Paz Por Meio Da Oração
O milagre da oração, no meu entender, está em saber que, nas secretas e silenciosas câmaras da mente, Deus ouve e responde às orações.
Em nome da Presidência dos Setenta, damos, com alegria, as boas-vindas aos Irmãos Todd Christofferson e Neil Andersen às fileiras dos Setenta. Estamos felizes de poder servir convosco.
Muitas mensagens inspiradoras sobre oração têm sido dadas do púlpito deste Tabernáculo. Hoje acrescento meu testemunho da bênção de paz que advém do miraculoso poder da oração.
Alexandre Dumas, em seu conto clássico O Conde de Monte Cristo, escreveu: “Pois a oração do homem feliz é apenas um emaranhado de palavras, até o dia em que o sofrimento vem explicar-lhe a sublime linguagem por meio da qual ele fala com Deus” (Trans. Lowell Bair, Nova York: Bantam Books, 1981, p. 34).
Minha juventude foi feliz e despreocupada, até o dia em que a tristeza e a tragédia me levaram para mais perto do Senhor, em humilde e sincera oração. No verão do meu décimo terceiro ano de idade, numa noite de julho, uni-me alegremente a alguns amigos da vizinhança para soltar fogos de artifício. Éramos cinco e revezávamo-nos acendendo a colorida variedade de foguetes, rojões e bombas. Cada um era uma nova surpresa, com sua explosão de cores e sons pelo escuro do céu.
Nem todos os fogos funcionaram como deviam. Na verdade, a maioria deles falhava, ou seja, eles crepitavam momentaneamente e depois morriam; nós os colocamos de lado até tentarmos acender todos e, no final, tínhamos tantos defeituosos que não sabíamos o que fazer. Não podíamos simplesmente jogá-los fora. E se esvaziássemos a pólvora de todos na caixa de papelão? Poderíamos jogar um fósforo e ter um estouro gigantesco!
Felizmente, para nós, a idéia não deu certo — no começo. O fósforo foi jogado, rapidamente corremos para longe e esperamos. Nada aconteceu. Forçando a sorte, tentamos uma segunda vez, usando um detonador improvisado feito de jornal enrolado. Novamente, esperamos ansiosamente à distância. De novo, para nosso bem, nada aconteceu. Nessa hora devíamos ter desistido. Tolamente, fizemos uma nova tentativa; desta vez, meu amigo Mark e eu nos agachamos protegendo a caixa, para evitar que a chama se apagasse com a brisa da noite.
Então, aconteceu! O “estouro gigantesco” que pensávamos desejar explodiu com fúria em nosso rosto. A força da explosão derrubou-nos, e chamas da pólvora incendiada queimaram-nos seriamente. Foi uma cena trágica. Atendendo rapidamente aos gritos e apelos dos jovens feridos à sua porta, a mãe de nosso amigo reuniu-nos em sua casa. “Primeiro faremos uma oração”, disse ela, “depois chamaremos o médico”.
Lembro-me de que aquela foi a primeira de muitas orações oferecidas por nós. Pouco mais tarde, senti o rosto, as mãos e os braços sendo envolvidos com ataduras. Ouvi as vozes de meu pai e de meu médico dando-me uma bênção do sacerdócio. Ouvi, várias vezes, a voz de minha mãe implorando ao Pai Celestial que permitisse que seu filho voltasse a ver.
Eu fora ensinado bem cedo na vida a orar. Meus pais haviam feito da oração uma parte importante da vida familiar. Foi só naquele dia, entretanto, que ela se tornou tão significativa para mim. Naqueles momentos terríveis, encontrei paz e conforto por meio da oração.
Recentemente, em meio a sua própria dor e sofrimento, meu amigo e sócio Élder Clinton Cutler, comentou a respeito de sua experiência: “A paz do Senhor não nos advém sem dor, mas em meio à dor”.
