradouros dados por Deus — os princípios de humildade e coração submisso que nos têm sustentado desde a restauração do evangelho. Busquemos a verdade e a orientação de um Pai amoroso. Confiemos no Pai nos Céus e em seus profetas vivos e na revelação pessoal para nos orientar. Quando os profetas falarem, ouçamos e obedeçamos.
Presto solene testemunho de que Deus vive, que se preocupa conosco o suficiente para designar profetas para nossa bênção e edificação. Presto testemunho de que, buscando orientação de nosso Pai, seguindo os profetas, nossa fé será mantida e engrandecida. Irmãos, minhas palavras de despedida, proferidas não de maneira vaga ou sem significado e reflexão, mas com sobriedade e sinceridade, são simplesmente: “Guardai a fé”. Em nome de Jesus Cristo, amém.