Nosso Pai Celestial prometeu- nos paz em tempos de provação e forneceu-nos um modo de nos achegarmos a ele em momentos de necessidade. Ele nos deu o privilégio e poder da oração, mandou-nos “orar sempre” e prometeu que derramaria seu Espírito sobre nós (D&C 19:38).
Felizmente podemos invocá-lo a qualquer hora, em qualquer lugar. Podemos falar-lhe com os pensamentos silenciosos e com os mais profundos sentimentos do coração. Já foi dito que “a oração é constituída de pulsações de coração e de anseios justos da alma” (James E. Talmage, Jesus, o Cristo, p. 231). Nosso Pai Celestial disse que conhece nossos pensamentos e os intentos de nosso coração (D&C 6:16).
O Presidente Marion G. Romney ensinou: “Às vezes o Senhor nos coloca pensamentos na mente em resposta a nossas orações… [Ele] nos dá paz de espírito” (na Conferência de Área de Taiwan, 1975, p.7).
Por exemplo, em resposta à oração de Oliver Cowdery para saber se a tradução que Joseph fez das placas era verdadeira, o Senhor respondeu: “Não dei paz à tua mente quanto ao assunto? Que maior testemunho podes receber que o de Deus?” (D&C 6:23).
A paz que o Senhor nos transmite à mente faz-nos saber quando as decisões que tomamos estão certas, quando nosso rumo é verdadeiro. Pode advir como inspiração e orientação pessoal para ajudar-nos na vida diária — em casa, no trabalho. Pode dar-nos coragem e esperança para enfrentar os desafios da vida. O milagre da oração, no meu entender, está em saber que, nas secretas e silenciosas câmaras da mente, Deus ouve as orações e responde a elas.
Talvez nosso maior teste de fé e a parte mais difícil da oração seja reconhecer a resposta que recebemos num pensamento ou sentimento e, depois, agir de acordo com a resposta que Deus nos dá. Ser consistente na oração, buscar as escrituras e seguir os conselhos dos profetas vivos são coisas que nos mantêm em sintonia com o Senhor e nos capacitam a interpretar os sussurros do Espírito mais facilmente. O Senhor disse: “Aprende de mim e ouve as minhas palavras; anda na mansidão de meu Espírito e terás paz em mim” (D&C 19:23).
Há alguns dias, fui ao enterro de um amigo de infância, Ralph Poulsen. Ele era um homem reto,realizador e íntegro, contudo tinha que suportar as conseqüências dolorosas e tristes de uma doença cruel. Sua querida esposa, Joyce, também sofreu junto dele durante sua agonia e dor. Com o passar dos dias e anos de sofrimento, ela chegou a um ponto em que sentiu que não poderia agüentar mais um dia. Fizera por ele tudo o que podia. Agora, uma força maior que a sua própria era necessária. Nas profundezas do desespero, ela implorou mais fervorosamente ao Senhor por ajuda. O amanhecer chegou com uma paz abençoada que lhe encheu a alma e que permanece com ela até hoje.
Há sofrimentos terríveis em nosso mundo atualmente. Coisas trágicas acontecem a gente boa. Deus não as causa e nem sempre as evita. Ele, contudo, nos fortalece e abençoa com sua paz, por meio da oração sincera.
“Não é o propósito normal da oração servir-nos como lâmpada de Aladim, trazendo-nos conforto sem esforço”, escreveu Élder Richard L. Evans. “Orar não é só uma questão de pedir. Não deve sempre ser como a mão estendida do mendigo. Freqüentemente, o propósito da oração é dar-nos força para fazer o que precisa ser feito, sabedoria para enxergar o caminho para a resolução de nossos próprios problemas e capacidade para fazermos o melhor em nossas tarefas.
Precisamos orar… por força para perseverar, por fé e firmeza para encarar o que às vezes precisa ser encarado” (The Man and the Message, Salt Lake City: Bookcraft, 1973, p. 289).
Foi o Senhor quem nos ensinou, com seu exemplo, a encontrar a paz quando as respostas que recebemos não são aquelas que pedimos. Na véspera de sua crucificação, com a “alma… cheia de tristeza até a morte”, Jesus ajoelhou-se no Jardim do Getsêmani e orou ao Pai, dizendo: “Meu Pai, se é possível [e reconheceu: ‘todas as coisas te são possíveis’], passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26:38–39; vide também Marcos 14:36).
Podemos apenas tentar imaginar a angústia que sentiu o Salvador, quando lemos nos evangelhos que ele “começou a ter pavor, e a angustiar-se” (Marcos 14:33), que “prostrou-se sobre o seu rosto” e orou não uma vez, mas uma segunda vez e depois uma terceira (Mateus 26:39, 42, 44). “Pai, se queres, passa de mim este cálix, todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
Não podemos imaginar a angústia de um Pai amoroso que, sabendo o que tinha de ser feito, aceitou a voluntariedade de seu Amado Filho de sofrer por toda a humanidade. Nessa agonia, Cristo não foi deixado só. Como se o Pai estivesse dizendo: “Não posso passá-lo de ti, mas posso e vou mandar-te força e paz”, “apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava” (Lucas 22:43).
Se nós, como o Salvador, tivermos fé para depositar nossa confiança no Pai Celestial, submetendo-nos à sua vontade, receberemos o verdadeiro espírito de paz, como uma força e testemunha de que ele realmente ouviu nossas orações e respondeu a elas.
Se resistimos à inspiração de Deus e nos afastamos de seus sussurros, somos abandonados à nossa própria confusão e falta de paz.
Às vezes, quando nossas orações não são respondidas como queremos, podemos sentir que o Senhor nos rejeitou ou que nossa oração foi vã. Podemos começar a duvidar de nossa dignidade perante o Senhor, ou até mesmo da realidade e poder da oração. É nesse momento que devemos continuar a orar com paciência e fé e procurar sentir aquela paz.
Após o incidente em que me queimei gravemente, senti a certeza de que seria curado. Desde o momento em que aquela primeira oração foi proferida na casa de meu amigo, senti uma paz reconfortante. Enquanto o médico tratava de minhas queimaduras eu cantarolava um hino, encontrando conforto nestas palavras:
Com fervor fizeste a prece
Ao entristecer? …
Que repouso alcançado
É a humilde oração,
Que ao mais desalentado
Traz consolação!
(Hinos, 1991, número 83)
Todos os dias, quando o médico trocava minhas ataduras, minha mãe perguntava: “Ele pode ver?”. Por muitos dias a resposta foi a mesma: “Não, ainda não”. Finalmente, quando todas as ataduras foram definitivamente removidas, minha visão começou a voltar. Eu esperara por aquele momento com ansiosa expectativa. A paz e o conforto que sentira antes davam-me a certeza de que tudo correria bem. Quando, entretanto, minha visão clareou o bastante para que eu enxergasse minhas mãos e rosto, fiquei chocado, despreparado para o que via. Para meu terrível desapontamento, descobri que tudo não estava bem. Ver minha pele marcada por cicatrizes e desfigurada causou-me muito medo e trouxe-me grandes dúvidas. Lembro-me de que pensei: ‘Nada pode curar esta pele — nem mesmo o Senhor’.
Com a continuação de minhas orações e das orações de outros, senti, com gratidão, a volta dos dons de fé e paz, e depois, a seu tempo, minha visão e pele foram curadas. Meus amigos que se feriram foram também abençoados com completa recuperação.
Procuremos sempre obter o miraculoso dom de paz, que o Senhor nos dá por meio da oração. Não nos esqueçamos de “com fervor [fazer] a prece”.
Uno-me a Alma para dizer: “Que a paz de Deus esteja convosco,… de agora em diante e para sempre” (Alma 7:27).
Com este testemunho de paz por meio da oração, testifico a realidade de Jesus Cristo, de seu Pai e do Espírito Santo, que nos guiarão pelo mesmo caminho miraculoso, por meio das respostas às nossas orações de fé. Em nome de Jesus Cristo, amém.